Oficialmente revelado em dezembro de 2023, Monster Hunter Wilds foi anunciado como sendo a maior experiência da franquia. Após um ano das celebrações do vigésimo aniversário da série em 2024, com diversas novidades e atualizações sobre o seu desenvolvimento, além de duas fases de teste beta abertos ao público, finalmente pudemos conferir o que essa longeva e inovadora saga tem a oferecer em seu mais novo e importante lançamento.
Proibido, inóspito e fascinante
Monster Hunter Wilds é o primeiro título principal da franquia a apresentar uma narrativa desenvolvida para levar o jogador a explorar o mundo criado pela Capcom. Outros jogos, como Monster Hunter Generations e Monster Hunter Rise — este último lançado entre 2019 e 2023 para Switch, PC e demais consoles —, também possuíam esse elemento, mas de forma mais superficial, funcionando apenas como um guia para introduzir os aspectos de gameplay e conectar o jogador às regiões de seus respectivos mundos.
Em Wilds, assumimos o papel de um caçador (ou caçadora) criado pelo jogador. Nosso personagem é recrutado por Fabius, um experiente caçador que já não atua mais no campo devido à idade e que atualmente lidera a Guilda dos Caçadores. Sua missão é integrar uma expedição que será direcionada a uma região até então considerada inóspita, desabitada e de pouca relevância: as Terras Proibidas.
O objetivo principal da expedição é encontrar uma tribo misteriosa conhecida como Os Protetores. A jornada tem início após o resgate de um garoto chamado Nata, membro da tribo, encontrado sozinho e ferido após uma fuga desesperada. Ele busca ajuda para sua família e amigos, que foram atacados por uma criatura enigmática conhecida pelo seu povo como Espectro Branco.
Ao adentrar as Terras Proibidas, a expedição se depara com eventos que desafiam tudo o que se sabia sobre a região. Povos com culturas distintas, biomas afetados por fenômenos naturais imprevisíveis e criaturas antes conhecidas apenas por meio de registros da Academia e das lendas de outros caçadores tornam a jornada ainda mais desafiadora.
Durante essa missão, contamos com o apoio de aliados notáveis: a capitã Olivia, uma caçadora experiente movida por uma incansável sede de justiça; Alma, uma pesquisadora gentil e auxiliar de campo; Erik, um jovem biólogo cuja idade contrasta com seu vasto conhecimento sobre a vida selvagem; Gemma, uma ferreira determinada, cuja vontade de ajudar arde tão intensamente quanto o fogo de sua forja; e seu fiel companheiro Felyno, sempre leal e corajoso nos momentos mais críticos de confrontos contra as colossais criaturas.
Além desses, muitos dos personagens que encontramos ao longo da jornada apresentam carisma e charme que são únicos durante nossa estadia nas Terras, como os hospitaleiros cidadãos de Kunafa e os hilários Wudwuds. É difícil apontar alguém que não tenha sido marcante de alguma forma durante minhas andanças.
Para tornar a experiência ainda mais imersiva e acessível, Wilds é o primeiro jogo da franquia a contar com localização completa para o nosso idioma. A dublagem mantém o alto nível de qualidade já visto em outros títulos da Capcom, como Resident Evil Village, Resident Evil 4 e Dead Rising Deluxe Remaster, lançado no ano passado.
O elenco brasileiro inclui nomes de peso, como Sylvia Salustti, Mauro Ramos, Nizo Neto, Carlos Campanile e até mesmo Ricardo Juarez, nosso “Kratos brasileiro”, além de várias outras vozes que prefiro deixar como surpresa, principalmente para quem não jogou durante os testes beta dos últimos meses.
Destaco, em especial, a atuação de Vii Zedek como uma das vozes do nosso Amigato, dando ao personagem uma personalidade incrível. Não sei como nunca pensei em ter meu parceiro de bigodes falando desse jeito antes, mas agora não aceito nada menos que o “sotaque brasileiro” para os Felynos.
Admirável mundo aberto
Em Monster Hunter Wilds, somos guiados por uma cativante narrativa através das diversas regiões das Terras Proibidas, desde o árido deserto das Planícies Zéfiras, passando pelas densas áreas alagadas da Floresta Escarlate, os escaldantes túneis da Bacia Olídea e os congelantes corredores das Escarpas Frígidas. Cada local se interliga com outro, criando um vasto mundo criado pela Capcom para ser explorado livremente. Ainda assim, recomendo acompanhar a história, pois ela introduz naturalmente cada região no momento certo, enriquecendo a experiência.
Pela primeira vez na série, Wilds apresenta um grandioso mundo aberto para exploração. Graças ao Seikret, uma majestosa ave usada como montaria pelo povo de Kunafa — uma das várias sociedades que conhecemos no jogo —, podemos nos locomover de forma ágil e dinâmica. Além da velocidade e versatilidade, a ave permite acessar áreas únicas do mapa, seja para encurtar caminhos ou ganhar vantagem durante os combates contra os monstros.
O mapa de Wilds é imenso, e muitos eventos da região podem ser observados diretamente por ele. Ícones de destaque, especialmente os de monstros e recursos, facilitam a escolha de destinos para buscar materiais e produzir novos equipamentos, além de possibilitar a descoberta de novas áreas.
As diferentes estações também influenciam nossa interação com o mundo. Enquanto no Pousio, estação onde o alimento é mais escasso, podemos encontrar monstros com um comportamento mais hostil, durante a Fartura já temos uma paisagem com clima mais ameno e amigável, com uma maior presença de bandos de monstros e recursos para coletar.
Quando não estiver em uma missão principal ou atividade da Guilda, explorar um local aleatório pode ser recompensador. Você pode descobrir um novo caminho, instalar um assentamento para viagem rápida, facilitar futuras expedições ou até mesmo encontrar um monstro inesperado — seja para um embate épico ou uma fuga desesperada caso ainda não esteja preparado para enfrentá-lo.
A arte da caçada, refinada
Grande parte da experiência de Monster Hunter Wilds se dá pela forma como somos inseridos e imersos em seu mundo. No entanto, outro pilar fundamental da franquia é sua jogabilidade única, com destaque para os combates contra os monstros. Em Wilds, a Capcom mantém sua tradicional dinâmica, na qual devemos estar sempre preparados para rastrear e enfrentar criaturas colossais, mas melhorias são adicionadas tanto no combate quanto na exploração.
Cada novo título da franquia costuma introduzir uma ferramenta que redefine a interação do jogador com o ambiente e os monstros. Se em Rise tivemos a introdução dos cabinsetos (wirebugs), em Wilds somos apresentados à atiradeira, um item versátil que facilita a interação com o cenário e se mostra extremamente útil nos combates.
No mapa, em vez de precisarmos ir até determinado local para coletar um item, agora podemos disparar a atiradeira e pegá-lo à distância, agilizando a obtenção de recursos para criar poções, remédios e armadilhas. Já em combate, a atiradeira pode ser equipada com diferentes tipos de munições, permitindo distrair inimigos, causar dano físico ou elemental e até dispersar grupos de monstros para fins estratégicos.
Dependendo do terreno, a atiradeira também proporciona vantagens táticas. Ela pode ser usada para executar ataques aéreos ou explorar o próprio ambiente como armadilha. Nas Planícies Zéfiras, por exemplo, algumas árvores possuem plantas que funcionam como redes de captura. Já em cavernas e passagens estreitas, é possível puxar áreas frágeis da estrutura para provocar desabamentos e causar dano massivo nos monstros. Essas possibilidades exigem atenção e criatividade por parte do caçador.
Além disso, o Seikret desempenha um papel fundamental além da locomoção. Graças a uma melhoria que adiciona um coldre extra, agora podemos carregar duas armas ao mesmo tempo, o que nos permite mudar a estratégia de combate no meio de uma luta. A ave também serve como suporte, carregando um suprimento extra de itens para reposição, reduzindo a necessidade de voltar aos acampamentos para reabastecer.
Para os veteranos, a ampla seleção de 14 tipos de armas continua presente, agora com novos movimentos para várias delas. Até os caçadores mais experientes vão querer passar um tempo nas áreas de treinamento para dominar suas favoritas e evitar surpresas nas caçadas. Para os novatos, a própria narrativa do jogo apresenta o arsenal de forma acessível, permitindo que cada um encontre seu estilo sem pressa.
Entre as novas mecânicas, Wilds introduz os Duelos de Poder e os Ataques Inibidores.
- Duelos de Poder: ocorrem quando o caçador bloqueia um ataque no momento exato, resultando em um confronto direto com o monstro. Se o caçador vencer, a criatura fica desequilibrada, o que dá oportunidade para um contra-ataque.
- Ataques Inibidores: são técnicas mais avançadas que exigem precisão. Ao acertar um golpe no instante exato em que o monstro ataca, há um choque entre a arma do jogador e o ataque inimigo. Isso atordoa o monstro e cria uma abertura para uma investida poderosa. Na minha opinião, dominar essas técnicas é um dos desafios mais gratificantes do jogo.
Outra dinâmica nova de combate está na exploração das fraquezas dos monstros. Ao atacar constantemente em um ponto fraco da criatura, um ferimento se abre. Ao ativar o Modo Foco, outra novidade na jogabilidade, uma mira permite que você concentre seus ataques onde precisa para maximizar o dano. Ao executar um ataque especial nas feridas, um dano considerável é causado no monstro, e isso rende recursos adicionais e ainda acelera o processo de abate.
As atividades clássicas da série continuam presentes: cozinhar refeições para aumentar os pontos de vida e vigor, coletar recursos para forjar armas e armaduras, realizar missões secundárias e cumprir tarefas da Guilda e, claro, se juntar com outros caçadores para realizar essas atividades, agora com a influência das estações. Com a adição da funcionalidade de crossplay, algo muito pedido pela comunidade e que finalmente chegou até a série, se você é novato ou alguém que está considerando se juntar à Guilda agora, você será muito bem-vindo!
O preço da inovação
Com tantas melhorias e novidades trazendo uma experiência nova e estimulante para a franquia, alguns custos precisaram ser pagos pela Capcom para que Wilds se tornasse realidade. Um dos principais desafios está na estrutura de mundo aberto ambiciosa proposta pelo estúdio, que revela certas limitações da RE Engine, o motor gráfico utilizado em praticamente todos os jogos recentes da empresa.
Embora a RE Engine tenha apresentado resultados impressionantes em títulos como Resident Evil Village, Street Fighter 6 e Devil May Cry 5, a otimização para um mundo de escala tão grande parece ser seu ponto fraco. Jogos mais lineares rodam sem grandes problemas, mas Monster Hunter Wilds sofre com questões de performance neste lançamento, tornando esse um dos tópicos mais discutidos pela comunidade.
Os testes beta abertos já haviam apontado essa limitação, e agora, com o lançamento, a questão se confirma. A RE Engine ainda entrega um visual impressionante, mas demonstra dificuldades quando precisa gerenciar vastos cenários repletos de elementos dinâmicos.
Essa situação não é inédita. No ano passado, Dragon’s Dogma 2 enfrentou críticas semelhantes, especialmente no PC, onde o desempenho instável gerou diversas reclamações. Felizmente, o jogo recebeu atualizações para otimizar sua performance, e acredito que o mesmo ocorrerá com Monster Hunter Wilds ao longo do primeiro ano.
Para esta análise, utilizei a versão de PlayStation 5 e testei o jogo em duas configurações:
- TV 4K convencional em modo desempenho
- Monitor FHD (144 Hz) em modo equilibrado
Wilds oferece os já conhecidos modos de desempenho e fidelidade, além de um modo equilibrado, que busca um meio-termo entre os dois. Esse último também permite destravar a taxa de quadros ao usar uma tela compatível. No monitor, jogando no modo equilibrado com taxa de quadros liberada, o desempenho variou entre 30 e 60 FPS na maior parte do tempo, sem comprometer drasticamente a qualidade gráfica. Já na TV 4K, optei pelo modo desempenho, que reduz a resolução nativa e os detalhes visuais para manter a fluidez do jogo.
Se você é um dos que possui um PS5 Pro, é capaz que não tenha esses problemas, mas só quem tem um vai saber dizer. É um desempenho questionável para a chamada “nova geração” que começou no fim de 2020. Os consoles ainda não dão conta do recado?
Se você pretende jogar no PC, minha recomendação é explorar as configurações gráficas para encontrar o equilíbrio ideal entre qualidade e performance, já que essa plataforma pode ser a mais afetada pelos problemas de desempenho, principalmente durante este período pós-lançamento.
Acessível e para todos
Wilds apresenta uma gama generosa de opções de acessibilidade para atender diferentes perfis de jogadores. Além de ajustes visuais e auditivos, o jogo aproveita os recursos táteis do DualSense, proporcionando uma experiência mais imersiva.
Uma funcionalidade interessante é a compatibilidade com teclado e mouse no console, algo raro não só nos jogos da Capcom — não lembro se MH Rise também já tinha essa funcionalidade — mas de um modo geral. Essa alternativa pode ser um grande diferencial, especialmente no gerenciamento de equipamentos e itens. Se estiver jogando no PS5, recomendo conectar um teclado para acessar atalhos rapidamente — isso agrega muito à jogabilidade.
Apesar de algumas limitações técnicas, a experiência de explorar as Terras Proibidas permaneceu imersiva e satisfatória. Desde que Monster Hunter Rise me trouxe de volta para a franquia, esta foi, sem dúvida, uma das aventuras mais fascinantes que já vivenciei na série.
Bem-vindos, Caçadores!
Monster Hunter Wilds representa um salto ambicioso para a franquia, expandindo seu universo com um mundo aberto dinâmico, mecânicas inovadoras e um nível de imersão jamais visto na série. A introdução do Seikret como montaria, o novo sistema de atiradeira e as mecânicas de Duelos de Poder e Ataques Inibidores trazem profundidade estratégica ao combate, tornando cada caçada ainda mais envolvente.
A dublagem brasileira, de altíssima qualidade, adiciona um charme especial ao jogo, tornando a experiência mais acessível e imersiva para o público nacional. Além disso, as diversas opções de acessibilidade e suporte para teclado e mouse no console mostram o esforço da Capcom em tornar Wilds um jogo para todos.
No entanto, a transição para um mundo aberto revelou as limitações da RE Engine, impactando o desempenho. Apesar de um trabalho técnico competente nos consoles, quedas de taxa de quadros podem ocorrer em momentos de maior carga gráfica. Esse fator pode ser um incômodo para alguns jogadores, especialmente os mais exigentes com fluidez de jogo e desempenho geral.
Ainda assim, Monster Hunter Wilds entrega uma experiência riquíssima, com combates épicos, exploração cativante e uma ambientação de tirar o fôlego. Mesmo com os desafios técnicos, este é, sem dúvida, um dos títulos mais marcantes da franquia, sendo tanto um excelente ponto de entrada para novatos quanto uma experiência digna para jogadores veteranos. Que os ventos te guiem, caçador!
Prós
- Mundo aberto vasto e interconectado, expandindo a dinâmica de exploração da série;
- Jogabilidade refinada com novas mecânicas estratégicas;
- Combate intenso e desafiador, mantendo a essência da franquia;
- Dublagem brasileira de alto nível, tornando a experiência mais acessível;
- Ótima variedade de armas e personalização para diferentes estilos de jogo;
- Muitas opções de acessibilidade e suporte para teclado e mouse no console;
- Suporte ao crossplay, finalmente!
Contras
- Performance abaixo do ideal, com taxa de quadros inconstante no PS5, em todos os modos de exibição;
- Tempo de aprendizado para dominar o jogo pode ser intimidador para novatos.
Monster Hunter Wilds — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia cedida pela Capcom