Análise: Warriors: Abyss mistura musou com roguelite de maneira divertida, mas podia ter sido mais

Divertido e visceral, o experimento da Koei Tecmo deixou um gostinho de quero mais pelo seu potencial.

em 25/02/2025
Parece que 2025 é o ano da Koei Tecmo. Além de trazer Ninja Gaiden de volta nas vertentes 2D e 3D e lançar um dos melhores musou dos últimos anos com Dynasty Warriors: Origins, a empresa ainda surpreendeu ao revelar Warrior: Abyss no State of Play de fevereiro.

Misturando Dynasty Warriors e Samurai Warriors em um roguelite com uma pitada de Vampire Survivors, o jogo reutiliza elementos de títulos anteriores para criar uma nova experiência. Mas será que essa fusão funcionou?

Adentrando o submundo

Warriors: Abyss não apresenta um grande foco na história. Convocados pelo Rei Enma, devemos adentrar o inferno para enfrentar o demônio Gouma, que tomou o controle do submundo e espalha o caos.

Para isso, reencarnamos como um dos 100 heróis lendários das franquias Dynasty Warriors e Samurai Warriors, enfrentando quatro fases divididas em oito segmentos. Em cada área, devemos derrotar hordas de inimigos para avançar. Se falharmos, retornamos ao início, reforçando a estrutura roguelite da experiência.

O grande destaque do jogo está justamente nesses 100 personagens jogáveis. Cada um tem seu próprio estilo de combate, e veteranos das franquias perceberão que muitas animações e movimentos foram mantidos.

Os guerreiros começam bloqueados, com apenas alguns disponíveis no início, e os demais podem ser desbloqueados (além de outros recursos auxiliares) através de uma espécie de árvore de habilidades. Cada novo herói adquirido concede melhorias universais, como aumento de ataque e defesa, incentivando a progressão mesmo que o personagem em si não seja do seu interesse. 

Controlamos apenas um guerreiro por vez, mas, ao final de cada segmento, podemos escolher um personagem de suporte entre três opções aleatórias. O aliado selecionado concede bônus específicos com base em seus atributos, exigindo um certo planejamento para criar sinergias eficazes.

O sistema de atributos pode parecer complexo à primeira vista. Cada guerreiro tem um elemento atribuído, além de características como sua dinastia de origem, função (arqueiro, lanceiro, espadachim etc.) e tipo de habilidade, porém todos esses fatores influenciam a jogabilidade e o potencial de combinação entre os personagens.

Dá para perder um bom tempo explorando as possibilidades de build.

Durante o combate, podemos alocar até seis heróis em um "banco de reserva". Esses aliados são invocados automaticamente no final de certos combos, realizando ataques poderosos antes de entrarem em cooldown por alguns segundos. Esse sistema adiciona estratégia às batalhas, especialmente contra chefes, em que a gestão dos suportes pode ser decisiva.

Apesar dessa complexidade, o jogo oferece uma abordagem acessível para quem não deseja mergulhar nos detalhes. Existe um índice de força ao lado das opções, facilitando a escolha da mais vantajosa para o herói principal. Esse sistema simplifica as decisões sem comprometer a profundidade estratégica.

Além disso, há opções de recompensas no final de cada sessão, como aumento da vida máxima ou acesso a lojas. Ocasionalmente, também surgem missões que garantem prêmios extras, adicionando mais variedade ao progresso.

O calor da batalha

Dentro das arenas, Warriors: Abyss segue a fórmula clássica dos musou. O sistema de combate inclui ataques fracos e fortes que se combinam em diferentes combos, além da clássica barra Musou para golpes devastadores. Há também uma segunda barra, que demora mais para encher, mas libera uma habilidade extremamente poderosa envolvendo todos os guerreiros disponíveis.

O jogo não conta com um comando de defesa, mas permite esquivas com quadros de invencibilidade, possibilitando escapar de ataques telegrafados dos inimigos. O combate é extremamente satisfatório, com golpes bem-executados lançando dezenas – ou até centenas – de inimigos pelos ares.

No final de cada área, enfrentamos um chefe. Cada um tem padrões de ataque únicos e conta com uma barra de armadura que precisa ser drenada antes que ele comece a sofrer dano real. As batalhas são divertidas pela variedade de movimentos dos chefes, mas acabam funcionando como verdadeiras esponjas de dano.

Mesmo com um personagem forte, a armadura dos chefes se reduz lentamente. Quando finalmente a quebramos, o chefe fica vulnerável por alguns segundos antes de recuperar sua defesa, tornando esse momento crucial para definir a duração da luta. Não é raro passar mais de cinco minutos em um único confronto.

 Exemplo de uma situação em que fui obrigado a quebrar a defesa de um chefe que já estava praticamente sem vida — e ainda assim perdi.

Ao finalizar uma run, podemos retornar ao inferno e tentar novamente em uma dificuldade mais alta, com inimigos mais agressivos e novos desafios. O jogo incentiva a repetição com cada herói, já que eles ganham níveis cumulativos que não são perdidos mesmo após uma derrota.

A progressão é viciante, incentivando experimentação e aprimoramento contínuos. Testar novos personagens, explorar diferentes builds e descobrir sinergias entre guerreiros mantêm a jogabilidade fresca – e, mesmo quando falhamos, sempre há algum progresso sendo feito.

Por outro lado, Warriors: Abyss pode se tornar repetitivo, algo esperado tanto para um roguelite quanto para um musou. Com runs que duram, em média, uma hora, o jogo pode se tornar cansativo, em especial devido aos chefes excessivamente duradouros.

Uma missão de baixo orçamento

A escala reduzida de Warriors: Abyss fica evidente em sua parte técnica. Personagens, animações e artes foram reaproveitados de jogos anteriores, enquanto os inimigos são criaturas disformes e simples. Até a trilha sonora soa familiar para quem já explorou a franquia.

Os cenários são vazios e estranhamente longos, mas, no fim, o que importa mesmo são as arenas de combate. Missões de busca por alvos específicos são raras e, mesmo quando surgem, não justificam o tamanho exagerado das áreas.

A interface é um dos pontos mais fracos. Visualmente, lembra um menu de celular do final dos anos 2000, e sua funcionalidade exige tempo de adaptação para decifrar a bagunça de informações nos recrutamentos.


Além disso, o texto não está traduzido em português, assim como em Dynasty Warriors: Origins, o que poderia dar uma ajudinha na parte de IU. É triste que a Koei Tecmo continue não dando essa atenção para os brasileiros em seus musou.

Ainda assim, o caos da batalha atinge em cheio meus prazeres gamers — especialmente nos especiais de invocação, com tinta e fumaça explodindo para todos os lados. Mas, no meio dessa confusão, fica difícil enxergar os ataques inimigos, tornando o dano inesperado uma constante até que tudo vire memória muscular.

Simples, mas divertido

Warriors: Abyss é como um fast food saboroso — nada extraordinário, mas satisfatório para momentos rápidos. O visual é datado, a história não empolga e a produção claramente buscou o caminho mais econômico. Ainda assim, o jogo cativa pelo prazer de testar diferentes personagens e builds enquanto avançamos no submundo.

Definitivamente, há opções melhores (e mais baratas) tanto no gênero roguelite quanto nos musou, mas o experimento tem seu valor. No fim, a diversão está lá — desde que você saiba exatamente o que está procurando.

Prós:

  • A combinação de musou com roguelite casou de maneira bem natural;
  • Sistema de recrutamento complexo para quem busca builds perfeitas, mas resumida o suficiente para casuais;
  • 100 personagens diferentes para jogar, com cada um possuindo seu próprio estilo de luta;
  • Combate visceral e satisfatório de dominar.

Contra:

  • Visuais pouco inspirados, especialmente nos cenários vazios e na interface pouco intuitiva;
  • Chefes com muita armadura e vida acabam deixando as runs mais longas do que se espera num roguelite;
  • História praticamente ausente, com apenas dialogos simples com Rei Enma;
  • Ausência de legendas em português.
Warriors: Abyss — PC/PS4/PS5/XSX/Switch — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli

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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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