Há quase dez anos, em abril de 2015, Crypt of the NecroDancer chegou com uma proposta inusitada, combinando dungeon crawler com jogabilidade rítmica. Na trama, Cadence adentra uma cripta em busca de seu pai desaparecido, mas, após uma queda fatal, é revivida pelo NecroDancer e forçada a dançar sem parar para quebrar a maldição que a trouxe de volta e desvendar o paradeiro do pai.
Anos depois, em 2019, a série retornou em uma versão exclusiva para Nintendo Switch, Cadence of Hyrule, onde Cadence surge no mundo de Hyrule para ajudar Link e Zelda na luta contra Ganon. O título mescla harmoniosamente os estilos das duas franquias, resultando em uma experiência memorável que vale a pena conferir.
Agora, em 2025, Cadence e seus amigos retornam em uma nova aventura rítmica e desafiadora em Rift of the NecroDancer. Desta vez, em vez de explorar calabouços infestados de monstros dançarinos e minerar diamantes, a protagonista deve enfrentar criaturas rítmicas em nosso mundo, combatendo ameaças que emergem de misteriosas fendas dimensionais.
Cadence in the City
Após derrotar o NecroDancer e recuperar seu coração, Cadence é sugada por uma misteriosa fenda dimensional e transportada para um mundo igual ao nosso. Lá, ela se vê em um ambiente desconhecido, diferente e aparentemente pacífico.
Com o passar dos dias, Cadence percebe que não foi a única a atravessar a fenda. Dove tornou-se instrutora de ioga, Heff é um artista em ascensão e até o próprio NecroDancer agora trabalha como chapeiro de hambúrgueres em uma lanchonete.
No entanto, a tranquilidade desse novo mundo começa a ruir quando fendas dimensionais surgem sem explicação, trazendo as temidas criaturas rítmicas que Cadence já enfrentou antes. Determinada a resolver o mistério das Ritmofendas, ela se une aos amigos para impedir essa ameaça.
A jornada não será fácil, mas com ritmo e determinação, Cadence e sua turma enfrentam esse novo desafio — e talvez até descubram um caminho de volta para casa.
No ritmo da aventura
Rift of the NecroDancer, assim como os títulos anteriores da série, é um jogo rítmico que expande a mitologia da franquia. Diferente de seus predecessores — com Crypt of the NecroDancer adotando o estilo roguelike e Cadence of Hyrule explorando o universo da Nintendo —, Rift of the NecroDancer busca inspiração na clássica série Guitar Hero, um fenômeno da segunda metade dos anos 2000.
A ação acontece nas Ritmofendas, aberturas dimensionais que trazem criaturas ameaçadoras ao mundo que Cadence tenta proteger. O objetivo do jogador é pressionar os botões no momento exato, seguindo o ritmo da música, para derrotar os inimigos na trilha da fenda, acumulando pontos e desvendando o mistério por trás dessas anomalias.
Cada inimigo possui padrões de comportamento distintos, seja na movimentação pela trilha ou na resistência aos golpes. Aprender suas características é essencial para superar os desafios. Assim como em Guitar Hero, Cadence pode acumular energia para aumentar o multiplicador de pontos, mas sofrer muitos ataques (quando inimigos não são derrotados a tempo) pode levar à perda de pontos de vida e resultar na derrota.
Na versão para PC utilizada nesta análise — já supondo que futuramente ele também chegará para consoles — o próprio jogo recomenda o uso do teclado, mas a experiência com controle também é funcional, contando com muitas opções de customização. O modo história apresenta uma narrativa envolvente, acompanhando Cadence em sua jornada para reencontrar aliados e adversários ao longo do caminho.
Além das Ritmofendas, o jogo inclui batalhas contra chefes e minijogos com mecânicas variadas. Nos combates, é necessário seguir as setas na tela para esquivar de ataques e contra-atacar, enquanto nos minijogos, ações devem ser executadas no tempo certo para acumular pontos e avançar. Esses desafios são claramente inspirados em Rhythm Heaven, um popular jogo de ritmo dos consoles da Nintendo.
A alternância entre essas atividades impede que o jogo se torne repetitivo, adicionando novas camadas de interação e mantendo o interesse do jogador. Soma-se a isso uma trilha sonora robusta, com mais de 40 faixas de diversos estilos musicais, compostas por nomes como Danny Baranowsky, Sam Webster, Alex Moukala, entre outros.
Algumas músicas são releituras de temas da franquia, enquanto outras são totalmente inéditas, tornando a experiência ainda mais empolgante. No momento da publicação desta análise, uma atualização recente adicionou três novas faixas em colaboração com Super Meat Boy, outro título em que Baranowsky compôs a trilha, indicando que mais conteúdos podem chegar futuramente, seja por meio de novas atualizações ou de um possível DLC.
Até lá, a ferramenta de criação e compartilhamento de faixas permite que a comunidade crie suas próprias Ritmofendas e as compartilhe com outros jogadores. Na versão para PC, o suporte ao Steam Workshop torna essa busca e compartilhamento extremamente simples.
Acerte o passo ou caia no descompasso
Por se tratar de um jogo de ritmo, Rift of the NecroDancer pode não ser a melhor escolha para quem não tem um mínimo de coordenação — nem que seja nos dedos. Mesmo na dificuldade média, padrão para concluir o modo história, algumas faixas apresentam picos consideráveis de desafio, o que pode frustrar jogadores menos acostumados com o gênero.
Ainda assim, o jogo é acessível ao permitir que algumas fases sejam puladas e concluídas posteriormente, garantindo que a progressão da história não seja interrompida. Para quem busca uma experiência mais casual, basta reduzir a dificuldade. Já os que preferem um desafio maior podem recorrer ao modo ensaio, que permite selecionar trechos específicos das músicas para treinar e melhorar a pontuação nos rankings online.
O verdadeiro desafio está em conquistar as melhores pontuações para obter diamantes, que desbloqueiam novos conteúdos, como músicas para jogar fora do modo história e desafios especiais. Entre eles, há modos que permitem apenas um erro, inimigos ocultos e os remixes, que geram criaturas aleatoriamente dentro das Ritmofendas. Há muito o que explorar além da divertida jornada de Cadence pela cidade.
Merece mais que um bis
Rift of the NecroDancer expande a franquia com uma abordagem divertida, trazendo um sistema de jogo inspirado em expoentes do gênero como Guitar Hero e Rhythm Heaven. A jogabilidade é envolvente e desafiadora, oferecendo uma boa variedade de modos e uma trilha sonora de alta qualidade que mantém o ritmo da aventura sempre empolgante. A mistura de mecânicas clássicas com novidades mantém o jogo dinâmico e evita a repetição excessiva.
No entanto, a curva de dificuldade pode ser um obstáculo para jogadores menos experientes, especialmente em algumas músicas que exigem alta precisão. Apesar de oferecer opções para ajustar a dificuldade, a progressão pode ser frustrante para quem não está familiarizado com jogos de ritmo. Além disso, mesmo com muitas opções de customização disponíveis para o controle, a jogabilidade com o teclado ainda é a maneira mais confortável para jogar, neste caso.
Ainda assim, Rift of the NecroDancer se destaca como uma excelente adição à série, trazendo um gameplay viciante e uma trilha sonora memorável. Com suporte a criação de faixas pela comunidade, há um grande potencial para longevidade e novas experiências no futuro.
Prós
- Jogabilidade criativa e envolvente;
- Trilha sonora variada e de alta qualidade;
- Boa alternância entre modos para evitar repetitividade;
- A ferramenta de criação e compartilhamento de faixas amplia a longevidade;
- Grande quantidade de modos de jogo e conteúdo.
Contras
- Picos de dificuldade em algumas faixas, mesmo no nível normal, assustam;
- Mesmo podendo ser jogado com um controle, a jogabilidade no teclado é mais natural e precisa.
Rift of the NecroDancer — PC — Nota: 8.5
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Brace Yourself Games