Análise: Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars: uma chance para viver novamente as lendas

Relançamento traz a dupla original da franquia Suikoden para PC, PS4, PS5, XBO, XSX e Switch.

em 05/03/2025
A Konami trouxe de volta dois clássicos RPGs do seu catálogo com Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars. Ambos os jogos são grandes destaques do PS1 que estavam há quase duas décadas sem relançamentos, e agora chegam aos sistemas atuais para mostrar que suas qualidades não decaíram com o tempo.

Épicos de guerra

Suikoden é uma série clássica de RPGs da Konami idealizada por Yoshitaka Murayama, que posteriormente trabalharia na criação de Eiyuden Chronicles. Com discussões sobre política e o mal uso dos poderes conhecidos como True Runes, as obras são inspiradas no clássico livro chinês Shuǐhǔ Zhuàn (em português, Margem da Água) que narra a história de um exército de 108 guerreiros foras da lei.

No primeiro Suikoden, acompanhamos a história de um jovem rapaz filho do nobre general Teo McDohl do Império Scarlet Moon. Embora o seu pai viva constantemente fora de casa, o protagonista divide o mesmo teto com vários aliados enquanto espera um dia seguir os passos de Teo servindo ao exército.

Porém, tudo muda de uma hora para outra quando o seu melhor amigo passa a ser alvo de um dos membros da corte por conta de uma runa que ele possui. Para evitar que ela caia em mãos erradas, o rapaz foge e acaba se aliando à resistência rebelde comandada por Odessa.

Já Suikoden II começa com o protagonista e seu melhor amigo no último dia de missão da Brigada Jovem Unicórnios de Highland. Advindos da cidade de Kyaro, os dois são forçados a participar dos esforços de guerra da sua nação contra as Cidades-Estado de Jowston. Porém, o que era para ser um momento feliz de retorno para casa logo se torna em um grande pesadelo.

Usados como massa de manobra para a politicagem de Luca Blight, os dois vão conhecer o outro lado da guerra e se aliar a um grupo de mercenários a serviço de Jowston. Em meio a uma série de atrocidades causadas por Luca, os dois são escolhidos pela Runa do Início para receber suas dádivas e assim ter o poder para mudar os rumos da guerra.

De forma geral, ambos os jogos são centrados em grandes conflitos e abordam várias questões políticas interessantes nas disputas de poder e na forma como elas influenciam a vida das pessoas. Isso não significa que não haja momentos mais descontraídos na trama até com uma certa frequência, mas existe uma boa sensação de peso nos momentos em que é necessário, especialmente em Suikoden II.

No contexto do roteiro, vale destacar que a remasterização inclui vários ajustes para a tradução em inglês. Em geral, o foco dessas mudanças é dar mais clareza aos diálogos e há, de forma geral, êxito na abordagem.

No campo de batalha

Para ambos os jogos da coletânea, temos RPGs com combates baseados em turnos, sendo possível recrutar centenas de aliados e montar equipes variadas. Ao longo da jornada, teremos tanto batalhas com um grupo pequeno quanto aquelas que envolvem comandar tropas em uma simulação de guerra mais ampla.

O formato das batalhas comuns segue o estilo de comandos tradicional do gênero com equipes de até seis personagens (três na vanguarda e três na retaguarda). Cada indivíduo tem um alcance fixo, sendo fundamental ter isso em mente para organizar a formação e evitar que um aliado que só consegue atingir inimigos se for colocado na frente fique inutilizado.

É possível selecionar manualmente as ações de cada aliado ou deixá-los atacarem automaticamente com o seu golpe mais básico. Excetuando-se alguns confrontos, também é possível tentar escapar, o que pode ser feito deixando as hostilidades de lado (para inimigos mais fracos) ou através de suborno (para garantir a escapatória contra os mais fortes).

Runas e equipamentos

Um detalhe interessante para se ter em mente nos jogos é a customização da equipe. Conforme exploramos as cidades, podemos conquistar novos aliados e montar grupos bem diversos. Embora certas figuras sejam obrigatórias em momentos específicos da trama, há uma boa maleabilidade de forma geral.

Dependendo da equipe, é possível utilizar ataques “Unite” em que trocamos turnos individuais por um golpe combinado. É possível atingir vários inimigos ou causar mais dano do que o usual, sendo o efeito definido pelos personagens selecionados.

Além dos personagens, temos também que levar em conta os equipamentos de cada um, sendo interessante atualizá-los para lidar melhor com o avanço da dificuldade. Ao contrário do usual do gênero, a arma de cada um é fixa e devemos apenas fazer upgrades nela usando as habilidades dos ferreiros de cada região.

Já os outros equipamentos, como armaduras e acessórios, são de fato variáveis e podemos ficar repassando eles de uma pessoa para outra para aumentar a defesa dos aliados. Cada companheiro também possui seu armazenamento pessoal para itens consumíveis, como remédios para restaurar vida durante as batalhas.

Além disso, um fator interessante de ambos os jogos é o sistema de runas, que são poderes especiais que podemos equipar nos nossos aliados, muitas vezes advindos de orbes obtidos ao longo da jornada. Os efeitos variam de vantagens passivas, como aumento de experiência e dinheiro, a habilidades ativas em batalha (golpes especiais e magias).

No caso das magias, os personagens possuem uma restrição de uso em um estilo de alocação de níveis similar ao primeiro Final Fantasy (o de NES) em vez de MP. Além disso, conforme eles aumentam de nível, liberamos mais opções e ampliamos a quantidade de usos, deixando os personagens cada vez mais úteis.

Com toda a variedade de opções disponíveis, ambos os jogos oferecem um sistema com alta maleabilidade. Vale a pena entender mais a fundo a composição das equipes e ir melhorando com o tempo, explorando todos os recursos possíveis.

As grandes guerras

Nos momentos das grandes batalhas que definirão o rumo da guerra, temos o controle de tropas em vez dos personagens separadamente. Os sistemas variam significativamente entre os dois jogos, sendo uma de suas maiores discrepâncias.

No primeiro Suikoden, as batalhas seguem um esquema de pedra, papel e tesoura no qual escolhemos entre “Charge”, “Bow” e “Magic”. Há ainda uma opção “Other” que convoca aliados alternativos com efeitos variados. Ganha quem eliminar totalmente o inimigo primeiro.

Já Suikoden II representa a guerra de uma forma totalmente diferente, optando por um sistema tático. Cabe ao jogador escolher como montar sua equipe com base nos personagens recrutados e encarar as forças adversárias com bom posicionamento e uso estratégico dos seus ataques e habilidades.

Além deles, há ainda alguns momentos dramáticos de duelos, em que apenas um personagem (geralmente o protagonista) encara um adversário. Essas batalhas também usam um esquema de pedra, papel e tesoura, mas com os comandos de ataque, defesa e golpe especial.

De forma geral, esses momentos alternativos de combate são uma forma interessante de trazer não apenas variedade para os confrontos, mas mostrar outros ângulos. Os duelos se tornam momentos mais dramáticos e os confrontos de exército ajudam a dar uma noção da dimensão que essas guerras realmente têm.

Uma remasterização básica

Em termos de novidades, o destaque principal fica para o aspecto visual, com os seus elementos agora em alta definição. Os pixels das ilustrações dos personagens são bem proeminentes, mas o mesmo não vale para os ambientes, sendo especialmente notável o uso de elementos 3D nas batalhas com efeitos detalhados de iluminação e névoa que fortalecem a sensação de vida dessas localidades.

Comparando com o original, dá para ver que houve um esforço de atualizá-lo sem deixar de lado a fidelidade com o que já havia. As mudanças também afetam a interface e o uso de versões de alta resolução das ilustrações das faces dos personagens. A única coisa que acabou não tendo uma atualização são alguns vídeos de cutscene cujas animações acabam destoando da qualidade do resto.

Há também alguns ajustes de qualidade de vida, como três opções de dificuldade, um log para registrar diálogos vistos recentemente e uma opção de turbo que bizarramente acelera também a música. Em Suikoden II, temos ainda uma opção de parar o contador de tempo dos eventos para que os jogadores possam explorar com tranquilidade o jogo sem se preocuparem com uma quest específica que não pode ser feita após certa quantidade de horas de jogo.

Outra adição é a função de autosave, mas é importante destacar que ela acaba sendo menos útil do que o ideal por conta de como é ativada. Basicamente, esse save alternativo acontece toda vez que entramos em pontos-chave que possuem um ponto de save (Journeyman Orb). Como essas áreas são bastante infrequentes, além da redundância, o save manual acaba sendo muito mais útil e comum, a menos que o jogador realmente não tenha o hábito.

Por fim, temos uma galeria com as trilhas de ambos os jogos e outros conteúdos. Uma vez que o jogador terminar a jornada de um deles será possível rever eventos, vídeos de cinemática, os finais e os créditos.

Com tudo isso posto, trata-se de um projeto de remaster básico, que atualiza o jogo em termos de audiovisual e outras pequenas melhorias. Os ajustes de qualidade de vida são ínfimos, mereciam mais polimento e não dão conta de detalhes mais graves da experiência, como o fato do primeiro Suikoden não indicar em qual parte do corpo um item pode ser equipado. Ainda assim, os dois jogos são ótimos e o relançamento é uma boa forma de aproveitá-los.

Clássicos que se mantêm fortes

Apesar de que as melhorias de qualidade de vida poderiam ir além, Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars traz dois RPGs clássicos em boa forma. Para quem não jogou ainda e quer conferir os dois, é uma ótima oportunidade para mergulhar no universo proposto pelo finado Yoshitaka Murayama.

Prós

  • Sistema de combate rico em opções graças à alta variedade de personagens e as runas;
  • Histórias épicas de guerra, politicagem e traição;
  • O visual atualizado do jogo auxilia bastante na atmosfera, especialmente nos momentos de combate.

Contras

  • Os ajustes de qualidade de vida são básicos e não dão conta de atualizar vários aspectos que mereciam um polimento maior;
  • Os vídeos de cutscene não atualizados destoam da qualidade do resto;
  • O autosave em particular foi muito mal implementado.

Suikoden I&II HD Remaster Gate Rune and Dunan Unification Wars — PC/PS4/PS5/XBO/XSX/Switch — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Konami

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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