Infinity Nikki é a nova maneira dos chineses da Papergames venderem ambos os elementos a uma audiência pós-Genshin Impact: agora, em vez de estar confinada a um celular em modo retrato, a titular Nikki explora um imenso mundo aberto em três plataformas, na companhia de seu “gato-gente” Momo e com a ajuda das roupas mais fashion que as Briluzes podem comprar.
Embora possa parecer um mero aglomerado de coisas “da moda”, em vários sentidos, à primeira vista (e aos espectadores mais cínicos), o título garante seu lugar ao sol ao mostrar que nenhuma das partes de sua premissa é dispensável à experiência em sua forma mais pura — e, mais importante, ao não se levar tão a sério assim, porém, ao mesmo tempo, nunca deixando de lado uma inspiradora confiança em suas ideias.
Era uma vez…
Infinity Nikki começa quando a protagonista e seu mascote são sugados para a terra fantástica de Milagros, onde tudo é centrado na indústria da moda, depois de encontrarem um belo vestido no sótão de casa. Os dois se encontram com uma deusa moribunda e recebem a tarefa de ajudar a restaurar seu poder, usando o Coração do Infinito (uma espécie de árvore de habilidades) para desbloquear uma série de Looks Milagrosos. Não, eu não estou brincando.
O tom da história, à primeira vista, parecerá ser só daí pra baixo: uma grande parte do conteúdo principal e das missões secundárias tem o inabalável ar de um filme da Disney dos mais clichês, entre lições de moral explicadas à exaustão e finais felizes onde todos se entendem e se abraçam. Esses elementos, em sua abundância, podem ser cansativos para alguns, mas não se engane: eles sempre servem ao propósito maior da narrativa que Infinity Nikki tece.
Em Milagros, toda luz tem sua sombra — e, em uma terra que brilha tanto quanto esta, é de se esperar que haja uma escuridão profunda correspondente. De fato, para quem estiver prestando atenção, há sempre um pedacinho perturbador de história a metros de distância da mais nova roupa glamourosa que Nikki encontra. Este é um mundo abandonado pelos deuses, que conhece a guerra, a injustiça e até mesmo o racismo entre espécies.Não diria que a maioria das reflexões apresentadas é especialmente profunda, ou que os personagens são qualquer coisa além de arquétipos simples pelos quais se conta uma história — pessoalmente eu acho a Nikki uma tonta —, mas, mesmo assim, a mera presença desses elementos já é o suficiente para adicionar interesse ao título.
Walk, walk, fashion, baby
Como tudo em Infinity Nikki, a gameplay também gira ao redor da moda. Todas as atividades comuns aos jogos de mundo aberto atuais, como coleta de materiais e pescaria, alimentam a obtenção de novas roupas. Ao explorarem Milagros, os jogadores descobrirão Croquis — diagramas que correspondem a receitas de criação, para as quais tudo o que foi coletado ao redor do mundo vai.
Dependendo do que foi feito, as roupas obtidas são utilizadas de diversas formas. Caso um dos chamados Looks Funcionais seja criado, por exemplo, a nova bela indumentária de Nikki desbloqueia uma interação com o resto do mundo. Há uma roupa para planar, uma para combate simples, uma para pescar e até uma para tocar violino.
A outra grande aplicação da moda está presente nos Desafios de Estilo. Sob certas circunstâncias, alguns personagens pelo mundo irão querer que Nikki mostre seu charme em um ou dois de cinco temas: Adorável, Elegante, Na Moda, Leve ou Sensual, com a presença ocasional de alguns subtemas como Retrô ou Romântico. A ideia é que o jogador crie um look próprio e completo do zero, seguindo uma frase-chave que os desafiantes fornecem.Na prática, contudo, o que acabei fazendo na maioria das vezes foi apenas escolher algo pronto com alta pontuação (nunca pensei que a roupinha de pescadora fosse cativar tanta gente). A presença da mecânica de Cintilação, que permite subir o nível de cada peça de um look ou todas de uma vez a um preço, acaba por encorajar essa abordagem: é só ter um conjunto matador para cada categoria e pronto.
Essa capacidade de burlar as regras para facilitar o jogo representa outro grande problema de Infinity Nikki: a falta de uma dificuldade adequada. É um aspecto entendível na maioria das vezes, devido ao público-alvo mais casual do título, porém, francamente, a simplicidade ridícula da maioria dos quebra-cabeças pelos quais tive de passar para conseguir a moeda específica do Coração do Infinito (e essa é especialmente encorajada, porque Momo nunca para de dizer quando há uma por perto) me fez pensar “por que vocês só não me dão esse negócio de uma vez?!”.
Apesar de tudo, passar pelos “desafios” vale a pena pelas recompensas: as lindíssimas roupas, o apelo principal da série Nikki. São centenas de peças diferentes que podem ser combinadas de quase todo jeito (menos quando um cabelo é incompatível com um acessório). Se você é como eu e passou a infância em sites de “jogos de meninas” vestindo bonequinhas, sua criança interior com certeza se sentirá no paraíso.
A respeito do modo guarda-roupa, só tenho duas reclamações. A primeira é a falta de diversidade de cabelos — um problema comum em jogos que vêm da Ásia Oriental, como é o caso aqui. É raro que eu consiga encontrar meu cabelo, que, quando não está raspado, como na foto ao final deste artigo, é bem encaracolado. Levando em consideração que títulos como o japonês Animal Crossing: New Horizons já adicionaram estilos cacheados após demanda dos jogadores, espero que Infinity Nikki, que já depende mesmo de atualizações constantes, faça o mesmo.
O outro ponto é específico do PlayStation 5: em contraste com a beleza dos visuais, os controles nesse modo são horrorosos. Leva vários segundos até que o jogo sequer registre que eu mexi o analógico e estou tentando passar pelos menus. Uma atualização recente afirma ter melhorado problemas do tipo na plataforma, mas, pessoalmente, ainda não senti diferença; espero que o problema seja consertado por completo em breve.
Até o fechamento desta análise, a minha Nikki estava assim: totalmente diva!
Não precisa de dinheiro, mas bem que ajuda
A comparação com Genshin Impact que faço no começo deste texto é menos sobre o mundo aberto em si e mais sobre o modelo de negócios adotado. Infinity Nikki praticamente a convida a todo ponto, especialmente no design dos menus: por exemplo, a UI da Jornada Milágria é visualmente idêntica ao Passe de Batalha do filho mais amado da HoYoverse, sob a mesma lógica. Os dois títulos também competem pela grana adicional dos jogadores com a mecânica de gacha, que já é velha conhecida da série Nikki.
Aqui, temos uma abordagem interessante: além da já consagrada função de pity, onde o sistema gera um item de 4 ou mais estrelas a cada dez tentativas e garante um item exclusivo após um outro dado número fixo, Infinity Nikki dá uma peça de roupa a mais em certos intervalos — normalmente, maquiagem que combine com o look em destaque, ou uma capa nova para o Momo.
Este é o banner permanente. Nele, um dos quatro looks que o jogador escolher tem a garantia de chegar aos poucos. A escolha pode ser trocada a qualquer momento.
Mas e quando todas as peças de um look saem no gacha? Nesse caso, o estímulo a seguir girando a roleta é a mecânica de Evolução: ao coletar um look completo mais uma vez, o jogador tem o direito de criar uma versão de cores diferentes, pré-definidas. A Evolução também pode ser alcançada por looks recriados pelo menu de Croquis.
Pessoalmente, eu me recuso a gastar dinheiro em qualquer gacha, preferindo guardar as moedas gratuitas que ganho para usar quando algo que eu realmente queira aparecer. Minha abordagem “free-to-play radical” não viu quaisquer problemas, devido a três fatores: abundância de jeitos dentro do jogo de se conseguir os Diamantes necessários, várias belas roupas disponíveis fora do gacha e, por último, o fato de que os looks exclusivos não afetam demais a gameplay. Tudo isso se junta para criar um sistema justo e sólido.
Luz na passarela que lá vem ela
Apesar de problemas com ajustes de dificuldade, Infinity Nikki se prova uma ótima e acessível opção para quem busca um gacha justo e um bom mundo aberto, enquanto pinta os contornos de uma narrativa mais intrigante do que parece. Explorar cada canto de uma bela terra de fantasia nunca foi tão estiloso!
Prós
- História simples, mas que entretém pelas várias facetas;
- Ótimas opções de customização;
- O sistema de gacha não é intrusivo.
Contras
- Tom clichê pode desagradar alguns;
- Pouco desafio;
- Falta de diversidade nas opções de cabelos;
- No momento, os controles no PS5 apresentam problemas.
Infinity Nikki — PC/PS5/Android/iOS — Nota final: 8.0
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Alessandra Ribeiro
Análise produzida com cópia digital da edição free to play