Em MainFrames, um programa destemido precisa saltar e manipular janelas para avançar por um mundo dentro de um sistema operacional. O título indie aposta na mistura de plataforma de precisão com puzzles de navegação em uma jornada que introduz novas ideias constantemente. O visual pixel art e a criatividade encantam, mas muitos momentos irritantes de tentativa e erro atrapalham a experiência.
Mergulhando no mundo digital
MainFrames é um plataformer bem direto no qual controlamos um pequeno disquete que precisa atravessar diferentes telas repletas de desafios de plataforma 2D. Além de escalar paredes com pulos, o herói pode girar no ar para alcançar distâncias um pouco maiores. Os comandos são simples de entender e rapidamente já dominamos completamente os movimentos.O objetivo é alcançar a saída do estágio, sendo que às vezes é necessário coletar uma chave primeiro para poder liberar o caminho. A grande sacada está na manipulação do mundo digital. Certos ícones fazem surgir ou desaparecer plataformas, enquanto o mouse permite arrastar e modificar janelas espalhadas pelas telas. Isso abre uma grande gama de possibilidades.
Dominar essas mecânicas é essencial para alcançar a saída, ao enfrentar desafios que combinam raciocínio e precisão. Os cenários estão repletos de armadilhas então a morte é constante, porém pouco punitiva: o disquete reaparece no último ponto seguro em questão de segundos. A progressão é linear, porém cada área conta com caminhos alternativos e telas opcionais.
Fazendo jus ao tema, o título usa pixel art e uma trilha sonora micro-chill para nos imergir nesse universo de bytes e pixels. É tudo colorido, com personagens caricatos que esbanjam carisma, como um bonitinho programa responsável pela máquina de café ou um pinguim atarefado que claramente é uma referência ao sistema operacional Linux. A trama é enigmática, mas infelizmente usa muitos termos técnicos que só vão fazer sentido para quem entende do assunto — por sorte ela é mínima e de pouco impacto.
Arrastando janelas e ícones para avançar
A ideia principal de MainFrames de se passar em uma área de trabalho de PC que pode ser manipulada me chamou a atenção desde o início. O grande trunfo do jogo é justamente explorar esse conceito de forma criativa, sem deixar de lado a atmosfera carismática.Apreciei a mistura balanceada entre puzzle e plataforma: cada uma das telas apresenta desafios em que precisamos saltar com precisão ao mesmo tempo em que manipulamos os elementos para criar caminhos. As coisas começam de forma bem simples, como pular em setas na sequência correta, mas logo evoluem para uma série de passos complicados que exigem pulos muito bem dosados.
A variedade de situações surpreende, combinando constantemente ideias novas com antigas. Em uma fase mais vertical de escalada, o desafio era usar o mouse para fazer com que as paredes surgissem no momento certo enquanto evitava código corrompido; em outro trecho, foi necessário usar painéis para alterar o centro de gravidade para navegar por uma região repleta de armadilhas; num terceiro momento, foi necessário usar as janelas como trampolim para alcançar locais altos. Essas adições fazem com que a sensação de novidade seja constante.
Fora do caminho principal, há puzzles que envolvem usar os elementos da tela para levar personagens até um elevador. Esses trechos são ainda mais criativos, apresentando situações mais experimentais, como rebater coisas com a ajuda do mouse ou esticar objetos de acordo com a movimentação do disquete. Apesar de breves, esses obstáculos trazem variedade à aventura.
A experiência é compacta e pode ser concluída em cerca de três horas, dependendo da habilidade do jogador. Há colecionáveis, como daemons localizados em partes difíceis de alcançar e os puzzles opcionais do elevador, além de alguns desafios atrelados a conquistas — a meu ver, somente os mais dedicados vão se interessar por esses itens adicionais. Um detalhe que incomoda é a ausência de mapas ou de indicações mais claras dos caminhos, complicando um pouco aproveitar as alternativas disponíveis.
Navegando por linhas de código problemáticas
Apesar de suas várias virtudes, MainFrames tem alguns engasgos que acabam diminuindo a diversão e a empolgação com o passar do tempo.Para começar, os desafios apostam demais em tentativa e erro com saltos cegos ou sequências de passos difíceis de visualizar com antecedência. O recomeço rápido ameniza esse problema, porém a situação se complica conforme avançamos, como em algumas telas longas que exigem passos muito específicos para serem completadas — errar significa refazer vários trechos complicados.
Outro ponto que atrapalha é que muitos desafios exigem uma exatidão não proporcionada pelos controles. A partir da metade da jornada há um salto de dificuldade, e é comum haver partes nas quais precisamos saltar milimetricamente entre armadilhas para avançar. No entanto, a altura do salto varia sem motivo aparente, trazendo imprecisão e muitas mortes. Isso resulta em momentos frustrantes e desafios desnecessariamente difíceis.
O resultado é um jogo agradável, mas que precisa de paciência e insistência para ser plenamente aproveitado. Existem recursos de acessibilidade, como invencibilidade e pulos infinitos, porém acredito que balancear melhor essas questões, em vez de disponibilizar alternativas que praticamente anulam o desafio, seria mais proveitoso.
Um plataformer carismático
MainFrames se destaca por sua criatividade ao transformar um ambiente digital em uma carismática aventura de plataforma e puzzles. A mecânica de manipulação de janelas e ícones é bem explorada, trazendo desafios variados e mantendo a experiência dinâmica. O visual pixel art e a trilha sonora ajudam a construir um mundo simpático e único, enquanto as pequenas referências tecnológicas adicionam charme à aventura.Por outro lado, a dificuldade irregular e os momentos de tentativa e erro podem tornar a progressão frustrante, especialmente nos estágios mais avançados. Há opções de acessibilidade para aliviar essas questões, mas um ajuste mais refinado no design dos desafios teria sido uma solução mais interessante. Ainda assim, para quem busca uma experiência agradável e está disposto a superar algumas barreiras, MainFrames entrega um conceito original com momentos bastante criativos.
Prós
- Manipulação de objetos dos cenários proporciona desafios inventivos;
- Boa diversidade de estágios e situações;
- Ambientação carismática com pixel art e música micro-chill.
Contras
- Grande quantidade de trechos de tentativa e erro;
- Muitos desafios exigem precisão não proporcionada plenamente pelos controles;
- Ausência de mapas atrapalha a navegação.
MainFrames — PC/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Arcade Crew
Análise produzida com cópia digital cedida pela The Arcade Crew