Wild Arms 2: puzzles, terroristas e o peso de ser um herói

Seis indivíduos unem forças para proteger Filgaia de uma organização sombria.

em 24/01/2025
Lançado para PlayStation em setembro de 1999 no Japão e em maio de 2000 no Ocidente, Wild Arms 2 é o segundo título da série de RPGs desenvolvida pela Media.Vision. Com dungeons cheias de puzzles criativos e um sistema de combate interessante, este é mais um título da era dos 32-bits que merecia atenção no atual cenário de remasterizações e remakes.

Seis heróis e um mundo à beira do caos

Wild Arms 2 começa com três prólogos protagonizados por personagens distintos e que podem ser jogados em qualquer ordem. À medida que a história avança, esses indivíduos se unem a outros três (um deles opcional) e são recrutados por Irving Vold Valeria, um misterioso homem rico, para formar um grupo denominado ARMS (Agile Remote Mission Squad).

O grupo dos mocinhos é formado pelos seguintes sujeitos:
  • Ashley Winchester: um jovem soldado que, após um incidente, ganha os poderes de Lord Blazer, um demônio ancestral que trouxe destruição ao mundo no passado;
  • Brad Evans: um ex-herói de guerra que, após lutar pela libertação de uma região, passou a ser tratado como criminoso;
  • Lilka Eleniak: uma jovem maga que luta contra suas inseguranças por viver à sombra de sua irmã, uma feiticeira prodígio;
  • Tim Rhymeless: um órfão com a habilidade especial de ser um intermediário entre a humanidade e os Guardiões, seres elementais quase divinos;
  • Kanon: uma caçadora de recompensas e descendente de Anastasia Rune Valeria, a lendária guerreira que derrotou Lord Blazer no passado;
  • Marivel Armitage: a última descendente de uma raça semelhante a vampiros. Ela é uma personagem opcional, praticamente secreta, que só pode ser desbloqueada durante o segundo disco do jogo.
O grupo ARMS tem como principal objetivo enfrentar Odessa, uma organização terrorista que busca impor seu próprio conceito de justiça e ordem ao mundo. O primeiro disco do jogo foca na batalha contra os líderes desse grupo, enquanto o segundo apresenta uma grande reviravolta, revelando uma ameaça ainda maior, a qual parece estar diretamente conectada à própria existência de Odessa.

A história de Wild Arms 2 é muito interessante, trazendo um grupo de personagens carismáticos que enfrentam dilemas pessoais enquanto se apoiam mutuamente para superar os desafios. Além disso, muitos dos antagonistas são bem-construídos e apresentam motivações críveis.

Apesar de alguns elementos da trama serem pouco explicados (e um tanto confusos) e de certos diálogos soarem excessivamente "bregas", o jogo apresenta reflexões instigantes sobre o verdadeiro significado de ser um herói e de como o ato de depositar todas as esperanças em uma única pessoa pode se revelar prejudicial.


Masmorras repletas de puzzles criativos

Wild Arms 2 se desenrola em Filgaia, um vasto planeta formado por diversos continentes e governado por nações distintas. Aqui, o mundo apresenta cenários tridimensionais e os personagens são representados por charmosos sprites em 2D.

Uma característica curiosa (e sem muito sentido) é o sistema de navegação no mapa, no qual os pontos de interesse, como cidades e cavernas, são ocultos e precisam ser revelados com o uso de um radar, que possui alcance limitado. Muitas vezes, mesmo utilizando a ferramenta no local correto, só será possível desbloquear o ponto caso um NPC tenha mencionado sua existência e localização anteriormente.

O aspecto mais interessante relacionado à exploração está na configuração das masmorras, que são repletas de puzzles que desafiam o jogador a observar atentamente os ambientes. Esses enigmas vão de posicionar estruturas nos locais corretos a operar mecanismos com senhas.

Em Wild Arms 2, cada personagem conta com três habilidades distintas de navegação, que são essenciais para superar alguns desafios das dungeons. Para exemplificar: Brad pode realizar poderosos chutes; Lilka conjura bolas de fogo e gelo; Tim controla um pequeno espírito; e Kanon utiliza um gancho com corrente.

Do ponto de vista narrativo, a estrutura de muitas masmorras acaba sendo conveniente, já que grande parte dos puzzles é claramente projetado para as habilidades específicas de determinados heróis. Apesar disso, esse detalhe é facilmente ignorado, pois os enigmas são genuinamente criativos e proporcionam uma sensação de satisfação ao serem solucionados.


Cada indivíduo possui um estilo único de combate

Wild Arms 2 apresenta um sistema de combate por turnos, permitindo que o jogador utilize três personagens na equipe, com a possibilidade de trocar os membros ativos a qualquer momento durante a batalha. Diferentemente dos momentos de exploração, os confrontos trazem os heróis modelados em 3D.



Assim como nas mecânicas de navegação, cada indivíduo possui um estilo de combate único. Para exemplificar, embora Lilka e Tim sejam usuários de magia, a maneira como eles adquirem seus feitiços é bem distinta, com essa diferença incentivando o jogador a explorar o mundo em busca de áreas opcionais para fortalecer cada um deles.

Nesse sentido, Lilka aprende novos feitiços utilizando cristais, itens finitos que demandam um gerenciamento cuidadoso, especialmente nos estágios iniciais do jogo, quando o número disponível é bastante limitado. Tim, por outro lado, obtém seus poderes dos Guardiões, que são equipados como acessórios. Cada Guardião possui uma ou mais magias vinculadas, e, para que o jovem sacerdote as adquira, é necessário derrotar uma quantidade específica de inimigos enquanto o acessório correspondente está equipado.

As particularidades dos personagens não param por aí: cada um possui quatro Force Abilities, habilidades especiais que, geralmente, desempenham funções auxiliares e devem ser combinadas com as habilidades "normais". Vale ressaltar que muitas dessas Force Abilities são desbloqueadas conforme progredimos na campanha.

A Force Ability Dual Cast de Lilka, por exemplo, permite que a maga de cristal conjure duas magias simultaneamente. Já a quarta habilidade especial de Ashley, denominada Access, possibilita que o jovem assuma os poderes ocultos de Lord Blazer, resultando em uma transformação poderosa.

É importante mencionar que, em vez do tradicional MP, temos uma barra de FP (Force Points), que se preenche à medida que o personagem sofre dano ou atinge um inimigo com um ataque normal. Curiosamente, uma vez que essa barra atinja valores mais altos, ela não é consumida pelas habilidades "normais", sendo usada apenas para as Force Abilities. Além disso, o valor inicial de FP é determinado pelo nível. Sendo assim, um indivíduo no nível 30 sempre começará um combate com 30 de FP.

De certo modo, essa mecânica pode gerar um desequilíbrio, especialmente para Tim, Lilka e Kanon, já que basta preencher a barra de FP para usar suas habilidades mais poderosas de forma contínua. No entanto, essa facilidade é sentida apenas durante os combates mais simples, já que os chefes geralmente exigem que o jogador utilize todas as suas melhores técnicas, o que acaba nos obrigando a gastar FP para usar as Force Abilities.

No caso de Ashley e Brad, a dinâmica é diferente e exige um gerenciamento constante, pois suas habilidades dependem do uso de armas de fogo, que consomem munição e precisam ser recarregadas em lojas específicas. Marivel, por sua vez, adota um sistema mais complexo para aprender novas técnicas, que envolve adquirir os golpes dos inimigos, o que a impede de se beneficiar da conveniência proporcionada pela mecânica de FP até fases mais avançadas do jogo.

Ainda no que diz respeito ao combate, Wild Arms 2 apresenta dois sistemas de personalização bastante interessantes. O primeiro está relacionado às armas de fogo, que podem ser aprimoradas em três aspectos: poder de ataque, taxa de acerto ou capacidade de munição. Considerando que existe um limite para o quanto uma arma pode ser melhorada, o jogador precisa avaliar bem as suas prioridades.

O segundo sistema é chamado de Personal Skills e está diretamente ligado aos personagens. A cada nível alcançado, um herói obtém um Personal Point, que pode ser investido em habilidades passivas, como aumento da chance de contra-ataque e de acerto crítico, resistência aprimorada a efeitos negativos ou até mesmo a capacidade de converter o FP restante de uma batalha em HP.

Em suma, o sistema de combate de Wild Arms 2 é altamente envolvente e recompensa o jogador que se dedica a explorar o mundo em busca de recursos opcionais. Além disso, graças às mecânicas únicas de combate de cada herói, muitas lutas, especialmente contra chefes, nos encorajam a trocar frequentemente os membros da equipe para criar diferentes estratégias.

Um RPG interessantíssimo 

Ainda que não seja isento de falhas, Wild Arms 2 é um RPG interessantíssimo que merece ser relembrado ou conhecido. Com um elenco de personagens carismáticos, puzzles satisfatórios de se resolver e um sistema de combate que destaca a individualidade de cada herói jogável, o título se apresenta como mais uma pérola do primeiro PlayStation.

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
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Lucas Oliveira
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