Em 2001, no Japão, era lançado Zero para PlayStation 2, o primeiro capítulo de uma série que, embora nunca tenha alcançado números absurdos de vendas, se consolidou como uma das mais interessantes franquias de jogos de terror. Enquanto na Europa o título ficou conhecido como Project Zero, na América, ele recebeu o nome de Fatal Frame.
Terror e mistério na Mansão Himuro
A história de Fatal Frame começa com um jovem chamado Mafuyu Hinasaki investigando a Mansão Himuro, uma residência supostamente mal-assombrada, em busca do renomado escritor e folclorista Junsei Takamine, que aparentemente desapareceu no local. Infelizmente, Mafuyu também acaba desaparecendo.
Algumas semanas depois, sua irmã, Miku Hinasaki, decide entrar na mansão para descobrir o que aconteceu com ele. Durante sua exploração, ela encontra uma estranha câmera fotográfica que havia sido levada ao local pelo próprio Mafuyu. Ao tocá-la, a garota tem uma visão assustadora: seu irmão sendo perseguido por uma entidade fantasmagórica.
Determinada a encontrar respostas e percebendo que está presa na mansão, Miku continua sua investigação, levando o jogador a desvendar, aos poucos, os segredos por trás dos desaparecimentos, além de conhecer alguns rituais macabros que ocorriam ali e que parecem estar ligados à origem da assombração no local.
Sendo um jogo de terror japonês, Fatal Frame explora bastante o conceito de que pessoas que morreram com sentimentos intensos ou de forma trágica acabam ficando com o espírito preso no local de falecimento, passando a assombrá-lo. É exatamente esse aspecto que torna a história do jogo tão envolvente, pois muitos dos fantasmas que encontramos possuem um passado muito bem construído. Graças a essa abordagem, o título consegue despertar empatia no jogador por alguns dos espíritos que ele enfrenta.
Além disso, o título se destaca na forma como conta sua história, revelando aos poucos as peças do quebra-cabeça central e mantendo o jogador constantemente interessado e curioso. Nesse sentido, documentos e gravações repletas de detalhes estão espalhados pela mansão, e eventos do passado são apresentados por meio de flashbacks assustadores, muitos dos quais são ativados quando Miku interage com artefatos ou espíritos específicos.
O jogador nunca está seguro
Essencialmente, Fatal Frame é um survival horror 3D em terceira pessoa que traz uma campanha dividida em capítulos. Embora o início da aventura não seja particularmente difícil, a parte final se torna bastante desafiadora, trazendo confrontos complicados que exigem que o jogador faça um bom gerenciamento de recursos. Vale destacar também que o jogo possui mais de um desfecho, característica que se repetiu em suas sequências.
Como é tradicional no gênero, nosso progresso é frequentemente bloqueado por puzzles, que geralmente envolvem a coleta e o uso de itens em locais específicos e na ordem correta. Além disso, com a chegada de cada novo capítulo, novas áreas se tornam acessíveis na mansão, tornando nossos trajetos cada vez maiores.
Além de toda a qualidade relacionada à trama, Fatal Frame é extremamente eficaz em sua ambientação, fazendo com que a Mansão Himuro seja um local sufocante, assustador e angustiante. Grande parte disso se deve ao fato de que, além de ambientes predominantemente escuros, muitos fantasmas surgem em locais estratégicos.
Nesse sentido, o jogo adota uma abordagem de câmera semifixa, que se movimenta levemente em algumas situações conforme o jogador navega pela área. Graças a essa característica, é comum presenciarmos momentos em que um espírito aparece no cômodo de baixo enquanto estamos no de cima, passa por baixo de uma escada que acabamos de subir ou surge em nossas costas após atravessarmos uma porta.
Como muitos fantasmas hostis surgem sem aviso prévio e os espíritos não violentos também conseguem assustar, acabamos caminhando pela mansão sempre com tensão, pois as entidades podem aparecer em qualquer lugar. Vale destacar que o jogo apresenta uma lista que pode ser preenchida com os “espíritos amistosos”, uma mecânica de complecionismo interessante e que recompensa o jogador com uma habilidade especial.
Graças a todos esses aspectos, o tradicional backtracking e a liberação gradual de novas áreas funcionam muito bem para tornar o jogo ainda mais assustador, pois Fatal Frame consegue transformar o simples ato de andar pelo local em algo aterrorizante. Como se pode imaginar, quanto mais precisamos explorar, maiores são as chances de fantasmas surgirem para nos assustar.
Batalhando com uma câmera
Em Fatal Frame, nossa principal arma é a câmera fotográfica, a qual recebe o nome de Câmera Obscura. Quando a utilizamos, a perspectiva muda para primeira pessoa e o analógico esquerdo passa a ser usado para movimentar a câmera, enquanto o direito, que normalmente não tem função, passa a controlar o movimento do personagem. Para derrotar ou capturar um espírito, ele precisa estar posicionado no círculo que aparece na visão da câmera.
Conforme derrotamos fantasmas, adquirimos pontos que podem ser usados para comprar aprimoramentos para a câmera, como habilidades para empurrar, desacelerar ou paralisar os oponentes. Além disso, o jogo conta com diferentes tipos de filmes, sendo que os mais raros são mais eficazes contra chefes. Neste game, gerenciar os recursos estrategicamente é essencial para os momentos mais complicados.
Por falar nos chefes, as batalhas contra esses oponentes poderosos são, geralmente, bem interessantes, com alguns deles possuindo habilidades que tornam as lutas bastante desafiadoras. Além disso, muitos deles possuem uma alta velocidade, o que dificulta nossa mira.
Por fim, há uma mecânica na qual podemos esperar o fantasma estar prestes a nos atacar para, então, tirar a foto, o que causa muito mais dano. Embora seja fácil realizar essa ação contra espíritos comuns, ela se torna particularmente difícil e arriscada contra chefes, mas também muito recompensadora.
Em termos gerais, embora o sistema de combate tenha sido refinado em títulos subsequentes, os confrontos neste primeiro Fatal Frame são funcionais e divertidos. Aqui, os diferentes tipos de inimigos e a dificuldade crescente incentivam o jogador a gerenciar bem seus filmes e itens restaurativos, enquanto os upgrades oferecem novas abordagens para os embates.
Uma série de muita qualidade
Fatal Frame recebeu sequências igualmente robustas e se consolidou como uma excelente série de terror, trazendo tramas que se conectam ao longo dos jogos. O segundo título, Fatal Frame II: Crimson Butterfly, foi lançado para PlayStation 2 em 2003 no Japão e chegou ao Ocidente no ano seguinte.
Nele, acompanhamos a história das irmãs gêmeas Mio e Mayu Amakura, que acabam presas no vilarejo de Minakami, o palco central do jogo. Esta obra é uma das mais assustadoras da série e aborda alguns eventos anteriores ao primeiro Fatal Frame, além de fornecer detalhes sobre os antepassados de Miku e Mafuyu. Em 2012, o game recebeu um remake para Nintendo Wii.
Fatal Frame III: The Tormented foi lançado para PlayStation 2 em 2005. Desta vez, assumimos o controle de Rei Kurosawa, uma fotógrafa que perdeu seu noivo, Yuu Asou (amigo de Mafuyu), em um acidente. A narrativa adota uma abordagem dividida entre sonho e realidade, com a maior parte dos desafios ocorrendo durante os pesadelos. Além de Rei, também controlamos Kei Amakura, parente da dupla de irmãs de Crimson Butterfly, e contamos com o retorno da própria Miku.
Em 2008, o quarto capítulo da saga, Fatal Frame: Mask of the Lunar Eclipse, foi lançado exclusivamente no Japão para Nintendo Wii. O título chegou ao Ocidente apenas em 2023 em uma versão remasterizada, atualmente disponível para todas as plataformas das gerações atual e passada.
Nesta entrada, acompanhamos Ruka Minazuki, Misaki Asō e Madoka Tsukimori, que retornam a uma ilha onde viveram um grande trauma no passado. Além delas, também controlamos Choushiro Kirishima, um detetive em busca de um suspeito de assassinatos e sequestros. Este quarto game é o que possui menos conexão com os demais.
Por fim, temos Fatal Frame: Maiden of Black Water, lançado para Wii U em 2014 no Japão e no Ocidente no ano seguinte. Assim como Mask of the Lunar Eclipse, o jogo recebeu uma versão remasterizada em 2021 e está disponível para todas as plataformas das gerações atual e passada.
Nesta obra, exploramos o Monte Hikami, um local com uma conexão peculiar entre o mundo dos vivos e dos mortos. Aqui, assumimos o controle de três personagens: Yuri Kozukata, uma jovem com poderes paranormais que vai à montanha em busca de uma pessoa desaparecida; Miu Hinasaki, que deseja encontrar sua mãe; e Ren Hojo, um autor em busca de inspiração. O título possui leves conexões com o primeiro Fatal Frame e revela detalhes sobre a origem da Câmera Obscura.
Embora a jogabilidade permaneça semelhante entre os jogos, houve uma evolução ao longo dos lançamentos, incluindo aprimoramentos gráficos, novas funcionalidades para a Câmera Obscura, aumento da velocidade de movimento dos personagens e a mudança da perspectiva para acompanhar diretamente os protagonistas, embora essa última alteração acabe tornando algumas aparições mais previsíveis.
Além disso, ainda que o conceito central seja similar entre grande parte dos jogos da série, cada título apresenta, com muita riqueza de detalhes, seus próprios rituais, personagens e fantasmas, tornando cada experiência verdadeiramente única.
O primeiro passo de uma ótima franquia
Fatal Frame foi o primeiro passo de uma franquia de terror muito interessante, cuja maioria dos jogos é verdadeiramente assustadora. Com o renascimento dos últimos dois títulos da série, resta torcer para que algum dia também possamos revisitar este primeiro game, além de seus dois sucessores do PlayStation 2, em versões atualizadas.
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut