Final Fantasy VII Rebirth é mais um daqueles RPGs elaborados que nos convida a mergulhar fundo na experiência. A segunda parte da reimaginação do JRPG clássico expande as ideias do capítulo anterior em uma jornada por um mundo deslumbrante que dá mais espaço aos personagens ao mesmo tempo que faz experimentos na narrativa — o resultado é uma modernização admirável, embora divisiva. Lançado inicialmente no PS5, o jogo chega aos PCs em uma versão tecnicamente superior, mas ainda aquém das possibilidades disponíveis nos computadores.
Continuando a saga pelo universo imersivo
Concebido inicialmente como remake, a modernização de Final Fantasy VII passou por liberdades criativas, alterando e expandindo o escopo do original. Na primeira parte, lançada em 2020, conhecemos Cloud Strife, um mercenário que se une a um grupo de resistência chamado Avalanche para lutar contra a Shinra, uma corporação que explora os recursos do planeta. No processo, o grupo enfrenta Sephiroth, ex-SOLDIER de elite que tem planos nefastos.Em Rebirth, depois de fugir da cidade de Midgard, o grupo viaja pelo mundo no rastro de Sephiroth, que desapareceu após os últimos eventos. O vilão pretende destruir o mundo, então Cloud e seus amigos farão de tudo para impedi-lo. Tudo indica que a chave para encontrá-lo são misteriosas figuras encapuzadas que parecem ser atraídas pelo vilão, então os heróis decidem segui-las.
O maior trunfo desse episódio está na ambientação: o mundo é ricamente elaborado, sendo possível perceber os impactos das ações da Shinra na vida de todos. Além disso, é difícil não se afeiçoar aos personagens, cuja caracterização se destaca com diálogos bem dublados, expressões faciais detalhadas e maneirismos que dão vida a eles. Há um grande esforço para desenvolver os heróis, especialmente em missões opcionais e inúmeras cenas não interativas, explorando mais suas personalidades e desejos.
Já a trama em si mantém a filosofia de reimaginar e expandir o universo de Final Fantasy VII, o que acabou sendo considerado controverso. Particularmente, apreciei muito as novidades e mistérios, pois eles modernizam fatos antigos e abrem novas possibilidades. Porém, essa abordagem não é livre de problemas, como fatos contraditórios e confusos e ritmo irregular, com eventos cruciais concentrados no final da jornada. Há também vários trechos incoerentes ou irrelevantes que parecem pura enrolação, apesar de serem divertidos.
No fim, acredito que o resultado é muito positivo. A ambientação mais rica traz uma profundidade não vista no jogo original, lançado para o primeiro PlayStation, e as melhorias técnicas possibilitaram desenvolver melhor os personagens e ambientes, resultando em um universo cativante e envolvente. Parte desse mérito vem do trabalho audiovisual primoroso com gráficos detalhados, cenários ricos em detalhes, cenas não interativas bem dirigidas e uma trilha sonora belíssima que reinterpreta temas clássicos ao mesmo tempo que introduz novas músicas.
Perdendo-se em um mundo massivo e variado
Estruturalmente, Rebirth é mais amplo que seu antecessor, apesar de manter a estrutura linear. A grande novidade é que agora há regiões imensas para desbravar com atividades diversas, como batalhas especiais, santuários com itens, caça ao tesouro e uma infinidade de missões paralelas. Para atravessar os vastos cenários, os heróis usam chocobos, que também contam com habilidades de navegação, como escalar paredes ou planar.A exploração do mundo é altamente recompensadora, mesmo sendo opcional. Completar atividades espalhadas pelas áreas garante pontos que podem ser trocados por Materias e outros itens essenciais. Além disso, muitas dessas atividades oferecem informações adicionais sobre o mundo, ampliando a compreensão sobre o universo do jogo.
As missões paralelas, por sua vez, trazem benefícios diretos, como a liberação de novas mecânicas ou áreas do mapa. Essas tarefas, muitas vezes integradas ao contexto das regiões exploradas, são vantajosas e nos incentivam a desviar da campanha principal. A locomoção ágil, com pontos de viagem rápida e torres que revelam áreas de interesse no mapa, torna a exploração ainda mais prática e acessível.
Como é de praxe, Rebirth apresenta uma infinidade de minigames, como o cardgame Queen’s Blood, corridas de chocobo, tocar piano e o título de estratégia Fort Condor. Alguns deles são tão elaborados que parecem jogos completos, sendo fácil perder horas explorando-os. O único porém é que em muitos pontos da campanha somos forçados a jogá-los para avançar, trazendo uma sensação de enrolação desnecessária.
A trama principal mantém elementos tradicionais, como puzzles e calabouços, que se integram de forma orgânica à jogabilidade. Há, inclusive, momentos em que controlamos outros personagens fora Cloud, cada qual com estilos de jogo únicos — Barret destrói obstáculos com sua arma, já Yuffie usa sua agilidade de ninja para atravessar terrenos complicados. Não é nada revolucionário, mas são trechos bem pensados e bem dosados.
No geral, a alternância entre estilos é equilibrada, fazendo com que o ritmo da aventura seja agradável e imersivo. Foram inúmeras as vezes que ignorei a campanha principal para explorar as regiões em busca de desafios e tesouros, sendo raras as ocasiões que as atividades se tornaram enfadonhas. Mesmo assim, é uma pena que muitas delas se repitam com poucas alterações entre as regiões, apesar de cada uma delas ter diferenciais, como topografia única ou minigames exclusivos.
Combates perfeitamente equilibrados entre ação e estratégia
Seguindo tendências, o combate de Rebirth é em tempo real, mas ainda se mantém altamente tático. No controle de um dos heróis, atacamos, esquivamos e defendemos ativamente, demandando mais posicionamento e atenção do que destreza. Conforme executamos ações, a barra BTA é preenchida, que é utilizada para ativar habilidades, desferir feitiços ou usar itens. A ação fica em câmera lenta enquanto usamos o menu de comandos, permitindo fazer escolhas sem muita pressão, sendo também possível usar atalhos para utilizar técnicas instantaneamente.Para se dar bem nos embates, é importante atordoar os inimigos. Para isso, é necessário explorar suas fraquezas elementais ou deixá-los sob pressão ao executar ações diversas, como esquivar de certos ataques ou interromper seus movimentos. Sendo assim, se torna essencial conhecer cada oponente e agir de acordo para se aproveitar de suas vulnerabilidades — golpear de qualquer jeito só funciona nos monstros mais básicos.
Cada um dos personagens apresenta particularidades em batalha. Cloud, por exemplo, alterna entre um modo rápido e um lento focado em contra-ataques; Barret é especializado em ataques à distância; a novata Yuffie usa ninjutsu para alterar o elemento de seus golpes e lança sua shuriken para acertar alvos distantes; já Tifa mantém a pressão com sequências de chutes e socos. Os heróis podem ser customizados com Materias, que contêm feitiços e técnicas especiais, e desta vez a variedade de orbes foi amplamente expandida.
A grande novidade do sistema de batalha de Rebirth é a expansão das habilidades conjuntas de sinergia, que foi introduzida em Intergrade. Nas Ações de Sinergia, que podem ser ativadas a qualquer momento, dois personagens realizam movimentos coordenados, como golpear em conjunto ou defender ataques específicos. Já as Habilidades de Sinergia são técnicas poderosas acompanhadas de uma vantagem, mas dependem de condições para serem ativadas. Saber utilizá-las pode mudar drasticamente o rumo da batalha.
Apesar do foco na ação, o combate do jogo é altamente tático. Além de ter que atacar e esquivar, é essencial controlar também os outros aliados, afinal eles não ativam habilidades por conta própria. Isso, em conjunto a uma grande diversidade de inimigos que exigem estratégias únicas, muitas opções de customização e estilos de luta próprios, resulta em um sistema ágil e notável que consegue balancear muito bem todos os seus aspectos.
Uma adaptação notável, mas ainda com imperfeições
Final Fantasy VII Rebirth chega ao PC com a promessa de oferecer a experiência definitiva do jogo, cuja parte técnica foi alvo de críticas no lançamento para PS5 em 2024. Para isso, o título oferece três predefinições de gráficos, ajustes específicos e melhorias diversas, como visuais aprimorados e suporte a NVIDIA DLSS. Há, inclusive, opções para tentar melhorar a performance em configurações mais modestas, como limitar a quantidade de NPCs em tela. Porém, é notável a ausência de suporte a outras tecnologias de geração de quadros, como FSR e XeSS.A minha experiência foi muito positiva no geral. Utilizando uma GeForce RTX 3070Ti 8GB e um i5-10400F na predefinição “média”, mantive estáveis 120 quadros por segundo em 1080p na maior parte do tempo, com a fluidez caindo somente um pouco em áreas com muitos NPCs. Os visuais se mantiveram detalhados e nítidos, inclusive os objetos distantes, sem precisar fazer ajustes. O único ponto decepcionante é o pop-in a média distância, que já estava presente no PS5 e se manteve aqui, apesar de atenuado — torço para que alguém crie um mod para corrigir isso.
Ainda sobre os gráficos, há um desbalanceamento na iluminação, o que gera ora cenas muito escuras, ora locais demasiadamente claros. O problema é mais aparente quando alternamos entre locais com luz bem distinta, sendo o efeito tão intenso que às vezes mal é possível enxergar os detalhes. Felizmente é algo que acontece com pouca frequência, mas não deixa de incomodar.
Uma ótima nova interpretação de um clássico
Final Fantasy VII Rebirth se destaca como uma reinvenção significativa de um clássico, ao expandir e reimaginar sua narrativa, personagens e ambientação de forma ambiciosa. A riqueza do mundo, combinada com a caracterização detalhada dos heróis, cria uma experiência envolvente que capta a essência do original enquanto moderniza a franquia. Mesmo com escolhas narrativas divisivas e momentos de ritmo irregular, o jogo acerta ao explorar novas possibilidades e ao oferecer uma visão mais profunda deste universo.O sistema de combate, que equilibra ação frenética com estratégia tática, é outro ponto alto da experiência. A diversidade de habilidades dos personagens, aliada às opções de customização, garante batalhas dinâmicas e desafiadoras que exigem planejamento e criatividade. Complementado por um extenso conteúdo opcional, minigames elaborados e áreas amplas para explorar, Rebirth oferece inúmeras horas de diversão, mesmo que a repetição de algumas atividades ocasionalmente diminua o ritmo envolvente da jornada.
A adaptação para PC eleva a experiência com aprimoramentos técnicos e opções ajustáveis, embora ainda existam pequenos problemas, como ausência de suporte a certas tecnologias. Ainda assim, Final Fantasy VII Rebirth é um título notável que celebra o legado do original enquanto traça novos caminhos. É uma jornada imperfeita, mas repleta de momentos memoráveis que reafirmam o impacto e a relevância deste universo para fãs novos e antigos.
Prós
- Reimaginação notável do conteúdo original, com grande foco na ambientação e na caracterização dos personagens;
- Mundo amplo recheado de atividades paralelas significativas e minigames;
- Boa mescla entre momentos lineares e trechos abertos;
- Sistema de combate ágil e variado, com direito a muitas opções de customização de personagens;
- Parte audiovisual de destaque com visuais e música elaborados;
- A adaptação para PC é razoável, oferecendo boa performance e opções para customizar a experiência.
Contras
- Ritmo irregular, com muitos trechos de história e minigames que poderiam ser opcionais;
- Muitas das atividades se repetem com poucas alterações pela jornada;
- Problemas de iluminação geram cenas ora muito claras, ora muito escuras;
- Apesar das melhorias técnicas, o jogo ainda apresenta problemas notáveis, como pop-in.
Final Fantasy VII Rebirth — PC/PS5 — Nota: 9.0
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Heloísa D'Assumpção Ballaminut
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix
Análise produzida com cópia digital cedida pela Square Enix