Existem muitas profissões que lidam com situações urgentes, e uma das mais importantes são os paramédicos. Eles são responsáveis por prestar os primeiros socorros em cenários emergenciais, como acidentes, e geralmente trabalham em conjunto com a polícia e o corpo de bombeiros. Sendo assim, é claro que iam lançar um simulador de paramédicos, e mais claro ainda que eu iria conferir como isso ia desenrolar.
Mesmo após já ter sofrido com o tenebroso Police Simulator: Patrol Officers, que trouxe a pior parte da rotina policial e de maneira mal executada, eu dei uma chance para Ambulance Life: A Paramedic Simulator e ele consegue ser muito melhor que seu “parente”, mas ainda mantendo alguns probleminhas chatos dessa família de simuladores.
Emergência!
Assim como ocorreu em Police Officer, Ambulance Life tem uma batelada de páginas de indicações para serem lidas e situações para serem assimiladas. Entretanto, dessa vez houve um empenho muito maior, e melhor, para fazer com que o jogador se familiarizasse com as opções disponíveis.
Existem alguns tutoriais que nos ensinam a como lidar com diferentes casos em cenários mais simples, como uma pessoa que teve uma crise de pânico ou uma fratura. O procedimento inicial é basicamente o mesmo sempre: medir a pressão, a saturação da respiração, a frequência cardíaca e puncionar uma veia para ministrar algum tipo de medicação.
Os cuidados específicos, como aplicar ataduras, suturar cortes, entre outros, são aprendidos em momentos específicos e, para que não haja confusão, o jogador pode recorrer às instruções a qualquer momento. Ao acionar as instruções, o jogo não conta o tempo que passamos lendo, mas demorar no atendimento pode causar a insatisfação do socorrido e influenciar na nossa nota, que pode ir de C a S — se ele não morrer.
Cada tipo de cuidado dará início a um minigame simples, mas necessário para determinar se você fez um bom trabalho ou não. E é nessa hora que os detalhes do atendimento dão o ar da graça e mostram um bom trabalho visual. Todos os equipamentos e ferramentas, como o medidor de pressão, agulhas, oxímero, máscara de oxigênio, entre outros, são retratados com fidelidade, desde a sua apresentação até a aplicação. O mesmo vale para os machucados, como queimaduras, fraturas e manchas de lesão.
A condução da ambulância também é importante. Sempre saímos do nosso posto de operações, vamos até o local do acidente e conduzimos o paciente para o hospital depois de prestar os primeiros-socorros. Temos que tomar cuidado, pois bater o veículo ou atropelar um pedestre resulta em game over instantâneo. Por isso, contamos com o importante recurso de ligar a sirene, que faz os carros que transitam pela rua pararem instantaneamente e os pedestres se afastarem da via.
Nossos turnos sempre duram 15 minutos inicialmente, mas isso pode ser aumentado depois. Quanto mais pacientes atendemos, e quanto maior a eficácia e agilidade, mais pontos de experiência ganhamos. Eles servem para liberar novas áreas no mapa e tipos de emergências mais severas, como acidentes graves e resgates de vítimas de incêndios.
Infelizmente, mesmo com toda a criatividade e dinamismo que Ambulance Life consegue trazer com os atendimentos, o ciclo de repetitividade é muito forte, principalmente depois de algumas horas resgatando feridos e realizando os mesmos procedimentos exaustivamente. Outro ponto a ser observado são os pedestres. Mesmo com a sirene ligada, para alertar que estamos com pressa, alguns deles gostam de atravessar a rua correndo na frente da ambulância, o que leva a um atropelamento e consequente fim de jogo naquele turno.
Entretanto, o ponto mais crítico da jogabilidade está em um momento pequeno, que se torna irritante: colocar o paciente na maca. Ao fazer a primeira análise de sintomas, é necessário levar a pessoa para dentro da ambulância e isso envolve retirar o equipamento do veículo, pegar o paciente no chão e levá-lo para ser medicado. O seu ajudante irá auxiliar a carregar a maca até o ferido, e nessa hora a câmera simplesmente não ajuda, e ter que ajustá-la a todo momento influencia na direção que estamos controlando o analógico para chegar até onde queremos.
O mesmo acontece na hora de voltar para a ambulância, só que piora. O mais fácil é colocar a câmera atrás do nosso paramédico e conduzir de maneira como se estivéssemos puxando a maca. Só que nós nunca podemos entrar primeiro na ambulância e a maca tem sempre que estar alinhada com a porta traseira. Junte isso à lentidão desnecessária de deslocamento, seja puxando ou empurrando, e temos o ponto mais baixo do nosso emprego como socorrista.
Os problemas de sempre, mas em doses homeopáticas
Falar em “simulators” sem mencionar bugs é praticamente impossível, mas impressionantemente eles não são tão constantes ou afetam gravemente a experiência de Ambulance Life, criando apenas situações engraçadas e levemente estranhas. Os já citados pedestres que correm na frente da ambulância ou os carros que decidem colidir no tráfego, acontecem com frequência moderada.
Os personagens que atendemos tem visuais bastante genéricos e misturas estranhas, sem contar quando eles trocam de aspecto no meio do atendimento ou acabam replicando a aparência de um dos médicos do jogo. Cito como exemplo o atendimento a um homem afrodescendente, que fora da ambulância tinha um estranho bigode ruivo, e ao entrar nela ficou com a pele mais clara e com o bigode preto. E detalhe é que ele apareceu mais umas duas vezes, com outros problemas. Pensem em um cara azarado…
Os diálogos dos pacientes também são bastante genéricos. Tirando o momento de anamnese, no qual eles respondem nossas perguntas — de maneira curta —, eles repetem a mesma frase exaustivamente, independente do que o prontuário de atendimento esteja indicando. Uma moça que acabou de receber um torniquete na perna, por exemplo, reclamava constantemente de dor no braço, mesmo com o documento indicando que o único problema dela era no membro inferior.
Agora, dando os devidos louros à Ambulance Life, os três ambientes oferecidos pela cidade de San Pelicano e como eles são interligados, contribuem muito bem para o desenvolvimento das missões. Por mais que elas se repliquem, a sensação de prestar serviço em uma grande metrópole é passado com o devido sucesso. Desde uma pessoa passando mal no parquinho até um ciclista atropelado em um cruzamento movimentado, as situações representam bem o tamanho da gravidade de cada emergência.
Aliado a isso, a trilha sonora ambiental também faz um bom trabalho. Não temos músicas de fundo ou temas de menu. Tudo é feito com o barulho de San Pelicano em tempo real, interrompido apenas pelos comentários do seu parceiro de atendimento ou rádio-patrulha.
Uma vida salva
Depois do trauma com sua contraparte policial, fiquei cético com o que Ambulance Life: A Paramedic Simulator poderia oferecer. Para minha surpresa, mesmo com a estrutura de missões repetitivas, foi bastante divertido aprender os diferentes tipos de primeiros-socorros que os paramédicos podem oferecer nas mais inusitadas situações. Um pouco mais de polimento na parte visual e de correção de bugs deixaria essa equipe de atendimento pronta para qualquer situação.
Prós
- Os menus estão mais simples de serem seguidos e não falta instrução para o jogador em atendimentos específicos;
- A variedade de recursos de primeiros-socorros é ampla e bem reproduzida;
- As situações de acidente são bem diversas e nos levam a explorar diferentes combinações de soluções;
- O mapa da cidade é bem projetado e passa a sensação de uma metrópole, bem acompanhado do “ruído ambiental” de cada área.
Contras
- O jogo se torna repetitivo bem rápido;
- De vez em quando, um pedestre pula na frente da ambulância, e isso leva a um game over prematuro;
- Pacientes tagarelas e com visuais genéricos, que até chegam a mudar no meio do jogo;
- Conduzir a maca é horrível;
- Bugs pontuais.
Ambulance Life: A Paramedic Simulator — PC/PS5/XSX — Nota: 7.0Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Beatriz Castro
Análise feita com cópia digital cedida pela Nacon