Análise: Knights in Tight Spaces traz confrontos estratégicos em arenas apertadas

O sucessor do roguelike de pancadaria introduz várias novidades, mas mantém muitos dos problemas do original.

em 04/03/2025

Nos confrontos de Knights in Tight Spaces, guerreiros usam de artimanha e de estratégia para saírem vivos de situações complicadas. O jogo mescla construção de baralhos roguelike com RPG tático com foco em posicionamento, afinal as lutas se passam em espaços compactos. O sucessor espiritual de Fights in Tight Spaces apresenta várias mecânicas inéditas, como grupos de heróis e equipamentos, resultando em uma experiência mais elaborada, porém ainda com problemas notáveis.

Em pancadarias intensas em espaços diminutos

Em um mundo de fantasia medieval, diversos guerreiros enfrentam bandidos e criaturas mágicas em combates estratégicos por turnos. As arenas são divididas em espaços e as ações, como mover ou atacar, são ativadas por meio de cartas. Em cada turno, recebemos um novo conjunto de cartões que não são mantidos entre as rodadas, então é necessário fazer o melhor possível com a mão disponível no momento. Como sempre, há indicação do próximo movimento dos inimigos para possibilitar escolhas conscientes.


Como o nome implica, os embates acontecem em espaços apertados, como tavernas, pontes ou praças. Para piorar, na maioria das vezes a quantidade de inimigos é grande, então estamos constantemente cercados. Sendo assim, para sobreviver, é essencial se aproveitar do posicionamento, principalmente movendo os oponentes — com um pouco de planejamento, é fácil fazer um inimigo acertar o outro ou chutá-los para fora da arena.

A grande novidade em relação ao antecessor é a inclusão de sistemas de RPG. Durante as jornadas, podemos montar um grupo de até três heróis de classes distintas, como guerreiro, ladino, mago e arqueiro, cada qual com um estilo único de jogo. Durante os embates, os personagens podem atacar em conjunto, aumentando as possibilidades estratégicas. O porém é que o grupo compartilha das mesmas cartas, o que traz mais complexidade aos embates.


A estrutura roguelike continua presente, com rotas variadas repletas de batalhas e eventos. Durante a jornada, é possível fortalecer os heróis com cartas, equipamentos e até recrutar novos guerreiros em estalagens. Como é de praxe, a morte do líder do grupo resulta em derrota, sendo necessário recomeçar a jornada do zero — ao menos novas classes e cartas são desbloqueadas entre as partidas, trazendo novidades para tentativas futuras.

A alta dificuldade do gênero está presente, bastando poucos erros para ser derrotado. Por sorte, o jogo conta com diferentes níveis de desafio, sendo as mudanças mais significativas mãos com seleção mais acessíveis de cartas e a possibilidade de desfazer turnos, contando com modalidades mais complicadas. Fora isso, há também um modo que oferece desafios diários distintos.



Cartas e posicionamento em confrontos táticos elaborados

De longe, a característica mais notável de Knights in Tight Spaces é sua interpretação única de RPG tático cujos combates acontecem em arenas bem pequenas. Por estarmos em constante desvantagem, o desafio é conseguir atacar e esquivar nesses espaços tão apertados. Para isso, há muitas ferramentas disponíveis, como fazer inimigos golpear uns aos outros ou mover os oponentes para evitar golpes. Particularmente, adoro a sensação de recompensa de sair ileso de situações em que estou completamente cercado.

A possibilidade de controlar mais de um herói torna os embates ainda mais interessantes pois, com um pouco de estratégia, é possível desferir ataques combinados devastadores. As várias classes adicionam uma camada de possibilidades, em especial os personagens especializados em ofensivas à longa distância, como os arqueiros ou os magos, afinal eles contam com habilidades distintas, que podem ser customizadas com equipamentos e itens.


A presença de mais guerreiros também traz desafios. Como o grupo compartilha a mesma mão de cartas, cada decisão precisa ser bem calculada. Além disso, a movimentação se torna mais limitada com personagens adicionais no campo de batalha, tornando os confrontos ainda mais estratégicos.

Como é de praxe, dominar todos esses detalhes é essencial para sobreviver, pois a dificuldade é crescente. Aos poucos, aparecem inimigos com características únicas, como capangas que não podem ser movidos, monstros que atacam assim que entramos na sua área de alcance e efeitos negativos diversos. Capacidade de adaptação e muita experimentação são constantemente necessários para poder avançar.


Fora isso, é difícil não notar a atmosfera impactante com gráficos cel shading. A pancadaria em si é repleta de movimentos estilosos, com direito a um replay que executa os turnos em sequência como num filme de ação — é uma pena que as transições sejam um pouco bruscas. Infelizmente o resto da ambientação sofre com diálogos de fantasia genéricos e uma trilha sonora eletrônica que não combina com a temática.



Muitos tropeços em uma jornada que se repete

Apesar da combinação notável de estratégia e montagem de baralhos, Knights in Tight Spaces tem problemas significativos que comprometem a experiência com o passar do tempo. O pior é que muitos deles já estavam presentes no título anterior e acabaram retornando na sequência.

O defeito mais impactante é que a variedade de situações é muito limitada, mesmo com a geração procedural. Apesar de apresentar mapas e inimigos diferentes, as lutas são muito similares, muitas vezes exigindo estratégias parecidas para serem vencidas. Alguns elementos, como objetivos alternativos e missões opcionais, tentam amenizar isso, mas não são suficientes para acabar com a sensação de mais do mesmo.


Outra questão negativa é a diversidade de ações em combate. Há uma grande quantidade de cartas, mas muitas delas são muito parecidas, apresentando variações pequenas nos efeitos. Além disso, o sistema de combo é um pouco desajeitado e é difícil ter todos os cartões na mão na hora certa para conseguir ativar seus efeitos.

A construção de baralhos carece de equilíbrio. Estratégias baseadas em veneno ou sangramento perdem eficácia nas fases avançadas, tornando-as inviáveis. Um conjunto focado em mover inimigos é interessante em um primeiro momento, mas logo fica inútil quando a maioria dos oponentes passa a ser imune a isso. Essas decisões tiram um pouco do aspecto de criatividade com sinergias presente em outros roguelikes do estilo.


Por fim, a inclusão de classes é uma adição interessante que tenta justamente trazer mais estilos de jogo, no entanto, na prática, tem pouco impacto. O problema é que os diferentes tipos de heróis compartilham praticamente todas as mesmas cartas, fazendo com que eles sejam muito parecidos entre si. Para piorar, as mãos não foram balanceadas para a equipe, então é muito comum turnos em que um ou outro personagem não consegue agir de forma significativa, atrapalhando o aspecto estratégico.

Apesar das falhas, Knights in Tight Spaces entrega um sistema de combate criativo e desafiador. Para quem consegue relevar suas limitações, há diversão garantida, e futuras atualizações podem aprimorar ainda mais a experiência.



Um roguelike simultaneamente notável e falho

Knights in Tight Spaces oferece uma abordagem criativa ao combinar estratégia tática e construção de baralhos em combates dinâmicos e claustrofóbicos. A inclusão de múltiplos heróis amplia as possibilidades estratégicas, permitindo ataques combinados e diferentes abordagens de jogo. No entanto, a experiência sofre com a repetitividade das lutas e o balanceamento problemático das cartas, limitando a variedade de estratégias viáveis. Mesmo com um sistema de combate envolvente, a falta de diversidade nos desafios pode tornar a jornada previsível com o tempo.

Ainda assim, para aqueles que apreciam batalhas estratégicas e mecânicas de deckbuilding, o jogo oferece momentos recompensadores, especialmente ao dominar o posicionamento e sair ileso de situações aparentemente impossíveis. A esperança é de que futuras atualizações tragam ajustes e melhorias, tornando a experiência ainda mais equilibrada e variada. Enquanto isso, Knights in Tight Spaces segue como uma opção interessante para fãs do gênero que estejam dispostos a superar suas limitações.

Prós

  • Sistema de combate interessante que mistura posicionamento e cartas de maneiras notáveis;
  • A adição de classes e elementos de RPG adicionam nuances estratégicas às partidas;
  • Boas opções de acessibilidade para atender diferentes tipos de jogadores;
  • Visual estiloso e impactante.

Contras

  • Variedade limitada de situações e cartas trazem sensação de repetição;
  • Elementos de montagem de baralho são desbalanceados e desestimulam a criatividade;
  • O andamento dos combates sofre impacto com grupos de heróis maiores;
  • Apesar da atmosfera elaborada, a música e o texto são genéricos.
Knights in Tight Spaces — PC — Nota: 7.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Raw Fury
Siga o Blast nas Redes Sociais
Farley Santos
é brasiliense e gosta de explorar games indie e títulos obscuros. Fã de Yoko Shimomura, Yuzo Koshiro e Masashi Hamauzu, é apreciador de roguelikes, game music, fotografia e livros. Pode ser encontrado no seu blog pessoal e nas redes sociais por meio do nick FaruSantos.
Este texto não representa a opinião do GameBlast. Somos uma comunidade de gamers aberta às visões e experiências de cada autor. Você pode compartilhar este conteúdo creditando o autor e veículo original (BY-SA 3.0).