Análise: Tales of Graces f Remastered: laços de amizade em um RPG de ação dinâmico

Relançamento traz um ótimo jogo de volta aos consoles modernos.

em 15/01/2025
Tales of Graces f Remastered
é o primeiro título de um projeto de relançamentos da tradicional franquia de RPGs de ação da Bandai Namco. Após duras críticas à mais nova edição do clássico Tales of Symphonia lançada em 2023, a empresa contratou a TOSE para revitalizar o clássico de PS3 para os consoles modernos.

Uma jornada de autodescoberta e reconexão

Tales of Graces é um RPG de ação originalmente lançado no Wii e posteriormente relançado em uma edição mais robusta (Graces f) para PS3, que incluía um epílogo jogável. Agora, o jogo foi relançado em um pacote que busca preservar a experiência e revitalizá-la com a atualização de alguns elementos de qualidade de vida.

Em Graces, acompanhamos a história de Asbel, um jovem rapaz que é filho de um nobre que comanda as terras de Lhant na divisa entre o reino de Windor e Fendel. Ainda criança, ele era bastante desobediente e, em algumas de suas meninices, acabou se metendo em situações perigosas indo a uma bela colina repleta de belezas naturais com seu irmão mais novo e posteriormente com outros amigos.

Após conhecer a misteriosa Sophie, que não possui memórias de seu passado, e o príncipe Richard, o jovem e seus amigos mais íntimos acabam passando por eventos traumáticos. Esse momento fratura a relação entre essas crianças, que se separam e passam a ter vidas em que esses amigos não estão presentes.

Mais velhos, os jovens se reencontram pouco a pouco conforme situações complexas da vida adulta forçam esses indivíduos a precisar repensar o que desejam para o mundo. Em meio a questões políticas entre os reinos e misteriosos eventos de fantasia mágica, Asbel terá a chance de reunir o velho grupo junto com dois novos aliados. Juntos, eles terão que lidar com uma grave crise que pode levar ao fim do mundo.

Francamente falando, quando joguei Graces f pela primeira vez no PS3, não me importei tanto com os eventos e personagens, que no geral me pareceram fracos. Porém, retornando à obra atualmente, noto que há uma ótima sensibilidade na condução dos dramas que envolvem esses indivíduos.

Já sabendo dos eventos futuros, é possível sentir com mais força a dor dos personagens na reta final da fase da infância e a forma como a chegada à vida adulta deixou todos mais cínicos. Embora eu já gostasse da backstory de Lambda, também senti que tanto as cenas de história quanto as skits (conversas opcionais ao longo de todo o jogo) fazem um ótimo trabalho de mostrar a relação quebrada dos outros personagens e a forma como eles tentam refazer esses laços e refletem sobre si mesmos ao longo do jogo.

Agilidade e dinamismo

Uma das maiores forças da franquia Tales of é, sem sombra de dúvidas, o seu combate. Trata-se de uma franquia de RPGs de ação em que as batalhas seguem um formato que se assemelha bastante a jogos de luta, com inputs específicos resultando em ataques diferentes para realizar combos.

Em comparação com os jogos que de fato fazem parte do gênero, a estrutura é geralmente simplificada para associações mais básicas de comandos, mas a lógica continua sendo similar. Dentro da arena de combate, é importante saber encadear bem os golpes, se defender e se posicionar bem para lidar com os múltiplos inimigos, mas o jogador também conta com aliados que agem de forma independente em sua equipe.

No caso específico de Graces f, o que temos é um combate 3D extremamente ágil, sendo notavelmente um dos melhores da franquia. Um ponto que ajuda consideravelmente nisso é a estrutura de CC (Chain Capacity), que foi originalmente desenvolvida para o remake de PlayStation 2 de Tales of Destiny (infelizmente lançado apenas no Japão).

O sistema serve como um limite temporário para o uso de técnicas em vez do jogador ter um MP. A mudança não é apenas de nome, mas pelo fato de que basta um pouco de tempo em batalha para recuperar os pontos e poder executar mais técnicas, impedindo que o jogador fique incapacitado de usar suas habilidades.



Em comparação com um sistema de recursos mais limitado, o CC estimula o aprendizado do timing e a experimentação com mais frequência em vez de ser comedido com os gastos. Outro ponto importante é que, em vez de golpes básicos e especiais, temos as artes A e B, ambas com seus combos específicos.

As diferenças entre elas envolvem o fato de que os ataques A não podem ser customizados, enquanto é possível alterar quais golpes B estão associados a certos atalhos. Inimigos podem ser mais fracos a um dos dois tipos, além das suas outras desvantagens elementais. Há ainda dinâmicas específicas da transição entre golpes, com Asbel desembainhando a sua espada para usar técnicas B e depois podendo curar um pouco de sua vida ao voltar ao A.

Riqueza em customização

Além da escolha de golpes B para associar aos atalhos,Tales of Graces f permite escolher quaisquer personagens ativos no momento para controlar. Também é possível solicitar que os aliados usem técnicas específicas e alterar os seus equipamentos até mesmo no meio do combate.

Para melhorar a competência dos nossos personagens, podemos selecionar armas, armaduras e outros itens que afetam atributos (como ataque e defesa) e podem contar com bônus passivos diversos. Em vez de simplesmente descartar esses itens quando ficam obsoletos, um dos pontos interessantes do jogo é a forma como podemos fortalecê-los com o tempo.

Em Graces f temos um sistema de crafting chamado Dualize. Nele, podemos combinar dois itens para criar um outro, geralmente mais caro e potente. No caso específico dos equipamentos, é possível tanto criar armas mais poderosas como melhorar as nossas atuais adicionando cristais com habilidades passivas.

O equipamento melhorado ganha atributos e adiciona passivas que variam de acordo com as gemas utilizadas. Para poder fazer um novo upgrade depois, será necessário fazer com que os personagens usem o item em batalha até que a cor dele no menu mude de azul para laranja e uma notificação apareça ao fim do combate.

Além dos itens, os personagens podem equipar um título, que traz vantagens variadas. Mais que um benefício passivo, como acontece em outros jogos da franquia, os títulos em Graces servem também para desbloquear novas habilidades. Podemos ganhar bônus de atributos, novos golpes, benefícios passivos variados e até mesmo roupas alternativas.

Ao todo, esses sistemas fazem com que a customização dos aliados seja recheada de recursos para explorarmos. Vale muito a pena conhecer esses sistemas para fazer com que os personagens fiquem mais fortes e ainda melhores de usar em batalha.

Um mundo recheado de coisas para fazer

Para além de tudo que eu comentei, ainda é importante ter em mente a exploração de mundo. Como é tradicional da série, temos muitas coisas para fazer e podemos encontrar muitos tesouros e elementos secundários ao explorar os mapas.

Visualmente falando, é importante ter em mente que a exploração pode ser um pouco confusa. Especialmente nas áreas que conectam cidades e dungeons, há colinas e áreas de mata que não se distinguem tão claramente dos pontos exploráveis quanto deveriam.

Mesmo com esse problema, ainda há muita coisa para fazer, com tesouros e itens escondidos sendo um bom atrativo para tentar vasculhar tudo. Além disso, temos o sistema de descobertas, com áreas especiais que nos rendem itens e potenciais conversas com os nossos aliados.

Ainda vale destacar que temos um sistema de Eleth Mixer, que é uma espécie de gerador de itens que consome energia conforme andamos. Graças a ele, podemos tanto alimentar os personagens (recuperando HP e adicionando bônus) durante ou depois as batalhas quanto gerar materiais para uso ou para Dualize. Com livros especiais que encontramos ao longo do tempo, liberamos ainda mais vantagens.

Novidades da remasterização

Em termos visuais, confesso que Tales of Graces f Remastered não parece um avanço significativo, especialmente graças a algumas texturas borradas dos ambientes e modelos um pouco "quadrados" demais. Mesmo assim, o jogo continua sendo bem charmoso visualmente, com modelos de personagens bem expressivos e ambientes coloridos e ricos em detalhes, então não considero isso um problema significativo.

No PC, joguei em Full HD e 60fps com as configurações gráficas ligadas no máximo e não precisei me preocupar com alterar os valores. As configurações gráficas incluem a possibilidade de reduzir a resolução, fixar o fps em 30, 60 ou 120, alterar valores de qualidade de sombras, anti-aliasing e filtragem anisotrópica. Também há um outro menu para ajustar o brilho.

É possível jogar tanto no teclado e mouse quanto no controle e ajustar os botões designados para cada ação no menu apropriado. O multiplayer tradicional da série também está disponível, bastando designar que personagem estará associado a cada controle, com o primeiro jogador assumindo a navegação por menus e afins. Também é possível trocar entre as vozes em inglês e japonês, o foco da câmera em batalha e a velocidade das mensagens.

Uma das novidades aparece já no início do jogo com a abertura da Grade Shop e pontos já pré-designados caso o jogador queira começar com vantagens. Graças a isso, é possível acelerar a evolução dos personagens ou já estipular um desafio maior desde o início, com a chance de desabilitar algumas mudanças posteriormente.

De fato, a quantidade é tão alta, que assim que terminei o jogo e fui começar um New Game+, que também conta com a loja, meus pontos subsequentes eram muito menores do que os iniciais. Com isso, fiquei seriamente contemplando começar uma nova partida do zero para poder fazer tudo que perdi em minha primeira exploração para não perder os benefícios.

Outra adição bem relevante é que agora temos indicações de onde ir. Com um símbolo amarelo de exclamação, ficamos sabendo a direção para avançar a trama. Essa adição é bem útil, mas há alguns momentos em que ele pode trazer indicações errôneas, não levando em conta alguns puzzles necessários para avançar, especialmente em momentos mais avançados da história.

Ao fim das batalhas, também temos legendas para as mensagens de vitória, um elemento tradicional da franquia. Esses momentos são bem divertidos de poder acompanhar com a ajuda do texto no canto, mas há também algumas falas especiais durante as batalhas, como as da luta final, que ficam sem esse auxílio.

Por fim, ainda temos uma alta quantidade de conteúdo por DLC já incluso na base, embora a empresa ainda tenha feito alguns conteúdos extras novos para a edição Deluxe. Destaca-se aqui em especial a Battle BGM Pack, que traz duas músicas de cada um dos jogos principais da franquia como opção de música para ouvir durante os confrontos com os inimigos.

De forma geral, a sensação é a de que a remasterização traz adições úteis para deixar a experiência mais confortável, mas que cabia mais esforço. Um bom exemplo disso é o museu in-game, que conta com elementos como skits, músicas e vozes, mas não aproveita a ocasião para trazer mais informações sobre o processo de produção.

Uma nova chance

Tales of Graces f Remastered é uma nova oportunidade de um ótimo jogo da franquia chegar a uma nova audiência e permite que fãs antigos possam reviver essa pérola nos sistemas atuais. Embora não consiga se destacar em termos de remasterização, com muitos outros projetos de mais competência no mercado, o pacote completo de RPG de ação é uma fácil indicação para fãs do gênero.

Prós

  • Combate de ação dinâmico que recompensa o domínio do timing e combos;
  • Sistemas de títulos e equipamentos repleto de opções para explorar;
  • Personagens carismáticos cujos dramas pessoais são bem apresentados;
  • Boa variedade de tesouros e eventos espalhados pelo mundo valorizam a exploração;
  • Os sistemas de Dualize e Eleth Mixer valorizam o uso de itens;
  • As adições ao jogo, embora simples, fazem a experiência ser mais confortável.

Contras

  • Ambientes com fronteiras confusas de exploração;
  • As indicações de onde ir acabam ignorando alguns dos puzzles que impedem progresso na segunda metade do jogo;
  • Algumas falas de batalha mereciam também ter legendas;
  • O museu poderia trazer mais informações sobre as músicas e legendas para as vozes em vez de ter “apenas o conteúdo”.

Tales of Graces f Remastered — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC

Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Bandai Namco

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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