Desde os grandes sucessos de nomes como Dark Souls e Demon's Souls, mais e mais títulos são lançados usando mecânicas básicas semelhantes. O mais novo membro dessa (difícil) família é
The First Berserker: Khazan, jogo de estreia no gênero da produtora Neople, conhecida pelo título DNF. Conforme vamos conferir nesta análise, este soulslike faz bonito e garante uma experiência envolvente e repleta de desafios.
Eu te conheço de algum lugar...
O protagonista, antes um general de grande prestígio, começa o jogo preso, exilado em uma região nevada após ser acusado de traição. Khazan consegue escapar em meio a uma perigosa avalanche, mas ao custo de ser possuído por espíritos demoníacos. Após alguma “discussão”, forma-se uma parceria para que ambos os lados possam cumprir seus objetivos.
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Algumas reviravoltas te esperam, mas nada demais |
Conforme o jogador avança no game, ele começa a entender as habilidades do agora ainda mais poderoso guerreiro, assim como as maquinações que levaram à sua prisão. A história não é espetacular, mas consegue trazer uma motivação interessante e um nível de ineditismo adequado, de modo que o jogador queira continuar sua aventura.
Por outro lado, as mecânicas de jogo básicas não são nada inéditas. Pelo contrário: quem já jogou Dark Souls, Demon's Souls e demais títulos inspirados neles saberá exatamente o que vai encontrar. Ou seja, combates de alta dificuldade, com uso de uma barra de fôlego – que limita a quantidade de ações que podem ser realizadas – e inimigos que renascem quando salvamos o jogo.
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Os combates são sempre radicais |
Outras características comuns também estão lá, tais como o risco da perda definitiva de recursos e a possibilidade de exaurir a energia do inimigo para deixá-lo vulnerável. The First Berserker: Khazan não muda a fórmula básica de sucesso do gênero soulslike, fazendo uso dos elementos mais clássicos desse gênero.
Atenção constante
Felizmente para os jogadores, o jogo não é meramente uma cópia barata dos irmãos mais velhos. Mesmo que de forma em geral modesta, temos várias inovações interessantes neste soulslike. Além disso, toda a jogabilidade básica, já vista em outros títulos semelhantes, é bem otimizada e implementada, não devendo nada aos melhores do gênero.
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Prepare-se para encontrar criaturas perigosas... |
No controle do guerreiro Khazan, o jogador conta com ataques rápidos e pesados, assim como bloqueios, esquivas, finalizações, entre vários outros golpes que podem ser liberados ao longo da campanha. São três armas diferentes (espada, lança e duas lâminas curtas) disponíveis, cada uma delas funcionando de maneira bem distinta. Isso permite ao jogador escolher entre ataques mais rápidos, cadenciados, fortes, de longo alcance, etc.
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... que trazem muita satisfação quando derrotadas |
Conforme o protagonista derrota os inimigos, ele acumula pontos de Lacrima. Esse recurso pode ser usado para melhorar os atributos do jogador, como vitalidade e determinação. Fica, entretanto, o aviso: ser derrotado em combate zera a quantidade de Lacrima e envia Khazan para o último local de salvamento. Se o jogador conseguir chegar ao ponto em que morreu sem perecer novamente, será possível recuperar o precioso recurso perdido.
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Conseguir recuperar o precioso Lacrima é sempre uma alegria |
Se for derrotado antes disso, já era; essa situação é comum em jogos soulslike, mas vale o aviso para quem não é do ramo. O game tem um nível de dificuldade afiado e exige atenção constante. Exceto por alguns vilões que precisam ser pontualmente ajustados, os embates são justos, ainda que difíceis.
Copia, mas faz diferente
The First Berserker: Khazan é mais do que repetir – de forma bastante competente, diga-se de passagem – as mecânicas básicas da maioria dos soulslike: ele traz várias características próprias que ajudam o game a se destacar dos demais. Não espere algo no nível de Elden Ring, afinal temos aqui um título de orçamento mais modesto; ainda assim, temos boas ideias por todos os lados.
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É possível sofrer e causar dano por status como Fogo e Veneno |
Por exemplo: conforme Khazan executa certas ações (bloqueios perfeitos, ataques, etc.), ele adquire pontos que podem ser utilizados para obter habilidades variadas. Elas compreendem tanto vantagens exclusivas para cada uma das armas quanto melhorias gerais para o guerreiro. Além disso, The First Berserker permite ao jogador resetar suas escolhas a qualquer momento, permitindo distribuir os pontos de forma livre.
Eu mesmo fiz uso desse recurso, pois testei as três armas disponíveis e algumas de suas habilidades atreladas. Após esse período de experimentação, defini a empunhadura dupla como minha favorita. Outra ideia interessante é que o Lacrima perdido em chefes pode ser recuperado antes de entrar na luta novamente. Logo, é possível usá-lo para alguma última melhoria antes de tentar outra vez.
Ah, falando em chefes, eles são o suprassumo de The First Berserker: Khazan. Ainda que cada missão traga muitos perigos ao longo de cada fase – mesmo os inimigos mais simples podem ser mortais se não forem levados a sério –, no final, são esses os vilões que oferecem os verdadeiros desafios. Repletos de golpes e habilidades, eles exigem todo o reflexo e a estratégia que o jogador tiver (e um pouco mais).
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Os inimigos são agressivos e exigem atenção constante |
Somente após morrer mais de uma dúzia de vezes é que eu comecei a entender os movimentos e ataques inimigos, tornando-me capaz de bloquear, esquivar e, finalmente, realizar meus próprios ataques. A emoção de acertar o último golpe necessário, após os itens de cura acabarem e as mãos estarem tremendo de nervosismo, é sempre muito satisfatória.
Capricho digno de nota
Falando um pouco sobre a produção de The First Berserker: Khazan, temos mais pontos positivos. Os visuais misturam um estilo anime com uma temática mais sobrenatural e sombria, oferecendo uma atmosfera distinta e envolvente. Alguns cenários e inimigos são “reciclados” ao longo da campanha, mas recebem um “trato” suficiente para evitar uma sensação exagerada de repetição.
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Embora não seja incrível, temos uma produção de boa qualidade |
A dublagem é competente, bem como as canções e o trabalho de som, sobretudo quando ouvimos as músicas no estilo clássico. Tecnicamente, temos um título que roda de forma suave e sem bugs, exceto por uma exceção grave que vivi. Após derrotar o primeiro chefe, o jogo travou e tive que fechá-lo. Ao abri-lo novamente, eu estava em um local que eu ainda não deveria ter acesso.
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O jogo é muito competente durante os combates |
Demorei para entender isso, precisando reiniciar a minha campanha. Felizmente, um contratempo menor perto de toda a diversão (e sofrimento) que tive, frisando que um patch de hoje afirma ter corrigido o problema. Um elogio importante é que o game não tem telas de carregamento após o jogador morrer, permitindo voltar à ação rapidamente. Isso não quebra o ritmo da jogatina e ajuda na imersão do game.
Faltou um pouco mais
Embora fosse interessante ter mais coisas inéditas – e mesmo algumas recorrentes, como mais tipos de inimigos básicos e armas além das três existentes –, na prática o game até consegue trazer novidades suficientes para justificar seu lançamento. Nesse sentido, o que também incomoda é a cadência, pois as novidades demoram um pouquinho demais para chegar, sobretudo considerando o nível de dificuldade alto e que pode desestimular os novatos.
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Os chefes reservam os desafios mais exigentes |
Quando conseguimos acesso à maior parte delas, no entanto, aí vemos o verdadeiro brilho do jogo. Bloqueios e esquivas perfeitas (respectivas ações realizadas no último instante possível) podem ser melhoradas para ajudar a perder menos energia e minar a vida adversária, enquanto a invocação de espíritos ajuda em lutas contra chefes. Pena que certas ideias demoram mais do que deveriam para aparecer ou mesmo não recebem o devido destaque.
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Contra-atacar inimigos é uma estratégia de alto risco e ganho |
Não quero dar spoilers sobre a campanha, mas, por exemplo, só é possível liberar a forja para obter novos itens após uma missão secundária difícil, enquanto a possibilidade de transformação só chega depois da metade do jogo. São bons recursos, que se somam a opções como contra-ataques que podem quebrar certas investidas inimigas e golpes especiais – como ataques à distância e combos legais –, que consomem a barra de Espírito de Luta, que, por sua vez, aumenta durante as batalhas.
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A campanha é acompanhada por outras missões interessantes |
Quero deixar claro ao leitor que essas críticas estão mais no nível de possibilidade perdida do que prejuízo ao game. Ele é muito bom como já é, oferecendo mecânicas de jogo polidas e divertidas de usar. The First Berserker até mesmo oferece mais conteúdo além da sua história principal, pois temos missões secundárias e “colecionáveis”, na forma de jarros e cristais.
Mais um grande nome para a família
The First Berserker: Khazan é um competente soulslike, apresentando um universo único e repleto de personalidade. Ele acerta nas mecânicas principais de um jogo do gênero, contando com combates brutais e dinâmicos que conseguem manter aquela tão desejada linha tênue entre nível de dificuldade afiado e diversão. Ainda que um pouco mais de inovação e variedade pudessem elevar o título ao status imperdível, é inegável que temos aqui um ótimo RPG de ação, sobretudo para os fãs do gênero.
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Uma ótima experiência de jogo, sobretudo para os fãs de desafios radicais |
Prós
- Jogo do tipo soulslike apresenta uma aventura viciante e competente, digna dos melhores do gênero;
- Visuais bastante caprichados,
- Jogabilidade afiada e responsiva, tornando a alta dificuldade uma experiência justa e recompensadora;
- Mecânicas de luta variadas, com vários recursos interessantes para se usar durante todo tipo de combate;
- Boa variedade nos cenários, inimigos e missões, resultando num mundo rico e envolvente;
- Novidades pontuais do game, em relação aos concorrentes, são bem-vindas.
Contras
- Ainda que traga inovações interessantes, elas chegam de forma lenta e poucas delas são relevantes o suficiente para destacar o título entre os seus pares;
- Embora bem implementadas, as armas e seus respectivos golpes poderiam ter uma variedade maior;
- O nível de dificuldade alto não chega a ser injusto, mas precisa de ajustes em termos de alcance e detecção dos golpes.
The First Berserker: Khazan — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise redigida com cópias digitais cedidas pela Nexon