Power Rangers: relembre a jornada dos super-heróis coloridos nos videogames (Parte 2)

O fim da era Saban e toda a era Disney da franquia foram marcados por alguns jogos de qualidade inconsistente.

em 28/12/2024
Após o sucesso inicial, Power Rangers enfrentou uma leve queda de popularidade durante as temporadas Zeo e Turbo. Contudo, a franquia recuperou o fôlego com No Espaço, amplamente considerada por fãs — incluindo este que vos escreve — como a melhor temporada dos anos 1990.

Nos videogames, a série só retornaria aos controles no final da década com O Resgate, em jogos desenvolvidos por empresas ocidentais. No entanto, antes disso, Zeo ainda trouxe dois títulos menores que marcaram a estreia inusitada dos Rangers nos 32 bits e sua incursão no mundo dos PCs com uma aventura, no mínimo, questionável.

Confira as outras partes:
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As bizarrices de Zeo

No Super Nintendo, a quarta temporada de Power Rangers trouxe uma mudança inesperada, abandonando a tradicional ação lateral em favor de um jogo de corrida. Já no PlayStation, a franquia inovou com um título de pinball: Power Rangers Zeo: Full Tilt Battle Pinball, desenvolvido pela Kaze, uma empresa renomada no gênero.
 

Cada fase apresenta uma mesa única, onde o jogador precisa cumprir objetivos para acumular pontos e ativar eventos especiais, como a montagem de um Megazord, enquanto enfrenta monstros para progredir. Após cada duas fases, um chefe surge para desafiar os jogadores.

O formato de CD é aproveitado para incluir cenas retiradas diretamente do programa de TV. Esses vídeos aparecem tanto nas transições entre fases quanto durante eventos icônicos, como a transformação dos robôs. Embora o enredo não seja muito elaborado, esses elementos ajudam a demonstrar o potencial do PS1, especialmente com seus vídeos pré-renderizados.

Por outro lado, o mais próximo de um game de ação inspirado em Zeo foi Power Rangers Zeo vs. The Machine Empire, lançado para PC. Apesar de seguir a fórmula dos jogos de 16 bits, com progressão fase a fase, pulando plataformas e enfrentando inimigos, ele sofre com controles imprecisos, animações engessadas e uma câmera tão travada que consegue nos distrair facilmente.
 


 
O que parcialmente salva o jogo são os gráficos pré-renderizados, apresentando uma resolução impressionante para a época, e a possibilidade de trocar de Ranger a qualquer momento — um recurso que adicionava alguma variedade ao gameplay.

Lightspeed, LIGHTSPEED RESCUE!

Em 2000, o PS1 finalmente recebeu um jogo de ação e aventura digno de Power Rangers, chamado Power Rangers Lightspeed Rescuee desenvolvido pela Climax Studios. O título é um beat ‘em up 3D no qual enfrentamos os Batlings, saltamos por plataformas e resgatamos reféns para avançar. O sistema de combate inclui socos, chutes e defesa, mas peca pela imprecisão nas animações e colisões, tornando difícil identificar se os ataques realmente atingiram os inimigos.
 
O design das fases não contribui muito para a experiência. Como o resgate de reféns é uma parte essencial do progresso, o jogo constantemente interrompe o fluxo da ação para que o jogador os localize. Isso se torna cada vez mais frustrante à medida que as fases avançam. Além disso, a câmera, com uma visão superior excessivamente próxima aos Rangers, dificulta a visualização das plataformas e torna os saltos mais complicados.
 


No modo cooperativo, o problema de visão se intensifica, pois as bordas da tela se tornam “paredes invisíveis”, exigindo uma coordenação constante entre os jogadores. Embora os visuais estejam dentro dos padrões do PS1 para a época e a trilha sonora traga algumas boas composições, esses aspectos não conseguem salvá-lo de ser um produto medíocre.

Curiosamente, o PS1 não foi o único console a receber um jogo de Lightspeed Rescue. O Nintendo 64 também teve sua versão, desenvolvida pela Mass Media, e ela é amplamente considerada uma das piores da plataforma.
 

Com gráficos de baixa qualidade e uma trilha sonora caótica, o gameplay do N64 é composto por missões desinteressantes, como limpar gosma verde das ruas, remover troncos de árvore em uma floresta, dirigir um caminhão de bombeiro com controles imprecisos para apagar incêndios e participar de batalhas de Megazord mal executadas.

O ponto mais frustrante do jogo é a apresentação. A tentativa de utilizar arte no estilo de quadrinhos para narrar a história — provavelmente para contornar as limitações do cartucho — é totalmente desperdiçada. Os desenhos parecem feitos no Paint e as animações são tão toscas que chegam a ser cômicas. Basta ver a animação de um Ranger correndo para entender o nível de desleixo.

Para amenizar a má impressão no universo nintendista de Power Rangers, o Game Boy Color também recebeu uma versão, produzida pela Natsume. Embora longe de ser memorável, o título é, no mínimo, mais aproveitável. Trata-se de um jogo de plataforma dividido em três segmentos: resgatar reféns, combater os Batlings e batalhas de Megazord. Embora a movimentação dos Rangers seja lenta em relação ao tamanho das fases, é uma uma diversão razoável para quem está em busca de um passatempo leve.
 


Agora controlo meu próprio futuro!

A aclamada temporada Power Rangers: Força do Tempo também recebeu uma adaptação para o PS1, novamente desenvolvida pela Climax Studios, utilizando o mesmo motor gráfico de Lightspeed Rescue. A principal mudança em Time Force é o foco maior em plataformas e um ritmo mais acelerado, deixando de lado as missões de resgate.

Apesar dessa tentativa de renovação, o jogo ainda sofre com alguns problemas significativos. Um dos maiores obstáculos são os controles de pulo, sendo pouco responsivos e prejudicando a fluidez da jogabilidade. Além disso, a presença constante da coruja Circuito, interrompendo a ação para tutoriais sempre que um novo item é coletado ou uma nova ação é realizada, acaba tornando a experiência frustrante.
 

A ausência de um modo cooperativo também impacta negativamente o fator diversão. Em seu lugar, temos um modo multiplayer 1 contra 1 focado em batalhas de Megazord, se mostrando repetitivo, sem grandes inovações e como uma alternativa fraca para o modo principal.

Power Rangers: Força do Tempo também foi adaptado para os portáteis da Nintendo, com versões para o Game Boy Color e o Game Boy Advance, cada uma trazendo suas próprias abordagens.

No Game Boy Color, o jogo segue um estilo semelhante ao de Lightspeed Rescue, com um foco maior nas seções de ação e uma movimentação mais ágil, tornando a experiência mais fluida. A trilha sonora, que utiliza bem as limitações sonoras do portátil, é um dos destaques positivos, capturando o espírito da temporada com seus sons agudos e marcantes.
 


Já no GBA, a Vicarious Visions foi responsável por criar uma aventura de ação lateral. Apesar do potencial do console, o jogo apresenta um design de fases confuso, que lembra os games de plataforma ocidentais dos 16 bits, uma direção de arte pouco inspirada e um combate com péssimo sistema de colisão. Ao menos, temos o tema de abertura maravilhoso da temporada, com parte vocal em qualidade carinhosamente comprimida.
 

A safra do Game Boy Advance

Após os dois títulos lançados para PS1, a franquia Power Rangers entrou em um hiato nos consoles de mesa. Durante quase toda a era Disney — quando a casa do Mickey adquiriu a Fox Kids e, de forma inesperada, levou os heróis junto no pacote —, os jogos ficaram restritos ao Game Boy Advance, com cada título apresentando propostas distintas.

A Natsume continuou responsável pelas adaptações no GBA, todas elas com mecânicas bastante semelhantes. A maior diferença está em Power Rangers Força Animal, que adota uma visão isométrica. Apesar disso, a essência é compartilhada com as outras adaptações: combater inimigos em áreas específicas, coletar itens, enfrentar chefes e concluir com uma batalha de Megazord.
 
 
Os jogos baseados em Tempestade Ninja, Dino Trovão e Super Patrulha Delta seguem uma fórmula semelhante. São títulos de ação side-scrolling com jogabilidade extremamente simples, mas todos compartilham uma característica peculiar e pouco atraente dos jogos licenciados de GBA: personagens com gráficos pré-renderizados, os quais envelheceram mal e destoam completamente dos cenários em pixel art.
 
 
Um ponto negativo específico em Dino Trovão é o mesmo encontrado em Força do Tempo: a interrupção constante por caixas de diálogo explicando informações óbvias em formato de tutorial, o que destrói o ritmo das fases iniciais.
 

Entre os títulos, S.P.D. acaba sendo o melhor do pacote. O combate é mais fluido, e o fato de os personagens serem menores na tela melhora a experiência como jogo de plataforma. No entanto, é lamentável que a mesma empresa que entregou clássicos memoráveis no SNES não tenha conseguido manter o mesmo nível de carisma, mesmo considerando as limitações e imperfeições da era 16 bits.

O retorno aos consoles de mesa e um crossover comemorativo

Como mencionado anteriormente, quase toda a era Disney de Power Rangers passou em branco na sexta geração de consoles domésticos, com exceção de Dino Trovão, que teve a infelicidade de ser lançado para PlayStation 2 e GameCube. O jogo, centrado exclusivamente no controle dos Zords, coloca os jogadores em mapas abertos para cumprir missões genéricas, tais como atravessar anéis, coletar itens e destruir robôs inimigos, além de ocasionais batalhas de Megazord.

Embora a ideia de controlar o Tiranozord e causar destruição seja divertida nos primeiros minutos, a repetitividade das missões rapidamente torna a experiência entediante. Dentro do vasto universo de jogos licenciados baseados em programas infantis da época, Dino Thunder Trovão definitivamente não figura entre os melhores.
 

Por outro lado, o PS2 teve um respiro com o lançamento de Power Rangers Super Legends, um título comemorativo dos 15 anos da série, produzido pela Artificial Mind & Movement (atualmente Behaviour Interactive, conhecida por Dead by Daylight). O jogo segue o estilo 2.5D, semelhante a outras produções da franquia, e permite que pelo menos um Ranger de cada temporada até Operação Ultraveloz seja jogável em algum momento da campanha.

A estrutura é simples, combinando combate, solução de puzzles básicos, seções de plataforma e um estilo que lembra vagamente Viewtiful Joe — embora, claro, sem o mesmo refinamento da Clover Studio. Apesar do orçamento visivelmente modesto, o modo cooperativo torna a jornada mais divertida, e o fanservice é muito bem explorado, agradando os fãs de longa data.
 
A adaptação portátil de Super Legends chegou ao Nintendo DS pelas mãos da Handheld Games (sim, esse é o nome da desenvolvedora). Ao contrário do estilo com gráficos pré-renderizados do GBA, o jogo no DS adota uma abordagem totalmente 2D, com mecânicas que aproveitam a tela de toque, especialmente durante as batalhas de Megazord. A simplicidade da estrutura lembra o título do PS2, mas com ajustes para o formato portátil e elementos que utilizam as funcionalidades exclusivas do console.
 

Uma era esquisita para os Super Sentai

A falta de consistência nos lançamentos de Power Rangers para consoles não chega nem perto da frequência das adaptações de Super Sentais durante a mesma época. No final da vida útil do PS1, a franquia japonesa lançou dois jogos: Hyakujuu Sentai GaoRanger (Força Animal), em 2001, e Ninpuu Sentai Hurricaneger (Tempestade Ninja), em 2002.

Ambos seguem um estilo semelhante, sendo jogos de luta que narram a história das respectivas séries com relativa fidelidade, incluindo cenas recriadas com o motor gráfico em tempo real. Embora a jogabilidade não seja tão fluida quanto a de títulos consagrados no gênero de luta, eles se destacam como adaptações mais interessantes do que as de Power Rangers lançadas para o mesmo console.
 


Quanto ao restante dos Sentai, de Bakuryuu Sentai Abaranger (Dino Trovão) a Tensou Sentai Goseiger (Megaforce), as adaptações ficaram restritas ao Sega Pico. Caso você não esteja familiarizado, o Pico era um “computador educativo” japonês voltado para o público infantil, servindo como plataforma para diversos títulos baseados em produções animadas. No caso de Super Sentai, a maioria dos títulos variava entre jogos de luta desajeitados e coletâneas de minigames, com uma abordagem claramente voltada para as crianças.

Uma era de baixos bem baixos (nos videogames)

É difícil falar sobre a maioria maior parte dos jogos de Power Rangers desse período sem notar quão básicos e repetitivos eles são, especialmente se comparados à variedade criativa das eras 8 e 16 bits. No caso do GBA, essa simplicidade se torna ainda mais evidente, apesar de teoricamente ser da mesma galera de antes.

Apesar disso, eu guardo uma nostalgia imensa por Lightspeed Rescue no PS1, que me transporta diretamente para as memórias de um jovem Alecsander revisitando seu passado. Ainda assim, fica claro que o objetivo dessas produções era gastar o mínimo possível como jogos tie-in, refletindo de forma bastante fiel a filosofia econômica do próprio programa de TV.

Na última parte deste especial, exploraremos a era Neo Saban, que começa com Samurai e vai adiante. Embora ainda encontremos algumas bizarrices pelo caminho, também há surpresas agradáveis que se destacam nesse período.
Nas telinhas, ao menos tivemos boas temporadas nos anos 2000 (especialmente Super Patrulha Delta e RPM).
Revisão: Ives Boitano

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Alecsander "Alec" Oliveira
Estudante de enfermagem de 25 anos, está nesse mundo dos joguinhos desde criança. Fã de games com vibe mais arcade e arqueólogo de velharias, mas não abandona experiências mais atuais. Acompanha a mídia de podcasts, dublagem e ouvinte assíduo de VGM. Pode ser encontrado como @AlecFull e semelhantes por aí.
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