Impressões: Scarlet Hollow mostra um caminho sombrio fascinante para quem mergulha em seu acesso antecipado

Com quatro capítulos e uma recente atualização, o jogo já mostra a qualidade de sua desenvolvedora.

em 13/03/2025
Atualmente em acesso antecipado no PC (Steam), Scarlet Hollow recebeu recentemente a expansão The Roads Untraveled. Graças a ela, os desenvolvedores da Black Tabby Games fizeram o esforço de ampliar o escopo de escolhas do início do jogo. Tivemos a oportunidade de jogar um pouco do título e conferir a experiência, que atualmente conta com quatro capítulos dos sete planejados para o lançamento completo.

Uma cidadezinha americana no meio do nada

Recentemente, a sua tia faleceu e você recebeu um convite para ir a Scarlet Hollow, a terra natal da sua família, para um enterro. Era para ser apenas uma chance de se reconectar com a sua família ou no máximo uma formalidade cafona que você gostaria de se livrar o mais rápido possível.

Porém, é claro que um vilarejo americano isolado com uma mina ativa teria um histórico de violência e mistérios, não é mesmo? Criado pela dupla Abby Howard e Tony Howard-Arias, que também trabalhou junta para a criação de Slay the Princess, o jogo aposta em um clima macabro e em um design narrativo que possui grandes variações para o jogador.

Em termos da trama principal, embora o contexto de uma cidade no interior e seus segredos possa ser considerado um clichê, a construção de mundo e atmosfera é bastante imersiva. De forma bem escrita, o contexto ajuda a dar uma noção vívida de como é a cidade e os impactos dessa estrutura tanto nas histórias individuais quanto nas relações interpessoais de seus habitantes.

Scarlet Hollow é uma história sobre encontrar o sobrenatural, ter curiosidade para explorar mais e vasculhar verdades inquietantes. Ao mesmo tempo, é uma história que realmente entende as dificuldades das relações humanas e que mostra bem tanto a fragilidade humana diante desses eventos quanto o peso real que escolhas têm nesses contextos.

O peso da ação e do silêncio

Escolhas são um artefato de design narrativo bem comum em obras no estilo visual novel. Elas dão agência ao jogador e permitem aos criadores criarem uma estrutura ramificada que pode ter peso, por exemplo, ao questionar a moralidade de quem está jogando.

No caso de Scarlet Hollow, o design de escolhas é meticulosamente pensado para mudar o estado do mundo. Uma decisão pode significar não apenas uma mudança nos eventos que vamos ver, mas também consequências de longo prazo na relação entre os personagens.

Em particular, assim como em Slay the Princess, temos uma enorme quantidade de escolhas para realizar. Algumas decisões dizem respeito a entender melhor algum detalhe, outras a tentar ser mais amigável com alguém; e o jogador pode simplesmente destilar sarcasmo para todo lado se preferir.

Um detalhe interessante é que as escolhas podem ter várias naturezas, com algumas que “não progridem a história” e que, assim, podem ser exploradas antes de terminar uma certa cena de diálogo. O jogo subverte a expectativa disso em algumas ocasiões, mas, mesmo em ocasiões normais, essas escolhas exploratórias são fascinantes.

Existem múltiplos jeitos de buscar informações, e a maneira como o jogador fala pode fazer a diferença. Várias vezes, enquanto estava jogando, eu analisava toda a situação e me perguntava se eu realmente gostaria de correr o risco de parecer enxerido e incomodar a pessoa. Com isso, em algumas ocasiões, eu preferia não perguntar algo para evitar atritos ou fazia a escolha só para ver a resposta e depois voltava ao meu save anterior.

Esse tipo de design inteligente de escolhas faz Scarlet Hollow ser uma experiência bem incrível. Não apenas temos muitas opções (e ainda mais agora com a atualização The Roads Untraveled), como o jogo consegue estabelecer muito bem a tensão estratégica que envolve agir ou optar por ficar quieto.

Talentos e oportunidades

Um detalhe interessante de Scarlet Hollow é que a obra conta com um sistema de talentos similar a um RPG. No início da jornada, escolhemos duas opções (ou três, no modo Hardcore desbloqueado após terminar os capítulos atuais).

A lista inclui perícias como “bom de lábia”, “sensual”, “falar com animais” e “constituição forte”. Para jogar, optei pela habilidade de percepção aguda e sagacidade das ruas, e essa combinação foi uma forma incrível de entender melhor os personagens e estar sempre alerta.

Dependendo das escolhas, o jogador ganha opções adicionais de interação em algumas ocasiões e pode também ter falas adicionais. Mesmo ainda incompleto, o jogo já conta com muitas ramificações e já vale a pena conferir as várias possibilidades, então quero ver um pouco do que as outras opções me reservam futuramente.

Uma jornada em construção

Scarlet Hollow ainda está em andamento, com quatro capítulos disponíveis no momento. Apesar disso, a obra já traz uma experiência fascinante e que mostra muito bem a competência da equipe da Black Tabby. Com uma atmosfera sombria bem executada e o peso necessário para valorizar escolhas estratégicas ao longo da trama, o jogo já merece estar na lista de qualquer fã de obras narrativas.

Revisão: Ives Boitano
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Black Tabby Games

Siga o Blast nas Redes Sociais
Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).