Sempre chega um momento na vida de quem joga videogame em que buscamos algo diferente para experimentar. Alguns buscam novos desafios em gêneros diferentes do que estão habituados a experimentar enquanto outros buscam entretenimento barato ao custo de uma jogabilidade simples, apresentação ridícula e propostas absurdas. Eu me identifico com o segundo grupo na maior parte do tempo.
Dentro do nicho que gosto de chamar de “jogos tolos”, deparei-me com A Game About Digging a Hole, título desenvolvido com o propósito já implícito em seu título: é um jogo sobre cavar um buraco. Na análise a seguir — que me atrevi a produzir, como vocês podem notar — veremos o quão tolo ele realmente é, e o quão honesta sua proposta em ser um produto de entretenimento está correta.
Uma pá e um sonho
A trama do jogo — sim, há uma — envolve nosso personagem, um sujeito sem lenço e sem documento, que se depara com um inusitado anúncio de uma casa à venda na vizinhança. Até aí, tudo bem, casas sempre estão disponíveis para compra na vizinhança onde você mora, por exemplo. Geralmente são informados quantos cômodos, o tamanho e quais características únicas a residência possui para deixar o anúncio mais atrativo.
A casa em questão traz como chamariz um trecho em seu anúncio dizendo que há um tesouro enterrado no quintal. Por consequência, o futuro dono da propriedade poderá explorar e obter para si a tal bolada. Seguindo essa premissa, o jogo tem início com nosso personagem em frente ao quintal, com um belo jardim, com uma pá nas mãos e um sonho em mente: ficar rico.
Para baixo todo santo ajuda, mas esqueceram de dizer qual
A Game About Digging a Hole é um jogo em primeira pessoa em que devemos escavar e explorar o jardim de nossa casa na busca por tesouros (e lixo). Para tal, o jogador dispõe de uma moderna pá de funcionamento semiautomático para cavar o quintal em busca de itens de valor e outros nem tanto.
A dinâmica do jogo envolve cavar usando a pá, que possui uma quantidade limitada de bateria, buscando itens de valor. Desde pedregulhos, metais, maletas com dinheiro e pedras preciosas. Sempre que um objeto é encontrado, pode ser colocado em uma bolsa para ser levado até a garagem da casa, onde é vendido. A grana obtida com a venda das coisas encontradas no jardim é usada para adquirir aprimoramentos do equipamento de nosso personagem: upgrades da pá para cavar mais, bateria para trabalhar por mais tempo, combustível para o jetpack — sim, temos um jetpack também.
Outros itens que compõem nosso “arsenal” envolvem bananas de dinamite para realizar pequenas explosões para quebrar pedras maiores que não podem ser destruídas usando nossa pá e luminárias para locais mais profundos, quando a luz do sol já não consegue chegar. Para um jogo tolo, temos uma dinâmica de jogo bem convincente, não é mesmo?
A rotina do jogador envolve ciclos de repetição que se resumem a cavar, coletar objetos, vendê-los, fazer upgrades no equipamento e voltar ao trabalho. No início, com recursos escassos e equipamento com capacidades mais limitadas, a gameplay é bem chatinha, admito, mas conforme vamos melhorando nosso equipamento e alcançamos profundidades maiores, o jogo começa a ficar até interessante.
Não há tutoriais ou coisa do tipo para “pegar na mão do jogador” e ensinar como as coisas funcionam, afinal, é um jogo sobre cavar um buraco e acho que ser mais óbvio que isso, além de difícil, seria uma afronta a nossa inteligência. A ideia é cavar e ver aonde essa empreitada maluca vai dar.
Em busca de cobre encontrei… prata
Com a proposta de ser algo bem casual e descontraído, A Game About Digging a Hole, apesar de sua simplicidade e proposta tola, consegue ser uma opção honestamente barata de diversão para quem busca um escape de sua rotina de jogos atual. Encontrei o jogo em minhas andanças pelas recomendações do YouTube e tive minhas expectativas atendidas na medida certa quando resolvi investir alguns trocados nessa empreitada.
Não espere qualidade, reforço. Espere uma diversão honesta por algumas horinhas e, quem sabe, até convidar um amigo para sua casa e colocá-lo para jogar só pela diversão de ver ele inventando peripécias para, simplesmente, cavar um buraco no quintal de sua casa virtual. É o tipo de jogo que tem seus picos de popularidade em vídeos de gameplay e lives na internet e depois cai no esquecimento, mas deixando boas memórias até.
O jogo não é deveras longo. Pode ser concluído em cerca de duas, três horas até. Isso vai depender do seu nível de comprometimento com ele. Se você for do tipo que gosta de fazer as coisas com uma certa organização, apenas pelo prazer de olhar para o que fez e dizer “olha como isso aqui ficou legal”, por exemplo, obviamente vai se desprender da realidade e gastar um bom tempo estragando o seu jardim por um motivo tolo.
Claro, ainda temos algumas surpresas durante a jogatina, como o uso de ferramentas inusitadas em determinados momentos e até mesmo descobrir que não estamos sozinhos no buraco, mas não vou entrar em muitos detalhes sobre esses pontos para não estragar as surpresas de quem, assim como eu, ficou curioso com o que um jogo sobre cavar um buraco pode proporcionar.
Um jogo profundamente honesto… e tolo
A Game About Digging a Hole é exatamente o que promete: uma experiência simples, tola e despretensiosa, mas que entrega diversão honesta para quem busca algo diferente e sem compromisso. Seu loop de gameplay básico — cavar, encontrar itens, vender e melhorar equipamentos — pode parecer repetitivo no início, mas se torna mais envolvente conforme o jogador progride. O jogo não se preocupa em guiar o jogador ou ensiná-lo como as coisas nesse mundinho funcionam, o que reforça sua proposta casual e direta.
Apesar de sua curta duração e da inevitável queda no interesse em pouco tempo, ele se encaixa bem como um passatempo momentâneo, especialmente para aqueles que gostam de jogos com mecânicas absurdas e humor espontâneo. No fim das contas, A Game About Digging a Hole não revoluciona nada, mas cumpre bem sua função: ser um entretenimento barato e divertido para matar o tempo.
Prós
- Premissa simples e divertida sobre cavar um buraco e ver no que vai dar;
- O ciclo de cavar, coletar itens, vender e melhorar equipamentos é o que mantém o jogador engajado;
- É um jogo barato que entrega exatamente o que promete, sem tentar ser algo muito além disso;
- O uso de ferramentas inusitadas e algumas surpresas tornam a experiência menos monótona.
Contras
- A jogabilidade pode ficar cansativa rapidamente, já que o loop de ações é limitado;
- Pode ser concluído rapidamente (duas a três horas), o que pode desapontar quem busca um jogo mais duradouro;
- Não espere um visual impressionante ou um design caprichado; é tudo bem básico;
- Embora existam algumas mecânicas extras, a progressão é previsível e sem grandes reviravoltas;
- Depois de finalizado, dificilmente há motivos para voltar a jogar, tornando-o um daqueles títulos que são divertidos no momento, mas logo caem no esquecimento.
A Game About Digging a Hole — PC — Nota: 7.0
Revisão: Vitor Tibério
Análise produzida com cópia obtida pelo redator