Análise: Ninja Gaiden 2 Black é um remake que vem lembrar por que hack and slashes são tão bons quanto soulslike

em 07/02/2025

Juntamente com o anúncio da chegada de Ninja Gaiden 4 até o final do ano, veio também o lançamento surpresa (e imediato) de Ninja Gaiden 2 ... (por Matheus Senna de Oliveira em 07/02/2025, via GameBlast)


Juntamente com o anúncio da chegada de Ninja Gaiden 4 até o final do ano, veio também o lançamento surpresa (e imediato) de Ninja Gaiden 2 Black. Ele traz a segunda aventura de Ryu Hayabusa com uma produção completamente moderna, mas sem abrir mão dos combates viciantes característicos do game. Vista sua roupa ninja e não esqueça a sua espada, pois esta análise radical vai começar!

Uma coisa é uma coisa

Antes de prosseguirmos à análise, quero deixar claro um ponto: ainda que anunciado como uma remasterização, é importante notar que temos aqui um remake. Ninja Gaiden 2 Black não recebeu meras melhorias pontuais na produção: ela foi refeita usando o motor gráfico Unreal Engine 5. Em outras palavras, ainda que mantendo o roteiro, a jogabilidade e a grande maioria dos demais conteúdos, o jogo foi criado do zero.
De maneira geral, a produção é muito bonita
Portanto, isso coloca o título na posição de um remake, e não um remaster (mais sobre isso nesta discussão). Dito isso, é preciso esclarecer outro ponto importante quanto à versão de Ninja Gaiden 2 que temos em mãos. Originalmente exclusiva do Xbox 360, ela chegou ao PlayStation 3 na forma de Ninja Gaiden Sigma 2. Embora essencialmente o mesmo jogo, diversas mudanças pontuais foram feitas.
A versão Sigma de Ninja Gaiden 2 tinha seus méritos...
Não foi a primeira vez que a produtora Koei Tecmo fez algo assim: o primeiro Ninja Gaiden, original e exclusivo do Xbox, recebeu duas versões posteriores, chamadas de Sigma e Black. Enquanto Sigma seguiu o mesmo padrão que comentei no parágrafo anterior — chegando com mudanças ao PlayStation 3 —, Black continuou exclusivo da Microsoft, construindo sobre as características originais.
... mas a nova versão é visualmente mais atraente
Sigma e Black trouxeram mudanças em relação ao original, sendo que o segundo em geral é considerado a versão superior. Logo, voltando para o presente, o anúncio do remaster... digo, remake, chamado Ninja Gaiden 2 Black levou os fãs a acreditar que a versão de Xbox 360 seria a base jogo (como no primeiro título da franquia). Na prática, temos um lançamento baseado principalmente na versão do PlayStation 3.

80/20

Após essa pequena confusão de títulos e subtítulos, o leitor talvez esteja se perguntando: “o que toda essa história tem de tão relevante? O que importa é o game ser bom ou não”. Embora eu concorde com essa última parte, creio que seja necessário explicar a situação, pois ao ser um remake, a fonte original pode ser determinante no resultado final.
Uma comparação direta deixa bem claras as diferenças
Este é o caso de Ninja Gaiden 2 Black: ao usar o subtítulo “Black”, poder-se-ia pensar que o relançamento seria baseado na versão original do segundo game, mas, na realidade, ele é, em essência, o retorno de Sigma 2. Pode parecer um ponto pouco importante, mas na prática ele muda significativamente várias porções do game. 

Alguns exemplos de mudanças em Sigma 2 para o original, sem entrar nos pormenores: chefes foram adicionados e excluídos; a quantidade de inimigos foi diminuída, com aumento da vida deles; sangue foi removido; um comando para apontar o caminho foi incluído; portas não precisam mais de chaves, sendo abertas automaticamente conforme necessário.
A técnica da Obliteração finaliza oponentes feridos de forma brutal
É difícil dizer uma proporção exata de quanto cada título contribuiu para Ninja Gaiden 2 Black; eu ficaria com algo como 80% Sigma 2 e 20% original. Com exceções como um leve aumento no número de inimigos e o retorno do sangue aos combates, temos aqui a versão de PlayStation refeita com gráficos mais atuais. Isso não é algo necessariamente negativo, mas certamente pode ser considerada uma oportunidade perdida.

Um clássico de qualidade

Falemos então do jogo em si: Ninja Gaiden 2 Black conta a história de Ryu Hayabusa, um poderoso ninja que precisa enfrentar o perigoso clã Black Spider. Esse grupo pretende roubar uma estátua, protegida pela família do herói, que protege o nosso mundo de uma invasão demoníaca. Viajando ao redor do planeta, temos que impedir o ataque dos vilões, que incluem guerreiros poderosos e monstros assustadores.
As lutas contra chefes estão entre os destaques do título
Além de sua Dragon Sword, Ryu pode obter outras armas ao longo da campanha, assim como ninjutsus (no melhor estilo Naruto) e técnicas de combate. Três personagens secundárias contam com capítulos exclusivos, expandindo a campanha. Além dela, o jogador tem as Tag Missions, que colocam dois heróis (jogador + NPC) para cumprir tarefas em busca da melhor pontuação.
Rachel, Ayane e Momiji são convidadas de honra no game
Como um dos melhores hack and slashes do mercado, temos aqui combates intensos e radicais, com inimigos ágeis e apelões. Portanto, é preciso saber atacar, defender e evitar golpes em meio a vários vilões ao mesmo tempo. O ninja do dragão conta com um leque de movimentos úteis, como o clássico Izuna Drop e as finalizações, que trazem animações incríveis.
Prepare-se para lutas incríveis e viscerais
Elas podem ser executadas em inimigos gravemente feridos, que caso não finalizados, ainda podem causar dano considerável. Ninja Gaiden 2 Black também conta com seções de plataforma no melhor estilo ninja (!), com direito a saltos mortais e corridas contra a parede. Derrotar inimigos e abrir baús pode render essências amarelas, usadas para melhorar equipamentos e comprar itens valiosos.
 
Em meio a tantos soulslike, é refrescante (como eu escrevi em Warhammer 40,000: Space Marine II) ver um hack and slash mais clássico, em que temos foco na velocidade e reflexos — sem a necessidade de cuidar do fôlego para cada ação. Reviver essa aventura emocionante com gráficos de mais qualidade foi uma grande e radical diversão, além de deixar água na boca para o já anunciado Ninja Gaiden 4.

Bom, mas poderia ser melhor

Falando nos visuais, Ninja Gaiden 2 Black é muito bonito: com modelos de personagens e cenários feitos do zero, temos um jogo bastante agradável; texturas e iluminação renovadas ajudam a dar vida à aventura originada em 2008. Faltou um pouco de cuidado em algumas cenas mais abertas, nas quais os cenários amplos não mantiveram o nível de qualidade, mas nada que comprometa a experiência.
Apesar de usar a Unreal Engine 5, algumas cenas ainda ficaram um pouco estranhas
O que pega realmente aqui é a falta de ousadia no remake. Ao refazer tudo do zero, seria possível agregar mais fases, chefes, modos de jogos, roupas, etc. — além de manter o que já existia. Na prática, temos um game que é menor que suas versões originais, que contaram com mais conteúdo. Mesmo que criar algo inédito fosse difícil (custava um comando para Ryu correr?), várias coisas já estavam lá, bastava adicioná-las ao novo jogo.
Temos algumas roupas disponíveis, mas nada demais
Inclusive, Ninja Gaiden 2 Black fica numa situação ainda mais chata quando lembramos de Ninja Gaiden: Master Collection. Lançado em 2021, ele reúne três títulos hack and slash de Ryu Hayabusa num pacote único, remasterizado e com praticamente todos os conteúdos disponíveis para cada um, tudo isso por um preço ligeiramente menor que o remake.
A coletânea de Ninja Gaiden ainda é a melhor da franquia no mercado
Ainda que uma remasterização, os visuais ainda são dignos de respeito, sobretudo durante os combates, que é quando mais importa. É uma pena, pois o remake tinha tudo para ser a versão definitiva da segunda aventura de Ryu Hayabusa. Escolhas como reduzir o número de roupas, eliminar os modos online e não adicionar novidades, infelizmente, não permitiram que isso se tornasse uma realidade.

Aperitivo para o prato principal

Apesar dos pesares, Ninja Gaiden 2 Black é um ótimo jogo de ação. Baseado em duas versões originais diferentes, o hack and slash conseguiu trazer uma aventura repleta de lutas divertidas. A produção moderna dá mais vida aos combates, que continuam com aquele nível de desafio característico e viciante. Embora o game em si seja muito bom, preciso analisá-lo pelo conjunto da obra: um remake que cortou conteúdo dos originais e acrescentou poucas novidades.
A espada não é tão afiada, mas ainda consegue cortar
No fim, creio que o remake tenha servido aos seus propósitos principais: trazer novamente à cena o gênero hack and slash mais clássico, por meio de uma de suas franquias de maior sucesso; permitir aos produtores “treinarem” no uso da Unreal Engine 5, que por sua vez será usada no quarto título; finalmente, fazer um show de abertura para a atração principal que será Ninja Gaiden 4.

Prós

  • Remake traz um clássico do gênero hack and slash com uma roupagem moderna;
  • Visuais renovados dão mais vida à aventura, com destaque para a iluminação e os novos modelos dos personagens;
  • Jogabilidade sólida, com muitos recursos e técnicas para que o jogador avance no game;
  • Nível de dificuldade é afiado, proporcionando desafios emocionantes na medida certa;
  • Campanha traz uma boa variedade de missões e novidades do início ao fim, assim como o modo extra de jogo.

Contras

  • Remake deixou faltando algumas qualidades dos dois títulos de que foi originado;
  • Praticamente nenhuma novidade significativa para os fãs, sobretudo na forma de novas fases, modos de jogo ou material extra.
Ninja Gaiden 2 Black — PC/PS5/XSX — Nota: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Vitor Tibério
Análise redigida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

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Matheus Senna de Oliveira
é produtor de conteúdo sobre games desde 2016 e um grande fã da décima arte, embora não tenha muito tempo disponível para ela. Seus games favoritos (que formam uma longa lista) incluem: KH, Borderlands, Guitar Hero, Zelda, Crash, FIFA, CoD, Pokémon, MvC, Yu-Gi-Oh, Resident Evil, Bayonetta, Persona, Burnout e Ratchet & Clank.
Também encontra-se no Twitter @MatheusSO02 e no OpenCritic.
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