Lá se vão 30 anos desde que Panzer Dragoon chegou ao Sega Saturn, marcando o início de uma das franquias mais cultuadas da história dos videogames. Lembrado por sua jogabilidade inovadora, direção de arte singular e trilha sonora inesquecível, o jogo deixou um legado que ainda ecoa entre os fãs e desenvolvedores.
Uma lenda alça voo
Logo após seu lançamento, Panzer Dragoon rapidamente conquistou uma legião de fãs e se consolidou como um dos títulos mais icônicos do console. Em meio à transição dos jogos 2D para os 3D, a franquia se destacou ao oferecer uma experiência única, combinando mecânicas de on-rails shooter com um universo rico em lore, estética diferenciada e uma trilha sonora memorável.
O jogo introduziu os jogadores a um mundo pós-apocalíptico repleto de ruínas, onde criaturas bioengenheiradas e antigas máquinas de guerra vagavam pelo cenário. Seu protagonista, um jovem caçador, acaba se tornando o piloto de um dragão azul e embarca em uma jornada épica para impedir uma ameaça crescente. Esse enredo, ainda que simples na superfície, sugeria uma mitologia densa que seria expandida nos jogos subsequentes. O uso de uma linguagem fictícia na dublagem das cutscenes aumentava a imersão e reforçava a ideia de um mundo distante e misterioso.
Além de sua narrativa envolvente, Panzer Dragoon se destacou por sua jogabilidade fluida e cinematográfica. Como um on-rails shooter, o jogador controlava o dragão enquanto ele seguia um caminho predeterminado, tendo liberdade para mirar e atirar nos inimigos que surgiam em todas as direções. A presença de um radar indicava ataques iminentes, e a possibilidade de girar a câmera 360 graus oferecia um nível de estratégia pouco visto no gênero na época. Esse sistema inovador tornava o combate dinâmico e desafiador, exigindo reflexos rápidos e um bom senso de posicionamento.
O desenvolvimento do jogo ficou a cargo da Team Andromeda, uma equipe interna da Sega criada especificamente para esse projeto. O grupo foi liderado por Yukio Futatsugi, que na época tinha apenas 25 anos e já demonstrava uma visão única para a construção de mundos e mecânicas de jogo. Diferente de muitos shooters da época, que eram marcados por um ritmo acelerado e caótico, Panzer Dragoon optou por uma abordagem cinematográfica, com uma progressão mais cadenciada e um foco maior na ambientação e na imersão. O resultado foi um título que, embora seguisse o formato de um on-rails shooter, parecia mais próximo de uma grande aventura interativa do que de um simples jogo de ação.
Yukio Futatsugi, lider do time de desenvolvimento de Panzer Dragoon |
Um marco do Sega Saturno
O Sega Saturn foi lançado em um período de intensa concorrência com o PlayStation e o Nintendo 64, e a Sega precisava de jogos que mostrassem o potencial do console. Panzer Dragoon se tornou um dos títulos mais emblemáticos da plataforma, exibindo um impressionante trabalho técnico para a época. Seu design artístico fugia do convencional, evitando as temáticas cyberpunk ou futuristas comuns na ficção científica e optando por um estilo que misturava elementos de fantasia e biotecnologia.
A influência do artista francês Moebius na direção de arte foi evidente e, não por acaso, o próprio Moebius foi convidado a ilustrar a capa do jogo no Japão. Esse estilo visual único, aliado a gráficos detalhados e animações fluidas, ajudou a diferenciar Panzer Dragoon de outros títulos disponíveis no mercado.
A trilha sonora de Yoshitaka Azuma também merece destaque. A mistura de orquestração e sintetizadores criou uma ambientação sonora grandiosa e melancólica, elevando ainda mais a sensação de imersão. Cada fase apresenta composições que reforçaram o tom épico da jornada, tornando a experiência inesquecível para muitos jogadores. Mesmo enfrentando forte concorrência da Sony e da Nintendo, Panzer Dragoon permaneceu como um dos jogos mais respeitados do Sega Saturn. Sua influência não apenas ajudou a moldar o legado do console, mas também deixou um impacto duradouro na indústria, sendo reverenciado até os dias de hoje como uma das melhores experiências do gênero.
A evolução do dragão
Com o sucesso de Panzer Dragoon, a Sega não demorou a expandir a franquia, lançando novos títulos que aprimoraram sua jogabilidade e aprofundaram sua mitologia. Ao longo dos anos, a série evoluiu, experimentando com novas mecânicas e gêneros, consolidando-se como uma das sagas mais memoráveis dos videogames.
Panzer Dragoon II Zwei (1996) foi o primeiro a expandir a experiência, trazendo melhorias técnicas e narrativas. Lançado para o Sega Saturn, o jogo serviu como uma prequela do original e introduziu um sistema de evolução do dragão, permitindo que a criatura mudasse sua forma ao longo da campanha. Além disso, a jogabilidade foi refinada, tornando os controles mais responsivos e a experiência de voo mais fluida.
Panzer Dragoon Saga (1998)
levou a série para um novo patamar, trocando o gênero on-rails shooter por um RPG. Esse foi um dos projetos mais ambiciosos da Team Andromeda, trazendo um mundo vasto, uma história mais desenvolvida e batalhas estratégicas que combinavam movimentação livre e ataques por turnos. Apesar de seu lançamento limitado no Ocidente, o jogo se tornou um clássico cult, sendo frequentemente citado como um dos melhores RPGs da era Sega Saturn.
Panzer Dragoon Orta (2002) marcou o retorno da série às suas origens com uma abordagem moderna. Lançado para o Xbox, o jogo foi desenvolvido pela Smilebit, sucessora da Team Andromeda, e trouxe gráficos impressionantes, mecânicas de combate mais dinâmicas e um enredo que expandia ainda mais o universo da franquia. A recepção foi extremamente positiva, sendo considerado um dos melhores shooters da geração.
Após anos de incerteza sobre o futuro da série, Panzer Dragoon: Remake (2020) trouxe de volta o clássico original com gráficos atualizados e ajustes na jogabilidade. Desenvolvido pela MegaPixel Studio e publicado pela Forever Entertainment, o remake modernizou os visuais e introduziu um novo esquema de controle. Apesar de algumas críticas à movimentação e ao design artístico, a recepção foi favorável, reacendendo o interesse pela franquia e abrindo portas para um possível retorno.
O futuro nos céus
Ao completar 30 anos, Panzer Dragoon continua sendo lembrado com carinho pelos fãs e críticos. Sua trajetória, marcada por inovações e experimentações, é um exemplo de como a criatividade pode transformar um simples shooter em um fenômeno cult. Mas, diante desse legado, surge a pergunta inevitável: qual o futuro da franquia?
O lançamento de Panzer Dragoon: Remake reacendeu o interesse pelo universo do jogo, provando que há demanda por novas experiências ambientadas nesse mundo. Há especulações sobre um possível remake de Panzer Dragoon Saga, mas sua complexidade e a falta do código-fonte original tornam essa tarefa desafiadora. Ainda assim, o sucesso de outros remakes modernos pode servir de incentivo para que a Sega e outros estúdios revisitem a série de maneira mais ambiciosa. O cenário atual dos jogos, com tecnologias como realidade virtual e inteligência artificial, abre novas possibilidades para a franquia.
Sobre isso uma das situações mais bizarras da indústria dos games aconteceu com Panzer Dragoon Voyage Record, a versão em realidade virtual da icônica franquia anunciado em 2020. O jogo foi oficialmente cancelado em 2021 pela desenvolvedora Wildman Inc., que justificou a decisão mencionando o encerramento do contrato com a SEGA e a morte do seu CEO, Haruto Watanabe.
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Panzer Dragon VR: Jogo cancelado poucos meses após o anúncio |
O problema? Watanabe esta vivo. A notícia pegou todos de surpresa, e a postagem original no Twitter foi apagada sem maiores explicações. Até hoje, o motivo dessa falsa declaração de falecimento permanece um mistério, tornando o cancelamento de Panzer Dragoon Voyage Record um dos mais estranhos da história dos videogames.
De qualquer forma, seja com novas versões dos jogos clássicos ou com uma sequência inédita, Panzer Dragoon tem tudo para voltar aos holofotes. E você? Qual sua memória favorita da franquia?
Revisão: Ives Boitano