Análise: WWE 2K25 traz sangue, suor e tradição para dentro dos ringues

Evocando a aura das famílias mais tradicionais do esporte, a edição deste ano mantém a qualidade com melhorias pontuais, mas muito significativas.

em 20/03/2025
A luta livre entrou em uma nova era. Agora com transmissão mundial ao vivo pela Netflix, mais pessoas podem acompanhar os eventos em tempo real e conhecer o universo deste mix de esporte e entretenimento. Logo, todo tipo de produção e referência que acompanha acaba ganhando ainda mais força.

WWE 2K25 traz todo seu conteúdo massivo com ainda mais adições e a benção mística da principal árvore genealógica do wrestling. Um trabalho bastante convidativo para quem quer conhecer as raízes do esporte.

Anoa’i, Fatu e Maivia: a trindade soberana dos ringues

O Showcase sempre traz missões baseadas na carreira do astro da capa. Em 2K25, Roman Reigns volta a ser o garoto propaganda, após ter dividido a capa de 2K20 com Becky Lynch, mas as missões deste modo focam em toda a ancestralidade da sua família.

Começando por “High Chief Peter Maivia”, e passando por grandes nomes como Yokozuna, Umaga, Rikishi, The Rock, The Wild Samoans (Afa e Sika), Jimmy e Jey Uso, Nia Jax e o supracitado Roman Reigns, só para mencionar alguns, esse modo é uma verdadeira aula da história da luta livre pela perspectiva das famílias Anoa’i, Fatu e Maivia, que já estão no esporte há pelo menos cinco décadas.

Podemos reviver grandes momentos protagonizados por eles e até mudar o resultado de embates importantes na história do wrestling. Além disso, há também alguns combates geracionais fictícios, que colocam outras superestrelas em partidas ideais contra os membros da família.

Cada combate ganhou um vídeo introdutório narrado por Paul Heyman, manager de Roman Reigns, e um dos principais nomes da WWE, com um papel importante dentro da narrativa da Bloodline. Inclusive, graças aos deuses do ringue todo o conteúdo do arquivo agora é oferecido em alta definição, mesmo sendo antigo. Por outro lado, foram cortadas as exibições de trechos mesclados no meio das lutas. 

Agora tudo é reproduzido com os modelos virtuais em tempo real. Essa decisão foi bastante acertada, uma vez que as lutas ficaram mais dinâmicas e a transição do combate para o vídeo sempre mostrava uma queda de qualidade significativa.

O Showcase deste ano conseguiu ser superior ao de 2K24, principalmente na duração das lutas que agora estão com menos objetivos e são mais diretas. O único ponto que me incomodou um pouco foi o fato de todas elas sempre terem um objetivo específico que precisa ser cumprido dentro de um limite de tempo. Nem sempre a inteligência artificial coopera para a conclusão dele, e isso pode colocar todo nosso trabalho no lixo em questão de segundos.

A maior novidade eclipsada pelas pequenas melhorias

A novidade que se tornou o principal carro chefe do marketing de 2K25 foi o The Island, que nada mais é do que um modo de mundo aberto no qual criamos nosso personagem e enfrentamos desafios para conseguir a benção do chefe tribal Roman Reigns. Fazendo um paralelo, é basicamente o The City, de NBA 2K25, mas em uma escala mais modesta.

Criamos nosso avatar e vagamos pela ilha, que tem espaços temáticos e missões para serem cumpridas. Sempre que alcançarmos um triunfo, nosso nível sobe e podemos melhorar os atributos do lutador. A ideia é ótima na teoria, mas infelizmente se mostrou o modo mais fraco de todos em 2K25.

O ambiente exageradamente escuro e a falta de um mapa ou indicador de onde ir para encontrar uma missão importante dificulta a navegação, mesmo com o espaço a ser explorado sendo consideravelmente pequeno. Além disso, é neste modo que está grande parte das microtransações. Ao personalizar nosso aspirante à superestrela, contamos com uma gama de opções de jaquetas, camisetas, máscaras e adereços espalhafatosos. Tudo isso é conseguido com o VC, obtido em baixas quantidades através de vitórias ou com nosso suado dinheirinho real.

Aproveitando que citei microtransações, outro modo que também aposta nas microtransações para se manter relevante (e falha) é o MyFaction. A estrutura de juntar cartinhas para criar seu supergrupo ainda tem seus lampejos de atratividade, mas a necessidade de gastar VC para comprar pacotinhos e completar coleções e poder liberar cartas mais poderosas é bastante cansativa. O MyFaction ainda ganhou algumas novas opções para tentar se atualizar, mas ainda assim é a opção mais cansativa do jogo.

Outro defeito que é inerente ao The Island e o MyFaction são as telas de loading. Não que elas não estejam presentes em diversos momentos, mas neste duo especificamente elas são bastante demoradas.

Por outro lado, MyRise, MyGM e Universe tiveram uma boa evolução em comparação ao ano passado, com várias adições significativas. O MyRise ainda funciona como um modo história para um lutador criado por nós, que almeja se tornar a estrela do show. Agora as missões estão mais diretas ao ponto, com a possibilidade de entrar em grupos, fazer alianças, criar rivalidades e depois começar uma segunda vez, escolhendo opções diferentes, mas mantendo o boneco da primeira jogada, com os mesmos atributos e características.

O MyGM agora possibilita disputas online, o que é algo muito bem-vindo. Escolhemos o nosso gerente e marca e realizamos o draft de superestrelas que irão compor nosso show, sendo que podemos disputar com outros jogadores em rede qual a marca será a mais valiosa ao final de um período pré-estabelecido. Poder contar com mais participantes torna as coisas mais divertidas do que só competir contra a IA.

Já o Universe foi mais sutil, mas acrescentou algo que os fãs pediam há muito tempo. Agora, além de organizar lutas e decidir quem disputa o que, podemos escolher superestrelas para fazerem promos, seja para desafiar outro lutador, aceitar um desafio, se promover, ou o mais divertido de todos: interromper alguém e começar uma briga do nada, só para esquentar a rivalidade. Isso torna a experiência bem mais próxima do que quando vemos as lutas na televisão, e tudo isso pode ser simulado ou jogado de fato, com o foco em apenas um integrante do elenco ou controlando cada momento, seja sobre uma luta ou sobre o que será falado durante a promo.

Também é possível gerenciar a formação de equipes. Podemos mantê-las com as formações vistas na vida real, ou simplesmente sair trocando tudo, provocando novas traições e criando alianças antes inimagináveis. Em qual evento isso pode acontecer? No que o jogador quiser, pois agora existe a opção de escolher em quais dias da semana os shows acontecerão, não importando ser no molde atual (Raw na segunda, NXT na quarta, SmackDown na sexta e PPV aos sábados) ou em uma estrutura nova, o que pode ser em dias seguidos ou até tudo no mesmo.

Ter todas essas melhorias nos três últimos modos, além do ótimo conteúdo do Showcase, evidencia duas coisas: a primeira é que, se não fosse pelo fato de contribuir no desbloqueio de novos personagens, o The Island e o MyFaction seriam totalmente ignoráveis. Pelo menos as microtransações estão limitadas a estes dois somente. A segunda é que, mais uma vez e agora com ainda mais apelo midiático, WWE precisa de legendas em português, pois base de fãs no país a organização já tem há tempos.

Dentro do ringue todo mundo bate e apanha igual

A jogabilidade de 2K25 trouxe poucos aprimoramentos de fato, mas ainda assim eles são significativos. A mecânica de Trading Blows, que eu critiquei no jogo passado, agora não é mais tão sem sentido. Embora ainda aconteça em momentos aleatórios, agora, após trocar alguns socos é possível acertar uma porrada bem dada para atordoar seu oponente e conseguir uma abertura para uma finalização.

Outra novidade é que agora homens e mulheres podem lutar uns contra os outros. Antes, em caso de duplas mistas, um lutador masculino não iria combater uma integrante do elenco feminino, ocasionando em uma “troca automática”. Agora esse impedimento não existe mais e todo o elenco pode se pegar no tapa livremente, e olha que são mais de 300 nomes para escolher logo de início.

Inclusive, essa variedade é ótima, principalmente por conter diferentes versões de uma mesma superestrela, incluindo variações de movimentos especiais e entradas. Entretanto, há um leve deslize em toda essa fartura. Alguns lutadores inexplicavelmente não tiveram suas fotos incluídas na seleção de personagens, sendo substituídos pelos modelos virtuais que não são tão bem feitos assim. A efeito de comparação, a persona jovem de The Rock, antes das tatuagens e com cabelo, é muito superior se comparada com o tratamento dado a Bayley (sempre ela que sofre), Naomi e R-Truth, por exemplo, que possuem modelos com feições mais feias.

Ainda sobre o elenco, achei desnecessária a inclusão dos personagens genéricos que aparecem em outros modos de jogo, como no MyRise. Se temos diversas superestrelas de mais de seis décadas atrás, não tem por que inflar a lista com nomes como La Cangrejita Loca ou Paragon Jay Pierce. Não é algo que faz mal a ninguém, mas poderia ter sido evitado.

Independente de quem seja o escolhido para entrar no ringue, a quantidade de arenas e modalidades de batalha vai agradar a qualquer um. Podemos realizar lutas de dois a oito lutadores, sendo cada um por si ou com os atletas agrupados em equipes, não importando a quantidade de cada uma. Elas podem ser simples ou conterem regras específicas, como as famosas TLC (lutas que incluem mesas, cadeiras e escadas), ou disputas ao estilo Money in the Bank e Royal Rumble. As Casket Matches (partidas com caixão) e Ambulance Matches também estão de volta, junto com o Wargames. São 27 tipos diferentes de situações, todas com regras customizáveis. 

Um dos destaques fica por conta do Bloodline Rules, inspirado no fato dos integrantes dessa facção - Roman Reigns, Jey Uso, Jimmy Uso, Solo Sika, Jacob Fatu, Tama Tonga e Tonga Loa - sempre contarem com uma ajuda de um integrante da família para interferir na disputa. 

Com tantas possibilidades assim, ainda existe uma coisa que não foi corrigida: o juiz continua a se manter nas posições mais inconvenientes possíveis na hora de um close de câmera. Geralmente ao aplicarmos um finalizador, o ângulo muda para dar mais dramaticidade, mas dependendo da situação lá está o infeliz cobrindo nossa visão. No mais, a ideia de sempre trazer a mescla com a transmissão televisiva, incluindo os comentários e replays pós-luta, o que sempre é uma ótima mistura.

Com o reconhecimento devido do chefe tribal

WWE 2K25 vai se manter no topo dos jogos de luta livre por um tempo com folgas, mas isso não quer dizer que não haja espaço para melhorias, mesmo que pontuais. Poder ter partidas mistas e totalmente customizáveis, em conjunto de excelentes modos de jogo e um elenco cada vez maior faz a alegria de qualquer fã. Entretanto, a tal ilha que prometia muito não entregou grandes coisas, e o MyFaction mostra-se cada vez mais cansativo e desinteressante.

Prós

  • Escolher como foco toda a linhagem Anoa’í, Fatu e Maivia foi uma excelente escolha para o showcase;
  • Elenco de mais de 300 lutadores sem DLCs;
  • A jogabilidade se manteve intacta e a mecânica de Trading Blows agora é funcional;
  • Muitas possibilidades de lutas com regras variadas e agora com combates mistos;
  • MyGM agora permite disputas online;
  • Poder realizar promos no Universe, e ocasionais brigas não planejadas, é uma ótima pedida.

Contras

  • The Island simplesmente não empolga;
  • MyFaction já dá diversos sinais de cansaço, principalmente por causa do grinding;
  • Microtransações presentes para personalizar boneco é algo desnecessário;
  • Alguns modelos de lutadores famosos estão bem feios;
  • Telas de loading demoradas em alguns modos;
  • Ausência cada vez mais gritante de textos em português.
WWE 2K25 — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisor: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela 2K
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Carlos França Jr.
é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no @carlos_duskman
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