Bloodborne: 10 anos de um dos projetos mais icônicos de Hidetaka Miyazaki

Parceria entre a FromSoftware e a Sony resultou em um dos jogos mais aclamados de todos os tempos.

em 22/02/2025

O ano é 2014. Um rumor sobre um projeto chamado Project Beast começa a circular, ganhando força após o vazamento de um trailer. As expectativas disparam. Durante a E3 daquele ano, em junho, o mistério é finalmente revelado: nasce oficialmente Bloodborne, fruto da parceria entre a Sony e a FromSoftware.

Em 2015, chegava às lojas aquela que, até então, seria a obra-prima do diretor Hidetaka Miyazaki. O lançamento consolidou o estúdio no mainstream, ampliou o alcance dos exclusivos do PS4 e conquistou uma legião de novos fãs para o gênero Soulslike. Muito antes de Elden Ring e Sekiro, Bloodborne apresentou um universo inédito e segue até hoje como uma das mais grandiosas representações do horror cósmico nos games. Hoje, celebramos seus 10 anos e relembramos um pouco de sua história.

Project Beast



A história de Bloodborne começa em 2012, logo após o lançamento da edição Prepare to Die de Dark Souls, sendo desenvolvido em paralelo a Dark Souls 2. Sob o codinome Project Beast, o jogo nasceu de um convite da Sony à FromSoftware para criar algo totalmente novo e original, pensado para o vindouro PS4.

A possibilidade de construir um universo inédito e aproveitar a potência da nova geração empolgou Miyazaki e sua equipe. Fã das obras de H.P. Lovecraft e de filmes como Drácula de Bram Stoker, o diretor decidiu unir horror cósmico, arquitetura gótica e a ameaça de criaturas mitológicas como lobisomens, criando uma história densa, aterrorizante e estranhamente bela.




Uma das ideias centrais era evitar que o jogo se tornasse excessivamente difícil. Por se tratar de uma parceria, os desenvolvedores queriam um desafio equilibrado — algo que não elevasse ainda mais a dificuldade já conhecida de Dark Souls, mas que trouxesse novas formas de explorar o combate. A partir dessas discussões, surgiu o uso de armas de fogo e um estilo de jogo mais ofensivo, reforçado pelo sistema Rally, que permitia recuperar parte do dano sofrido ao atacar imediatamente após ser atingido.

Essa abordagem, somada à movimentação mais veloz e ao mundo visualmente único, ajudou Bloodborne a se distanciar das raízes medievais da FromSoftware. Assim, o jogo abriu caminho para um novo público mergulhar nas loucuras da mente de Miyazaki e sua talentosa equipe, sem a necessidade de familiaridade com seus trabalhos anteriores.

Tema o sangue antigo



Em Bloodborne, acompanhamos o Caçador em sua busca por respostas na cidade de Yharnam, assolada por uma praga conhecida como a maldição do sangue antigo, que transformou grande parte da população em monstros sanguinários. Para combater essa ameaça, surgiram os caçadores, responsáveis por exterminar essas criaturas amaldiçoadas.

A história do jogo é uma das mais viscerais e complexas já criadas pela FromSoftware. Inicialmente, a narrativa parece seguir a linha clássica de filmes vitorianos com monstros, no estilo de Van Helsing. No entanto, à medida que o jogador avança e descobre a origem do sangue antigo, fica claro que o terror está apenas começando e alcançará proporções cósmicas.




Um dos aspectos mais instigantes da lore está na figura dos Eminentes, ou Great Ones, seres cósmicos que há eras influenciam a vida na Terra. Foi a partir deles que a antiga Rainha Pthumeriana obteve o sangue antigo, utilizado para curar doenças, mas que acabou trazendo a maldição para Yharnam. Com o apoio da Igreja da Cura, o uso desse sangue se espalhou rapidamente, acelerando ainda mais a propagação da praga.

Boa parte dos personagens que encontramos ou enlouqueceram após anos de caçadas e matanças ou se tornaram vítimas da influência dos Eminentes. O fascínio por essas entidades levou muitos estudiosos a se transformarem em monstros, pois quanto mais conhecimento se adquire, mais próximo se está dessas criaturas — e, consequentemente, da loucura. Afinal, quando se encara o vazio do cosmos, algo antigo está observando de volta.

A música do horror abismal



A trilha sonora de Bloodborne é, até hoje, considerada um dos melhores trabalhos da FromSoftware. Com a participação de Tsukasa Saitoh, Yuka Kitamura, Nobuyoshi Suzuki, Ryan Amon, Cris Velasco e Michael Wandmacher, a música do jogo contou com performances de uma orquestra de mais de 65 membros, além de um coral com mais de 32 cantores.

O uso de instrumentos clássicos para criar uma atmosfera aterrorizante fez da trilha sonora de Bloodborne uma das mais marcantes da indústria. Há algo de arrepiante e desolador nos vocais fantasmagóricos do tema de Cleric Beast, um dos primeiros grandes inimigos do jogo, que deixa uma impressão duradoura em quem enfrenta a criatura.


Em entrevista, Tsukasa Saitoh revelou que a intenção era combinar as sensações de horror e luta mortal. Para isso, a equipe utilizou trompetes e órgãos, criando uma sonoridade grandiosa sem perder o tom ameaçador e desolador. Além disso, foram incorporadas letras em latim, que só foram plenamente decifradas algum tempo após o lançamento do jogo, revelando detalhes ocultos da lore e aprofundando ainda mais o mistério que envolve Bloodborne.

Legado do sangue antigo



Dez anos após seu lançamento, Bloodborne continua sendo um marco na história de Hidetaka Miyazaki e da FromSoftware. Mesmo após o sucesso estrondoso de Elden Ring, muitos fãs ainda aguardam ansiosamente um remake, remaster ou, quem sabe, a tão comentada versão para PC — um rumor que persiste há anos sem nada de concreto.

Embora não seja uma adaptação direta de Lovecraft, o jogo é considerado uma das melhores representações do horror cósmico nos videogames. Com sua temática densa, combate rápido e trilha sonora arrebatadora, Bloodborne se tornou uma lenda, alcançando mais de 8 milhões de cópias vendidas — um feito impressionante para a FromSoftware, que antes era vista como um estúdio de nicho.

O impacto do jogo foi tão grande que deu a confiança necessária para que Miyazaki e sua equipe explorassem novos cenários e ideias além da série Souls, contribuindo diretamente para a criação de Sekiro, Elden Ring e até mesmo o retorno de Armored Core. Rumores de bastidores sugerem que o próprio Miyazaki tem um carinho especial por Bloodborne e gostaria de supervisionar qualquer nova versão do jogo, mas a falta de tempo teria impedido isso até agora.

O legado de Bloodborne é inegável, tanto para os fãs quanto para os desenvolvedores. O jogo foi um divisor de águas para a FromSoftware, consolidando o Soulslike como um gênero que vai além do combate medieval e abrindo caminho para uma nova geração de exclusivos memoráveis. Agora, só nos resta torcer para que os Eminentes escutem nossas preces e concedam a graça de um novo mergulho nesse universo horripilante.

Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
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Luan Gabriel de Paula
Redator publicitário em tempo integral e amante de games nas horas vagas. Provavelmente aprendi a segurar um controle mais rápido do que uma mamadeira. Cresci com os maiores clássicos da Big N como Zelda, Mario e Pokémon. Hoje aproveito os pequenos momentos de descanso da vida corrida para me perder em Hyrule, em uma Tóquio pós-apocalíptica ou em um mundo de encanadores e cogumelos.
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