Análise: Botany Manor traz jardinagem aliada a puzzles criativos e história de época

Uma mulher deve criar as condições necessárias para cultivar diferentes tipos de sementes em sua mansão, enquanto revisita memórias e preconceitos.

em 05/02/2025
O século XIX foi um período de muitas revoluções, descobertas e aprimoramentos culturais, sociais e tecnológicos. Infelizmente, naquela época, a visão antiquada de que mulheres serviam apenas para cuidar do lar e das suas proles ainda era tida como algo muito forte.

Em Botany Manor acompanhamos a história de Arabella Mary Greene, uma mulher que em vez de seguir os padrões da época, decidiu se dedicar inteiramente à sua paixão: a botânica. Este título focado em puzzles leves chega agora aos consoles da Sony após ter sido lançado para Switch, Xbox e PC no ano passado.

Retorno às suas raízes

Arabella retorna à mansão da sua família, na Inglaterra. A botânica, agora aposentada, encontra-se sozinha na casa de muitos quartos, aplicada em terminar o seu livro. Para isso ela precisa descobrir como germinar diferentes tipos de sementes e esse é o foco do jogo.

Com uma série de puzzles em primeira pessoa, vamos descobrindo os diferentes locais da mansão (que vão desde a área interna até diferentes seções do jardim) para encontrar instruções, dicas e estudos de como fazer cada uma dessas plantas incomuns crescerem. A cada capítulo iniciado novas áreas podem ser acessadas e isso faz com que as anotações no nosso herbário aumentem.

Botany Manor exige atenção do jogador, já que cada quadro, livro, frasco e carta contém uma peça-chave dos enigmas que levam a criar a ambientação ideal para que cada planta floresça. Germinar cada semente exige que o jogador colete evidências por toda a mansão, e algumas delas só crescem com especificidades únicas, como ser plantada em meio a água enferrujada, em locais altos com grande incidência de vento ou outros muito quentes. Como reproduzir isso tudo em uma casa? É isso que terá que ser descoberto.

Cada cômodo terá elementos para serem examinados e isso levará a conclusões anotadas em uma caderneta. À medida que encontramos as dicas de um capítulo, podemos associá-las a uma semente, o que ajuda a organizar e descobrir quais as condições necessárias para que ela cresça.

O único ponto falho disso tudo é que não podemos reler as dicas pela nossa caderneta. Ela serve apenas para organizar e associar. Somos obrigados a revisitar o local no qual encontramos o item e em alguns casos ele está bem longe de onde devemos plantar a semente.

A sutileza dos detalhes

A jogabilidade de Botany Manor não exige muito de quem está no comando. Apenas temos que explorar cada item e as anotações são feitas automaticamente. Nem todos eles servem para desvendar os mistérios de cada planta, mas isso não quer dizer que eles não tenham uma função.

Cartas, fotografias, poemas e quadros narram desde a fundação da mansão até mesmo o preconceito que Arabella teve que enfrentar naquela época, ao ter seus estudos rejeitados por um conceituado professor apenas por ser mulher. Outros extratos retratam como ela foi corajosa em seguir seu sonho enquanto amigas e parentes recomendavam que ela sossegasse com suas “ideias loucas” e agisse como uma boa dama, preparando-se para casar, ter filhos e até sugerindo que voltasse a usar vestidos, já que, para uma mulher,  vestir calças era uma espécie de atitude ultrajante naqueles tempos..

Esses elementos ajudam a criar empatia por ela e entender como era um ato de coragem e ousadia que uma mulher quebrasse o ciclo de ser só uma serva da família e tomasse um lugar de fala em meio às cabeças pensantes que regiam o mundo no século XIX.

Só é uma pena que termine rápido. É possível finalizar Botany Manor em menos de duas horas, mesmo jogando sem pressa. Ok, entendo que a história sirva para mostrar a consolidação de Arabella como um nome importante na sua área de estudo, mas explorar os cantos da mansão ao som de uma melodia tranquila enquanto encontra trechos que contam a sua vida é algo muito prazeroso, que deixa aquela sensação de que poderia durar um tiquinho mais.

Uma flor de beleza única

Botany Manor consegue unir puzzles bem construídos, com o propósito único de ensinar um pouco mais sobre plantas, com uma história de fundo delicada sobre uma mulher que lutou contra diversos preconceitos em uma época antiga. Os donos de PlayStation até podem se incomodar pelo fato de o jogo não oferecer um troféu de platina, mas isso não diminui nenhum mérito deste ótimo título.

Prós

  • A ideia de usar enigmas para descobrir como fazer plantas exóticas florescerem é ótima;
  • Jogabilidade simples, focada na exploração de itens e detalhes;
  • A trilha sonora segue um ritmo tranquilo e discreto, que combina muito bem com o ritmo de jogo;
  • A construção de cada quebra-cabeça é criativa e faz com que o jogador fique atento a cada nova informação encontrada. 
  • A história da protagonista é contada por diversos outros elementos na casa, o que torna sua exploração ainda mais instigante.

Contras

  • A caderneta não nos permite ler as informações encontradas em itens pelo caminho, ela apenas guarda o lembrete do que foi achado;
  • É um jogo de curta duração;
  • Não possui um troféu de platina (não que isso seja um problema no geral, mas os trophy hunters podem acabar ignorando o jogo por conta disso).
Botany Manor — PC/PS4/PS5/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PS4
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital cedida pela Whitethorn Games
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Carlos França Jr.
é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no @carlos_duskman
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