Desde Breath of the Wild, com seu mundo aberto repleto de segredos inexplorados que convidam qualquer um para uma aventura, diversos projetos tentam capitalizar na ideia de um mundo vivo, vibrante e aparentemente sem limites. Vários elementos do jogo da Nintendo apareceram em outras obras influenciadas, como o paraglider, a mecânica de escalar qualquer coisa, o uso da stamina, entre outros.
Towers of Aghasba parece, à primeira vista, mais um dessa leva. No entanto, bastam algumas horas de gameplay para perceber o quanto os desenvolvedores se esforçaram para sair da sombra de um clone de Zelda e se tornar um jogo com proposta e mecânicas únicas, desde o visual e a cultura de seu protagonista até a ideia de reflorestar um mundo em decadência.
De volta ao lar
Sua jornada começa como construtor júnior da tribo Shimu. Seu povo está retornando do exílio em direção à sua terra natal, Aghasba, que foi tomada pela devastação ambiental, escuridão e monstros após a destruição do ecossistema causada por caça e desmatamento desenfreados. A chegada à ilha já começa com problemas: os barcos colidem e, logo nos primeiros minutos, você precisa começar a explorar e construir — algo que será amplamente enfatizado ao longo de toda a gameplay.
Boa parte da narrativa de Towers of Aghasba é composta por um subtexto que reflete questões do mundo real, como a necessidade de cuidar do meio ambiente e a importância da moderação na caça de animais. Embora essas temáticas possam parecer retiradas de um livro de ciências do 6º ano, são extremamente relevantes para nossa geração, que já enfrenta as consequências das mudanças climáticas causadas pela ação humana.
Esse primeiro contato com os Shimu e suas questões já afasta o jogador de uma conexão imediata com Zelda. Embora temas ambientais também tenham sido abordados na franquia da Nintendo, aqui o foco está muito mais nas entrelinhas das ações humanas do que no combate a um mal ancestral de proporções cataclísmicas.
Trazendo vida a um mundo morto
Ao chegar à primeira ilha de Aghasba, é possível ver os resultados das ações dos Shimu no passado. O local está completamente árido, devastado, infestado por aranhas corrompidas e com poucas formas de vida nativa. Sua primeira missão é encontrar um local para estabelecer o assentamento inicial e comandar as próximas ações. Boa parte da gameplay gira em torno desses conceitos: encontrar locais estratégicos, extrair materiais, construir, explorar e reflorestar.
Uma das mecânicas centrais é a da semente colossal. Quando plantada em um local adequado, a transformação na paisagem é imediata. Ela cresce como uma pequena árvore, tornando a área ao redor verde e vibrante, atraindo animais e produzindo frutos. Essas árvores podem ser aprimoradas em diversos níveis, tornando-se maiores e expandindo o raio de reflorestamento que proporcionam.
Essa transformação é extremamente gratificante — ver um deserto árido e sem vida se transformar gradualmente em uma floresta repleta de animais e cores é uma recompensa por si só, motivando o jogador a escalar montanhas, coletar gravetos e muito mais. O jogo também é bastante generoso nessa mecânica: a coleta não exige um grinding excessivo, pelo menos nas etapas iniciais e intermediárias. No entanto, é provável que, no endgame, essa dinâmica se torne mais exigente.
Bugs, performance e problemas
Embora esteja em acesso antecipado, há um limite para a quantidade de problemas técnicos que um jogo desse tipo pode apresentar. Em Towers of Aghasba, é quase impossível enumerar a quantidade de dores de cabeça. Desde o primeiro minuto, é necessário se conectar a uma conta da Epic Games para jogar online — o que, aliás, se resume apenas a convidar amigos para sua ilha.
Além disso, levei um bom tempo apenas para conseguir abrir o jogo, já que ele fechava em tela preta antes mesmo de chegar ao menu. Após várias tentativas, finalmente consegui fazê-lo funcionar, mas, para minha surpresa, quase nenhuma textura de chão carregava. Joguei boa parte da experiência sem ver qualquer textura no solo.
Além disso, crashes aleatórios eram frequentes, construções desapareciam e o progresso era perdido. Em um caso específico, ao entrar na cutscene de uma construção, o jogo simplesmente fechava sozinho, me fazendo perder o avanço repetidas vezes até conseguir finalmente passar pela cena.
Há também vários aspectos que precisam ser melhorados, e é nesse ponto que o acesso antecipado pode se justificar. O combate, por exemplo, é mais uma questão de atacar e correr do que uma verdadeira dança estratégica contra o oponente. A variedade de inimigos é limitada, e as recompensas por explorar o mundo — como baús, equipamentos ou roupas — são quase inexistentes. Esses são elementos cruciais para tornar a experiência mais envolvente e evitar que caia na monotonia.
Um mundo em evolução
Towers of Aghasba possui uma premissa sólida e mecânicas que, para mim, foram bem integradas ao mundo do jogo. Os problemas técnicos são, na minha opinião, um grande obstáculo, mas já foram lançados mais de cinco patches de atualização, e acredito que os desenvolvedores estão trabalhando intensamente para tornar a experiência mais estável e menos frustrante. Resta torcer para que consigam fazer as ideias e premissas florescerem dentro do jogo, assim como a tribo Shimu fez em Aghasba.
Revisão: Davi Sousa
Texto de impressões produzido com cópia digital cedida pela Dreamlit inc.