Análise: Die by Anything — se concentrando para não morrer

Ajude um jovem a chegar vivo ao final do dia fazendo as escolhas certas. Uma escolha errada e você pode erradicar toda a raça humana.

em 22/01/2025
Acordar, tomar café, ir para a escola, voltar para casa, jantar e dormir: uma rotina diária de qualquer estudante normal. Entretanto, e se você quiser fazer algo diferente? Talvez mudar de caminho ou ignorar uma poça de água na calçada? As consequências dos seus atos podem ser fatais e Die by Anything ilustra isso de uma maneira macabramente criativa.

Cuidado por onde anda

A proposta de Die By Anything é simples: trata-se de uma visual novel que te coloca no papel de um garoto que acabou de acordar e só precisa ir e voltar para casa são e salvo. Sempre temos cerca de duas ou três opções para escolher como prosseguir. A questão é que, enquanto algumas são inocentes, outras podem desencadear eventos terríveis que levarão à morte do protagonista.

Por exemplo: logo ao abrir os olhos, temos que escolher se vamos colocar o pé direito ou o pé esquerdo no chão. Se escolhermos o direito, a vida segue; se escolhermos o esquerdo… bom, não darei spoiler, mas o resultado é exageradamente trágico. Ao todo são 30 finais com diversos caminhos que podem te levar a um fim engraçado, um apocalipse zumbi, uma chegada tranquila em casa ou a uma escapada com a ajuda da polícia.

Não há muito o que falar em termos de jogabilidade, já que basicamente só lemos diálogos e escolhemos alternativas, mas algo que considerei interessante é que há caminhos similares, mas com respostas opostas que levam a finais diferentes. Por exemplo, em certa rota, estamos no esgoto e encontramos um pé de cabra. Se o levarmos, podemos nos proteger de várias ameaças e sair vivos de lá, e qualquer escolha que não seja combativa nos leva à morte. Logo, há uma narrativa paralela na qual carregar o pé-de-cabra só nos leva a um fim estranho, enquanto deixá-lo de lado nos mantém a salvo por mais alguns quadros.

Vale ressaltar também que o narrador da história também desempenha um ótimo papel humorístico, rompendo a cortina que o separa do protagonista e chamando a atenção dele, chegando até a tirar uma com a cara do coitado, de acordo com o que vai acontecendo.

Fazer três dezenas de finais parece cansativo, mas pelo menos há a opção de retomar a história de qualquer quadro que precede uma decisão. Isso ajuda a tornar a tarefa menos cansativa, já que seria muito arrastado refazer um caminho todo por causa de uma decisão tomada nos instantes finais da história.

Sobrou graça, faltou personalidade

A ideia de evitar a própria morte a todo custo é apresentada de maneira bem-humorada, mas a composição estética de Die by Anything é no mínimo desleixada. Visual Novels têm como padrão o costume de apresentar cenas (estáticas ou animadas) com personagens marcantes para cativar seu público. Não é o que acontece aqui.

Os fundos e personagens são um tanto quanto genéricos e carecem de algo que chame a atenção. Sem contar que, para tentar acentuar o quanto a trama está tensa, é feita a estranha escolha de utilizar cenas e elementos em preto e branco, como se fossem ilustrações vetoriais, o que eu particularmente eu acho um pouco feio. 

Em contrapartida, e em um estilo que também utiliza apenas o preto e o branco, sempre que alcançamos algum final, bom ou ruim, a cena mostrada se desenvolve como uma página de história em quadrinhos. Uma pena não ser possível visualizar todas elas em uma galeria à parte. Elas estão disponíveis apenas jogando e se você quiser rever alguma, terá que escolher um quadro anterior aos créditos e refazer a escolha que leva àquela conclusão. 

Os textos também são impactados negativamente de diversas maneiras. A principal é que o jogo conta com português brasileiro na lista de opções, mas ao selecionarmos nosso idioma, é possível perceber uma mistura bem desconexa feita com termos do português de Portugal ou espanhol, além de trechos que aparecem em inglês mesmo. Da mesma maneira que, se jogarmos em inglês, dá para perceber um escorregão ou outro com palavras de outras línguas aparecendo.

Os balões de diálogo seguem o padrão estético pobre, não tendo nenhum apelo visual. Tudo isso se torna ainda mais bizarro pelo fato do jogo não ter uma voz sequer, inclusive as músicas de ambiente são sonsas e totalmente ignoráveis. 

Como o jogo foca somente no protagonista e se desenvolve rapidamente, levando em torno de 45 minutos para os caminhos mais longos, esses defeitos até que passam despercebidos em alguns momentos. Entretanto, ao jogar continuamente a fim de conseguir todos os finais, a presença deles é bem perceptível.

Uma morte boba

Die by Anything perde a chance de ser uma visual novel de comédia criativa por causa da falta de capricho em seu aspecto gráfico e sonoro. A ideia de ter uma premissa pirada, que vai do cotidiano normal a um holocausto zumbi, sofre por ter que depender apenas da narrativa e não contar com nenhum apoio estético, o que é algo vital para o gênero.

Prós

  • A história pirada tem bons momentos de humor;
  • Ao todo são 30 finais, um mais exagerado que o outro;
  • É possível começar em qualquer quadro liberado previamente, apenas alterando suas decisões, sem ter que voltar tudo para abrir novas rotas.

Contras

  • O visual dos personagens, ambientes e caixa de diálogo é genérico e deixa o jogo sem personalidade;
  • Troca de estilo artístico no meio da narrativa pode não ser bem vista pelo público;
  • A trilha sonora é inexpressiva;
  • Diversos erros de concordância e mistura de termos do português de Portugal com o brasileiro e até espanhol.
Die by Anything — PC/PS4/PS5/Switch/XBO/XSX — Nota: 4.5
Versão utilizada para análise: PS5
Revisão: Juliana Piombo dos Santos
Análise feita com cópia digital adquirida pelo redator
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Carlos França Jr.
é amante de joguinhos de luta, corrida, plataforma e "navinha". Também não resiste se pintar um indie de gosto duvidoso ou proposta estranha. Pode ser encontrado falando groselhas no seu twitter @carlos_duskman
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