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Escolha sua melhoria
Machiguchi Hiroyasu era produtor de máquinas de arcade e, como era comum na época, foi designado para um projeto na Konami. Ao se juntar à equipe que havia produzido Scramble, a ideia era aproveitar o sucesso de Xevious, da Namco, para criar uma espécie de “Scramble 2”.
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Scramble foi um dos primeiros sucessos da Konami nos arcades. |
Diversos testes foram feitos para tornar o jogo moderno e diferenciado da concorrência, incluindo a estreia de uma nova placa de fliperama, a Bubble System. Esse hardware de 16 bits usava armazenamento magnético, similar ao dos antigos disquetes. Vários sistemas de upgrades—elemento comum em jogos de nave—foram testados. O método tradicional, em que cada melhoria coletada alterava automaticamente os disparos, foi testado, mas a equipe optou por um sistema que desse mais liberdade ao jogador.
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Mesmo sendo mais seguro que os disquetes, a suscetibilidade do hardware à interferência eletromagnética acabou atrapalhando a longevidade do Bubble System. |
Ao derrotar certos inimigos (ou grupos deles), o jogador recebe cápsulas de poder, que movem um seletor visível na tela. As opções disponíveis englobam diferentes recursos estratégicos:
- Speed: aumenta a velocidade da nave, sem limite máximo. Abusar dessa melhoria pode torná-la praticamente incontrolável;
- Missile: lança mísseis que percorrem o solo, ideais para destruir torretas protegidas pela geometria da fase;
- Double: melhora a cadência do tiro padrão e adiciona um disparo diagonal para cima, útil contra inimigos no teto;
- Laser: minha arma favorita. Dispara um fino e poderoso feixe de laser que acompanha a posição da nave;
- Option: cria esferas que seguem o movimento da nave e replicam seus disparos, aumentando consideravelmente o poder de fogo;
- ? (Shield): invoca duas barreiras ao redor da nave, protegendo contra projéteis inimigos.
Escolher a melhoria certa para cada momento é essencial, especialmente no início da partida. Compensa mais garantir uma arma forte logo de cara ou economizar cápsulas para ativar um escudo e aumentar a sobrevivência? Tudo depende da estratégia e do estilo de jogo de cada jogador.
Pensar rápido e ter bons reflexos é essencial em Gradius, pois sua dificuldade é extremamente alta. O novo hardware aumentou significativamente a quantidade de elementos em tela, e a equipe explorou isso ao máximo, despejando hordas de inimigos e projéteis sem piedade.
Um desafio interplanetário
Mas o desafio vai além disso. Ao perder, voltamos a um checkpoint próximo, sem nenhum recurso. Recebemos um power-up inicial que aumenta minimamente a velocidade da nave, mas voltamos tão fracos que, em trechos complicados, sobreviver sem precisar recomeçar várias vezes é quase impossível.
Embora esse tipo de dificuldade possa parecer injusto, ele acabou conquistando os apreciadores de desafios baseados em aprender padrões e superá-los com tentativa e erro. Como era padrão nos fliperamas, os jogadores precisavam inserir fichas para continuar avançando pouco a pouco, até que os padrões inimigos fossem decorados e assimilados — um aspecto muito associado aos jogos de nave.
A estrutura de Gradius é bem simples. Nossa missão é destruir a frota estelar Bacterian, que ameaça o pacífico planeta Gradius. Para isso, devemos adentrar a fortaleza inimiga, chamada Xaerous, com a nave Vic Viper, e pôr um fim à guerra.
A progressão é dividida em oito fases interconectadas, levando o jogador por cenários um tanto fantasiosos, como um corredor repleto de vulcões e áreas rochosas habitadas por estátuas de Moai que disparam projéteis. Cada fase culmina em um chefe ou desafio, como erupções vulcânicas ou naves inimigas que devem ter seus núcleos destruídos.
Toda a campanha é embalada por visuais charmosos e impressionantes para 1985. Apesar da simplicidade dos gráficos de 8 bits, com fundos escuros salpicados de estrelas, o jogo impressiona tanto pela quantidade de inimigos em tela quanto pelas ameaças de maior escala.
Como era tradição na antiga Konami, a trilha sonora também se destaca, apesar de curta, com faixas raramente ultrapassando 30 segundos. Além dos efeitos sonoros icônicos, o jogo surpreende ao incluir vozes sintetizadas simples, sendo um recurso que seria mais explorado em produções futuras.
Atirando por aí
Como todo sucesso de fliperama, Gradius recebeu várias conversões ao longo dos anos. A versão que mais se destacou no Ocidente foi a de NES, lançada em 1986. Mesmo com cortes gráficos e sem a rolagem vertical de tela em certas fases, o port impressionou, especialmente por ter sido lançado no início da vida do console.
Essa versão do Nintendinho também tem um papel especial na história dos videogames: foi nela que o famoso Konami Code surgiu. Kazuhisa Hashimoto, um dos responsáveis pelo port, enfrentava dificuldades nos testes e criou o código “cima, cima, baixo, baixo, esquerda, direita, esquerda, direita, B, A” para facilitar o trabalho. Bastava pausar, inserir a sequência, despausar, e a Vic Viper recebia todos os upgrades.
O código deveria ter sido removido antes do lançamento, mas não houve tempo para isso e sua retirada poderia causar bugs difíceis de corrigir. Esse "acidente" deu origem a um dos easter eggs mais icônicos dos videogames, amplamente referenciado na cultura pop até hoje.
Outra conversão de destaque é a do MSX, um computador popular no Japão e com presença na Europa e no Brasil. Por ser um sistema ainda mais limitado que o NES, essa versão sofreu cortes severos na suavidade da rolagem de tela e no detalhamento gráfico. No entanto, trouxe fases novas e se tornou um dos destaques da plataforma.
Uma conversão mais fiel ao original só veio em 1991, no PC Engine, lançado exclusivamente no Japão. Embora não fosse um arcade perfect, essa versão manteve todo o conteúdo do fliperama e ainda incorporou os extras do MSX. Destacam-se também as músicas, que receberam samples de percussão, dando mais peso às faixas.
A versão definitiva só apareceu no PlayStation, na coletânea Gradius Deluxe Pack. Apesar de pequenas diferenças na resolução, os gráficos e as músicas ficaram idênticos ao original, e todos os slowdowns foram corrigidos.
Além dessas, Gradius marcou presença em diversos outros consoles e computadores ao longo das décadas. Desde ports para ZX Spectrum e Commodore 64 até versões emuladas nos sistemas atuais, o legado do título continua acessível para novas gerações de jogadores.
Destroy them all!
Gradius marcou a evolução dos jogos de navinha e é um dos títulos mais importantes da história da Konami. Além de dar origem a uma série de continuações e spin-offs, como Salamander/Life Force, seu legado permanece vivo até hoje, seja pela dificuldade insana ou pela influência.
Revisão: Ives Boitano