Análise: Citizen Sleeper 2: Starward Vector é uma experiência imersiva para entusiastas do gênero RPG

Aprimorando a experiência de seu antecessor e mantendo a qualidade, este ainda é um título para um nicho específico de jogadores.

em 11/02/2025
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Lançado em janeiro de 2025, Citizen Sleeper 2: Starward Vector é a aguardada sequência de Citizen Sleeper, de 2022. A trama se desenrola no mesmo universo, mas dessa vez em uma nova região do cosmos, e apresenta uma narrativa independente que dispensa o conhecimento do jogo anterior.

Em fuga pelo Starward Belt

Starward Vector acompanha a história de um novo Sleeper, um humanóide com consciência humana emulada, criado para servir seus donos em tarefas de alto risco ou esforço físico intenso. A inspiração nos replicantes de Blade Runner é evidente na concepção desse personagem.

A trama começa quando o Sleeper e seu companheiro, Serafin, escapam de uma situação de escravidão imposta por Laine, líder do grupo Darkside. Durante a fuga desesperada, o Sleeper tem suas memórias resetadas, e a história se desenrola em meio à tentativa constante da dupla de evitar a recaptura por seu algoz.

Na luta para se manter longe de Laine, o Sleeper e Serafin cruzam diversos territórios dentro da região conhecida como Starward Belt, um local desolado da galáxia no qual muitos sobrevivem com recursos escassos, mas ainda lutam por dignidade.


Ao longo da jornada, a dupla precisará recrutar novos membros para sua tripulação e realizar diversas atividades para garantir sua subsistência, enquanto resiste à implacável perseguição de Laine ao redor da galáxia.

Manipulando e contando com a sorte

Citizen Sleeper 2: Starward Vector é uma aventura narrativa com elementos clássicos de RPG de mesa, na qual assumimos o papel da dupla Sleeper e Serafin enquanto fogem pelo Starward Belt. Conforme a narrativa se desenvolve, somos apresentados a novos locais e personagens em uma história envolvente e bem elaborada, um deleite para os amantes do gênero.

Durante a campanha, o jogador explora localidades representadas como hubs, nos quais deve realizar diversas atividades para avançar na história e garantir sua subsistência. Entre essas atividades, estão a execução de contratos para obter créditos, a compra de mantimentos e combustível para a nave, a aquisição de peças para consertar os dados de jogo (detalhes à frente) e a obtenção de itens de missão, entre outras.


No início do jogo, podemos escolher entre três classes de Sleepers, cada uma com maior proficiência em um atributo específico, o que impacta diretamente as checagens de ação realizadas ao longo da fuga.

Excetuando-se as ações de compra ou troca de itens, todas as demais são resolvidas por meio da rolagem de dados. A proficiência em determinado atributo pode conceder vantagens ou desvantagens, influenciando na sorte para a obtenção de resultados favoráveis.

Por exemplo, se uma ação tem um bônus em INTUITO, ao lançar um dado nessa tarefa podemos receber um acréscimo de um ou dois pontos, o que aumenta as chances de sucesso. Por outro lado, se a ação exigir um alto nível de ENGENHARIA e nosso personagem tiver desvantagem nesse atributo, a rolagem sofrerá uma penalidade, tornando o fracasso mais provável.

Ter os dados certos nos momentos decisivos é essencial para o sucesso na maior parte do tempo. O ajuste de dificuldade afeta diretamente as penalidades impostas ao jogador, variando de um desafio mais brando até punições severas e permanentes, como um GAME OVER precoce.

Os dados podem ser inutilizados caso o nível de estresse do Sleeper se acumule, tornando o jogo mais desafiador. Jogar na dificuldade mais baixa ameniza esse efeito e reduz apenas a eficiência do dado. Para restaurá-lo, é necessário utilizar componentes específicos para consertar o espaço onde ele fica alocado, algo que só pode ser feito nas áreas de hub. O jogo exige um equilíbrio entre sorte e estratégia, pois decisões erradas podem tornar a jornada ainda mais complicada.

Um jogo de nicho com bastante finesse

Não tive muito contato com o primeiro Citizen Sleeper. Joguei um pouco quando ele foi disponibilizado no catálogo do PlayStation Plus no mês passado, motivado pelo lançamento da sequência. Já havia assistido a vídeos e acompanhado as coberturas feitas por nossos colegas de redação aqui no GameBlast e também no nosso “irmão mais velho”, o Nintendo Blast, o que despertou minha curiosidade.

Citizen Sleeper 2: Starward Vector segue a máxima de que “em time que está ganhando não se mexe”, mantendo o mesmo estilo visual e a interface do antecessor para oferecer uma experiência familiar, especialmente para os veteranos da série. Para os novatos, a interface pode parecer minimalista ou sem muita personalidade, mas ainda se mostra mais funcional na versão para PC. Nos consoles, a navegação é prejudicada pelo excesso de comandos para “andar” pelo cenário, sendo comparável ao uso de um mouse.

Em termos de jogabilidade, Starward Vector aprimora os elementos do primeiro jogo ao introduzir mecânicas de grupo. Agora, os membros da tripulação podem ser selecionados para executar contratos de trabalho, fornecendo dados adicionais para as ações. Suas respectivas proficiências também influenciam as rolagens, aumentando as chances de sucesso.

Na dificuldade normal (Risky), podem surgir dados defeituosos (Glitched Dice), que apresentam uma probabilidade fixa de 20% de sucesso e 80% de fracasso. Em certas situações, seu uso pode ser vantajoso, mas, no geral, torna o jogo mais desafiador. Esses dados aparecem quando o Sleeper “morre”. Já na dificuldade mais alta (Dangerous), a punição é mais severa: GAME OVER.

Essas novidades adicionam uma camada extra de estratégia, tornando a experiência ainda mais envolvente, especialmente para os jogadores mais puristas de RPG. Agora, o sucesso não depende apenas da sorte, mas também do planejamento. Muitas vezes, ter o dado certo no momento ideal e a combinação com um teste favorável pode ser decisivo.

Embora existam atividades seguras, sem risco de perdas para o jogador, a maioria das tarefas são classificadas como Risky (arriscado) ou Danger (perigoso). A principal diferença entre elas é que, no primeiro caso, um resultado negativo pode trazer prejuízos extras, enquanto o segundo nível apresenta riscos ainda maiores, podendo causar danos mesmo em situações de “resultado neutro”, nas quais o ganho é baixo, mas o prejuízo é praticamente nulo.

Em geral, as atividades Danger oferecem recompensas mais atrativas, permitindo, por exemplo, atingir um objetivo de forma mais rápida. No entanto, apesar dessa abordagem ser interessante do ponto de vista do game design, falta clareza na apresentação dessas consequências antes da execução, o que pode impactar negativamente a tomada de decisão do jogador até entender o funcionamento desta mecânica por conta própria.

A experiência, por fim, é complementada por uma trilha sonora contemplativa e contemporânea, que reforça a imersão e nos transporta para o universo de Starward Vector de forma convincente. Recomendo jogar com um bom fone de ouvido para aproveitar a trilha ao máximo.


No entanto, esse é um título de recomendação específica, voltado para quem aprecia ficção científica e tem domínio, pelo menos básico, do inglês. A falta de suporte para português pode ser um impeditivo, especialmente porque a narrativa é densa e fortemente baseada em textos. A leitura é essencial para compreender a trama e aproveitar o que o jogo tem de melhor: sua história.

Um universo em expansão, como o nosso

Citizen Sleeper 2: Starward Vector aprimora e expande os conceitos do primeiro jogo, entregando uma experiência ainda mais envolvente para os fãs de narrativas interativas e RPGs de mesa. Com mecânicas estratégicas bem integradas à jogabilidade, um universo rico em detalhes e uma trilha sonora imersiva, o jogo se destaca como uma sequência que respeita sua base, ao mesmo tempo em que adiciona novos elementos para aprofundar a experiência.

No entanto, a ausência de suporte para o português pode afastar parte do público, e a interface de usuário tem seus erros e acertos. Ainda assim, para aqueles que buscam uma história envolvente e um sistema de jogo que recompensa planejamento e estratégia, Starward Vector está aí para atender essa demanda.

Prós

  • Narrativa envolvente e bem escrita, que mantém o alto nível do antecessor;
  • Mecânicas de RPG aprimoradas, com a adição de elementos estratégicos na composição da tripulação;
  • Trilha sonora imersiva, que complementa a atmosfera do jogo;
  • Escolhas significativas e impacto real nas decisões do jogador por meio das rolagens de dado;
  • Atividades de maior risco trazem recompensas melhores, incentivando diferentes abordagens.

Contras

  • Sem suporte para o português, o que cria uma barreira de linguagem para jogadores sem familiaridade com o inglês;
  • A interface nos consoles é menos intuitiva e prática de usar;
  • Falta de comunicação eficiente sobre os riscos das ações, afetando a tomada de decisões;
  • Dependência de leitura extensa pode afastar quem prefere um ritmo de jogo mais dinâmico.
Citizen Sleeper 2: Starward Vector — PC/PS5/PS4/XSX/Switch — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PlayStation 5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Fellow Traveller
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Alexandre Galvão
Fã de Castlevania, Tetris e jogos de tabuleiro. Entusiasta da era 16-bit e joga PlayStation 2 até hoje. Jogador casual de muitos e hardcore em poucos. Nas redes sociais é conhecido como @XelaoHerege
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