Nos confrontos de Knights in Tight Spaces, guerreiros usam de artimanha e de estratégia para saírem vivos de situações complicadas. O jogo mescla construção de baralhos roguelike com RPG tático com foco em posicionamento, afinal as lutas se passam em espaços compactos. O sucessor espiritual de Fights in Tight Spaces apresenta várias mecânicas inéditas, como grupos de heróis e equipamentos, resultando em uma experiência mais elaborada, porém ainda com problemas notáveis.
Em pancadarias intensas em espaços diminutos
Em um mundo de fantasia medieval, diversos guerreiros enfrentam bandidos e criaturas mágicas em combates estratégicos por turnos. As arenas são divididas em espaços e as ações, como mover ou atacar, são ativadas por meio de cartas. Em cada turno, recebemos um novo conjunto de cartões que não são mantidos entre as rodadas, então é necessário fazer o melhor possível com a mão disponível no momento. Como sempre, há indicação do próximo movimento dos inimigos para possibilitar escolhas conscientes.Como o nome implica, os embates acontecem em espaços apertados, como tavernas, pontes ou praças. Para piorar, na maioria das vezes a quantidade de inimigos é grande, então estamos constantemente cercados. Sendo assim, para sobreviver, é essencial se aproveitar do posicionamento, principalmente movendo os oponentes — com um pouco de planejamento, é fácil fazer um inimigo acertar o outro ou chutá-los para fora da arena.
A grande novidade em relação ao antecessor é a inclusão de sistemas de RPG. Durante as jornadas, podemos montar um grupo de até três heróis de classes distintas, como guerreiro, ladino, mago e arqueiro, cada qual com um estilo único de jogo. Durante os embates, os personagens podem atacar em conjunto, aumentando as possibilidades estratégicas. O porém é que o grupo compartilha das mesmas cartas, o que traz mais complexidade aos embates.
A estrutura roguelike continua presente, com rotas variadas repletas de batalhas e eventos. Durante a jornada, é possível fortalecer os heróis com cartas, equipamentos e até recrutar novos guerreiros em estalagens. Como é de praxe, a morte do líder do grupo resulta em derrota, sendo necessário recomeçar a jornada do zero — ao menos novas classes e cartas são desbloqueadas entre as partidas, trazendo novidades para tentativas futuras.
A alta dificuldade do gênero está presente, bastando poucos erros para ser derrotado. Por sorte, o jogo conta com diferentes níveis de desafio, sendo as mudanças mais significativas mãos com seleção mais acessíveis de cartas e a possibilidade de desfazer turnos, contando com modalidades mais complicadas. Fora isso, há também um modo que oferece desafios diários distintos.
Cartas e posicionamento em confrontos táticos elaborados
De longe, a característica mais notável de Knights in Tight Spaces é sua interpretação única de RPG tático cujos combates acontecem em arenas bem pequenas. Por estarmos em constante desvantagem, o desafio é conseguir atacar e esquivar nesses espaços tão apertados. Para isso, há muitas ferramentas disponíveis, como fazer inimigos golpear uns aos outros ou mover os oponentes para evitar golpes. Particularmente, adoro a sensação de recompensa de sair ileso de situações em que estou completamente cercado.A possibilidade de controlar mais de um herói torna os embates ainda mais interessantes pois, com um pouco de estratégia, é possível desferir ataques combinados devastadores. As várias classes adicionam uma camada de possibilidades, em especial os personagens especializados em ofensivas à longa distância, como os arqueiros ou os magos, afinal eles contam com habilidades distintas, que podem ser customizadas com equipamentos e itens.
A presença de mais guerreiros também traz desafios. Como o grupo compartilha a mesma mão de cartas, cada decisão precisa ser bem calculada. Além disso, a movimentação se torna mais limitada com personagens adicionais no campo de batalha, tornando os confrontos ainda mais estratégicos.
Como é de praxe, dominar todos esses detalhes é essencial para sobreviver, pois a dificuldade é crescente. Aos poucos, aparecem inimigos com características únicas, como capangas que não podem ser movidos, monstros que atacam assim que entramos na sua área de alcance e efeitos negativos diversos. Capacidade de adaptação e muita experimentação são constantemente necessários para poder avançar.
Fora isso, é difícil não notar a atmosfera impactante com gráficos cel shading. A pancadaria em si é repleta de movimentos estilosos, com direito a um replay que executa os turnos em sequência como num filme de ação — é uma pena que as transições sejam um pouco bruscas. Infelizmente o resto da ambientação sofre com diálogos de fantasia genéricos e uma trilha sonora eletrônica que não combina com a temática.
Muitos tropeços em uma jornada que se repete
Apesar da combinação notável de estratégia e montagem de baralhos, Knights in Tight Spaces tem problemas significativos que comprometem a experiência com o passar do tempo. O pior é que muitos deles já estavam presentes no título anterior e acabaram retornando na sequência.O defeito mais impactante é que a variedade de situações é muito limitada, mesmo com a geração procedural. Apesar de apresentar mapas e inimigos diferentes, as lutas são muito similares, muitas vezes exigindo estratégias parecidas para serem vencidas. Alguns elementos, como objetivos alternativos e missões opcionais, tentam amenizar isso, mas não são suficientes para acabar com a sensação de mais do mesmo.
Outra questão negativa é a diversidade de ações em combate. Há uma grande quantidade de cartas, mas muitas delas são muito parecidas, apresentando variações pequenas nos efeitos. Além disso, o sistema de combo é um pouco desajeitado e é difícil ter todos os cartões na mão na hora certa para conseguir ativar seus efeitos.
A construção de baralhos carece de equilíbrio. Estratégias baseadas em veneno ou sangramento perdem eficácia nas fases avançadas, tornando-as inviáveis. Um conjunto focado em mover inimigos é interessante em um primeiro momento, mas logo fica inútil quando a maioria dos oponentes passa a ser imune a isso. Essas decisões tiram um pouco do aspecto de criatividade com sinergias presente em outros roguelikes do estilo.
Por fim, a inclusão de classes é uma adição interessante que tenta justamente trazer mais estilos de jogo, no entanto, na prática, tem pouco impacto. O problema é que os diferentes tipos de heróis compartilham praticamente todas as mesmas cartas, fazendo com que eles sejam muito parecidos entre si. Para piorar, as mãos não foram balanceadas para a equipe, então é muito comum turnos em que um ou outro personagem não consegue agir de forma significativa, atrapalhando o aspecto estratégico.
Apesar das falhas, Knights in Tight Spaces entrega um sistema de combate criativo e desafiador. Para quem consegue relevar suas limitações, há diversão garantida, e futuras atualizações podem aprimorar ainda mais a experiência.
Um roguelike simultaneamente notável e falho
Knights in Tight Spaces oferece uma abordagem criativa ao combinar estratégia tática e construção de baralhos em combates dinâmicos e claustrofóbicos. A inclusão de múltiplos heróis amplia as possibilidades estratégicas, permitindo ataques combinados e diferentes abordagens de jogo. No entanto, a experiência sofre com a repetitividade das lutas e o balanceamento problemático das cartas, limitando a variedade de estratégias viáveis. Mesmo com um sistema de combate envolvente, a falta de diversidade nos desafios pode tornar a jornada previsível com o tempo.Ainda assim, para aqueles que apreciam batalhas estratégicas e mecânicas de deckbuilding, o jogo oferece momentos recompensadores, especialmente ao dominar o posicionamento e sair ileso de situações aparentemente impossíveis. A esperança é de que futuras atualizações tragam ajustes e melhorias, tornando a experiência ainda mais equilibrada e variada. Enquanto isso, Knights in Tight Spaces segue como uma opção interessante para fãs do gênero que estejam dispostos a superar suas limitações.
Prós
- Sistema de combate interessante que mistura posicionamento e cartas de maneiras notáveis;
- A adição de classes e elementos de RPG adicionam nuances estratégicas às partidas;
- Boas opções de acessibilidade para atender diferentes tipos de jogadores;
- Visual estiloso e impactante.
Contras
- Variedade limitada de situações e cartas trazem sensação de repetição;
- Elementos de montagem de baralho são desbalanceados e desestimulam a criatividade;
- O andamento dos combates sofre impacto com grupos de heróis maiores;
- Apesar da atmosfera elaborada, a música e o texto são genéricos.
Knights in Tight Spaces — PC — Nota: 7.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury