O tabu da alquimia e o continente em ruínas
Há muito tempo, o Império de Aladiss foi varrido do mapa em uma grave e misteriosa catástrofe. Com o auxílio da alquimia, a região prosperou durante muito tempo, mas, desde então, sobraram apenas ruínas espalhadas por sua longa extensão territorial.
Para melhor entender o que aconteceu, a República de Eustella estabeleceu uma expedição de pesquisa. Em Atelier Yumia, acompanhamos os esforços de uma equipe especial dentro desse grupo de desbravadores.
Centrado na figura da jovem alquimista Yumia Liessfeldt, o time se dedica a investigar mais de perto os incidentes e garantir uma rota segura para seus aliados. O continente como um todo foi tomado por campos de mana, tornando-se impróprio para a vida humana, e a protagonista é a única integrante da expedição capaz de resolver o problema.
Um detalhe interessante para se ter em mente é que, no mundo do jogo, a alquimia passou a ser considerada um grande tabu com o tempo. Por conta disso, Yumia não é vista com bons olhos pelas pessoas, mesmo contribuindo ativamente com os esforços de exploração.
Ao longo da história, aprendemos mais sobre a personagem e sua relação com a alquimia como algo que herdou de sua mãe. Embora a obra ainda tenha um pouco da leveza típica da série Atelier nas interações entre os personagens, a trama acaba tendo uma natureza mais pesada do que o usual. Isso se deve em particular pelo questionamento da moralidade da alquimia, que é uma parte importante da jornada da protagonista.
Vasto mundo novo
Um dos carros chefes de Atelier Yumia é a exploração das vastas terras do continente antes ocupado pelo Império de Aladiss. Dividido em grandes regiões que são liberadas progressivamente com o avanço das missões da narrativa, o mapa inteiramente interconectado é massivo e cheio de montanhas para explorarmos com saltos triplos e uma moto.
Além do tamanho, o que chama a atenção é a grande quantidade de áreas relevantes para explorar. Encontramos materiais espalhados por vários pontos e territórios de monstros específicos, mas também há ruínas recheadas de relíquias e até mesmo templos trancados com tesouros.
Para conseguir vasculhar todos os pontos, será necessário resolver pequenos puzzles. Em geral, eles se resumem a minigames de encaixes de linhas, sendo necessário rotacionar objetos 2D. Para fãs mais dedicados de puzzles, esses desafios não prometem grande dificuldade, mas são um passatempo divertido durante a exploração.Conforme avançamos na história, liberamos missões secundárias variadas. As quests incluem tanto tarefas que avançam a narrativa quanto aquelas que servem para obter novos recursos ou se aproximar mais de um personagem da equipe.
Como parte da expedição, também temos tarefas especiais que fazem parte do menu Pioneering Effort. A lista inclui, entre outras coisas, encarar certos inimigos em combate, coletar materiais nas regiões do jogo, criar certos itens e materiais de construção e melhorar o índice de conforto geral naquela região.
Completar uma certa quantidade de tarefas nos leva a desbloquear vantagens variadas. Os benefícios incluem receitas especiais, liberação de lojas para escambo de materiais, entre outras coisas.
Síntese dissonante
Um pilar tradicional da franquia Atelier é a alquimia, sendo importante que o jogador domine a técnica de síntese para produzir itens valiosos. Mais do que um sistema simples de crafting, geralmente a ideia envolve uma certa maleabilidade da receita para que o jogador explore as possibilidades e construa itens cada vez melhores com um uso estratégico do seu inventário.
No caso específico de Yumia, a produção de itens é dividida em várias submecânicas. O formato principal de síntese envolve um novo sistema baseado em “ressonância” e “mana”, duas medidas que definem a qualidade de um item.
A ideia de síntese em Yumia envolve o uso de “Alchemy Cores” que podem pertencer a várias categorias. O jogador deve escolher um item que atende à condição daquele Core, seja ela a exigência de um item específico ou de um que faça parte de uma certa categoria.
A partir do item escolhido, são abertos Slots para colocar outros em suas adjacências, mas eles são inteiramente opcionais. Da mesma forma, o jogador não precisa preencher todos os Cores que possui, sendo possível usar um único ingrediente para a produção. Fazer isso, porém, significa ter um item da qualidade mais baixa possível.
Colocar itens nas vagas adicionais implica em aumentar o nível de ressonância, fortalecendo os atributos daquele item. Caso a ressonância consiga cobrir as estrelas na tela, é possível obter pontos de mana, que tem a mesma finalidade, mas para um medidor diferente. Outro fator a considerar é que itens específicos possuem vantagens como aumento de ataque.
Com tudo isso em mente, a síntese continua tendo o nível de profundidade esperado da franquia, valendo a pena entender mais a fundo o funcionamento. Porém, a nova estrutura é bem menos intuitiva do que jogos anteriores, como Ryza. O conceito de ressonância não é nada claro, sendo basicamente um incentivo para o jogador mais experiente ordenar os itens pela sua área de ressonância.
Até mesmo os poucos detalhes que expliquei acima não são apresentados adequadamente pelos tutoriais do jogo. Para novatos totais em Atelier, imagino que será bem natural simplesmente ignorar a profundidade do sistema e usar a adição automática de ingredientes no lugar.
Sínteses alternativas
Além da síntese “tradicional”, Atelier Yumia introduz duas outras formas de produção de itens. Desconsiderando menus mais avançados como o de produção de Trait Crystals, o mínimo esperado é que o jogador se envolva também com a criação de consumíveis (Simple Synthesis) e a construção de objetos (Building).
A Simple Synthesis pode ser ativada em qualquer lugar e permite que o jogador crie itens relevantes para a exploração. Estão inclusos aí: balas para o seu cetro modificado em arma de fogo; luvas para usar as tirolesas espalhadas pelo continente; iscas para pescar; kits para restaurar baús quebrados; etc.
Já o Building só é ativado em áreas dedicadas, que podem variar de pequenas zonas de acampamento a grandes zonas nas quais é possível criar bases especiais. É possível colocar itens úteis variados e decorações que afetam o conforto da área, desbloqueando vantagens adicionais para o jogador.
Um ponto bem complicado do jogo é que há várias formas de conseguir novas receitas e elas não são claras nem óbvias. Com isso, é fácil ter uma missão que exige um item, mas não ter uma ideia de como desbloquear a sua receita. Alguns botões também não são bem indicados em alguns momentos de jogatina, como na hora que ativamos a passagem automática do diálogo, facilitando o esquecimento dos comandos.
Ação frenética
O ponto em que Atelier Yumia inegavelmente brilha, junto com a exploração, é o combate. Avançando o estilo de batalha em tempo real trabalhado em Ryza, Yumia expande o escopo de ações do jogador para levar em conta o uso estratégico do posicionamento.
Movimentando nosso personagem pelo campo, podemos evitar os ataques dos inimigos. Ataques que irão nos atingir são indicados por efeitos sonoros e visuais e o jogador pode usar esse sinal para desviar no timing preciso e contra-atacar rapidamente.
Podemos ter nosso personagem em posição mais próxima ou distante do inimigo, o que afeta os tipos de golpes disponíveis. Dependendo da posição, podemos usar ataques corpo-a-corpo ou à distância e as criaturas são mais vulneráveis a um deles, sendo possível quebrar as suas defesas temporariamente.
Além dos golpes com as armas, é possível usar itens de dano ou cura durante o combate. Todas as ações possuem cooldown, sendo necessário intercalar entre elas para maximizar as oportunidades de combo.
Há uma grande variedade de padrões de ataques dos inimigos. Junto com a necessidade de dominar o timing dos desvios, temos um combate que funciona como um show de malabarismos e exige do jogador uma postura bem ativa, especialmente em batalhas mais difíceis.
Uma nova entrada com grandes acertos e alguns erros
Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land é mais uma entrada envolvente da franquia, tendo um combate ativo que é uma evolução sensacional para a franquia e um mundo vasto cheio de incentivos para a exploração. Porém, o sistema de síntese menos intuitivo e alguns detalhes de qualidade de vida que mereciam mais polimento acabam enfraquecendo a experiência de forma inesperada em comparação com a trilogia Ryza.
Prós
- Mundo vasto com muitos incentivos para a exploração;
- Combate em tempo real recheado de recursos estratégicos envolvendo posicionamento, timing de desvio e combos;
- Mecânica de construção permite criar bases com recursos especiais espalhadas pelas áreas desbloqueadas do mapa;
- O sistema principal de síntese mantém a tradição da série de permitir variações significativas na produção de equipamentos e itens para jogadores que tentam entender em mais profundidade a mecânica.
Contras
- O novo sistema de síntese baseado em ressonância é menos intuitivo do que o de Ryza e a explicação do jogo não é satisfatória;
- O desbloqueio de novas receitas poderia ser mais intuitivo e claro;
- Em alguns momentos, a falta de indicações dos botões do controle pode dificultar o uso de ações e deixá-las dependentes de memorização.
Atelier Yumia: The Alchemist of Memories & the Envisioned Land — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Beatriz Castro
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo