Análise: Momodora: Moonlit Farewell é uma despedida digna para a série, mas também pode ser um primeiro contato

O adeus faz da despretensão sua força pela eficiência coesa, mas também sua fraqueza pela falta de novidades que o destaquem entre os metroidvanias.

em 11/02/2025

Lançado para PS em 2024, Momodora: Moonlit Farewell agora chegou aos consoles. Em grande medida, mesmo sendo o quinto título da série, é uma boa forma de revisitar os três primeiros jogos sem precisar de remakes nem relançar obras já defasadas. É uma escolha acertada para, ao mesmo tempo, resgatar o passado da série e encerrar sua história com uma despedida igualmente digna e despretensiosa.

Momo, Dora e Kaho

Desde 2010, a série Momodora seguiu seu curso em terreno incerto. Começou com dois jogos de plataforma de ação curtos e gratuitos, disponíveis para PC no itch.io. O primeiro teve como protagonista uma jovem chamada Dora em uma aventura com graves consequências para ela. No segundo, jogamos com a conterrânea Momo na busca de salvar a amiga. Momo e Dora — entendeu?

O terceiro seguiu a mesma linha, inclusive na brevidade, mas foi mais elaborado e teve lançamento pago no Steam, como um pequeno passo em direção a algo maior ao trazer ambas as protagonistas como personagens jogáveis.



A tríade foi a princípio um trabalho solo do brasileiro Guilherme “rdein” Martins, mas, no quarto título, ele se juntou a alguns desenvolvedores para formar o estúdio Bombservice e, em 2016, lançar Momodora: Reverie Under Moonlight, chegando aos consoles pela primeira vez. Trata-se de uma prequela que se passa séculos antes e é conduzida pela sacerdotisa Kaho, venerada na época de Momo e Dora ao ponto de a vila ser rebatizada com seu nome. Levando a série ao mundo dos metroidvanias, esse foi o primeiro jogo a combinar o gênero a ideias de soulslike em 2D, tendo sido lançado meses antes de Salt and Sanctuary.

Após isso, a ideia foi novamente avançar nos parâmetros de produção e expandir para a terceira dimensão. O jogo chegou a ter um protótipo exibido, mas o projeto foi descartado e, no lugar dele, em 2019 foi lançado Minoria, um sucessor espiritual em 2.5D, que carregou muitos traços da identidade de Momodora, mas não teve a boa recepção de Reverie Under Moonlight.

Por fim, em 2024, Momodora: Moonlit Farewell destacou em seu próprio subtítulo que pretende ser a despedida da série, trazendo Momo como protagonista e Dora como coadjuvante, em um último jogo para fazer o todo convergir a um final. Dessa forma, o adeus pretende agradar a quem acompanha há mais tempo e apresentar aos novatos as peças antigas que compõem o cenário.



Um adeus que pode ser porta de entrada

Não é preciso ter jogado qualquer um dos quatro antecessores para poder entrar direto em Moonlit Farewell. Logo no começo, recebemos acesso ao menu de Anotações, que, além de servir de tutorial, conta as histórias pregressas dos jogos anteriores. É interessante para lançar luz sobre o ponto de partida, mas não chega a ser uma trama complexa, seguindo principalmente o clichê de pessoas engajadas em proteger sua terra de ataques recentes de demônios.

Moonlit Farewell traz diálogos e detalhes que pintam bem a mitologia do mundo, representado por bela pixel art de sprites fluidos, paleta de cores expressiva e efeitos luminosos que refinam o conjunto. As músicas estão no mesmo nível e em vários momentos chamou minha atenção de forma positiva, apreciando o tom que dá à gameplay.



Enquanto Reverie Under Moonlight foi para o terreno típico de soulslike, rumo ao coração de um grande reino decadente, o quinto jogo retorna às cercanias interioranas da vila Kaho, onde está a árvore sagrada de Lun e as sacerdotisas que devem protegê-la.

As áreas interconectadas rumam para o subsolo, levando Momo por cavernas, pelas raízes da árvore Lun, por ruínas, fontes de água e uma vila de fadas, entre outros locais mesclados a formações naturais que se distinguem do foco mais urbano do antecessor.

Outra diferença relevante em relação ao antecessor está na qualidade de vida, pois em Moonlit Farewell a morte não tem qualquer consequência além de enviar de volta ao último checkpoint. Todo o progresso de mapa, história e aquisições é mantido, contribuindo para uma campanha fluida e de ritmo agradável, com um loop de cenário intuitivo e opção de viagem rápida a partir da metade.



Nem mais, nem menos

Pelo caminho, encontramos recompensas para melhoria de personagem com boa frequência, incentivando a exploração. Há um caráter de eficácia despretensiosa, como um jogo que quer ir direto ao ponto, sem firulas nem desrespeito ao tempo de quem joga. A única mecânica que achei vã foi a moeda de compra, que tem pouca utilidade além de obter uns poucos acessórios e passa a maior parte do tempo acumulando no bolso, sem propósito prático.

Com essa despretensão, é preciso notar que as habilidades de personagem são básicas e não aprofundam a experiência. A história toma o mesmo rumo, seguindo para o clímax pouco depois das personagens entenderem as proporções do problema, parecendo que cabia mais desdobramentos na trama e que, assim, o jogo acaba antes da hora. Dito isso, honestamente, o trabalho narrativo é bem melhor aqui do que no minimalismo de Reverie Under Moonlight.



O combate também entra nesse ponto de ser satisfatório, mas limitado, resumindo-se a combos de perto com um único botão, flechas de longe e esquivas no momento certo. É uma dinâmica que funciona bem em chefes, exigindo prestar atenção aos ataques deles. Se necessário, é possível também selecionar o nível de dificuldade.

Contra os inimigos comuns, a coisa tende a cair na intensidade repetitiva dos combos, principalmente quando equipamos certos acessórios que facilitam a abordagem de encarar as lutas de frente, contando com a quantidade de dano que podemos causar. O que não dá muito certo é o excesso de pirotecnia nos ataques e quando os inimigos morrem, o que pode desorientar a percepção das lutas, algo que senti com mais impacto no início e ao que precisei me acostumar.



Seja no design de mundo ou no combate, esse tipo de concisão modesta tem o mérito de ser apenas o que precisa ser, sem se perder em ambições acima de suas capacidades, mas carrega o ônus de não se elevar em relação à média. Assim, Momodora: Moonlit Farewell não tem pontos baixos de relevância, tampouco pontos altos, mantendo uma estabilidade bem realizada, que não pretende impressionar e se contenta em entregar um último título satisfatório, mais bonito e polido para a despedida da série.

Cheguei ao final em 10 horas, completando todo o mapa. Há mais conteúdo após isso, mas na forma de revisitar o que já vimos, com uma arena para lutar contra os chefes em versões mais difíceis e um NG+ chamado Modo Adaptado, que espelha o mapa horizontalmente e modifica alguns detalhes e inimigos.

Adeus enluarado

Momodora: Moonlit Farewell é uma despedida modesta, mas digna, para uma série que sempre foi humilde. A campanha concisa foca naquilo que dá certo e vai direto ao ponto, com um bom ritmo de exploração e progresso, mas suas mecânicas de metroidvania básico não impressionam, tanto nas habilidades de travessia simplistas quanto no combate apenas satisfatório. Felizmente, a estética refina o visual com bons efeitos, fazendo deste um jogo que, mesmo despretensioso, é divertido, agradável e muito bonito.



Prós

  • A bela pixel art traz a melhor apresentação visual da série, juntando-se à trilha musical para formar uma experiência esteticamente agradável;
  • O combate é simples, mas competente e desafiador nas lutas contra chefes, podendo ter sua abordagem levemente modificada por meio dos muitos acessórios de Momo;
  • Bom ritmo de campanha, com recompensas bem posicionadas e áreas que se conectam em um loop satisfatório;
  • Apesar de simples, o mapa é eficiente;
  • Seleção de dificuldade;
  • Textos em português brasileiro.

Contras

  • Ao seguir rumos seguros e até mesmo básicos, o jogo não traz novidades relevantes na gameplay e na história, sendo menos ambicioso do que poderia ser;
  • A simplicidade do combate reduz muitos dos encontros com inimigos comuns a uma questão de esmagar o botão de ataque;
  • O excesso de efeitos visuais nos combates pode atrapalhar a percepção.
Momodora: Moonlit Farewell — PC/PS5/XSX — Nota: 7.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Ives Boitano
Análise produzida com cópia digital cedida pela Playism
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Victor Vitório
Admiro videogame como uma mídia de vasto potencial criativo, artístico e humano. Jogo com os filhos pequenos e a esposa; também adoro metroidvanias, souls e jogos que me surpreendam e cativem, uma satisfação que costumo encontrar nos indies. Veja minhas análises no OpenCritic.
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