Lançado pela Capcom no final dos anos 90 e competindo pela atenção do público junto a outros RPGs clássicos como Final Fantasy VII e Zelda: Ocarina of Time, Breath of Fire III trouxe inovações para a franquia e trilhou um caminho diferente do que os outros estavam fazendo: em vez de utilizar os gráficos completamente poligonais possibilitados pelo PlayStation e pelo Nintendo 64, ele utilizou gráficos em 3D combinados com sprites 2D detalhados, além de uma bela trilha sonora e uma história rica em temas sobre amadurecimento, amizade e identidade. Pessoalmente, eu tenho um carinho especial pelo jogo, pois foi meu primeiro RPG da era 32 bits. Mas o que torna Breath of Fire III digno de ser lembrado?
Uma jornada sobre amadurecimento
A história acompanha Ryu, um jovem que descobre sua identidade como um dos últimos dragões enquanto viaja pelo mundo com seus companheiros. A história se divide em duas partes: a infância e a (súbita) fase adulta de Ryu após um salto temporal. Essa abordagem traz camadas sobre o relacionamento dos personagens, além de valorizar sua complexidade emocional.
Além de Ryu, o jogo apresenta outros personagens que desempenham papéis essenciais; alguns até se repetem em outros jogos da franquia como diferentes encarnações. Nina, a princesa alada em busca de sua própria força fora da realeza; Rei, o ladrão de bom coração que age como um irmão mais velho para Ryu; Teepo, um jovem mago órfão que vive com Ryu e Rei; Garr, o guerreiro com um passado sombrio misteriosamente relacionado a Ryu; Momo, uma cientista brilhante buscando seguir o legado do pai; e Peco, a estranha criatura conectada com a natureza e com uma sabedoria ancestral. Cada um deles possui motivações bem definidas e conflitos internos que tornam suas trajetórias tão memoráveis quanto à do protagonista.
Sistema de Dragon Genes: quase mil possibilidades
Uma das mecânicas que mais me marcou em Breath of Fire III foi o sistema de Dragon Genes, que permite que Ryu se transforme em diferentes dragões utilizando genes que ele adquire durante sua jornada. Ao usar o poder dos genes (individualmente, duplas ou trincas) antes da transformação, o jogador cria dragões com atributos e habilidades específicas que podem mudar o desfecho de um combate.

Os Dragon Genes são divididos em categorias que afetam diferentes aspectos da transformação, como resistência, força, magia e habilidades elementais. Por exemplo, combinar os genes de fogo, gelo e trovão geram um Trygon, um dragão capaz de dominar os três elementos; agora, combinar um gene de fogo com um gene de força resulta em um dragão com ataques físicos poderosos; enquanto adicionar um gene de defesa cria uma forma mais resistente. Considerando que existem 18 Dragon Genes e que eles podem ser utilizados sozinhos, em duplas ou trincas, é possível fazer 987 combinações diferentes.
A mecânica dos Dragon Genes não só enriquece o combate, mas reforça a narrativa do jogo, pois está intimamente ligada à jornada de Ryu em busca do seu passado, enquanto tenta compreender sua natureza como um dos últimos dragões do mundo.
Sistema de batalha clássico e estratégico
O combate de Breath of Fire III segue uma fórmula clássica de combate por turnos, mas com mecânicas que o tornam mais estratégico, como o posicionamento dos personagens. Algumas posições favorecem usuários de magia, já outras favorecem aqueles que utilizam ataques físicos, e também há aquelas que curam com o tempo e priorizam defesa.
Outro elemento-chave é o sistema de mestres, que permite que os personagens treinem sob a tutela de mestres espalhados pelo mundo. Cada mestre influencia os atributos que se desenvolverão ao subir de nível. Assim, o jogador pode escolher se criará personagens equilibrados em todos os atributos ou se focará naquilo que eles já fazem bem.
Vila das Fadas: gerenciando uma comunidade mágica
Uma das mecânicas mais singulares de Breath of Fire III (e que fez este que vos escreve perder horas e horas da vida jogando) é a Vila das Fadas, onde Ryu se torna o administrador de uma pequena vila habitada por fadas. Inicialmente, a vila está vazia e subdesenvolvida, mas, com alguma dedicação, é possível recrutar novas fadas e atribuir-lhes diferentes funções, como produção de alimentos, construção de casas e comércio.
A escolha de tarefas influencia diretamente o crescimento da vila e os benefícios que ela pode oferecer ao jogador. A vila pode desbloquear lojas exclusivas e itens raros que auxiliam na jornada.
O gerenciamento da vila exige planejamento, pois cada fada possui habilidades e talentos distintos que impactam diretamente o desenvolvimento da vila. Esse sistema adiciona uma mecânica de simulação ao jogo e oferece um elemento de progressão paralelo à aventura principal.
Um mundo vivo e repleto de detalhes
Outro destaque é a ambientação muito bem trabalhada de Breath of Fire III. A transição da série para gráficos 3D abriu as portas para cenários dinâmicos e criativos, enquanto os sprites 2D mantiveram o charme característico da franquia.
O design das cidades, florestas e masmorras, reforçado pela excelente trilha sonora composta por Akari Kaida e Yoshino Aoki, dá vivacidade ao mundo onde a trama do jogo se desenrola.
Muitas das cidades possuem seus próprios costumes e estruturas sociais, tornando cada nova área distinta e memorável. Wyndia é uma cidade que vive sob um regime de monarquia, e isso logo se nota através de sua arquitetura imponente como um grande castelo; Genmel é uma cidade de apostas com torneios e jogos realizados diuturnamente; já Junker é uma cidade improvisada com destroços que mostra como o povo se adaptou ao ambiente hostil.
A interação do jogador com o mundo não se limita às batalhas e missões. Elementos como o gerenciamento da Vila das Fadas, a evolução dos personagens através dos mestres e a experimentação com os Dragon Genes fazem com que sempre haja algo novo a ser descoberto.
O Legado de Breath of Fire III
Mesmo após mais de duas décadas, Breath of Fire III permanece como um dos grandes RPGs da era do PlayStation. A narrativa sobre crescimento e desenvolvimento, as mecânicas de batalha, a estética dos gráficos misturando 2D e 3D, e todos os minigames garantem que ele continue relevante e digno de ser redescoberto por novas gerações de jogadores.
Revisão: Ives Boitano