Fazendo parte daquelas surpresas que ninguém espera, mas todos comemoram, Freedom Wars ganha uma versão remasterizada depois de passar 11 anos como exclusivo de PS Vita e quatro com seus servidores online desligados.
Trazendo de volta um mundo devastado por guerras em missões em grupo, online ou com ajuda de NPCs, o jogo ganha uma repaginada em controles e gráficos, além de algumas melhorias de vida. Mas… talvez isso não seja o bastante para encaixá-lo no cenário atual, uma década após seu lançamento original.
História? O importante é guerrear livremente!
Freedom Wars é algo que tem uma boa embalagem, mas o que importa mesmo é o seu conteúdo: o jogo conta a história de facções que tomam conta de diversos distritos no Japão após desastres e guerras arruinarem a civilização. Fazendo parte de uma dessas facções, o jogador tem uma sentença de um milhão de anos em sua cabeça e precisa embarcar em diversas missões para diminuir sua pena.
Esse é um resumo básico da trama de Freedom Wars, um enredo que está ali só como uma justificativa para muito tiro, grind e diversão com amigos ou NPCs. A história do jogo é extremamente superficial, até para quem não liga para uma narrativa mais elaborada. E não há nenhum problema nisso.
Mas claro, há alguns elementos que até fazem o jogador se importar com alguma coisa que está acontecendo naquele momento. Alguns personagens como Uwe, o brutamontes que serve como tank nos campos de combate, tem quase a mesma personalidade — e design — de Barret em Final Fantasy VII. Alguns outros personagens, como Elfriede, uma “attacker” e Percy Propa, o mascote sarcástico do governo, também divertem nos momentos em que aparecem.
Uma cartilha estética seguida a risca
Mas o personagem principal? Bem, com todo aquele sabor de jogos da Bandai Namco na última década, o protagonista é feito em um criador de personagem à la Code Vein ou Sword Art Online: Fatal Bullet. Mas não espere uma customização profunda ou com direito a mexer em coisas mínimas como tamanho de olhos, aqui a customização é a mais genérica possível.E a parte estética de Freedom Wars segue essa mesma linha, infelizmente: alguns coadjuvantes principais até tem algumas características que fazem seus modelos serem únicos, mas no geral, todos os modelos se parecem e dão um ar repetitivo ao mundo dos Panopticons, as cidades do jogo. As próprias cidades, aliás, também sofrem da repetição e da mesmice. É difícil saber que lugar é qual lugar enquanto ainda está se ambientando no jogo.
Curva de aprendizagem complicada e nem um pouco perfeitinha
O que faz Freedom Wars se tornar um jogo divertido, porém, é a profundidade de suas mecânicas e a possibilidade de diversão com até três amigos em modo cooperativo online. Uma vez que você consegue entender e entrar na vibe de diversos menus diferentes — às vezes mais desorganizados do que deveriam —, ajustar sua classe, seu armamento, itens e até seu companheiro pessoal, chamado de “Acessório”, o jogo deixa todos os defeitos de lado e se torna uma divertida e rápida diversão para gastar umas boas dezenas de horas.Sendo um jogo de tiro em terceira pessoa que mistura elementos de hack ‘n slash, o jogo possui uma boa variedade de armas, tanto de fogo quanto brancas, proporcionando várias builds interessantes e possibilitando uma experimentação quando encaixado com a equipe certa. Metralhadoras, lança foguetes, katanas e até alabardas, o jogador pode escolher entre dezenas de armas e também customizá-las com elementos e mods, já que inimigos possuem fraquezas para certos tipos de dano.
Descobrir isso, por outro lado, é um desafio: o jogo não te explica da maneira mais intuitiva como esses elementos agem, nem como mods em armas e no seu personagem funcionam, e informações ficam perdidas em textos perdidos em pequenas descrições e títulos que pouco fazem sentido à primeira vista. Saber se algo está funcionando através de DPS (dano por segundo) é quase impossível e extremamente subjetivo, mas por causa de um gameplay melhor balanceado com relação à versão original, o jogador casual não vai ter muitos problemas para chegar no final da campanha principal, reservando o desafio máximo às missões do post-game.
Amigos amigos, guerras à parte
O fator online do game é talvez o grande chamariz para quem quer extrair o máximo de Freedom Wars e agora em plataformas com uma base maior de usuários, ele pode abocanhar um bom número de jogadores. Além de poder completar o jogo com amigos em modo cooperativo, também há competições contra outros humanos e disputas indiretas, como quem contribui mais para For The Greater Good, a entidade acima de tudo e todos no jogo.
Falando nisso, o jogo tem um senso de humor com seu próprio ritmo às vezes e em vários momentos só pude me perguntar se isso era intencional ou se era eu que estava sendo vítima de um humor involuntário. Jogando, principalmente no início, você pode ter a pena aumentada por não avançar um diálogo com um NPC, dar mais de dez passos dentro da sua cela, ou mesmo tentar dormir. Tudo isso porque “incomoda” as autoridades. Claro que isso pode ser revertido com a compra de passes que lhe permitam algumas atitudes básicas, tudo sem o menor impacto em gameplay real.
Contrabalanceando o fator diversão, mesmo com amigos, está a estrutura de gameplay loop e os próprios inimigos que se opõe nessa peleja que já dura um tempo no mundo de Freedom Wars: O jogo se baseia em pequenas missões que variam entre “derrote todos os inimigos”, “resgate todas as vítimas sequestradas”, “capture todos os pontos de controle” e não passa muito disso.
Os inimigos também são um tanto quanto repetitivos, tanto os foot soldiers que carregam armas parecidas com as suas, variando entre foguetes e martelos gigantes, quanto os monstros gigantes que apesar de virtualmente diferentes uns dos outros em todas as missões, no final são apenas variações do mesmo, tirando poucos inimigos que servem como chefes e possuem modelos próprios.
(Des)inteligência artificial não é de hoje
Vale notar também que a inteligência artificial do game é um tanto quanto ruim — para não ser totalmente negativo em minha crítica —, já que tanto inimigos humanos comuns quanto NPCs aliados vivem batendo em obstáculos e só te ajudam quando estão muito próximos a você. Os inimigos gigantes também não são exatamente mais espertos, mas tem uma programação de priorizar atacar o protagonista quando em modo offline, fazendo com que você morra rápido e não consiga realizar ações que levem tempo ou que demandem ficar parado. A morte aqui é certa.
No final das contas, Freedom Wars REMASTERED é um bom exemplo de como um bom game em um portátil à 11 anos atrás era uma maravilha tecnológica e com um gameplay viciante, mas que hoje em dia, com as poucas melhorias que recebeu, se torna algo passável.
O jogo em si não é ruim, mas nesse nicho de batalhas de arenas em grupo contra inimigos gigantes que demandam estratégia e paciência, há outros exemplos melhores em todos os cantos: Monster Hunter Wilds vindo aí para os consoles e PC, God Eater em gerações anteriores e até Soul Sacrifice no finado PS Vita. Enquanto isso, Freedom Wars fica como uma opção para caso você realmente seja entusiasta do gênero.
Prós:
- Arsenal de itens com muitas opções de customização e de build para montar uma equipe que se encaixe no seu estilo de jogo.
- Personagens coadjuvantes que apesar de não serem super interessantes, entretém em uma história nada impactante.
- Jogar em coop com três amigos com a possibilidade de praticamente zerar o jogo juntos, além de fazer o post-game.
Contras:
- História nula e, de certa forma, enfadonha.
- Inimigos repetitivos, com modelos reciclados e com pouca originalidade.
- Direção de arte e estética muito próxima de outros jogos lançados pela Bandai Namco na última década, o que o deixa sem muita identidade.
- Tutoriais que fazem um péssimo trabalho para instruir quem quer conhecer o jogo ou mesmo o subgênero.
- Missões que na maioria das vezes são iguais umas às outras.
Freedom Wars REMASTERED — PC/PS5/PS4/Switch — Nota: 6.0
Versão utilizada para análise: PS5
Análise feita com cópia digital cedida pela Bandai Namco