Recentemente, falamos sobre o Quake III: Arena aqui no GameBlast e seu impacto nos games de FPS ao fim da década de 1990. Porém, um outro jogo que talvez tenha impactado tanto quanto (ou até mais) a mesma cena foi lançado apenas 10 dias antes do jogo da id Software. Em 22 de novembro, chegava às prateleiras: Unreal Tournament.
Tal qual seu principal rival, Unreal Tournament (UT) era a primeira tentativa de um jogo multiplayer online, saindo de um game predecessor que focava em história e ação single player. Unreal trazia a exploração em uma ilha cheia de monstros e desafios, mas UT apresentava um modelo robusto de duelo em jogos com os amigos.
O jogo também foi portado para o PlayStation 2 e o Dreamcast. E, claro, como todo jogo da época, sofreu alguns downgrades para que pudesse rodar nos consoles de mesa. Mesmo assim, ainda são versões muito fiéis à experiência do PC, deixando pouco a desejar. A versão de PS2, inclusive, podia ser jogada com mouse e teclado USB (escolha que se repetiria em Unreal Tournament III no PS3).
Surgimento
UT traz uma história curiosa por trás de seu desenvolvimento. O jogo Unreal, lançado em maio de 1998, apesar de focado no modo história, trazia um modo online multiplayer, mas ainda muito precário.
A Epic Games percebeu que isso estava segurando o sucesso do jogo, então resolveu expandir o modo multiplayer, refiná-lo. Alguns meses se passaram e a empresa percebeu que a tarefa não era tão simples quanto parecia, não daria para lançar apenas um patch e pronto; era preciso mais.
Então, após um tempo de reflexão, os esforços foram focados em criar um jogo novo com apenas o modo multiplayer, mas que funcionasse sem problemas. Nascia assim o Unreal: Tournament Edition.
Modos de jogo
Apesar de até contar com um modo história, o jogo é claramente focado na trocação de tiro sincera e honesta entre os jogadores. Modos como Deathmatch, Team Deathmatch e Last Man Standing apresentavam isso em sua mais pura essência.
Depois, vêm os modos com um pouco de estratégia a mais: Domination e Capture the Flag (CTF). O CTF é o clássico modo de um mapa simétrico, com duas bases, onde cada time tem que ir até a base adversária, capturar a bandeira e retornar para a sua própria base com ela para marcar ponto. Já Domination era um modo de jogo de controlar pontos físicos no mapa e, quem controlasse mais, ganhava pontos mais rapidamente, finalizando em um limite preestabelecido.
Por fim, o modo Assault era a principal novidade. Um time atacava primeiro, enquanto o outro defendia. O time atacante tinha uma sequência de missões para cumprir, fosse ativar algum botão, acessar certa parte do mapa, etc. Depois os papéis eram trocados. Quem fizesse em menos tempo saía vencedor (ou, caso um time completasse todas as missões na sua vez de atacar e o adversário não completasse, haveria um claro vencedor).
Modificadores
Unreal Tournament, apesar de desenvolvido na mesma época, traz uma pegada muito similar à de Quake III. A inspiração em ficção científica é clara, seja pelos cenários, seja pelas armas. Itens como Rocket Launcher, Flack Cannon, Plasma Gun, Ripper, Shock Rifle e Redeemer eram armas muito longe da realidade, disparando discos, lasers e até um míssil nuclear.
Quanto aos mapas, UT trouxe um dos locais mais celebrados da história do FPS: Facing Worlds, que consiste em um mapa de CTF, jogado no espaço e que virou referência para diversos outros jogos e mapas. G4tv, Kotaku e Red Bull premiaram o mapa entre os melhores do gênero.
Outro ponto apresentado, no primeiro patch de update (não existia a política de DLC naquela época), foram os modificadores, que permitiam adicionar modos de jogo com apenas uma arma capaz de matar em um único tiro, modos com mais vida, entre outros. Mas o que mais se destacou foram as relíquias.
Relíquias eram elementos espalhados pelo mapa, até seis ao todo. Cada uma trazia um poder diferente: a relíquia da Speed aumentava a velocidade do jogador; da Strength aumentava a força; e da Defense diminuía o dano recebido. As outras três restantes eram as que mais alteravam o jogo: Regeneration era capaz de regenerar a vida até um limite de 150%; da Vengeance causava uma explosão gigantesca caso seu portador morresse; e a da Redemption dava uma vida nova ao jogador que morria segurando-a, teletransportando-o para outro ponto do mapa.
Legado
Unreal Tournament talvez não tenha feito um sucesso global tanto quanto seu principal adversário, mas o fato é que se tornou rapidamente um clássico. O game conta com diversas continuações, como Unreal Tournament 2003, Unreal Tournament 2004 e Unreal Tournament III.
A Epic ainda chegou a iniciar o desenvolvimento de Unreal Tournament 4 (hoje em dia conhecido como Unreal Tournament Alpha), projetando-o aos poucos e ouvindo a comunidade assídua fã da franquia. Porém, com o sucesso de Fortnite que veio logo na sequência, a empresa cancelou o seu desenvolvimento para focar no jogo que a faria ser a gigante que é hoje.
Unreal Tournament foi bem recebido por crítica e público. Ganhou diversos prêmios de jogo do ano em 1999, seja pela votação de especialistas ou por votação popular. No Metacritic, possui um agregado de notas de 92% na versão de PC, 90% no Dreamcast e 77% no PS2. No GameRankings, a versão de PC ficou com 94%, a única presente.
Hoje em dia ainda não é mais possível adquirir o jogo, seja na Epic Store ou no Steam. Mas quem comprou o game antes de ser removido ainda pode baixar e jogar. Ou por meio de cópias físicas sendo revendidas. Mesmo assim, o jogo ainda mantém seu local como um dos precursores do gênero FPS.
Revisão: Ives Boitano