The Talos Principle foi lançado há mais de 10 anos e conseguiu um destaque significativo ao trazer puzzles muito bem estruturados com uma narrativa profunda e filosófica. Passada essa década, a equipe da Croteam decidiu dar uma grande repaginada estética na sua obra-prima, e assim surgiu The Talos Principle: Reawakened, um remake do jogo original agora lançado para PC, PlayStation 5 e Series X/S.
Tudo é possível, mas nada é real
O avatar acorda em meio às ruínas de um lugar que parecia ser um extenso jardim, no qual nem mesmo as marcas do tempo conseguiram apagar sua beleza e aura divina. A primeira coisa que ouvimos é uma voz poderosa que vem dos céus, que se identifica como Elohim — palavra hebraica para “Deus” —, e o chama de criança, deixando bem claro que ele é o seu criador.
Assim começa nossa jornada do saber, guiando o autômato por uma série de desafios e quebra-cabeças que envolvem anular portais e inimigos, direcionar lasers que abrem fechaduras e até usar o poder dos ventos para nos deslocar. O objetivo de cada sala é sempre coletar uma peça que será usada em conjunto com outras como chave para novas torres, como se a fechadura fosse um pequeno jogo de Tetris.
A grande sacada de The Talos Principle é que temos liberdade de entrar e sair de cada uma das sete salas disponíveis nas torres quando bem entendemos, o que nos dá total autonomia sobre a ordem que queremos seguir. Além disso, a história também mexe bastante com o jogador, a ponto de quebrar a sensação de que estamos apenas resolvendo puzzles até tudo acabar.
Enquanto Elohim fala conosco, nos orienta e até nos reprime, temos diversos dados espalhados pelos cenários que demonstram que aquele mundo não é tão perfeito. QR Codes com avisos de falhas e reclamações de outros que não superaram os desafios deixam aparente que você não foi o primeiro a estar ali. Terminais de computadores presentes pelo caminho guardam segredos e dados que vão totalmente contra o que nosso “pai celestial” diz, e esse embate ético-filosófico é uma motivação extra para aprender como manipular cada ferramenta possível nos ambientes.
Acompanhando a aventura principal, estão inclusas as expansões Road to Gehenna e In the Beginning. Na primeira, controlamos Uriel, o mensageiro de Elohim, que precisa ir a uma área reclusa da simulação para libertar inteligências artificiais aprisionadas ali. Já In The Beginning serve como um prólogo para o jogo, nos dando o ponto de vista da cientista responsável por criar todo esse mundo virtual: Alexandra Drennan.
Todo o conteúdo está disponível logo no início, no menu principal. Por mais que seja recomendado concluir The Talos Principle primeiro e depois as expansões, temos a liberdade de jogá-las na ordem que bem entendermos, o que pode ser um adianto para quem já passou pelo original.
Talvez o único ponto contra quanto à variedade de modos de jogo seja a ausência do editor de puzzles nas versões de PS5 e XSX. Quem estiver no PC pode criar sua própria sequência de desafios e compartilhá-la com a comunidade.
No compasso do criador
A estrutura de jogabilidade de Reawakened se manteve inalterada em relação ao original, e convenhamos que, mesmo com 10 anos de idade, ela era bastante competente. Logo, o foco principal deste remake estava em melhorar os visuais e trazer mais opções de acessibilidade.
Os cenários foram retrabalhados, ganhando novas texturas e elementos, como estátuas, destroços e outros incrementos visuais. A equipe de criação soube extrair o máximo possível do poder desta geração de videogames, criando ambientes lindos e ricamente detalhados.
Por mais que tudo esteja no mais alto nível de capricho, dou um destaque especial para as câmaras que servem para escolhermos o ambiente onde encontraremos novas peças. Cada uma dessas antessalas ganhou proporções faraônicas, que maximizam a sensação de controlarmos alguém frágil e que ainda está descobrindo a verdade em meio às criações majestosas de um ser soberano.
A parte sonora segue o mesmo ritmo, mas apresenta algumas leves derrapadas. A música ambiente é muito boa e ajuda a criar um clima que mistura uma odisseia com um filme de ficção científica. A voz de Elohim, como citei no começo do texto, é poderosa e serve também como um recurso narrativo que mostra sua grandeza diante da pequenez do avatar robótico que controlamos.
Entretanto, essa parte, especificamente, só serve para o jogo base. Nenhuma das duas expansões contém vozes em português, apenas em alguns idiomas selecionados. Por mais que isso seja avisado já no menu de configurações, é chato jogar partes da narrativa em idiomas diferentes.
Inclusive, há um leve defeito que muda a voz de Reawakened para inglês caso joguemos alguma expansão e depois retornemos ao jogo principal, mesmo com a opção “português” selecionada no menu. Porém, esse problema é sanado retornando ao menu inicial e retomando o save de onde paramos.
Outra questão, para quem joga com dublagem e legendas no nosso idioma, é que por diversas vezes há um pequeno erro de sincronia. A voz de Elohim já havia terminado a fala quando as legendas ainda estavam por aparecer.
Feito nos céus
The Talos Principle: Reawakened fez o necessário para uma revitalização perfeita. Manteve seus desafios inalterados, que já eram muito bons, e aprimorou de maneira grandiosa seus visuais. A inclusão das expansões no remake, com a possibilidade de acessá-las logo de cara, fez com que esta se tornasse a versão definitiva de um título inovador.
Prós
- Os puzzles são criativos e sua complexidade aumenta gradativamente, sem serem exaustivos ou punitivos;
- Todos os ambientes originais ganharam uma série de detalhes e refinamentos visualmente impressionantes;
- Excelente narrativa que envolve o jogador e promove um debate filosófico;
- Ótima trilha sonora e trabalho de dublagem;
- Inclusão das expansões Road to Gehenna e In the Beginning.
Contras
- Ausência do editor de quebra-cabeças nas versões de console;
- As expansões não têm dublagem em português;
- Em alguns momentos, a legenda não acompanha corretamente a voz no jogo principal.
The Talos Principle: Reawakened — PC/PS5/XSX — Nota: 9.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisor: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise feita com cópia digital cedida pela Devolver Digital