Análise: Tomb Raider IV-VI Remastered continua a preservação de um legado, sem muitas novidades

A segunda coletânea da série traz dois clássicos e a ovelha negra da família.

em 28/02/2025

Após a boa recepção de Tomb Raider I-III Remastered, lançado em 2024 para PC e consoles, a Aspyr Media traz este ano uma nova coletânea com mais três títulos protagonizados por uma das heroínas mais cultuadas dos games no final dos anos 1990 e início dos 2000: Lara Croft. Tomb Raider IV-VI Remastered dá continuidade à preservação da franquia com uma remasterização da segunda trilogia. Na análise a seguir, veremos se vale a pena embarcar novamente nessa viagem no tempo.

Mais Lara Croft

Tomb Raider IV-VI Remastered, assim como a coletânea anterior, traz três jogos da série totalmente remasterizados para PC e consoles atuais. Esses títulos, conhecidos como The Darkness Trilogy, estão interligados e apresentam um tom mais sombrio à franquia. São eles:

Tomb Raider: The Last Revelation

Lançado em 1999 para PlayStation, PC e Dreamcast, The Last Revelation foi desenvolvido pela Core Design e publicado pela Eidos Interactive. O quarto jogo da franquia adota um tom mais sombrio e narrativo em comparação aos anteriores.

A maior parte da trama se passa no Egito. A história começa com um flashback de 1984, quando a jovem Lara Croft participa de uma expedição com seu mentor, Werner Von Croy. Um acidente em uma tumba antiga gera um conflito entre os dois, abalando a relação.

Anos depois, já adulta, Lara retorna ao Egito e acidentalmente liberta o deus Seth, desencadeando uma maldição que ameaça o mundo. Agora, ela precisa encontrar uma forma de selá-lo novamente antes que seja tarde demais.

O jogo mantém a fórmula clássica da série, com exploração, quebra-cabeças e combates, mas introduz novidades, como a movimentação com cordas, permitindo balançar para alcançar plataformas e girar. Além disso, alguns enigmas exigem a combinação de itens e a narrativa ganhou um tom mais cinematográfico, com eventos acontecendo em tempo real.


Na época, The Last Revelation foi bem-recebido por público e crítica por sua ambientação e desafios inteligentes, mas foi criticado pela dificuldade elevada e pela falta de inovações gráficas, já que pouco evoluiu visualmente em relação aos títulos anteriores. O final deixa um gancho para a sequência, lançada no ano seguinte.

Tomb Raider: Chronicles

Lançado para PlayStation, PC e Dreamcast, Chronicles começa logo após os eventos do jogo anterior, com Lara dada como morta, soterrada em uma pirâmide no Egito. Seus amigos Winston, Jean-Yves e Charles Kane se reúnem para relembrar suas aventuras, narrando histórias inéditas que mostram diferentes momentos da vida da arqueóloga.

Esses relatos levam os jogadores a quatro localidades: Roma, Rússia, Irlanda e Nova York. Cada local apresenta uma história única, trazendo uma abordagem diferente da tradicional trama linear dos jogos anteriores.

A recepção de Chronicles foi mista. As novas mecânicas, como formas inéditas de movimentação e elementos de furtividade, foram elogiadas, mas o jogo foi criticado por reciclar muitos elementos dos títulos anteriores e por não apresentar uma trama completa. O desfecho de Chronicles sugere que Lara pode estar viva, preparando o terreno para o próximo jogo, que chegaria três anos depois.

Tomb Raider: The Angel of Darkness

Lançado em 2003 para PlayStation 2 e PC, Angel of Darkness também foi desenvolvido pela Core Design e publicado pela Eidos Interactive. O jogo marcou a primeira tentativa da franquia de se reinventar, adotando um tom mais sombrio e uma jogabilidade mais complexa para se adequar aos padrões da época.

Após os eventos de Chronicles, Lara ressurge, mas está sendo acusada do assassinato de seu antigo mentor, Werner Von Croy. Para provar sua inocência, ela investiga os Assassinos Lux Veritatis e os Obscura Paintings, artefatos ligados a uma sociedade secreta que pode estar relacionada ao crime.

Sendo o primeiro jogo da série para uma nova geração de consoles, Angel of Darkness trouxe diversas mudanças, como gráficos aprimorados em 3D, um modelo mais detalhado de Lara, um novo sistema de combate — incluindo socos, chutes e furtividade — e habilidades que evoluem ao longo da campanha. Além disso, introduziu um segundo personagem jogável, Kurtis Trent, um aliado na trama.


Apesar das inovações, o jogo foi amplamente criticado pelos controles problemáticos. O esquema clássico de movimentação estilo tanque foi removido, mas o level design manteve a estrutura dos títulos anteriores, o que resultou em uma jogabilidade inconsistente e desagradável.

Embora tenha um roteiro digno de uma grande aventura, Angel of Darkness se tornou a ovelha negra da franquia. Muitos fãs defendem sua narrativa, mas ele acaba sempre lembrado mais por suas falhas do que por suas qualidades, recebendo o título de pior da série. Após seis jogos, a Eidos perdeu os direitos da franquia para a Crystal Dynamics.

Mais do mesmo…

Assim como a coletânea anterior, Tomb Raider IV-VI Remastered traz as mesmas melhorias de qualidade de vida. Todos os três jogos foram remasterizados em escala 1:1, permitindo alternar entre os estilos gráficos com um simples toque de botão para desfrutar da versão original de cada um deles, caso o jogador prefira.


Na jogabilidade, The Last Revelation e Chronicles receberam suporte a controles modernos, possibilitando movimentar Lara com a alavanca analógica, como nos jogos atuais. No entanto, essa implementação, assim como na coletânea anterior, é uma verdadeira faca de dois gumes.

Embora esse recurso facilite a adaptação aos padrões atuais, o level design foi pensado para a movimentação em tanque, o que torna certas situações, como saltos e combates contra inimigos e chefes, bastante diferentes. Enquanto nos confrontos isso pode deixar o jogo mais acessível, nas seções de plataforma a jogabilidade se torna menos precisa. De qualquer forma, o esquema de controles pode ser alterado a qualquer momento.

A câmera continua sendo um problema, com os mesmos inconvenientes da primeira coletânea. Trocas de ângulos repentinas confundem o senso de direção, especialmente com o controle moderno, e a câmera ainda "bate" nos cantos do cenário, dificultando a navegação em espaços fechados. Para um jogo remasterizado em escala 1:1, esse aspecto merecia um retrabalho mais cuidadoso.

Ironicamente, ou não, a câmera recebeu um tratamento especial em outro aspecto: um modo que funciona não apenas como Modo Foto, mas que permite criar pequenas sequências cinematográficas para salvar e compartilhar. O modo é legal, principalmente para quem é criativo, mas não agrega nada à gameplay, tornando-se apenas uma feature específica para pessoas mais específicas ainda.

… mas com uma interessante surpresa!

Do nosso lado, a localização para o português é uma adição bem-vinda. Todos os três títulos de Tomb Raider IV-VI Remastered possuem menus e legendas traduzidos, assim como a coletânea anterior.

A surpresa veio de onde menos esperávamos: Angel of Darkness conta com localização completa em português, incluindo dublagem. Ao pesquisar os motivos para apenas o sexto jogo da série receber esse tratamento, descobri uma história curiosa.

A Greenleaf, uma empresa brasileira que atuava no início dos anos 2000 distribuindo jogos para PC, havia prometido lançar Angel of Darkness totalmente em português. No entanto, devido ao fracasso comercial do jogo, a empresa não conseguiu cumprir a promessa e encerrou suas atividades algum tempo depois.

Foi só em 2008, cinco anos após o lançamento original, que a CD Editora adquiriu os direitos de comercialização e restaurou a localização, lançando a versão brasileira de Angel of Darkness por meio da revista DVD Game. Para jogar com áudio em português, era necessário instalar um mod disponível no mesmo disco que vinha com a revista.

Mesmo sendo um caso isolado ocorrido no Brasil, é notável que essa dublagem tenha sido incorporada oficialmente à coletânea. O trabalho tem qualidade, especialmente considerando que, na época, localizações desse nível eram raras. Hoje, a dublagem em jogos é algo comum e chega a rivalizar com as produções para cinema e TV.

Dito isso, essa é uma das poucas razões para revisitar Angel of Darkness — supondo que, assim como eu, você tenha jogado na época e torcido o nariz para ele. Os controles continuam problemáticos, como mencionei anteriormente, e até a funcionalidade de alternância entre visual retrô e remasterizado tem pouco impacto aqui.

Em The Last Revelation e Chronicles, a troca de estilo gráfico revela mudanças significativas, com melhorias perceptíveis em texturas, modelos de personagens, terrenos e iluminação. Já em Angel of Darkness, em certo momento me peguei jogando com os gráficos antigos sem perceber, pois a diferença é sutil.
Esta é a versão remasterizada de Tomb Raider: The Angel of Darkness

E esta é a original
Algumas placas ficam mais legíveis e a roupa de Lara ganha texturas com melhor definição, além de outros pequenos detalhes, mas, em comparação com os outros dois jogos, essa função tem pouco destaque. No fim, Angel of Darkness continua, ainda que involuntariamente, o título menos agradável do pacote.

Menos notável, mas ainda bem-vindo

Tomb Raider IV-VI Remastered cumpre seu papel de preservar mais uma parte do legado de Lara Croft, trazendo três títulos marcantes da franquia com melhorias visuais e ajustes na jogabilidade. No entanto, assim como a coletânea anterior, as mudanças nem sempre funcionam como deveriam.

A possibilidade de alternar entre os gráficos originais e remasterizados é ótima, mas seu impacto varia entre os jogos, com Angel of Darkness sendo o menos beneficiado. O suporte a controles modernos facilita a adaptação, mas esbarra em um level design originalmente pensado para a movimentação em tanque, tornando algumas seções menos agradáveis de se jogar, principalmente em The Last Revelation e Chronicles, originalmente desenvolvidos para esse esquema de movimentação. 

A maior surpresa positiva é a inclusão da dublagem brasileira em Angel of Darkness, um detalhe histórico que demonstra o cuidado com a preservação. No entanto, a câmera problemática, as limitações técnicas e as dificuldades herdadas dos jogos originais impedem a coletânea de ser um remaster definitivo. Ainda assim, para os fãs da série e para quem deseja conhecer a fase mais sombria de Lara Croft, a coleção vale a pena.

Prós

  • Uma preservação fiel dos jogos originais, agora disponíveis em todas as plataformas atuais;
  • A alternância entre gráficos clássicos e remasterizados é ágil e valoriza o trabalho de remasterização;
  • O suporte a controles modernos dá uma qualidade de vida aos jogos;
  • Localização em português, com destaque para a versão brasileira de Angel of Darkness.

Contras

  • Os problemas com a câmera persistem, como na coletânea anterior;
  • A movimentação moderna não se encaixa bem no level design clássico, principalmente em The Last Revelation e Chronicles;
  • As melhorias gráficas são menos impactantes no terceiro jogo da coletânea;
  • Angel of Darkness continua sendo a ovelha negra da franquia.
Tomb Raider IV-VI Remastered — PC/PS5/PS4/XSX/XBO/Switch — Nota: 7.0
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Davi Sousa
Análise produzida com cópia digital cedida pela Aspyr Media
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Alexandre Galvão
Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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