O famigerado gênero FPS (First Person Shooter) passou por uma trajetória de constante evolução, marcada por inovações que redefiniram a jogabilidade, a tecnologia e a imersão dos jogadores. Desde os primeiros experimentos até as produções modernas, cada avanço trouxe novas mecânicas, aprimoramentos gráficos e modos de interação que expandiram os limites da experiência. Elementos como inteligência artificial avançada, física realista, multiplayer online e narrativas cinematográficas consolidaram o gênero como um dos mais populares da indústria. Diante disso, exploraremos as principais contribuições que moldaram sua história e impacto.
Wolfenstein (1992)
Não foi o primeiro FPS da história (o primeiro foi Maze Runner, em 1981), mas é considerado um dos títulos de maior avanço no mundo dos shooters. Em Maze Runner, o game de labirinto limitava a locomoção do personagem, fazendo com que o jogador percorresse longos corredores estreitos sem ter razão para olhar para explorar o cenário, exceto para escolher caminhos diante de bifurcações. Porém, com Wolfenstein, os espaços foram ampliados, transformando corredores em salas maiores e permitindo transitar entre elas livremente.
Apesar de o sistema ainda ser um pouco limitado, não permitindo percorrer todas as diagonais com perfeição, o game cumpre bem a função de introduzir o espaço e texturizar os ambientes, fazendo o jogador se sentir imerso.
Plataformas: MS-DOS (PC); Super Nintendo (SNES); Atari Jaguar; 3DO; Game Boy Advance; PlayStation 3 (via download); Xbox 360 (via download).
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“Experiência 3D que permitia andar por diversas direções em primeira pessoa.” |
Doom (1993)
Um dos jogos mais demoníacos da história, Doom não fez sucesso apenas pela temática polêmica, mas também por introduzir avançados gráficos 3D e criar profundidade em plataformas. O game, desenvolvido pelo mesmo John Romero que criou Wolfenstein, apresentou, em apenas um ano de diferença, um salto gráfico notório e uma jogabilidade mais fluida que a de seu predecessor.
Com um sistema de chaves, mapas mais complexos, trilha sonora baseada em heavy metal, design criativo de inimigos e um ambiente imersivo e infernal, o título se tornou um “blockbuster” do hall da fama dos games. Romero ainda introduziu um modo multiplayer que permitia os jogadores de PC se enfrentarem no famoso “Deathmatch”, ou até jogar em cooperação.
Plataformas: MS-DOS (PC); Super Nintendo (SNES); PlayStation; Sega 32X; Atari Jaguar; 3DO; Game Boy Advance; PlayStation 3 (via download); Xbox 360 (via download); Nintendo Switch.
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“Modo multiplayer em LAN (redes locais) apimentou a jogatina e a integração entre os amigos, alimentando as famosas partidas das LAN Houses.” |
Duke Nukem 3D (1996)
Na era em que o 3D já não era mais novidade, com os lançamentos do PS1 e N64, a 3D Realms resolveu impactar o mercado com um jogo que faria paródia de Arnold Schwarzenegger e outros filmes de ação dos anos 1990. O game reúne referências a filmes (como Evil Dead), frases de efeito e um protagonista que lutava para salvar mulheres sensualizadas, prostitutas e pelos Estados Unidos. Um ícone polêmico da masculinidade dos anos 1990, que bombou de sucesso nos consoles.
Duke Nukem 3D expandiu os horizontes trazendo um sistema de mira bem trabalhado, espaço amplo de exploração, permitindo ao jogador ir a lugares que nenhum jogo 3D havia possibilitado até então. Além disso, o sistema de itens trazia uma dinâmica diferenciada.
Plataformas: MS-DOS (PC); PlayStation; Sega Saturn; Nintendo 64; Xbox 360 (via Xbox Live Arcade); PlayStation 3; PlayStation 4 (edições remasterizadas); Xbox One (edições remasterizadas); Nintendo Switch (edições remasterizadas).![]() |
“Hail to the king baby!” Salve as “Babes” do jogo e ganhe vida. |
Quake (1996)
Seis meses após o lançamento de Duke Nukem, a Id Software trouxe Quake, um jogo que se baseava em Doom, mas agora com modelagens 3D para personagens e ambientes. Até então, Duke Nukem possuía salas sobrepostas, mas não havia modelagens 3D detalhadas para cada personagem. Essa adição proporcionou uma imersão mais realista, além de um multiplayer em rede local que permitia partidas de até 16 jogadores.
A história é semelhante à de Doom, retratando um soldado que viaja entre dimensões alternativas para prevenir uma invasão demoníaca.
Plataformas: MS-DOS (PC); Nintendo 64; Sega Saturn; PlayStation 4 (remaster); Xbox One (remaster); Xbox; Series X|S (remaster); Nintendo Switch (remaster); Windows (remaster).
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“Multiplayer consolidado nas Lan Houses, aprimorando a fórmula de Doom.” |
GoldenEye 007 (1997)
A década de 1990 reuniu muitos clássicos dos FPS, mas só um deles conseguiu reunir quatro players na frente de um console doméstico com tanto afinco como GoldenEye 007. O game se tornou uma referência da época por suas modelagens 3D bem-feitas (não apenas de personagens e objetos, como de veículos, armas e cenários detalhados). Além de contar com uma temática “James Bondiana” fazendo os jogadores entrarem na saga do espião mais famoso do cinema.
Mas se isso não bastasse, somando um sistema de missões que exigiam raciocínio, furtividade com armas silenciadoras, que permitiam ao jogador a oportunidade de jogar de maneira sorrateira (diferente dos FPS anteriores), ainda temos um adicional que é o robusto modo multiplayer com 11 fases e diversas armas para finalizar com olho de ouro, ou melhor dizendo, chave de ouro.
Plataformas: Nintendo 64; Xbox One (remaster); Xbox Series X|S (remaster); Nintendo Switch (via Switch Online).
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“Bond trouxe classe aos FPS, com missões que exigiam exploração, raciocínio, furtividade, e claro, uma boa dose de tiroteio.” |
Half Life (1998) / Counter Strike (1999)
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“Corre que tem um cientista armado!” |
Em Half Life temos um encontro especial com um personagem um tanto inusitado comparado aos nossos atiradores de outros shooters. Gordon Freeman - diferente do Blazkowicz de Wolfenstein, Doom Guy, Duke Nukem e James Bond - não era um atirador, sendo apenas um cientista comum que se meteu numa “enrascada” em um experimento no qual precisava sair do laboratório a todo custo, eliminando qualquer alienígena (pelo menos no começo) que aparecesse em sua frente para chegar logo à superfície, com um traje que lhe garantia um aumento dos seus atributos físicos.
O jogo possui um bom sistema de mira, uma fluidez de movimentação, boas modelagens gráficas para a época, necessidade de pensar em alguns momentos para passar de algumas áreas com soluções difíceis, o que fez esse game entrar não somente para o Hall da Fama, mas para o “Hall dos Mods”. E claro, não podemos falar de Half Life sem falar do seu mod que fez mais sucesso que o próprio game: talvez você já deva ter escutado sobre um tal de Counter Strike (CS).
Minh Le era um modder (quem cria versões alternativas de jogos já existentes) vietnamita, realizava mods de Quake. Porém, com o lançamento de Half Life e com o avanço das suas criações, resolveu se juntar a Jess Cliffe, que era um programador norte-americano, e realizaram alterações e testes de combates táticos para o jogo. E no modo multiplayer em rede local (LAN), trouxe modos de resgatar reféns, dominar áreas, desarmar bombas e confrontos sempre com uma alta qualidade de precisão das miras, nunca vista igual até então.
Mas para falar de CS precisamos entender todo o contexto que abrigava o game. O jogo possuía dois times, o dos terroristas e o dos contraterroristas. Essa temática de “terrorismo” se popularizou mais depois de 2001, com o acidente das torres gêmeas em 11 de setembro nos EUA, e o início da guerra ao terror pelo governo Bush. O mundo passou a olhar para Counter Strike como um reflexo geopolítico e jogar o game ofertava a escolha de um dos lados para o jogador tomar parte desse contexto histórico.
Plataformas de Half Life: PC (Windows); PlayStation 2; Dreamcast (cancelado, mas a versão vazou online.
Plataformas de Counter-Strike: PC (Windows, Linux, macOS); Xbox (versão Counter-Strike de 2003).
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“Febre dos corujões (Lan Houses que ficavam abertas à noite para as jogatinas), Counter Strike trouxe o ápice dos movimentos das Lan Houses ao redor do mundo.” |
Medal of Honor (1999)
Nesse ano a Electronic Arts (EA) não estava para brincadeira ao publicar uma grande obra dos jogos de guerra com desenvolvimento da DreamWorks e Steven Spielberg. As semelhanças da jogabilidade e sistema de missões do jogo com o 007 da Rare não são mera coincidência, o filho de Spielberg era um jogador fanático por GoldenEye, enquanto o pai era fã da temática da Segunda Guerra Mundial. Por isso, nessa sintonia, acabaram criando o Medal of Honor.
O diferencial do jogo foi a introdução de cinemáticas reais da Segunda Guerra, trazendo profundidade e imersão ao contexto e sensibilizando o jogador, além de uma trilha sonora fantástica, a nível de produção cinematográfica. Aliás, muitos dos áudios detalhados de soldados, explosões e tiros foram retirados do filme vencedor de óscar “O Resgate do Soldado Ryan”. O game também contava com multiplayer local e diversos personagens para a escolha.
Plataforma: PlayStation.
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“Trilha sonora, cutscenes reais e ambientação de Segunda Guerra Mundial como nunca havíamos visto até então.” |
Unreal Tournament (1999)
Lançado pela Epic Games, Unreal Tournament possuía foco total no multiplayer, introduzindo modos como Capture the Flag e Assault, que exigiam estratégia e trabalho em equipe. O jogo se destacou pela inteligência artificial avançada dos bots, que simulavam jogadores reais, e pelos gráficos impressionantes da Unreal Engine, com ambientes detalhados e efeitos de iluminação inovadores. A variedade de armas e a possibilidade de criar mods e mapas personalizados fortaleceram uma comunidade ativa, consolidando o jogo como um marco dos eSports e dos FPS competitivos com partidas multiplayer de até 32 jogadores.
Plataformas: PC (Windows, Linux, macOS); PlayStation 2; Dreamcast.
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"Trouxe maior competitividade para o gênero FPS. Com uma jogabilidade frenética, criou uma base sólida para o que viria a ser o cenário do eSports moderno." |
Hasta La Vista, Baby!
Esta é apenas a primeira parte do especial que promete explorar ainda a história dos FPS. No próximo capítulo, mergulharemos nos anos 2000, quando o gênero atingiu novos patamares com gráficos realistas, narrativas complexas e multiplayers diversificados. Prepare-se para descobrir como jogos como Halo, Call of Duty e Battlefield continuaram a moldar o futuro dos shooters. Fique atento, porque a jornada está apenas começando, e você não vai querer perder o que vem por aí!
Revisão: Vitor Tibério