Componente, RGB ou SCART: saiba como extrair a melhor imagem do seu console retrô

Evite confusões e entenda como funcionam os vários padrões de vídeo suportados pelos consoles da melhor época.

em 28/02/2025

No mundo dos retrogames é muito comum a gente se deparar com inúmeros termos e siglas que muitas vezes acabam se tornando parte do nosso dia a dia. Vídeo composto e componente? O que raios é esse tal do RGB? Ah! E tu provavelmente também tens algum conhecido que não fecha a matraca sobre o SCART, não é mesmo? Neste artigo eu vou brevemente lhe explicar o que significam essas palavras, como esses sinais de vídeo funcionam e como eles podem melhorar a imagem do seu console retrô!

Falando de vídeo analógico — levando em consideração TVs de tubo, também chamadas de CRTs —, de forma simplificada, existem algumas informações que todo padrão de vídeo precisa ter para sua TV entender corretamente como interpretar os sinais enviados. Estes são: as cores RGB, vermelho, verde e azul, que podem ser manipuladas para mostrar qualquer cor na tela; o luma, que é o quão intenso deve ser o brilho em cada parte da tela; e, por fim, a sincronização, ou sync, que é um pulso enviado pelo console para a TV entender onde começa e termina cada frame.

Todos esses padrões de vídeo que iremos falar aqui possuem diferentes formas de carregar esses sinais, além de estarem em uma clara hierarquia na qual quanto mais para baixo formos, pior fica a qualidade da imagem. Tenha isso em mente, e caso esteja usando um padrão de vídeo de pior qualidade, atente-se às dicas que darei para aproveitar seu console ao máximo!

RGB nativo

Quando os sinais de vídeo são gerados pelo seu console, eles costumam ser produzidos em uma forma que eu chamo de RGB nativo. Essa saída é extremamente pura e ela é tipicamente composta por quatro condutores que carregam os seguintes sinais: as cores vermelha, verde e azul, que compõem o RGB, mais o sync. Esse padrão de vídeo providencia uma imagem perfeita, pixel por pixel, e costumava ser utilizada com frequência nos arcades.

Painel traseiro de um monitor PVM e suas entradas RGB.

Tu podes estar pensando, então: “puxa vida, mas eu não conheço nenhuma TV que possui entrada para esse tal RGB”. De fato, apesar de ser um padrão de altíssima qualidade, praticamente nenhuma TV de consumidor no mercado brasileiro aceita esses sinais de fábrica. Felizmente, muitos indivíduos com a expertise necessária por aí descobriram formas de injetar o RGB em diversos modelos de TV, obtendo resultados excelentes.

Entretanto, esse é um processo que envolve uma considerável engenharia reversa, fora os perigos associados com a manutenção de TVs de tubo, que além do peso absurdo, podem carregar consigo uma carga elétrica fatal, desencorajando amadores da eletrônica e deixando esse trabalho para técnicos experientes nesse tipo de TV, que a cada dia é mais difícil de se encontrar.

Conector SCART.

Na Europa, contudo, boa parte dos televisores possuem uma excelente entrada de vídeo, a tão falada SCART. Nela, podemos encontrar diversos sinais de vídeo e comunicação, incluindo RGB! Por esse motivo, boa parte dos consoles da época possuem esses sinais RGB nas suas saídas de vídeo. Tanto o Super Nintendo, Mega Drive, Nintendo 64, quanto o Playstation possuem a saída disponível sem modificações.

Apesar dessa disponibilidade dos sinais RGB, a gente sabe que do lado de cá do Atlântico as coisas não foram bem assim. Embora o SCART seja utilizado hoje por alguns retrogamers por ser um conector extremamente prático quando estão lidando com o padrão RGB, além de ser aceito por muitos upscalers, na época isso praticamente não existia aqui. Fazendo com que os únicos tubos capazes de aceitar sinal RGB nativamente sejam os monitores profissionais de televisão, os Sony PVM e BVM, que hoje são reais artigos de raridade nas coleções de poucos e privilegiados indivíduos.


Vídeo componente

Calma lá! Nós aqui do Brasil também temos salvação! Esse ótimo formato que também chamamos de YPbPr, ou YCbCr, é constituído de cinco cabos RCA, contendo ambos canais de áudio, um fio verde que carrega o luma e o sync, chamado Y; um fio azul que traz um sinal representando a diferença entre o Y e a cor azul, chamado Pb; e por fim, um fio vermelho que carrega a diferença entre o Y e a cor vermelha, chamado Pr. Mas pera aí, não esqueceram a cor verde? Na verdade, dadas todas essas informações, a própria TV consegue inferir o verde e preencher a cor restante automaticamente, dessa forma eliminando a necessidade de um sexto fio. Genial, não é mesmo?

Cabo de vídeo componente do PSP.

O melhor de tudo é que RGB e vídeo componente são padrões lossless, ou seja, de perda zero. Isso torna a diferença na imagem entre essas duas saídas de vídeo imperceptível, além de ambas serem fáceis de converter entre uma e a outra. Aqui no Brasil, muitas TVs vieram equipadas com a entrada de vídeo componente, mais comumente encontrada nos televisores de 27 ou mais polegadas, mas também é possível encontrar em alguns modelos de 20.

Consoles como o PlayStation 2 e 3, Nintendo Wii, Xbox, Xbox 360 e até o PSP oferecem essa saída de vídeo sem nenhuma modificação necessária, e com o cabo correto, podem providenciar uma imagem sem igual na sua TV de tubo! Ainda, por se tratar de um padrão facilmente conversível, por meio de um adaptador, consoles antigos que possuem saída RGB podem ter os sinais convertidos para componente, basicamente transformando sua TV em uma verdadeira máquina de retrogames.


S-Video, ou luma-chroma

A partir de agora os próximos padrões de vídeo que irei citar já apresentam uma perda significativa na qualidade da imagem. O primeiro deles é o nosso amigo S-Video, ou também chamado Y-C, ou luma-chroma. Esse intrigante padrão de vídeo é tipicamente comercializado em um conector mini DIN com quatro pinos. Curiosamente, dois deles são apenas aterramento, deixando os sinais de vídeo em apenas os outros dois condutores.


Esse nome Y-C, ou luma-chroma, é uma literal representação dos dois sinais que ele carrega. O Y é o mesmo que vimos do vídeo componente, que possui as informações de sync e luma; já o C, ou chroma, é um sinal que carrega as mesmas diferenças de cor que comentei antes, o Pb e o Pr, mais o fator C que é usado no cálculo do vídeo componente.

Infelizmente, por se tratar de um único condutor no qual essas três informações de cor são filtradas e transmitidas em frequências diferentes, a largura de banda das cores é altamente reduzida em comparação com o vídeo componente ou o RGB nativo, diminuindo a qualidade do sinal e causando um impacto na imagem bastante perceptível. Eu devo dizer, entretanto, que mesmo se tratando de uma saída de vídeo inferior às outras que expliquei até aqui, a qualidade do S-Video ainda é bastante respeitável, e por se tratar de um padrão suportado por muitos consoles antigos e TVs, acaba sendo bastante útil, além de ser como eu hoje jogo meu Super Nintendo e o Nintendo 64.


Outros consoles, como o PlayStation e o Mega Drive, também suportam esse padrão, no entanto, para providenciar essa saída, o Meguinha precisa passar por uma modificação simples, pois os sinais Y e C não são oferecidos no seu conector de vídeo, mas são acessíveis em duas pernas de um chip integrado que produz as saídas de vídeo. De toda forma, essa modificação é raramente feita dado o fato de o próprio Mega já disponibilizar as saídas RGB no seu conector, tornando ela uma alternativa muito mais chamativa pros entusiastas da qualidade.

A título de curiosidade, vale a pena ressaltar duas coisas a mais sobre o S-Video. A primeira é que muitos costumam chamá-lo erroneamente de Super Vídeo, e apesar de se tratar de um padrão de vídeo com qualidade superior à que iremos comentar em seguida, essa confusão no nome se deve à adoção em massa do S-Video junto dos tocadores de VHS que suportavam o formato S-VHS, ou Super VHS, da JVC.

A verdade é que esses sinais Y-C, que são carregados no conector mini DIN do S-Video, já eram um padrão existente há muito mais tempo, sendo introduzidos pela primeira vez no computador Atari 800 em 1979, e também foram posteriormente utilizados por computadores e monitores da Commodore, como o Commodore 64 e o monitor 1702. Outra curiosidade interessante sobre o S-Video é devida não somente ao fato de ele basicamente ter os sinais do vídeo componente modulados em um de seus condutores, mas por ele ter mais de um condutor, portanto tecnicamente também podemos chamá-lo de vídeo componente por essa razão. Se bem que isso iria acabar causando uma baita confusão, tu não achas?


Vídeo composto

Enfim chegamos nele! Por último mas não menos importante, o queridinho de todos! O conhecidíssimo vídeo composto! Se tu és um retrogamer de verdade, garanto que tens pelo menos uns cinco cabos desse em casa, ou estou mentindo? O vídeo composto funciona juntando os dois sinais Y-C que comentamos no S-Video, dessa forma possibilitando a transmissão de um sinal de vídeo completo por apenas um só cabo. Além de reduzir os custos e facilitar a instalação para o usuário, o vídeo composto é de longe o padrão de vídeo mais utilizado em aparelhos de consumidor. Consoles, DVDs, videocassetes ou até Laser-Discs são dispositivos que comumente suportam o padrão. Não duvido que algum dia eu encontre uma torradeira com saída de vídeo composto!


Como a gente viu até agora, esses padrões de vídeo seguem uma espécie de hierarquia de qualidade. Na parte de cima temos o RGB seguido pelo vídeo componente, que são excelentes sinais de perda zero, abaixo dele o S-Video, que já apresenta uma considerável perda em qualidade, e abaixo de todos eles está o vídeo composto, por isso podemos assumir que infelizmente ele também tem desvantagens significativas quando o assunto é qualidade.

Precisamos entender que quanto mais sinais são modulados, filtrados e transmitidos por menos fios, chega um momento em que a reduzida largura de banda e a interferência que esses sinais causam entre si tornam-se bastante perceptíveis. Esses fatores acabam se manifestando na forma de um dos principais calcanhares de Aquiles do vídeo composto, o famigerado dot-crawl, que significa distorção por interferência de pontos. Esses artefatos podem ser vistos principalmente ao redor de textos, regiões da tela onde o contraste de cores é bastante alto, ou também em sprites mais detalhadas. Revisões mais recentes do Mega Drive são infames por sofrer bastante com esse sintoma.

Neste exemplo é possível ver o dot-crawl causando interferência no texto.


Escolha o seu destino (ou cabo)

Muitos fatores devem ser levados em consideração na hora de escolher suportar algum desses padrões de vídeo com maior qualidade, em razão de que existe um grande mercado da nostalgia, no qual os preços podem atingir as alturas. Digo por experiência própria que não vale a pena gastar horrores nas TVs e cabos que são os ditos melhores por aí na internet.

Caso queira uma considerável melhora na imagem, uma boa TV que suporte S-Video já é uma ótima saída, tendo em mente que tu não pretendes ligar nela nada mais novo do que um PS2. Se tiver uma entrada componente, até jogos mais antigos de Xbox 360 podem ter uma surpreendente e agradável mudança estética. Ademais, para conseguir cabos SCART ou conversores, uma boa alternativa aos impraticáveis preços que vimos aqui no Brasil é considerar a importação da China. É lógico que a qualidade dos cabos que vêm de lá pode ser um pouco duvidosa, mas para o retrogamer que não quer gastar muito, é uma possível saída.

Comparação entre vídeo composto (cima) e componente (baixo) no Xenogears.

Ufa! Foi bastante coisa, não é mesmo? Eu espero que com todas essas informações tu possas procurar a solução que mais seja adequada para as tuas necessidades retrogamers. Caso o teu console retrô não tenha sido mencionado neste artigo, recomendo pesquisar os padrões de vídeo que ele suporta e aproveitar as informações aqui escritas.

Revisão: Vitor Tibério

Imagens: Andy Eisfeld; Repair.wiki; Wikimedia: Pittigrilli, Gona.eu, Evan-Amos e Jonas Bergsten

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Andy Eisfeld
é catarinense e egresso da faculdade de Letras Japonês da UFPR. Amante dos JRPGs, adora perder horas rejogando games da série Megaten. Defensor das CRTs, tem orgulho do seu legado PC Gamer desde o 386. Pode ser encontrado nas redes pelo @AndyyEdits.
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