Análise: Two Point Museum é uma exposição de gala protagonizada pela diversão

Encarne um curador e retorne ao condado de Two Point neste excelente simulador.

em 25/02/2025
Um dos primeiros jogos que tive a honra de analisar para o GameBlast foi Two Point Hospital. À época, o título desenvolvido pela Two Point Studios e publicado pela SEGA atendeu todas as minhas expectativas, apresentando um simulador leve e descontraído que provava que gerenciar um hospital e tudo que ele envolve poderia, sim, ser sinônimo de diversão genuína, sem contraindicações.


Por isso, devo dizer que desde o seu anúncio no ano passado, fiquei ansioso para conferir Two Point Museum: a mais nova obra do criativo estúdio que, após uma breve incursão universitária, decidiu dar aos seus fãs a inusitada missão de criar e gerenciar museus no carismático condado de Two Point. O resultado, como você pode conferir a seguir nesta análise, é outro excelente simulador, já digno de ser considerado um dos melhores de seu gênero.

Curador em ascensão

Se os hospitais e as universidades de Two Point já estão bem estabelecidos hoje, infelizmente o mesmo não pode ser dito dos museus. Como nos explica Hayley Von Trowel no show “Indo Mais Fundo”, o curador (agora, ex-curador) simplesmente fugiu do Two Point Museum, deixando a aclamada instituição com mais um problema em um período marcado por grandes dificuldades, como a queda no número de visitas e um estranho surto de roubos.

Pois bem, como quase tudo tem um lado positivo, apesar de repentino, o sumiço noticiado pela Two Point Radio causou comoção na população e culminou na abertura da vaga de emprego que você, um aspirante a curador, tanto buscava. Conveniente, não é mesmo?

Agora, finalmente contratado como o mais novo responsável pelo museu do condado, a sua missão é encarar o desafio que afugentou o último profissional, botar ordem na casa e dar nova vida à instituição. Com pouquíssimas peças em exposição e avaliações em baixa, a tarefa certamente não será fácil, mas, com o devido carinho e uma certa dose de ambição, quem sabe você não consegue torná-lo o melhor museu das redondezas, quiçá do mundo?

Mãos à obra

Na prática, Two Point Museum segue a fórmula clássica dos simuladores. Isso quer dizer que, uma vez incumbido da administração do museu, é seu o dever de definir o preço dos ingressos, contratar funcionários, garantir que há banheiros e quiosques de alimentação suficientes para todos e muito mais.

Desde o começo da campanha (que também funciona, no início, como um rico tutorial) é fundamental ficar atento a métricas como o fluxo de caixa e a satisfação dos visitantes, pois elas indicam a saúde geral do empreendimento e as opiniões mais comuns dos entusiastas, fatores decisivos para se tornar um curador bem-sucedido em Two Point. 

Há, ainda, particularidades bem interessantes que tanto podem ajudar quanto atrapalhar na missão de gerenciar: primeiramente, museus possuem um caráter educativo, o que obriga a existência de estandes de informação, mas também significa que seus visitantes podem fazer doações caso se sintam acolhidos e impressionados com o que veem. Também por isso, não é incomum receber recomendações das secretarias de cultura próximas, como a exibição de obras itinerantes, geralmente atreladas a uma expectativa fixa de visualizações.

Em ambos os casos, é imprescindível para o sucesso levar em conta o “burburinho”, uma das mecânicas novas (e mais divertidas) de Two Point Museum. Basicamente, quanto maior for o seu nível particular de burburinho, mais uma peça impressionará os visitantes, o que invariavelmente resultará em um número maior de doações e um público mais feliz com o passeio. 

Para manter um nível alto de burburinho no museu, é fundamental manter as exposições limpas e bem-decoradas — quem não gosta de seções temáticas, não é mesmo? —, mas os desafios aqui vão ainda mais além: com um acervo muito limitado a princípio, está em suas mãos planejar expedições pelo mundo inteiro, nas quais a sua equipe tentará coletar artefatos valiosos (e outros nem tanto assim) para exibir no museu. Pronto para a missão?

A volta ao mundo em… alguns dias

Sim, uma das atribuições mais importantes de um curador é a seleção do que é exposto em cada museu. Para isso, as expedições são fundamentais, pois é por meio delas que novas peças (ou pedaços de peças, já que esqueletos raramente são escavados inteiros, por exemplo) são encontradas. Antes de começar a exploração, porém, é preciso montar a equipe responsável pela tarefa — e é aqui que o jogo fica ainda mais interessante, evidenciando uma das grandes sacadas do Two Point Studios para este título. 

Explicando com mais detalhes: para cada expedição, é necessário selecionar um ou mais dos seus funcionários, sendo que alguns lugares ainda podem exigir uma especialidade a mais no time para serem alcançados, como os destinos oceânicos (que precisam de especialistas em vida marinha) e as selvas inóspitas (que normalmente pedem especialistas em botânica). 

Considerando que as viagens duram normalmente de 30 a 60 dias e já nas primeiras horas de jogo podem precisar de três funcionários, é de suma importância saber planejar a operação do museu sem esses braços, o que pode se provar bem desafiador, visto que simplesmente contratar novas pessoas acaba inchando a folha salarial e prejudicando o fluxo de caixa.

Da mesma forma, não é uma solução prática simplesmente deixar de fazer as expedições, pois é por meio delas que se consegue peças mais interessantes em termos de burburinho, melhorando a avaliação da instituição e gerando mais doações. Como incentivo extra, uma vez que um acervo rico e coeso esteja em sua posse, é possível até mesmo organizar as lucrativas visitas guiadas, nas quais um especialista pode conduzir um grupo pagante por rotas e atrações específicas dentro do museu, elaboradas por ninguém menos que você.

Com tudo isso, confesso que não demorou muito tempo para que as expedições se tornassem uma das minhas partes favoritas de Two Point Museum. Ver a equipe designada chegando são e salva no museu com uma recompensa aleatória devidamente organizada em um caixote é algo que nunca falhou em me surpreender no tempo que passei com o título, especialmente por causa do bom humor característico da franquia.

Como exemplo, uma das minhas primeiras recompensas de exploração foi uma “Pessoa das Cavernas Congelada” — que, de acordo com a própria descrição, “foi preservada a partir do exato momento do congelamento, com pouca ou nenhuma ideia do que aconteceu”. Escavá-la foi o ponto de partida para criar uma área temática de gelo em meu museu inicial, onde logo passei a exibir também uma pomposa geladeira congelada.

Claro, eventualmente acidentes acontecem: em uma das expedições mais arriscadas, um funcionário que trabalhava comigo desde a minha estreia como curador desapareceu. Em outra, a equipe se deparou com uma enorme cobra e precisava saber se a alimentava ou tentava comê-la, pedindo a minha opinião para resolver o dilema.

Como resultado da minha orientação, com um pouco de imaginação e os olhos fechados, os corajosos quase se convenceram de que aquela era uma saborosa carne de frango. A decisão, embora controversa a princípio, elevou a moral da equipe, resultando em uma recompensa rara e uma merecida viagem de férias às milagrosas fontes medicinais, bem ao estilo Two Point. Nada mal, não é mesmo?

Ossos do ofício

Tecnicamente falando, Two Point Museum me agradou muito nas várias possibilidades de criação que oferece, superando até mesmo os seus antecessores nesse quesito. Há aqui museus com temas aquáticos, fantasmagóricos, espaciais e mais de 200 peças ilustres, as quais demandam quase tanta atenção quanto os visitantes (experimente deixar algumas plantas carnívoras sem o devido cuidado, para confirmar o que estou falando). 

Além da campanha, que coloca você a serviço da Two Point Foundation, percorrendo e resolvendo os problemas dos museus do condado, também há o já tradicional modo Sandbox ou Caixa de Areia, em que é possível ter uma experiência criativa mais livre e personalizar à vontade vários parâmetros in-game, como a dificuldade geral, o risco de roubos e o subsídio governamental. 

Assim, com uma interface amigável e intuitiva, legendas e menus em português brasileiro, suporte à Oficina Steam e excelente performance no PC, me alegro em escrever que Two Point Museum, assim como Two Point Hospital e sua expansão Cultural Shock fizeram lá em 2020, me surpreendeu muito positivamente em praticamente todos os aspectos, a ponto de merecer uma recomendação universal: na minha opinião, tanto os entusiastas quanto os curiosos vão se divertir aqui.

O único ponto negativo que eu destacaria seria a trilha sonora, que na minha opinião se tornou repetitiva cedo demais até para os padrões da série. Tudo bem que muitos jogadores preferem aproveitar os seus simuladores com as músicas desligadas (e o YouTube ou o Spotify em segundo plano), mas tendo em vista as boas sacadas nos comentários irônicos da Two Point Radio, confesso que gostaria de ter a opção de montar uma playlist própria dentro do jogo.

A frustração é um pouco amplificada porque esse era um recurso que já havia dado as caras na versão de PC de Hospital, mas que, infelizmente, não retornou para este novo título. Considerando o suporte à Oficina Steam, fica aqui então registrada a torcida para que a possibilidade chegue em um futuro patch. Dessa forma, esta exibição certamente estaria mais completa.



Uma exposição de gala, à altura da franquia que representa

Pela criatividade envolvida e diversão proporcionada, Two Point Museum certamente merece estar no panteão dos melhores simuladores de todos os tempos, coroando a trilogia Two Point com aquele que pode ser considerado o seu mais ambicioso jogo até agora.

Inventivo, descontraído e desafiador, aqui está um título recomendado tanto para quem está conhecendo a franquia agora quanto para quem a acompanha desde o seu nascimento, há alguns bons anos em um certo hospital muito louco. Para esta curiosa exposição de gala, que não restem dúvidas então: o ingresso está mais do que justificado.

Prós

  • Prova, com uma boa dose de criatividade, que gerenciar museus pode ser tudo, menos monótono;
  • A mecânica de burburinho obriga o jogador a regularmente investir em novas peças e decorar adequadamente as suas criações para conseguir o retorno financeiro esperado;
  • As expedições são um show à parte, justificando a sua inclusão no game com um viciante fator surpresa, além do desafio a mais na hora de gerenciar as equipes responsáveis pelo evento;
  • Preserva o bom humor característico da série, com peças ilustres como o fóssil de disquete e a geladeira congelada proporcionando boas risadas e trazendo leveza à gameplay;
  • Suporte à Oficina Steam;
  • Suporte a PT-BR nas legendas e menus.

Contras

  • A trilha sonora é um pouco repetitiva e cansa cedo demais;
  • Poderia permitir aos usuários criarem suas próprias playlists, assim como o Two Point Hospital.
Two Point Museum — PC/PS5/XSX — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Análise produzida com cópia digital cedida pela SEGA
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Alan Murilo
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