Reignbreaker usa um mundo distópico punk medieval para criar um roguelike de ação frenético. Claramente inspirado em grandes representantes do gênero, o título indie tem como maiores destaques os combates de ritmo acelerado e a atmosfera que esbanja estilo e rebeldia. Apesar das bases sólidas, muitos aspectos do jogo são subdesenvolvidos, resultando em uma experiência limitada e pouco memorável.
Tentando destruir um reino com as próprias mãos
A trama de Reignbreaker gira em torno de Clef, uma guerreira da guarda real que muda de lado e agora luta contra a monarquia. Para derrubar o regime opressor da Rainha das Chaves, a garota decide invadir o cofre da realeza, que é estranhamente bem guardado. Desejando descobrir os motivos de tantas proteções e para alcançar a revolução que deseja, Clef vai enfrentar todos os perigos que aparecerem, quantas vezes for necessário.O mote central do jogo é um roguelike de ação em que Clef enfrenta desafios em um calabouço cada vez mais complexo. Para avançar, é necessário derrotar inimigos em combates cujo ritmo é marcado pela necessidade de alternar entre socos, investidas e ataques com a lança, que é a principal arma da guerreira.
A lança tem três tipos de ataque: uma investida lançada após mirar, um golpe próximo e um baque no chão, com cada ação gerando efeitos diferentes dependendo do tipo de arma equipada. Usar a lança gera calor que, se alcançar certos níveis, faz o arpão superaquecer, limitando a eficiência de suas habilidades Para controlar isso, é preciso equilibrar os ataques e usar os socos para diminuir a temperatura. Depois de desbloquear uma habilidade, é possível alternar entre duas lanças, trazendo versatilidade ao combate.
Vencer combates não só desbloqueia novas áreas, mas também permite a Clef adquirir itens que alteram suas habilidades, como aumentar a taxa de acertos críticos, resistir a certos tipos de dano ou lançar latas de spray explosivas. Cada partida é única, pois a escolha de quais itens e armas levar impacta diretamente nas estratégias a serem adotadas.
Ao longo do jogo, as partidas apresentam desafios diferentes e o calabouço vai se expandindo conforme se avança. Entre uma partida e outra, seja depois de vitória ou derrota, há momentos de descanso nos quais é possível melhorar as habilidades de Clef, trocar poderes e lanças, preparando-a para os próximos desafios.
Lanças e socos como instrumentos de rebelião
Reignbreaker se destaca por sua ação acelerada, com combates rápidos e intensos nos quais a habilidade de alternar entre os diversos ataques é fundamental para se manter vivo.O sistema de superaquecimento da lança, que exige que se controle bem os ataques, cria uma dinâmica notável em que cada movimento precisa ser bem pensado para não ficar vulnerável. Além disso, é satisfatório usar as armadilhas do cenário a nosso favor, como atrair inimigos para espinhos ou empurrá-los para armadilhas. Esses elementos trazem variedade às abordagens e apreciei as opções estratégicas disponíveis.
Outro ponto positivo são as diferentes lanças disponíveis, que proporcionam uma gama de estilos de combate. A lança escopeta é ideal para quem gosta de uma abordagem agressiva e de perto, enquanto a lança de raio cria tempestades elétricas que podem atingir vários inimigos ao mesmo tempo. Além disso, as baionetas, que alteram os efeitos da arma, adicionam mais camadas de estratégia, permitindo que o estilo de combate seja ajustado conforme a situação.
A dificuldade, por mais desafiadora que seja, proporciona uma satisfação única quando se consegue vencer um combate difícil, e as opções de acessibilidade, como invencibilidade ou calor infinito, tornam o jogo mais inclusivo para todos os tipos de público. Fora dos combates, há um pouquinho de exploração com caminhos opcionais contendo alguns puzzles simples, como desviar de espinhos ou usar a lança para desabilitar dispositivos — não é algo significativo, mas ajuda a quebrar o ritmo.
Repetição sem fim em uma aventura que pouco se desenvolve
Apesar de ter uma proposta interessante, Reignbreaker falha em diversificar a experiência de forma suficiente para manter o engajamento ao longo do tempo.O maior problema é a repetitividade. O jogo carece de variedade, com menos de dez tipos de inimigos e menos de oito tipos de salas, o que faz com que as partidas se tornem previsíveis. Até mesmo os visuais e a disposição das salas não mudam muito, o que contribui para essa sensação de mais do mesmo.
Roguelikes de ação têm a montagem de personagens com habilidades distintas entre as partidas como uma de suas características mais marcantes. Isso não acontece aqui: as opções de poderes para Clef são limitadas, com a maioria delas apenas alterando valores de ataque ou defesa, sem oferecer realmente novas formas de abordagem para os desafios. As lanças até apresentam alguma variedade, mas apenas cinco tipos estão disponíveis, o que também gera um certo cansaço a longo prazo.
A repetição de inimigos e de mapas acaba tornando as partidas um tanto monótonas. Oponentes invulneráveis a certos tipos de ataque e três tipos de objetivos de combate tentam introduzir alguma variação, mas não o suficiente para evitar a sensação de que se está fazendo as mesmas coisas repetidamente. Outro problema é a dificuldade, que embora seja alta, acaba se tornando um pouco desbalanceada e preguiçosa, simplesmente aumentando a quantidade de inimigos e aumentando sua vida — nos estágios mais avançados, os combates se tornam arrastados, especialmente contra os chefes.
Por fim, continuar neste universo é pouco interessante: a rejogabilidade é limitada, já que a história e os sistemas não evoluem e as recompensas são poucas após a derrota do chefe final. A sensação de que o jogo ainda está em sua versão inicial é clara, e muitos dos elementos que poderiam tornar a experiência mais rica simplesmente não foram desenvolvidos o suficiente.
Uma revolta arrojada, mas aparentemente sem sentido
A ambientação de Reignbreaker é sem dúvida um dos seus maiores atrativos. O mundo "punk medieval distópico" combina perfeitamente com a ideia de revolução e rebeldia. O uso de spray e grafite para transmitir a mensagem de luta contra a monarquia é uma ideia interessante e bem-executada, com cores vibrantes que fazem o cenário se destacar.A mistura de ambientes desenhados com personagens 3D cria um visual único e muito agradável e os menus e interface estilizados acrescentam charme à estética geral. A música também ajuda a reforçar essa atmosfera, com composições centradas em guitarras que trazem uma sensação de urgência e energia, embora a quantidade de faixas seja limitada.
No entanto, a construção do mundo e dos personagens deixa a desejar. A narrativa nunca se aprofunda, se resumindo a uma luta qualquer para derrubar um regime monárquico, sendo que o motivo em si nunca é claramente explorado. Clef, apesar de ser uma personagem central, acaba sendo uma revolucionária estereotipada que só sabe gritar as mesmas coisas. Mesmo com a boa dublagem e os diálogos, a história não evolui e não há muita conexão com os personagens ou o mundo ao redor.
Essa falta de desenvolvimento narrativo é um ponto negativo, já que a proposta de uma revolução poderia render mais profundidade, no entanto acaba se limitando a clichês vazios. A atmosfera e os visuais são bons, mas a história não consegue aproveitar todo o potencial do universo apresentado.
Muito grito e pouca revolução
Reignbreaker apresenta uma premissa empolgante com seus combates rápidos e um mundo instigante, mas falha em desenvolver suas ideias de maneira sólida. A jogabilidade é viciante a princípio com as lanças e as habilidades, mas acaba se tornando repetitiva devido à falta de diversidade de conteúdo e a uma narrativa que não evolui. A dificuldade pode ser desafiadora, porém muitas vezes se torna mais cansativa do que gratificante.No mais, Reignbreaker é um jogo que mostra um grande potencial, mas não consegue ir além de suas mecânicas iniciais. Para quem gosta de ação rápida e desafios, pode ser divertido por um tempo, mas se você busca algo mais profundo e com mais conteúdo, talvez o jogo não entregue o suficiente.
Prós
- Combate frenético com algumas ideias interessantes, como uso de armadilhas e diferentes lanças;
- Diferentes armas e elementos de customização oferecem opções estratégicas;
- Ambientação notável com arte bem-construída e trilha sonora enérgica.
Contras
- Variedade limitada de inimigos e armadilhas torna o combate repetitivo muito rápido;
- Pouquíssima diversidade de salas, mapas e situações fazem com que as partidas sejam muito similares entre si;
- Dificuldade desbalanceada que foca demais em quantidade, tornando arrastado o ritmo de muitos combates;
- Narrativa e construção de mundo subdesenvolvidas.
Reignbreaker — PC — Nota: 6.0
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful
Análise produzida com cópia digital cedida pela Thunderful