Senhoras e senhores, estamos em uma época em que jogos lançados após os anos 2000 já atingiram duas décadas de vida pelo menos. Parecia menos, né? Under Defeat, lançado originalmente para os arcades japoneses em 2005, ganhou um novo port para as gerações atuais, mostrando que um serviço bem-feito não envelhece nunca.
Port do port do port… e ainda assim é bom
Under Defeat é um shoot ‘em up de progressão vertical no qual seguimos o clássico modus operandi de atirar e jogar bombas, mas aqui temos algumas nuances bem interessantes. O tempo que passamos sem atirar nos bonifica com uma barra de poder, que aciona por um curto período um auxílio que pode ser uma torreta, um canhão ou um míssil. Logo, deixar o dedo a todo tempo no gatilho pode não ser a melhor estratégia.
Outro aspecto é que, ao todo, contamos com três versões de Under Defeat: Arcade, New Order e New Order Plus. Em cada uma podemos manobrar nosso helicóptero de combate para um ângulo mais aberto. O Arcade convencional é a versão lançada nos fliperamas e no Dreamcast, em 2005, com a tela reduzida. Nela, é possível inclinar levemente para a direita ou para a esquerda.
O New Order traz a tela expandida e a possibilidade de uma abertura maior, com inclinações até 45 graus para qualquer um dos lados. Entretanto, isso não é nenhuma novidade de fato, pois já foi visto no port Under Defeat HD, lançado para PS3 e X360 em 2011. Nessa versão também foi implementado o uso dos dois analógicos ao mesmo tempo para mirar e atirar, tornando a manobrabilidade mais fácil de ser executada. Nessa versão do jogo é possível utilizar essa opção em todos os modos.
Sobrou o New Order Plus, esse sim novo para o port. Aqui, os helicópteros podem ser manobrados em um ângulo de até 90 graus para qualquer um dos lados, possibilitando cobrir uma área maior e evitar surpresas que podem surgir pelos flancos. Todavia, os inimigos também têm padrões de ataques diferentes se comparados com o Arcade e o New Order.
A dificuldade também é algo que pode variar no meio da aventura. Mesmo escolhendo entre fácil, médio e difícil, o nosso desempenho é avaliado com um sistema de ranqueamento em tempo real, que começa em 0. Quanto mais deixarmos os inimigos escaparem, ele vai diminuindo, podendo chegar a -10, o que torna tudo mais ameno. Em contrapartida, abater todos sem dó pode elevar o ranque a +10, e isso aumenta consideravelmente o calor da batalha.
Esses aspectos tornam Under Defeat um shoot ‘em up com características únicas e que parecem simples, mas que o fazem se destacar no gênero mesmo depois de 20 anos da sua primeira chegada ao mercado. Jogadores veteranos vão aproveitar cada minuto do desafio oferecido pelo título.
Estruturalmente, só houve duas coisas que me incomodaram: a primeira é o tutorial, que são meros slides. Quem entendeu, beleza; quem não entendeu, que se vire na hora da ação. A segunda é que, na tela de seleção de helicópteros, só temos os nomes deles, que são códigos. Temos quatro à disposição, mas nenhuma explicação sobre as diferenças deles de fato, como ângulo dos projéteis ou força das armas.
Um novo ângulo de uma história conhecida
Em vez de se situar no espaço, como uma infinidade de títulos do mesmo gênero, Under Defeat preferiu ficar na Terra mesmo, em uma versão alternativa de um momento importante da história: a Segunda Guerra Mundial. Nós somos os pilotos do lado chamado de Império (the Empire), que seriam os alemães nessa contenda, combatendo as forças da União (the Union).
Esse pano de fundo, com direito a diálogos no idioma germânico enquanto avançamos, justifica as explosões que causamos em tanques, aviões e até grandes frotas marítimas, sobrevoando mares, desertos, vales e áreas devastadas por batalhas anteriores. E é aí que outro aspecto de Under Defeat que já havia feito sucesso antes brilha novamente: os gráficos.
A ambientação tridimensional é bem bacana, principalmente para um shoot ‘em up, visto que muitos ainda confiam nos visuais bidimensionais. Tudo fica ainda melhor nos modos New Order e New Order Plus, que saem do formato verticalizado do Arcade e preenchem completamente os 16:9 do formato widescreen.
A única coisa que não deu para entender foi o porquê das informações na tela ainda ficarem espremidas, como na disposição original. Seria melhor se houvesse a opção de afastá-las para as extremidades laterais, para aproveitar melhor o espaço na tela.
A trilha sonora original foi composta pela lenda Shinji Hosoe, que já assinou composições para outras grandes franquias, como Ridge Racer, Street Fighter EX e Tekken. Mesmo ela se mantendo muito boa até para os dias de hoje, o New Order traz novos arranjos do próprio Shinji para o seu trabalho, com mais linhas de instrumentos e variações bem bacanas.
A cereja do bolo fica com a participação de Yousuke Yasui, que trouxe novas músicas, sob a opção Boosted. Elas têm uma pegada mais voltada para o techno, modernizando ainda mais a ação. É possível jogar qualquer modo de jogo com qualquer trilha sonora logo de início, apenas escolhendo pelo menu principal.
Do nada, uma versão deluxe
Reapresentar Under Defeat duas décadas após seu lançamento poderia até ser uma ideia arriscada, se o produto original não fosse tão bom. Juntar todas as versões do jogo e ainda incluir uma nova, mesmo que com poucas diferenças de fato, cria aquela aura de uma versão encorpada de um título que pode ser considerado um clássico moderno do gênero. Se você é um fã e entusiasta dos “jogos de navinha”, com certeza precisa adicionar este à sua biblioteca.
Prós
- Três modos de jogo que trazem variações à jogabilidade;
- Poder manobrar o veículo na tela é algo que ainda hoje é uma novidade nos shmups;
- Ótimo trabalho gráfico e ambientação dos cenários;
- Excelente trilha sonora, com a versão original, novos arranjos e trilhas inéditas.
Contras
- O nível de dificuldade pode afastar os jogadores novatos;
- Seria bom poder customizar a distância ou a posição das informações na tela;
- Tutorial inexistente e ausência de informação sobre os helicópteros na tela de seleção de veículos.
Under Defeat — PC/PS4/PS5/Switch/XSX — Nota: 8.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise feita com cópia digital cedida pela City Connection