Sustentabilidade nos videogames: ex-CMO da Microsoft explica a importância do tema

Luciana Lancerotti compartilha sua visão sobre um tema que também respinga na indústria de games.

em 17/02/2025

Com a crescente preocupação com as mudanças climáticas e os impactos ambientais, muitas indústrias passaram a repensar suas práticas — e os videogames não ficam de fora. Nos últimos anos, surgiram iniciativas e movimentos voltados à sustentabilidade, com desenvolvedores e empresas se esforçando para reduzir suas pegadas de carbono e criar experiências de jogo mais conscientes.

Por outro lado, a chamada "gamificação verde" tem se tornado uma ferramenta cada vez mais importante para sensibilizar e educar os jogadores sobre questões ambientais, estimulando comportamentos mais responsáveis tanto no mundo virtual quanto no real. Neste cenário em que a conscientização ambiental cresce a cada dia, muitos se questionam: como os jogos podem contribuir para um futuro mais sustentável? Como a indústria pode utilizar sua força para promover práticas mais verdes e inclusivas?

Para responder sobre a importância de discutir a sustentabilidade nos videogames, conversamos com Luciana Lancerotti, ex-CMO da Microsoft, que compartilhou suas perspectivas sobre a importância da sustentabilidade no setor de games e como a indústria pode evoluir para se tornar mais responsável ambientalmente.

Observação: as respostas foram editadas por motivos de clareza.

GameBlast: Você pode nos contar um pouco mais sobre você?

Luciana Lancerotti: Tenho 32 anos de experiência no mercado, sempre atuando nas áreas de inovação e tecnologia. Nos últimos tempos, decidi empreender e compartilhar um pouco do que aprendi, principalmente sobre como tornar o mundo corporativo mais sustentável, tanto no aspecto financeiro quanto social e emocional. Acredito que todos, independentemente do setor em que atuam, têm um papel importante na transformação do ambiente ao seu redor, e busco passar isso adiante.

GB: Como você vê a influência dos videogames na conscientização sobre sustentabilidade e questões ambientais? E quais características você acredita que fazem de um jogo uma ferramenta eficaz para promover a sustentabilidade?

LL: Os videogames têm um enorme potencial para educar e sensibilizar sobre questões ambientais por meio de narrativas e experiências imersivas e interativas, fazendo com que temas como a sustentabilidade estejam mais próximos das pessoas. A eficácia dos jogos na promoção de temas sustentáveis está no fato de que eles conseguem conectar o jogador emocionalmente com a causa.

Ao dar ao jogador o poder de fazer escolhas que afetam diretamente o mundo virtual, ele passa a refletir sobre como essas ações se relacionam com o mundo real. Além disso, é possível integrar a mecânica de recompensa por atitudes sustentáveis dentro do jogo, o que motiva os jogadores a adotar comportamentos responsáveis também fora dele.

Jogos como Alba: A Wildlife Adventure, Wake: Tales from the Aqualab, Endling: Extinction is Forever e Beyond Blue são exemplos perfeitos de como os jogos podem abordar a temática da sustentabilidade e ajudar a conscientizar sobre questões ambientais de forma lúdica e educativa.

GB: Você pode nos contar como a inclusão de temas de sustentabilidade nos jogos pode impactar positivamente o comportamento das pessoas na vida real?

LL: A inclusão de temas de sustentabilidade nos jogos pode ter um impacto significativo no comportamento das pessoas, incentivando-as a adotar atitudes mais responsáveis e conscientes. Quando os jogadores são desafiados a tomar decisões ecológicas dentro de um jogo — como gerenciar recursos de maneira responsável ou preservar um ecossistema —, isso pode levá-los a refletir sobre como aplicar essas práticas no mundo real.

Estudos têm mostrado que a gamificação verde, com recompensas por comportamentos sustentáveis, pode aumentar a participação dos jogadores em atividades ecológicas fora do ambiente do jogo. Isso faz com que as pessoas percebam que pequenas ações podem ter grandes impactos, tanto no meio ambiente quanto na sociedade.

Alba: A Wildlife Adventure

GB: Na sua opinião, quais são os maiores desafios que a indústria dos jogos enfrenta ao tentar se tornar mais sustentável?

LL: Os maiores desafios que a indústria de games enfrenta não são exclusivos desse setor, mas refletem uma percepção mais ampla sobre sustentabilidade. Existe a ideia de que ser sustentável significa gastar mais, quando, na realidade, trata-se de adotar uma abordagem mais responsável e consciente.

No caso dos jogos, os principais obstáculos incluem reduzir a pegada de carbono dos servidores de jogos e melhorar a sustentabilidade no desenvolvimento de hardware. Para avançar, a indústria precisa amadurecer em relação a esses temas e começar a enxergar a sustentabilidade como uma prática que beneficia todos os envolvidos — jogadores, desenvolvedores e o meio ambiente. Além disso, é fundamental que a indústria busque alternativas mais ecológicas em suas operações e nas escolhas de tecnologias utilizadas no desenvolvimento e na distribuição de jogos.

GB: Você acredita que a "gamificação verde" pode ser um mecanismo eficaz para promover mudanças comportamentais? Por quê?

LL: Sim, acredito que a "gamificação verde" é uma excelente ferramenta para promover mudanças comportamentais sustentáveis. A integração de mecânicas de jogo, como pontos, desafios e recompensas, em ações que incentivam o comportamento ecológico, permite que os jogos motivem os jogadores a adotar hábitos mais responsáveis no mundo real. 

Quando os jogadores recebem incentivos por ações sustentáveis dentro do jogo, como reduzir o desperdício de recursos ou preservar a natureza, isso gera um ciclo positivo de recompensa que se reflete nas escolhas deles fora do ambiente virtual. Esse tipo de gamificação pode ser uma estratégia poderosa para aumentar a conscientização e incentivar práticas mais verdes no cotidiano.

Endling: Extinction is Forever

GB: Quais tendências emergentes na indústria de videogames você acha mais promissoras para promover a sustentabilidade?

LL: Uma das tendências mais promissoras na indústria de games é a crescente adoção de energia renovável nos servidores de jogos. Isso ajuda a reduzir a pegada de carbono associada ao funcionamento das plataformas online, além de promover a ideia de que a tecnologia também pode ser amiga do meio ambiente.

Além disso, a criação de jogos que abordam diretamente questões ambientais, como preservação da natureza e mudança climática, é um passo importante para engajar os jogadores em causas sociais e ecológicas. A indústria também está se tornando mais consciente sobre o impacto ambiental no processo de desenvolvimento, buscando alternativas para criar jogos e equipamentos mais sustentáveis.

GB: Atualmente, você também está ministrando aulas de sustentabilidade e inclusão em um curso de pós-graduação na ESPM. Como você aborda a sustentabilidade e a responsabilidade social em suas aulas?

LL: Nas minhas aulas, busco sempre fazer os alunos refletirem sobre como suas escolhas podem impactar positivamente o mundo, tanto no aspecto ambiental quanto no social e financeiro. Trabalho com a ideia de que a sustentabilidade não se resume a práticas ecológicas, mas também envolve questões de inclusão social e responsabilidade financeira. 

Incentivo meus alunos a pensar em como podem aplicar a metodologia do pensamento circular — que explora o ciclo de vida de produtos, serviços e impactos — nas suas decisões profissionais. Quero que eles se tornem líderes que busquem soluções sustentáveis em seus campos de atuação, criando um impacto positivo tanto para suas comunidades quanto para o ambiente.

GB: Como a sua experiência anterior na Microsoft influenciou sua visão sobre a importância da sustentabilidade também na indústria de videogames?

LL: Durante minha experiência na Microsoft, pude observar de perto como a empresa está comprometida com práticas sustentáveis, como a utilização de tecnologias mais verdes e a redução da pegada de carbono. Essa abordagem impactou diretamente minha visão sobre a indústria de jogos, mostrando que é possível alavancar a inovação sem negligenciar a responsabilidade ambiental.

Acredito que a indústria de games pode seguir o exemplo de empresas como a Microsoft, adotando práticas sustentáveis no desenvolvimento de jogos e na gestão das operações, para minimizar os impactos negativos no meio ambiente.

GB: Como você acha que a indústria de videogames pode colaborar com outras indústrias para promover a sustentabilidade globalmente? Por exemplo, o que você acredita que os desenvolvedores de jogos podem fazer para criar títulos mais inclusivos e socialmente responsáveis?

LL: A indústria de videogames pode colaborar com setores como a educação e a tecnologia para criar soluções mais inovadoras e inclusivas. Por exemplo, desenvolvedores de jogos podem criar títulos que não só promovam a inclusão social, mas também incentivem comportamentos responsáveis e sustentáveis.

Criar jogos que abordem questões como a preservação ambiental ou a redução de desigualdades pode gerar um impacto positivo na forma como os jogadores pensam e agem no mundo real. A colaboração entre essas indústrias pode gerar uma rede de transformação positiva, criando soluções que atendem não apenas ao mercado de entretenimento, mas também às necessidades da sociedade e do planeta.

Beyond Blue

GB: Quais são as suas expectativas para o futuro dos jogos sustentáveis e como você acha que a indústria pode evoluir nessa área?

LL: Eu espero que o futuro dos jogos sustentáveis seja marcado pela evolução da indústria em termos de criação de jogos com baixo impacto ambiental e maior foco na educação e conscientização sobre questões ecológicas. A indústria tem uma grande oportunidade de continuar inovando, desenvolvendo tecnologias mais verdes e criando conteúdos que incentivem práticas responsáveis entre os jogadores.

Com o avanço das tecnologias e o aumento da conscientização sobre a sustentabilidade, acredito que veremos mais jogos que não apenas entretenham, mas também eduquem e inspirem os jogadores a agir de maneira mais consciente em suas vidas.

GB: Você quer deixar um recado para as pessoas que acompanham o GameBlast?

LL: Gostaria de deixar um recado para todos que acompanham o GameBlast: a indústria de games tem um poder imenso de transformação, não apenas no entretenimento, mas também na forma como podemos pensar o futuro do nosso planeta e da sociedade. Cada um de nós, como jogadores, desenvolvedores ou influenciadores, tem a responsabilidade de olhar para as questões ambientais, sociais e econômicas e refletir sobre o impacto de nossas ações, dentro e fora dos jogos.

Seja no mundo virtual ou no real, temos a oportunidade de adotar práticas mais sustentáveis e inclusivas. O que me motiva todos os dias é ver a capacidade do setor de unir diversão e educação, trazendo uma nova visão sobre como podemos construir um mundo melhor. Acredito que cada vez mais vamos encontrar formas de tornar os jogos uma ferramenta para promover um futuro mais sustentável. Então, minha mensagem é: vamos continuar criando, aprendendo e fazendo a diferença, não apenas como consumidores, mas como agentes de transformação dentro dessa indústria.


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Revisão: Davi Sousa
Capa: Thais Santos
Agradecimentos à Comunica PR, assessoria de imprensa responsável por Luciana Lancerotti
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Juliana Paiva Zapparoli
Também conhecida como Lilac, é jornalista e atualmente trabalha com assessoria de imprensa. Fã de jogos de plataforma no geral, especialmente os da era 16-bits, com gosto adquirido por RPGs e visual novels ao longo dos anos. Fora os games, não dispensa livros e quadrinhos. Prefere ser chamada por Ju e não consegue viver sem música. Sempre de olho nas redes sociais, mas raramente postando nelas.
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