Análise: Delta Force: Black Hawk Down é o puro clichê do shooter militar, mas muito bem-feito.

O clássico de PlayStation 2 ressurge com uma roupagem nova e totalmente gratuita.

em 22/03/2025

O tiro tático é um gênero que, apesar de nichado, vem aos poucos furando a bolha e caindo na graça do público com sua jogabilidade cadenciada e estratégica. Esse nível tão alto de exigência nos comandos talvez seja uma parede intransponível para alguns, mas, para os que já estão acostumados com essa jogabilidade cautelosa, Delta Force: Black Hawk Down traz toda a complexidade do gênero em uma campanha cooperativa de tirar o fôlego.

O que é Delta Force e por que eu deveria me importar?

Apesar de o lançamento de 2025 não ser numerado, a franquia Delta Force fez a sua estreia nos computadores caseiros em 1998. Sua proposta era ser diferente dos outros FPS do mercado, focando principalmente no realismo no campo de batalha e na cooperação entre o jogador e os bots que compunham o esquadrão.

O êxito nas missões dependia quase que exclusivamente da estratégia que o jogador montaria, precisando pensar como um capitão que está comandando seu pelotão. Sair correndo atirando em tudo que se mexe nunca era uma boa ideia, já que um ou dois tiros nos lugares certos já eram o suficiente para lhe derrubar.

Essa jogabilidade mais lenta e que requer um nível a mais de estratégia começou a conquistar uma parcela de jogadores bem específica nos PCs, que posteriormente migraram para outras franquias como Ghost Recon, Rainbow Six e Sniper Elite.


O sucesso do primeiro jogo foi monumental, garantindo duas sequências que viriam em 1999 e 2000, respectivamente, sempre superando as expectativas dos fãs. Mas apesar de o teclado e o mouse serem a casa principal de Delta Force, foi no PlayStation 2 que a franquia gravou seu nome na história dos FPS.

Por conta da quantidade exagerada de comandos que esse tipo de jogo possui, sempre foi difícil lançá-los para consoles de mesa, já que não havia botões suficientes nos controles para comportar tanta coisa. Uma alternativa seria simplificar a jogabilidade, o que inevitavelmente faria o jogo deixar de ser tático. Então, por muito tempo, os desenvolvedores desistiram de tentar encontrar uma resposta para essa questão. Porém, com a chegada do DualShock 2 e seus dois analógicos — que se tornaram o padrão dos controles modernos —, finalmente eles encontraram essa resposta.

Um sucesso inesperado, mas que não soube ser aproveitado

Em 2003, Delta Force: Black Hawk Down foi lançado para PC, e no ano seguinte, para PS2, se tornando um dos FPS mais divertidos do console. Apesar das diferenças entre o PC e PS2 — sendo praticamente dois jogos diferentes com o mesmo nome —, a versão do console da Sony não deixava a desejar. Mesmo inevitavelmente tendo que diminuir sua complexidade, o conceito estratégico que consagrou a série ainda estava lá.

O subtítulo Black Hawk Down não é por acaso, já que ele é baseado no filme de mesmo nome lançado em 2001, e que no Brasil ficou conhecido como Falcão Negro em Perigo, um filme de guerra baseado em eventos reais e dirigido por Ridley Scott.


Entretanto, tudo o que sobe uma hora desce, e com Delta Force não foi diferente. Era esperado que, após todo esse sucesso, seus lançamentos continuassem saindo para os consoles de mesa e deixassem de lado a exclusividade com o PC, o que não aconteceu. Após o sucesso de Black Hawk Down, a franquia deu alguns passos para trás, voltando a focar apenas no PC e esquecendo completamente toda a base de fãs que o PS2 havia trazido. A competitividade dentro do gênero tático acabou dificultando ainda mais as coisas, já que, nesse meio-tempo, outras franquias surgiram e conseguiram abocanhar algumas fatias desse bolo.

A essa altura, o estrago já era irreversível, e poucos anos depois ninguém mais se lembrava do nome Delta Force, que teve seu último lançamento em 2009 com o não tão bem recebido Xtreme 2. Essa recepção morna fez com que a NovaLogic (principal desenvolvedora da franquia) fechasse suas portas em 2016, deixando a franquia no limbo por 16 anos.

Um renascimento aos trancos e barrancos

Dizem por aí que a esperança é a última que morre, mas depois de tantos anos sem sequer a possibilidade de um novo lançamento, essa esperança já estava morta e enterrada há muito tempo. Contudo, em 2024, o estúdio Team Jade faria os fãs saírem de seus sarcófagos com um sopro de nostalgia.


Com uma reformulação completa na jogabilidade e tendo fortes inspirações em Warzone e Battlefield 2042, um novo Delta Force foi anunciado. Assim como acontece com a maioria desses jogos de tiro focados no online, o lançamento foi um tanto desastroso, com infinitos problemas no balanceamento, conexão e muitas reclamações dos jogadores. Porém, a Team Jade mostrou seu comprometimento e, em tempo recorde, consertou diversos desses problemas enquanto adicionava constantemente novos conteúdos ao jogo, incluindo uma campanha focada no cooperativo que homenageia o legado que a série construiu no PS2: a Black Hawk Down.

Apesar de ser um remake do jogo de 2003, essa reimaginação introduz diversas novidades que foram muito bem-vindas, modernizando a jogabilidade, mas mantendo a dificuldade extrema. Aqui, o jogador realmente se sente como um soldado no meio do conflito, onde qualquer deslize ou desatenção pode custar sua vida.

O elemento tático também foi modernizado, pegando inspirações de diversos outros jogos que foram lançados nas últimas duas décadas e contextualizando-os para esse cenário. A personalização de equipamentos, por exemplo, é um fator fundamental aqui. Cada jogador dispõe de algumas opções de armamento, dependendo da sua classe — seja ela médico, assalto, suporte ou engenheiro.

Uma missão quase impossível


Dificuldade é a palavra-chave aqui. Apesar de poder ser jogado de forma solo, é altamente recomendado (e quase obrigatório) reunir mais três pessoas para a missão, já que é praticamente impossível terminá-la sozinho. Comunicação com os colegas, coordenação, reflexos rápidos e domínio do armamento são essenciais. Um colega caído, por exemplo, precisa que o médico da equipe aja rapidamente para resgatá-lo. Já um sniper deve ser preciso para eliminar inimigos escondidos nas janelas dos prédios antes que eles derrubem seus companheiros.

Em minha experiência pessoal, mesmo tendo uma certa habilidade com FPS, não deixei de ficar tenso um segundo sequer a cada nova esquina que virava. O sentimento de urgência que essa dificuldade extrema proporciona é o que faz o jogo brilhar. Ele não é difícil com a intenção de ser frustrante para o jogador, mas sim para fazê-lo sentir que superou um grande desafio ao fim da fase. Em teoria, a campanha pode ser finalizada em pouco menos de duas horas, mas mesmo com um time experiente, levei cerca de 6 horas para ver os créditos.

Além da campanha, o jogo conta com outros modos focados no PvP, sendo eles o Conquista e Zona de Risco, ambos com jogabilidade e propostas totalmente diferentes. Pode-se dizer que, considerando a campanha principal e os dois modos PvP, temos praticamente três jogos em um.

No Conquista, o objetivo é capturar os territórios inimigos enquanto o outro time tenta defendê-lo. Este modo conta com uma jogabilidade mais frenética e que não leva em conta os conceitos táticos da campanha.


Já em Zona de Risco, o objetivo é entrar em uma área, conseguir o máximo de recursos que puder e seguir para a zona de extração. Esses recursos serão salvos em seu armário particular e poderão ser personalizados para as próximas rodadas.

A quantidade de conteúdo presente aqui é gigantesca e digna de qualquer lançamento a preço cheio, mas uma das coisas mais impressionantes é ele ser totalmente gratuito. Independentemente do modo que queira jogar, você não precisará desembolsar um centavo para isso, o que é um dos seus maiores acertos e que está fazendo a base instalada de jogadores crescer gradualmente.

Mas nem tudo são flores. Apesar de acertar em quase todos os pontos, Delta Force comete o maior pecado dos jogos modernos: a má otimização. Mesmo tendo ótimos computadores, é comum ver a comunidade reclamando do peso exagerado do jogo e os constantes travamentos, o que é inadmissível num jogo online. Talvez muitos desses problemas venham da Unreal Engine 5, motor gráfico usado em Delta Force e que já é conhecido por seus problemas de desempenho. Contudo, o jogo segue recebendo atualizações constantes para esses problemas, então é só uma questão de tempo para que sejam resolvidos (assim esperamos).

A Força Delta tem futuro?


Mesmo não sendo uma recriação cem por cento fiel ao jogo de PS2, ele conseguiu homenagear de forma maestral tanto seu antecessor quanto o filme que o inspirou, fazendo o que muitos acreditavam ser impossível: trazer o nome Delta Force de volta à tona.

O futuro da franquia passou de impossível para incerto. Antes, não tínhamos nenhuma esperança de um ressurgimento da série, mas agora não sabemos para onde ela vai. No mesmo jogo, há três propostas diferentes que não miram em apenas um alvo, mas acertam em todos.

A diferença entre esses três modos é tão grande que valeria uma análise única para cada um deles, mas se você gosta de uma boa jogabilidade tática e tem mais três amigos que aceitem esta missão, Delta Force: Black Hawk Down é um prato cheio e uma ótima surpresa de início de ano.

Prós

  • Ótima jogabilidade tática;
  • Campanha cooperativa bem cadenciada e desafiadora;
  • Totalmente free-to-play. 

Contras

  • Problemas de performance que prejudicam o online.

Delta Force: Black Hawk Down —  PC — Nota: 7.5

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia adquirida gratuitamente pelo redator

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Kevyn Menezes
Um “arqueólogo de games” que adora falar das gemas ocultas do mundo dos jogos, tem o PS3 como console favorito e ama um bom hack and slash. Mesmo apreciando os jogos modernos, não dispensa uma boa velharia obscura do tempo que videogame era movido à lenha. Segue o pai.
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