A Sega sempre buscou criar mascotes que representassem sua marca. Personagens como Opa-Opa, Alex Kidd, Sonic e NiGHTS simbolizaram diferentes períodos da empresa. Embora nenhum deles tenha alcançado o mesmo sucesso do ouriço azul, cada um personifica uma era distinta da Sega.
Entre esses personagens carismáticos, houve um que acabou ainda mais esquecido. Lançado em 1995, Ristar surgiu como um jogo de plataforma tão impressionante quanto Sonic 3 & Knuckles, destacando-se em aspectos técnicos e criativos. No entanto, o jogo veio em um momento em que o Mega Drive já se aproximava do fim de sua vida útil, e a Sega nunca mais revisitou o mundo da estrela cadente. Vamos relembrar suas aventuras!
Duas origens, uma estrela
Ristar é um desdobramento direto de conceitos iniciais de Sonic, que surgiu de um torneio interno entre os desenvolvedores da Sega para criar um mascote capaz de rivalizar com Mario. Um dos candidatos mais promissores foi um coelho que usaria suas orelhas para se agarrar a inimigos e objetos. No entanto, esse conceito acabou sendo modificado, removendo a mecânica das orelhas, focando na velocidade e dando origem ao raio azul que conhecemos.![]() |
Conceitos do coelho desenhados por Naoto Oshima, que viria a ser o (verdadeiro) pai do Sonic. |
Apesar disso, a ideia de agarrar não foi totalmente descartada. Parte da equipe da Sega, incluindo alguns envolvidos em Sonic, resgatou a ideia e a utilizou na criação de Ristar. Assim, nasceu uma estrela cadente com braços e pernas, resultando no protagonista do jogo.
A história de Ristar passou por alterações no lançamento internacional. Em ambas as versões, o vilão Greedy, líder de um grupo de piratas espaciais, espalha o terror pela distante constelação de Valjee. Na versão japonesa, os habitantes do planeta Neer rezam para as estrelas em busca de uma solução. As preces são ouvidas por Oruto, a mãe de todas as estrelas, que desperta um de seus filhos para salvar a galáxia do temível Greedy.
Já na versão americana, a parte da oração foi removida, e Oruto foi substituída pelo pai do protagonista, um lendário herói sem nome que foi sequestrado. Assim, Ristar desperta para resgatar seu pai e libertar os planetas dominados pelo vilão.
A história de Ristar passou por alterações no lançamento internacional. Em ambas as versões, o vilão Greedy, líder de um grupo de piratas espaciais, espalha o terror pela distante constelação de Valjee. Na versão japonesa, os habitantes do planeta Neer rezam para as estrelas em busca de uma solução. As preces são ouvidas por Oruto, a mãe de todas as estrelas, que desperta um de seus filhos para salvar a galáxia do temível Greedy.
Já na versão americana, a parte da oração foi removida, e Oruto foi substituída pelo pai do protagonista, um lendário herói sem nome que foi sequestrado. Assim, Ristar desperta para resgatar seu pai e libertar os planetas dominados pelo vilão.
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A versão internacional também adiciona textos na abertura. |
Aventuras planetárias
Ristar é um jogo de plataforma bastante tradicional. Controlamos a pequena estrela enquanto ela atravessa diversos desafios específicos de cada planeta, com uma jogabilidade mais cadenciada em comparação com outros títulos do gênero da mesma época.A principal mecânica do jogo está nos braços elásticos de Ristar. Em vez de pular sobre a cabeça dos inimigos, aqui devemos agarrá-los para nos impulsionar em direção a eles, com ataques que podem ser desferidos em oito direções.
Essa mecânica também se estende à movimentação. Qualquer superfície pode servir de apoio para Ristar se impulsionar, permitindo alcançar locais inacessíveis apenas com pulos. Além disso, elementos circulares, como canos e árvores finas, podem ser usados para se balançar ou atravessar obstáculos, proporcionando uma das mecânicas mais divertidas do jogo. Algumas seções exigem rapidez, testando a habilidade do jogador com o uso dos braços elásticos.
Outro recurso interessante são as alças espalhadas por certas fases. Ao girar nelas e atingir alta velocidade, Ristar é lançado como uma verdadeira estrela cadente, destruindo tudo em seu caminho — mas, em contrapartida, tornando-se mais difícil de controlar.
Cada fase é dividida em três atos, com o último dedicado ao confronto contra um chefe. Os cenários são bastante variados e apresentam desafios únicos de acordo com o planeta onde ocorrem. Por exemplo, enquanto Flora segue o tradicional tema de floresta na primeira fase, Sonata é um planeta musical, em que devemos transportar metrônomos com cuidado para que os pássaros possam cantar.
Os chefes também são criativos e divertidos de enfrentar. Embora todos sigam a lógica de explorar brechas para atacar, cada um apresenta desafios únicos baseados no ambiente. Um bom exemplo é o tubarão-martelo da segunda fase, cuja batalha se desenrola em uma área alagada. A cada golpe certeiro, a água do local é drenada aos poucos, alterando a dinâmica do combate.
Os chefes também são criativos e divertidos de enfrentar. Embora todos sigam a lógica de explorar brechas para atacar, cada um apresenta desafios únicos baseados no ambiente. Um bom exemplo é o tubarão-martelo da segunda fase, cuja batalha se desenrola em uma área alagada. A cada golpe certeiro, a água do local é drenada aos poucos, alterando a dinâmica do combate.
Mega Drive em seu auge técnico
A limitação de cores do Mega Drive é bem conhecida dentro da geração 16 bits, mas boa parte dos jogos do console conseguiu contornar esse problema de maneira criativa. A partir de 1994, algumas produções atingiram um nível gráfico impressionante, e Ristar é um dos maiores exemplos disso.Chega a ser surpreendente pensar que o jogo é de um hardware que exibe, no máximo, 64 cores simultaneamente. Ristar é muito colorido, vibrante e repleto de detalhes, tanto nos cenários ao fundo quanto no plano principal. Cada planeta possui uma cor predominante, sempre harmonizada com tons complementares que garantem um visual coeso — e um dos mais belos da época.
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O uso de dithering, recurso que era mascarado pelas TVs de tubo para simular mais cores e ajudar em degradês, é bem alto aqui. |
E não são apenas os cenários que impressionam. A equipe de animação fez questão de dar ao protagonista um carisma baseado em suas expressões e ações. Além de nunca permanecer completamente imóvel, suas animações de espera variam de acordo com o ambiente.
Nos planetas mais tranquilos, Ristar apenas assume uma pose confiante, pronto para o próximo desafio. Já em Scorch, ele demonstra sofrer com o calor intenso da região, enquanto em Sonata entra no ritmo musical do local. Seu design pode ser simples, mas sua personalidade transparece de forma marcante, tornando-o um personagem que merecia mais destaque em futuros jogos.
Nos planetas mais tranquilos, Ristar apenas assume uma pose confiante, pronto para o próximo desafio. Já em Scorch, ele demonstra sofrer com o calor intenso da região, enquanto em Sonata entra no ritmo musical do local. Seu design pode ser simples, mas sua personalidade transparece de forma marcante, tornando-o um personagem que merecia mais destaque em futuros jogos.
A trilha sonora também contribui significativamente para o charme da aventura. As músicas são animadas, memoráveis e perfeitamente alinhadas com o espírito do jogo, equivalentes a qualquer Sonic da mesma época.
Além das excelentes composições, a implementação sonora do chip YM2612 é tecnicamente sofisticada. O jogo faz uso extensivo de samples, não apenas para a percussão, mas também para vocais e múltiplos instrumentos simultaneamente — um ótimo exemplo é o trecho mais voltado ao samba no primeiro ato de Flora.
Duas faixas que se destacam para mim são Break Silence, do ato 2 de Undertow, que evoca um mistério subaquático, e Ice Scream, do ato 2 do planeta gelado Freon. Esta última possui uma melodia melancólica que me emociona sempre que a ouço
Além das excelentes composições, a implementação sonora do chip YM2612 é tecnicamente sofisticada. O jogo faz uso extensivo de samples, não apenas para a percussão, mas também para vocais e múltiplos instrumentos simultaneamente — um ótimo exemplo é o trecho mais voltado ao samba no primeiro ato de Flora.
Duas faixas que se destacam para mim são Break Silence, do ato 2 de Undertow, que evoca um mistério subaquático, e Ice Scream, do ato 2 do planeta gelado Freon. Esta última possui uma melodia melancólica que me emociona sempre que a ouço
Ice Scream
Estrelando nos 8 bits e (não tão) além
Ristar não ficou restrito ao Mega Drive e também recebeu uma versão para o Game Gear em 1995. Apesar do evidente downgrade gráfico e sonoro, essa adaptação aproveita muito bem o potencial do pequeno portátil da Sega.A jogabilidade se mantém fiel à versão do Mega Drive, com a maioria dos elementos intactos. Algumas mecânicas inéditas foram adicionadas, como a possibilidade de agarrar flechas e cravá-las em troncos para criar plataformas no segundo ato de Flora. Por outro lado, a fase Undertow foi substituida por um planeta completamente novo.
Quando criança, eu já havia jogado a versão principal e fiquei surpreso ao ver Ristar em um daqueles Master System Plug & Play lançados pela Tec Toy nos anos 2000. Apesar de estar presente nesses dispositivos, o jogo nunca foi portado oficialmente para o Master System, sendo apenas uma emulação da versão de Game Gear.
Depois disso, Ristar nunca mais recebeu uma nova aventura. Sua presença se limitou a participações especiais, como na máquina de gachapon em Shenmue, no obscuro Segagaga para Dreamcast (que ainda espero ver traduzido algum dia) e como bandeirinha em Sonic & Sega All-Stars Racing e sua sequência, Sonic & All-Stars Racing Transformed.
Depois disso, Ristar nunca mais recebeu uma nova aventura. Sua presença se limitou a participações especiais, como na máquina de gachapon em Shenmue, no obscuro Segagaga para Dreamcast (que ainda espero ver traduzido algum dia) e como bandeirinha em Sonic & Sega All-Stars Racing e sua sequência, Sonic & All-Stars Racing Transformed.
Uma estrela nunca para de brilhar
Apesar do abandono por parte da Sega, Ristar garantiu seu lugar na excelente biblioteca do Mega Drive. Com uma jogabilidade dinâmica, uma proposta mais cadenciada e um impressionante cuidado técnico, o jogo se destaca como uma das aventuras mais únicas dos 16 bits e merece ser redescoberto pelos jogadores.Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut