Em meio a diversos jogos de super-heróis que estão em alta há anos, confesso que eu não esperava ver o nome do Fantasma tão cedo. The Phantom traz o lendário personagem de Lee Falk em uma aventura que mistura o estilo dos quadrinhos com ação beat ‘em up.
O pioneiro dos quadrinhos
Para aqueles que não conhecem, vamos a uma breve viagem no tempo. O Fantasma é um personagem criado por Lee Falk, o mesmo criador do mágico Mandrake, em 1936. Conhecido como o primeiro super-herói a ser publicado em tirinhas diárias de quadrinhos, ele só ganhou sua tradicional cor púrpura em 1939.
Com o poder da imortalidade, o Fantasma nasceu de uma promessa: combater piratas. Tudo começou séculos atrás, quando o navio de um rico mercador foi atacado por piratas. A embarcação foi saqueada e quase todos foram mortos, com exceção do filho do mercador, que mal conseguiu escapar com vida.
Ele foi resgatado pelos habitantes da Ilha da Caveira, localizada no país fictício de Bangalla, na África. Para demonstrar sua gratidão, o jovem jurou proteger não só aquele local, mas todo lugar do mundo, dos males da pirataria e, em retorno, a magia ancestral da ilha não o permitiria morrer. Assim nasceu o Fantasma, conhecido por marcar seus inimigos com seu anel de caveira ao desferir socos.
Graças a esse laço com a Ilha da Caveira, o Fantasma existiu por diversas eras, pois o manto era passado de pai para filho sem nunca ninguém descobrir sua verdadeira identidade. Fora a imortalidade, o herói só conta com suas habilidades e inteligência para derrotar os piratas da Irmandade Singh.
Este que conhecemos nas histórias em quadrinhos é o vigésimo primeiro a seguir o legado, e seu nome é Kit Walker. Ele possui um filho e é casado com Diana Walker. Além disso, está sempre acompanhado de seu cavalo Herói e um lobo chamado Capeto.
Páginas de uma aventura lenta
O ponto mais vistoso e forte de The Phantom está em seu visual. Já que ele é oriundo das HQs, nada mais justo do que sua arte trazer fortes elementos bidimensionais e com cores vivas, como se fossem as folhas de um gibi. As animações entre cada fase também seguem o mesmo tom, como uma grande página animada, e com direito a dublagem a cada balão, o que ajuda a acompanhar o diálogo.
Seja na Ilha da Caveira, na Índia ou na Suécia, o Fantasma combate a Irmandade Singh nas mais diversas localidades, como se fossem várias edições de uma publicação, e isso traz um charme único para o jogo.
Seria tudo muito lindo se ficasse só nisso, porém, infelizmente, a parte da jogabilidade nos deixa na mão. Podemos escolher entre o Fantasma e Diana, sua esposa, mas eles possuem a mesma mecânica: um ataque fraco, um ataque forte, um botão para salto e um especial, que é um combo automático. Também podemos utilizar uma dupla de pistolas, porém a munição delas é limitada, por isso é bom não abusar.
Para começar, o ritmo de jogo é bastante lento. A caminhada, os socos, as respostas, tudo parece se mover em slow motion. Isso atrapalha bastante na percepção do jogador, que, às vezes, pode acabar tomando danos bobos, pois sua reação não foi rápida o bastante para saltar ou esquivar de um soco.
Além dos trechos a pé, há momentos em que temos que ir atrás dos vilões a cavalo, de moto, de carro ou até mesmo de barco. Enquanto o Fantasma atira, Diana dirige, ou vice-versa. O direcional da esquerda é usado para controlar o veículo, e o da direita, a mira das armas. A imprecisão dos tiros nessas horas é enorme e nunca envolve atingir o bandido diretamente, mas sim algo que ele arremessa, como granadas ou caixas - principalmente na fase do barco. Este problema acaba estragando algo que poderia ser um diferencial bastante atrativo para o jogo.
Por fim, mesmo com a variedade de localidades, há uma grande repetição dos mesmos tipos de inimigos. Não importa, sempre aparecerá o cara de chapéu, o outro com a corrente, o bandido que arremessa facas e o grandão que se levanta rolando no chão. O ideal seria manter estes arquétipos, mas fazendo o visual deles casar com o ambiente que estão, nem que seja em uma troca de paleta de cores, como a maioria dos beat ‘em ups fazem há décadas.
Uma lenda que recebeu uma lembrança devida
The Phantom pode ter suas falhas, porém eu particularmente não escondo que fiquei feliz de ver o Fantasma novamente depois de tanto tempo. A arte do jogo é belíssima e os fãs de longa data com certeza se sentirão tentados a pelo menos experimentar o jogo, mas fiquem avisados que essa aventura merece um novo capítulo, e com as devidas correções, senão não passará de mais um fim melancólico para o Fantasma.
Prós
- O estilo artístico todo baseado nas histórias em quadrinhos é lindo e com modelos bem feitos;
- As animações entre fases funcionam como páginas animadas e contêm um bom trabalho de dublagem;
- Na teoria, a ideia das fases de perseguição é ótima.
Contras
- A movimentação é lenta e imprecisa, com hitboxes confusos;
- Na prática, o controle nas fases de perseguição é péssimo e o ponto mais baixo do jogo por causa da mira ainda mais imprecisa;
- Os mesmos padrões de inimigos se repetem em um curtíssimo espaço de tempo, mesmo em ambientes diferentes.
The Phantom — PC/PS4/PS5/Switch/XSX — Nota: 6.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise feita com cópia digital cedida pela Art Of Play Interactive