Análise: Dynasty Warriors: Origins traz novas e interessantes propostas para o estilo musou

Com uma experiência mais focada na narrativa, o novo jogo da Omega Force acerta nas inovações sem esquecer das tradições

em 14/01/2025
Nos últimos anos, Dynasty Warriors foi uma franquia que perdeu um pouco de destaque dentro do gênero musou. A Omega Force (desenvolvedora por trás da maioria das produções do gênero) passou a focar mais na adaptação de outras séries, como The Legend of Zelda, One Piece e Fire Emblem, todas trazendo os tradicionais campos de batalha repletos de centenas de inimigos. Além disso, muitos desses jogos acabaram sendo limitados por hardwares mais fracos em poderio.

Com a chegada da atual geração de consoles e cerca de sete anos após a última interação da série, Dynasty Warriors: Origins surge com a proposta de levar uma experiência "de nova geração" para todo o gênero. No entanto, a Omega Force fez mais do que apenas rechear os cenários com mais soldados, decidindo trazer mudanças para a fórmula tradicional do musou. Mas será que essas inovações acertaram na prática?

O Romance dos Três Reinos numa nova perspectiva

Como de praxe em Dynasty Warriors, Origins reconta a clássica história do Romance dos Três Reinos, conto que narra, com certa liberdade poética, o período histórico da unificação chinesa no século II d.C., assim como o de seus antecessores. A principal diferença desta vez é que, em vez de tomarmos o lugar do patriarca de alguma facção, assumimos o papel de um novo personagem.

O protagonista, chamado de Andarilho, não possui memórias de sua vida anterior e acaba envolvido na trama por acaso. Ele apenas se lembra de ser um Guardião da Paz, um grupo dedicado a alcançar tempos mais tranquilos, infiltrando-se nos grandes conflitos para atingir esse objetivo. Dessa forma, acompanhamos metade dos eventos do Romance dos Três Reinos sob essa nova perspectiva.

Seguir uma narrativa focada em apenas um personagem dá à história um ritmo mais tradicional, em contraste com o formato clássico de Dynasty Warriors, no qual o jogador escolhia um personagem e vivenciava seu ponto de vista do conflito. Para alguém que conhece pouco ou nada sobre o contexto histórico, Origins apresenta a história de forma mais acessível.

Por outro lado, o Andarilho é semelhante a um protagonista mudo de um JRPG — ou seja, carece de personalidade. Para os fãs que preferem controlar personagens específicos, como Guan Yu ou Sun Shangxiang, isso só será possível em certas missões como assistências situacionais (explicarei mais sobre isso em breve).

Estruturalmente, os diálogos são apresentados em cenas que alternam entre simples e mais elaboradas, com algumas escolhas falsas de respostas aqui e ali. Embora a experiência seja mais guiada pela narrativa, o desfecho depende das alianças que fazemos na metade da campanha, sem considerar o sistema de afinidade com determinados personagens. Posteriormente, é possível reiniciar uma missão com outras condições que guardam algumas surpresas interessantes.

Uma questão que me incomodou foi a falta de opções de customização para o protagonista. Não é possível alterar sua aparência geral nem suas vestimentas. Isso teria se alinhado bem com a proposta de controlarmos uma "folha em branco" nessa história, e vale lembrar que já tivemos criadores de personagens na série antes.

O campo de batalha

A estrutura básica de Dynasty Warriors: Origins é familiar. Entramos em um mapa amplo com centenas de soldados rasos e dezenas de inimigos mais fortes, atacamos vários ao mesmo tempo com poucos golpes e monitoramos o andamento da batalha. Durante os confrontos surgem diversos objetivos dinâmicos, como dominar territórios, derrotar personagens específicos ou destruir objetos que estão atrapalhando a missão.

O sistema de combate é um ponto diferente para o novo título. Algo que pode surpreender jogadores menos familiarizados com musou é que simplesmente sair atacando sem planejamento quase sempre levará ao fracasso. O pensamento estratégico se torna um elemento muito mais relevante aqui.

É essencial prestar atenção na vida dos aliados mais importantes e assegurar o domínio de bases estratégicas para reduzir o grau de motivação da força opositora. Decidir quem derrotar primeiro e como abordar as investidas adversárias pode facilitar (ou complicar) a batalha. Uma desatenção ou má escolha podem rapidamente comprometer toda a missão.

Felizmente, Dynasty Warriors: Origins oferece uma solução interessante para casos de falha. Somos apresentados por uma linha do tempo que registra todos os eventos ocorridos no mapa, mostrando a movimentação de aliados e inimigos. Assim, é possível identificar um ponto crítico e reiniciar a partir do checkpoint mais próximo, ao invés de recomeçar toda a batalha.

A estrutura da campanha também foi reformulada, abandonando o criticado mundo aberto de Dynasty Warriors 9. Em vez disso, Origins adota um formato semelhante ao de um JRPG. O jogador navega por um mapa-múndi com várias localidades disponíveis, como lojas, NPCs, itens para coletar, além de missões principais e secundárias. Essa abordagem torna o ritmo mais dinâmico e dá ao jogador maior liberdade para decidir o que priorizar.

Ninguém deve ser negligenciado

Inicialmente, o jogador luta apenas com uma espada, mas novas armas são desbloqueadas gradativamente ao completar certas missões. Cada arma tem suas vantagens e desvantagens em termos de força e velocidade, além de nuances únicas na movimentação. Por exemplo, uma luva pode ser ideal para combates individuais enquanto uma espada pesada se destaca por sua eficiência ao enfrentar múltiplos inimigos ao mesmo tempo.

Os combos de ataques leves e fortes permanecem como de costume, mas o jogo traz um diferencial: é possível desbloquear mais movimentos especiais à medida que o nível de proficiência com cada arma aumenta. Podemos equipar até quatro desses especiais, cada um com custos específicos de valentia, e que se recarregam durante o combate.

Também deu para notar que a Omega Force incorporou elementos de combate inspirados em Wo Long: Fallen Dynasty, da Team Ninja, cujo bebe da mesma fonte histórica e também é da Koei Tecmo. Além de bloquear, podemos aparar ataques inimigos, esquivar com quadros de invencibilidade, monitorar a barra de postura de inimigos mais fortes e reagir a movimentos indefensáveis fugindo ou realizando um golpe atordoante.

Embora a dificuldade esteja longe de Wo Long, os oponentes em Origins não devem ser subestimados. Enquanto soldados poderosos podem requerer mais atenção, os rasos podem se tornar uma ameaça caso o posicionamento do jogador seja descuidado. Avançar sem pensar pode custar um bom tempo para recuperação de energia, em vez de engajar em algum objetivo.

Em algumas circunstâncias, podemos desafiar um general para um duelo isolado por um minuto.
Em certas missões, um aliado especial pode ser chamado após encher uma barra específica. Nessas ocasiões, podemos controlar outros personagens por um curto período. Cada um possui um conjunto próprio de movimentos, proporcionando momentos de pura catarse — especialmente nos ataques especiais. É uma pena que não dê para controlá-los em algum tipo de modo Free Play em Dynasty Warriors: Origins.

Outra novidade é o Olho do Pássaro Sagrado, uma habilidade que oferece uma visão ampla da área de combate. Com ele, podemos identificar os membros mais importantes de cada tropa, destacar bases estratégicas ou localizar objetos que estão interferindo magicamente na batalha.

Mais adiante na campanha, essa habilidade ganha uma funcionalidade adicional: podemos comandar soldados aliados para executar ações específicas, como destruir estruturas, focar em alvos prioritários ou organizar ataques massivos.

Apesar de o combate ser divertido, ele não escapa da repetição típica do gênero — algo que, para mim, é aceitável. O que pode tornar algumas partes cansativas é a alta resistência de certos inimigos. Em alguns casos, atacar continuamente para quebrar suas defesas pode levar mais tempo do que se espera.

Além de evoluir os atributos do protagonista conforme ele sobe de nível, desbloqueamos árvores de habilidades que oferecem vantagens como cura ao atingir baixa vida ou aumento de ataque. Também é possível equipar acessórios com efeitos variados. Embora o volume de sistemas pareça complexo à primeira vista, sua estrutura é mais intuitiva do que aparenta ser.

Uma experiência de “nova” geração

Esperar cenários abarrotados de soldados é o esperado em um musou, mas Dynasty Warriors: Origins eleva isso a um novo patamar. Em vários momentos, a quantidade de inimigos na tela é absurda, ultrapassando facilmente mais de 100 soldados avançando simultaneamente. É impossível não se impressionar quando realizamos um ataque que lança todos pelos ares como se fossem bonecos de pano.

Uma evolução muito bem-vinda está na ambientação. O design das arenas maiores apresenta maior diversidade de relevos e terrenos, enquanto as fases fogem de um formato padrão, oferecendo trajetos e bases com estruturas mais variadas. Apesar do reaproveitamento de cenários para missões menores, a variedade geral é bastante satisfatória.

A parte técnica é outro destaque, tanto na apresentação gráfica quanto na otimização. Embora seja possível perceber sacrifícios em detalhes como texturas e vegetação para acomodar tantos personagens na tela, o resultado é agradável e não compromete a estética geral. Estamos finalmente livres daquele efeito exagerado de oclusão de ambiente e texturas horrendas de Dynasty Warriors 9.

No PC, a otimização é impressionante. Mesmo em situações com grande complexidade visual, as quedas de desempenho são raras e não chegam a prejudicar a experiência. No entanto, é uma pena que o jogo não inclua tecnologias de upscaling, como DLSS e FSR, que poderiam melhorar ainda mais a fluidez para quem busca maior desempenho.

Seguindo o legado da franquia, Dynasty Warriors: Origins oferece uma trilha sonora impactante para embalar a ação, com guitarras e baterias dominando a atmosfera de guerra. A dublagem japonesa continua de altíssimo nível, enquanto as vozes em inglês mostram uma melhoria significativa em relação aos títulos anteriores.

Contudo, um ponto negativo é a ausência de localização de textos para o português. Com uma abundância de cutscenes e diálogos em tempo real, a falta de suporte ao nosso idioma pode dificultar a compreensão da história para quem não domina as línguas disponíveis no jogo.

Preciso destacar uma outra ausência notável: a falta de um modo cooperativo local. O título segue a tendência de muitos jogos da geração atual ao negligenciar a jogatina de sofá, que sempre foi um dos pontos altos para ampliar a diversão em diversos musou lançados anteriormente. Uma escolha lamentável.

Um Dynasty Warriors que pode ser divisivo, mas que apresenta uma devida qualidade

Acredito que Dynasty Warriors: Origins foi concebido para atrair um público maior para o gênero musou, adicionando uma camada extra de variedade à fórmula tradicional. Para o meu gosto pessoal como um apreciador desse estilo de jogo, fiquei bastante satisfeito. O combate tem mais profundidade, a narrativa é mais linear e a estrutura diversificada conferem um ar renovado a este reboot, afastando-o da sensação de ser apenas "mais do mesmo".

No entanto, é importante ressaltar que essa abordagem diferenciada pode não agradar a todos os fãs da franquia, especialmente devido à obrigatoriedade de jogar com um único personagem e à ausência de opções de customização visual para ele. Ainda assim, a proposta apresentada aqui representa uma nova direção para os jogos da Omega Force, oferecendo um ponto de partida promissor para futuras produções.

Prós:

  • Sistema de combate muito prazeroso, tanto contra hordas de inimigos quanto com soldados especiais;
  • Mapa explorável mais funcional do que o mundo aberto vazio do jogo anterior;
  • Muito conteúdo que proporciona horas de jogatina;
  • História apresentada de forma mais acessível e linear;
  • Diversas armas que contam com movimentos únicos para cada uma;
  • Ótimo trabalho de otimização para PC.

Contras:

  • O protagonista não possui personalidade alguma, o que pode incomodar para o aproveitamento da narrativa;
  • Apenas o Andarilho é jogável na maior parte do tempo, deixando os outros personagens como recursos temporários em algumas missões;
  • Falta de modo cooperativo local, algo que era recorrente na franquia e em alguns spin-offs;
  • O fator de repetitividade inerente ao musou continua presente aqui;
  • Falta de localização de texto para português.
Dynasty Warriors: Origins — PC/PS5/XSX — Nota: 8.5
Versão utilizada para análise: PC
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise produzida com cópia digital cedida pela Koei Tecmo

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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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