Análise: Croc: Legend of the Gobbos retorna com visuais e controles modernizados

O carismático réptil volta em um remaster simples, mas o suficiente para deixar sua primeira aventura mais acessível.

Lançado originalmente em 1997, Croc: Legend of the Gobbos foi um dos vários jogos que tentavam transportar os tradicionais jogos de plataforma para o mundo 3D. Desenvolvido pela Argonaut a partir de conceitos para uma aventura tridimensional do Yoshi, o título protagonizado pelo carismático crocodilo alcançou certo sucesso em sua época, mas se perdeu com o passar dos anos.

Com o retorno da Argonaut ao mercado de videogames, Croc retorna com uma nova e bem-vinda repaginada. Mas, quase 27 anos depois, será que ele ainda se sustenta?

Um réptil em terras peludas

A história de Croc é bem simples e clichê, mas traz uma ideia de fundo interessante. Croc é um filhote de crocodilo achado por King Rufus, governante de uma raça de pequenas criaturas peludas conhecida como Gobbos. Mesmo sendo um réptil predador, Croc cresceu junto dos habitantes locais e se tornou um deles.

Contudo, a paz acabou quando a terra deles foi ameaçada pelo tirano Baron Dante, que invadiu o reino, sequestrou os Gobbos e espalhou seus lacaios pelas terras antes pacíficas. Croc consegue escapar por pouco de ser capturado, e agora precisa salvar seus amigos e derrotar o vilão.

Para isso, devemos passar por cinco mundos cheios de perigos e desafios. Croc: Legend of the Gobbos é bem direto ao ponto. O objetivo é chegar até o final, pulando de plataforma em plataforma, resgatando Gobbos, coletando cristais que servem de proteção, como os anéis de Sonic, e outros itens para descobrir segredos.

A estrutura de Croc segue mais à risca os jogos 2D devido à sua linearidade, apesar de dar mais liberdade de movimentação que Crash Bandicoot. Algumas fases permitem tomar caminhos diferenciados para buscar coletáveis, mas em boa parte do tempo avançamos de corredor em corredor, com algumas seções abertas.

Nada de tanques, com poréns

Em 2025, numa época em que esse tipo de jogo é um tanto raro, o level design envelheceu bem o suficiente para ainda se manter engajante (apesar dos padrões repetitivos), especialmente em níveis mais à frente na campanha. O maior problema do título original que precisava de uma atualização era a jogabilidade, com seus controles de tanque.

A remasterização de Croc: Legend of the Gobbos me deixou com grandes expectativas em relação ao manejo do crocodilo, muito mais do que seu visual, que ainda acho charmoso em sua encarnação original. Sendo de uma época mais experimental do 3D, Croc adotou os controles de tanque em vez de uma movimentação mais livre, o que era aceitável para a época, mas se tornou um problema para jogos verdadeiramente tridimensionais.


A nova versão não apenas implementou controles modernos, como também trouxe uma experiência revigorada. Pular em diversas direções, atacar no ar, controlar a câmera ou simplesmente andar nunca foi tão fácil e dinâmico — o que, curiosamente, torna o jogo mais fácil, dada a sua simplicidade nas fases.

Contudo, caso você queira ter a experiência original, o direcional digital está sempre lá com o clássico esquema de tanque. Experimentei alternar entre os estilos em certos segmentos, e por mais estranho que pareça, os controles de tanque funcionam bem após um período de adaptação e são recomendados para partes que exigem maior precisão.

O único ponto que me incomodou foi a câmera, que é muito colada ao personagem e continua assim nesta versão. Dá para controlar livremente com o segundo analógico, o que é uma melhoria excelente, mas seria legal se tivéssemos a opção de afastar um pouco a visão em momentos mais claustrofóbicos.

Tinta fresca em parede velha

Já a parte técnica recebeu diversas mudanças, mas ainda mantendo-se fiel à direção de arte colorida e lúdica do original. As texturas pixeladas receberam um tratamento completo, buscando representar a identidade visual e dando alguns toques de aquarela, que combinaram bem com o jogo.

A modelagem dos cenários, do Croc e dos inimigos recebeu um leve aprimoramento, deixando suas arestas mais arredondadas. Curiosamente, deixaram as divisórias de articulações intactas mesmo nos designs melhorados, o que lembra jogos do início do Dreamcast ou do final da era Nintendo 64.

Sendo um trabalho 1:1, esse é um daqueles remasters que permite trocar para os gráficos antigos ao apertar um botão, revivendo toda a glória das texturas "blocosas" e modelos quadrados. Como sou fã desse estilo visual, alternei várias vezes só para realizar a comparação com o trabalho atual.

A atenção aos detalhes da equipe responsável pela remasterização foi tão bacana que até incluiu um modo para aplicar as texturas retrô com filtro para borrá-las, remetendo mais à versão original de PC. Fora isso, dá até para customizar o visual ao gosto do jogador, como jogar com os modelos antigos e texturas novas, com ou sem iluminação moderna.

Independentemente da sua preferência gráfica, Croc: Legend of the Gobbos continua sendo um jogo lindíssimo até hoje, dado seu caráter cartunesco e minimalista. Jogar isso sem os problemas de texture wrapping dos 32-bits, em widescreen e com fluidos 60 fps é uma sensação bem única.

Talvez a maior ressalva fique para a trilha sonora. A trilha sonora de Croc si é fantástica, sendo uma das melhores da quinta geração de consoles, com temas memoráveis e bem produzidos. O problema está no uso da versão antiga de PC como base para o remaster, que faz com que a ordem das músicas fique um tanto estranha.

É normal uma fase ter mais de três músicas dependendo da área em que entramos, alternando freneticamente por conta disso, o que pode ser desconcertante e prejudicar a imersão nas faixas. Além disso, a trilha não está completa como na versão de PS1, reaproveitando músicas de outras seções, como nas edições de PC e Saturn.

Fight Night with Flibby

Riot Brrrr (exclusivo da versão de PS1)

Preservação além de gameplay

Como todo bom relançamento deve oferecer, Croc: Legend of the Gobbos conta com uma ampla gama de material de galeria para exploração, bastante completo. É possível visualizar os conceitos iniciais do mascote — que já foi diversos animais diferentes, mesmo mantendo o design bípede —, de inimigos, fases e de diversos modelos 3D.

Além disso, diversos documentos não só de desenvolvimento do próprio jogo, como até mesmo de conceitos do que seria o desenho animado de Croc estão presentes aqui, incluindo o script do episódio piloto, tudo em alta resolução e perfeitamente preservado.

Também há uma série de entrevistas com a equipe original da Argonaut Software e da equipe por trás do Zetta Engine, motor que possibilitou o remaster. Infelizmente, todo o jogo está em inglês, e o material documental em vídeo não conta com legendas, algo bem lamentável.

Ainda assim, o título é um exemplo de preservação bem-feita, indo muito além de só disponibilizar uma antiga aventura para plataformas atuais da melhor forma possível.

Uma aventura carismática em um remaster simples, mas feito com carinho

Mesmo que seja um trabalho de revitalização simples e que possa decepcionar quem queria um remake completo, a iniciativa de disponibilizar Croc: Legend of the Gobbos para sistemas atuais é muito bem-vinda. Felizmente, o esforço na remasterização foi sólido e claramente realizado por uma equipe apaixonada pelo jogo original.

Com o retorno da Argonaut ao mercado de games e os dizeres de que Croc vai retornar nos créditos, acredito que veremos um remaster de Croc 2 em algum momento. Se tudo der certo para essa nova iniciativa, talvez vejamos uma aventura inédita do carismático verdinho? Só o futuro dirá.

Prós:

  • Controles refeitos que melhoram drasticamente a experiência, mas ainda mantendo o antigo estilo de tanque;
  • Visuais repaginados sem perder a identidade original;
  • Facilidade de trocar para os gráficos antigos e novos ao apertar de um botão;
  • Material de galeria completo, contendo desde artes conceituais a antigos documentos de texto e entrevistas com desenvolvedores;
  • Croc continua divertido de jogar até hoje, mesmo com sua simplicidade.

Contras:

  • Ausência de opção para afastar a câmera, o que poderia ajudar em locais mais apertados;
  • Por ser baseado na versão de PC, a trilha sonora não está completa como na versão do primeiro PlayStation;
  • Ausência de legendas em português e até mesmo em inglês nos vídeos de entrevistas.
Croc: Legend of the Gobbos — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC (GOG)
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia digital cedida pela Argonaut Games
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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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