Os CRPGs estão em alta, e Solasta II é uma das opções que chega este ano em acesso antecipado para PCs. Com um combate fortemente baseado nas regras da 5ª Edição de Dungeons & Dragons, o jogo atendeu ao feedback dos fãs e aprimorou diversos pontos fracos do seu antecessor.
A única ressalva parece ser a narrativa, que, ao que tudo indica, não recebeu o mesmo investimento que o restante do jogo. Ainda assim, para quem busca um CRPG com mecânicas fiéis a D&D, Solasta II parece ser uma opção promissora.
Bem-vindo à Neokos
A história de Solasta II se passa cerca de 70 anos após os eventos do primeiro jogo, agora em uma terra distante chamada Neokos. A grande ameaça desta vez é Shadwyn, uma figura enigmática que vem desequilibrando o mundo com uma crescente onda de corrupção. A campanha acompanha quatro irmãos órfãos. Na demo que joguei, não era possível customizá-los, mas os desenvolvedores garantiram que a criação de personagens e builds estará presente na versão completa.
Na demo, o grupo chega a uma vila costeira para visitar Ellie, uma velha amiga, mas logo descobre que terremotos, desaparecimentos misteriosos e um culto de Kobolds estão aterrorizando a região. A história se desenrola em uma sequência direta, começando com os problemas locais e culminando no confronto contra os monstros que cultuam um dragão, até o grande encontro com Shadwyn.
Ainda não está claro em que ponto da campanha essa sequência se encaixa. Pode ser o início do jogo ou apenas uma versão condensada para introduzir os personagens e conflitos principais. No entanto, senti uma falta de construção narrativa, já que com poucas ações o grupo já encontra o culto e é levado diretamente ao encontro com a vilã. Talvez seja apenas uma limitação da demo, mas espero que a versão final desenvolva melhor a progressão da trama.
Role os dados e torça
Mantendo a tradição do primeiro jogo, Solasta II continua focado no combate tático em turnos. A transição para a Unreal Engine trouxe animações mais fluidas e uma I.A. aprimorada, tornando os confrontos mais estratégicos e dinâmicos. No entanto, como já é comum em jogos na UE, a performance ainda deixa a desejar — mesmo considerando que o jogo está em Alpha.
O combate, por sua vez, permanece como o grande destaque. Os cenários são projetados para incentivar emboscadas e jogadas criativas, trazendo aquela sensação autêntica de um RPG de mesa. O design de personagens e vilões está mais polido e imersivo, e nada supera a satisfação de ver uma bola de fogo explodindo no meio dos inimigos com um belo efeito visual.
Os desenvolvedores demonstram um cuidado especial ao decidir o que adaptar das regras da 5ª Edição de Dungeons & Dragons. Embora eu tenha sentido falta de feitiços como os de ressurreição de mortos, entendo as limitações e considero que as escolhas feitas até agora foram bem pensadas para capturar a essência de uma campanha de mesa.
O único aspecto que me incomodou foi a interface. Ela parece ter sido projetada primariamente para consoles, e a versão para PC soa como uma adaptação simplificada. Elementos como abas de poderes e ações foram enxugados a ponto de parecerem uma versão "para leigos" de um sistema que já era bem implementado no primeiro Solasta. Para veteranos do gênero, essa abordagem pode parecer um retrocesso.
Liberdade, personagens e problemas
Um ponto sempre levantado nos RPGs é o quanto é possível fazer o Role-Playing, ou seja, interpretar o personagem de fato. Solasta II parece seguir um caminho mais conservador em seus sistemas de escolha. Na demo, percebi que é possível ignorar quests, o que pode resultar na morte de vários NPCs. Isso demonstra que as ações do jogador realmente afetam o mundo.
Entretanto, pelas entrevistas concedidas pelos desenvolvedores, não parece que o jogo permitirá seguir pela clássica rota da maldade. Apesar de múltiplos finais, há uma limitação mais rígida sobre as opções morais disponíveis. Na área inicial que testei, a quantidade de personagens interativos era mínima, se restringindo a vendedores ou figuras ligadas às missões.
Além disso, a trama não me envolveu e os protagonistas carecem de personalidade marcante. Durante os diálogos, mesmo que seja possível fazer testes de dados para desbloquear novas opções, as reações da party ao mundo são genéricas. Eles fazem perguntas em excesso e quase nunca acrescentam comentários que tragam carisma ou profundidade. É uma pena, já que uma das grandes promessas do jogo é ter os quatro protagonistas totalmente dublados por atores. No entanto, o maior problema continua sendo a qualidade do texto, uma fraqueza herdada do antecessor que persiste nesta sequência.
Um projeto que entende seu propósito
Apesar dos problemas e limitações percebidos na demo, Solasta II tem algo que falta em muitos jogos atuais: identidade. Os desenvolvedores conhecem bem o material original e entregam um dos combates mais envolventes do gênero. Mesmo com tropeços na escrita, o jogo consegue equilibrar essa fraqueza com cenários belíssimos, sistemas bem ajustados e encontros memoráveis.
A melhoria nos gráficos e na fluidez da jogabilidade torna a sequência ainda mais aguardada pelos fãs. Resta acompanhar o longo caminho do acesso antecipado para ver até que ponto a desenvolvedora está disposta a ouvir a comunidade e aprimorar cada detalhe. Considerando o histórico do estúdio, acredito que o futuro de Solasta seja, no mínimo, brilhante.
Texto de impressões produzido com demo antecipada cedida pela Tactical Adventures
Narração: Gabriel Andrade
Narração: Gabriel Andrade