Análise: Alexandria IV é uma experiência de space opera em que a diplomacia é central

Visual novel com roteiro do escritor carioca J.M. Beraldo traz intrigas de um universo empolgante de space opera.

em 20/01/2025
Escrita pelo carioca J.M. Beraldo e desenvolvida pela Time Galleon, Alexandria IV é uma visual novel brasileira de ficção científica. O jogo foi lançado em 2024 no PC (Steam) com opções de legenda em português, inglês e chinês, apresentando uma ambientação bem curiosa.

Distante da civilização, mas não dos problemas

Alexandria IV é uma estação espacial das Nações Unidas da Terra localizada na longínqua região de Groombridge 34. Como comandante dessa estação, cabe ao jogador tomar decisões para lidar com as várias ocorrências que ameaçam a sua estabilidade.

E situações perigosas não faltam para a Alexandria IV, que, embora esteja afastada da civilização, ainda conta com uma mescla tumultuada de figuras de origens diversas. Problemas incluem ter que lidar com as representantes das corponações (isto é, nações corporativas) que convivem em pé de guerra, o mercador niteriano que tenta ter vantagem em tudo a qualquer custo e o ocasional contato com outras espécies.

Por conta do nosso posto como comandante, precisamos tomar várias decisões ao longo dos capítulos para resolver os problemas da estação. Em alguns casos, pode ser necessário pulso firme ou níveis variados de diplomacia para manobrar os interesses conflitantes dos personagens.

Um universo de ambições

Alexandria IV faz parte do universo Véu da Verdade do escritor J.M. Beraldo, que inclui também os livros “Véu da Verdade” e “Jogos de Guerra” e campanhas de RPG de mesa. Há ainda o videogame Strike Squadron: Caracará de 2016.

De forma geral, todas as obras buscam explorar o estilo space opera, que é um subgênero da ficção científica focado no drama da exploração espacial. Nesse sentido, Alexandria IV é uma ótima forma de mergulhar nesse universo e conhecer mais sobre ele.

Pessoalmente, este é o meu primeiro contato com as obras do escritor e fiquei bastante curioso com os elementos da ambientação. Mesmo havendo um universo maior com detalhes mais amplos, não senti que em nenhum momento me foi exigido saber mais do que o jogo me ofereceu de informação.

As polarizações, diferenças culturais e disputas de poder são muito bem explicadas pelo jogo de forma ágil e eficiente. Uma das coisas que acho mais interessante na experiência é a forma como saber ser maleável e diplomático traz resultados futuros, fazendo com que a tripulação confie mais no comandante e ajudando o jogador a evitar repercussões catastróficas.

Para realizar as escolhas mais graves, podemos delegar algumas tarefas a nossos subordinados diretos. De um lado, temos a major Velika Cerna, uma militar bem rígida no respeito à disciplina. Do outro, o major Leopold Meier-Rahmani, um supersoldado marciano que, apesar de sua grande força física, prefere resolver tudo na base do bom diálogo.

Nas discussões diretas que realizamos, pode ser necessário deslocar naves para patrulhar ou proteger um grupo, mas o jogo constantemente nos lembra que os nossos recursos são limitados. Nossas decisões afetam a resolução dos casos de cada capítulo, com o jogo sempre trazendo novas dificuldades.

Porém, também há alguns momentos de calmaria. Quando a nave não está em chamas, temos a oportunidade de tomar um café da manhã com algum dos personagens. Nesses momentos, descobrimos um pouco mais sobre as origens dos indivíduos que selecionamos.

Os aspectos técnicos

Em termos gerais, Alexandria IV tem uma estética ocidental com personagens que seguem um traço de cartum realista. As ilustrações de Marcelo Bissoli contam com bastante riqueza de detalhes em suas anatomias, sejam de humanos ou indivíduos alienígenas com formas mais diversas. Seus trajes geralmente mais militarizados reforçam uma sensação de foco em performance.

Esses personagens são animados com pequenos gestos, respiração e outros detalhes que ajudam a deixá-los mais vivos. Isso também é aproveitado para os ambientes que exploramos, mas de forma mais sutil. Geralmente, há pessoas que aparecem e desaparecem em ambientes que deveriam ser movimentados, mas o jogo também conta com alguns errinhos que fazem com que esses indivíduos apareçam também em áreas equivocadas.


Os ambientes de forma geral são muito bem aproveitados, representando uma visão já consolidada de como seria o interior de uma nave para exploração espacial no futuro. Há ainda pequenas sequências em momentos chave da trama que ajudam a destacá-los com elementos de ação e há até algumas variações dependendo das escolhas do jogador.

Infelizmente, o mesmo carinho da parte visual não parece ter sido aplicado à trilha sonora. Embora as músicas e efeitos sonoros sejam adequados ao contexto, eles são pouco expressivos e não chamam atenção. Essa ausência acaba reduzindo o impacto geral das cenas consideravelmente.

Outro problema é que a revisão textual acaba deixando a desejar. Há uma quantidade considerável de erros ao jogá-lo em português, especialmente no que tange a digitação e ortografia. Não é o suficiente para tirar os méritos da experiência — até porque, infelizmente, encontrar jogos do gênero em nossa língua materna é raro —, mas acaba dando a sensação de que faltou polimento. Também há alguns erros no log que registra as falas já vistas por conta de espaçamentos.

Mantendo o equilíbrio

Alexandria IV é uma cativante história de ficção científica que consegue oferecer uma boa experiência de space opera. Saber fazer escolhas em prol do equilíbrio da sua nave demanda diplomacia e sagacidade em meio às ambições conflitantes.

Prós

  • Ambientação de ficção científica envolvente em suas intrigas e de fácil entrada;
  • Escolhas que demandam estratégia diplomática e possuem consequências;
  • Os momentos de diálogo adicional com os personagens ajudam a explorá-los mais a fundo;
  • Visualmente detalhado tanto em personagens quanto em ambientes e cenas especiais.

Contras

  • Alguns erros de digitação e ortografia e defeitos no log de registro de falas;
  • Direção sonora fraca.

Alexandria IV — PC — Nota: 7.5
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital cedida pela Time Galleon

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Ivanir Ignacchitti
é formado em Comunicação Social pela UFMG e costumava trabalhar numa equipe de desenvolvimento de jogos. Obcecado por jogos japoneses, é raro que ele não tenha em mãos um videogame portátil, sua principal paixão desde a infância.
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