Power Rangers é uma daquelas franquias que, desde sua primeira aparição, marcou o imaginário popular. Originada de uma iniciativa improvável de adaptar a franquia japonesa Super Sentai para os Estados Unidos, os super-heróis coloridos rapidamente conquistaram as crianças dos anos 90 por todo o Ocidente.
Ao longo de mais de 30 anos, a marca gerou uma infinidade de brinquedos, adaptações para o cinema e quadrinhos — estes, aliás, altamente recomendados para quem cresceu com a franquia e busca algo com uma narrativa mais “madura” —, além de, é claro, diversos jogos. Para celebrar o lançamento de Mighty Morphin Power Rangers: Rita’s Rewind, vamos relembrar a trajetória dos patrulheiros pelo universo dos videogames.
Cinco adolescentes pixelados com garra
Em 1994, as principais plataformas da época receberam versões distintas de Mighty Morphin Power Rangers, baseadas na primeira temporada do seriado. Desenvolvidas por diversas empresas, essas adaptações foram publicadas pela Bandai (responsável pela venda de brinquedos da franquia) em plataformas Nintendo e pela própria Sega em seus consoles.
No Mega Drive, a adaptação veio como um jogo de luta desenvolvido pela extinta Nova. Nele, os jogadores podiam escolher um dos Rangers para enfrentar monstros enviados por Rita Repulsa em combates 1v1. Em um dos momentos principais, enfrentamos Tommy Oliver, o Ranger Verde, que se junta à equipe ao ser derrotado.
O jogo faz parte dos primeiros títulos de luta da época, trazendo elementos que hoje são datados. Não há sistema de combos, todos os Rangers compartilham movimentos idênticos com apenas uma habilidade exclusiva, e as batalhas entre o Megazord e os monstros perdem impacto devido aos sprites pequenos, enquanto a trilha sonora, apesar de bem composta, sofre com uma instrumentação fraca. Ainda assim, consigo me divertir com a jogabilidade desengonçada, mas é aquém de ser memorável como na concorrência.
No Super Nintendo, a franquia ganhou vida como um carismático beat 'em up em uma linha única, sem movimentação livre vertical e diagonalmente, com momentos de plataforma em algumas sessões. Em cada fase, começamos sem a armadura de Ranger, enfrentando inimigos até chegar ao chefe da área. Nesse momento, os personagens se transformam automaticamente, ganhando mais força e uma habilidade especial com suas armas.
Apesar de alguns detalhes visuais destoarem — como a falta de semelhança entre os sprites e os atores da série, especialmente Billy —, o jogo se destaca pela variedade de estilos de combate entre os heróis sem suas armaduras. Quando transformados, no entanto, todos os Rangers compartilham o design, diferenciando-se apenas pela arma, ou seja, todo mundo é musculoso e Kimberly não conta com sua saia como Ranger Rosa. Ainda assim, é uma aventura visualmente agradável, com trilha sonora empolgante e, sem dúvida, o mais divertido dessa leva inicial.
Os portáteis da época também receberam adaptações. O Game Boy apresentou uma versão muito resumida do título de SNES, com animações limitadas e um ritmo mais lento. Já o Game Gear trouxe uma abordagem diferente, mesclando elementos de luta com combates contra os Patrulheiros de Massa antes do confronto final com o chefe. A jogabilidade surpreende pela fluidez, especialmente para um título de 8 bits, incluindo as batalhas de robô gigante.
Por fim, o Sega CD recebeu a produção mais fraca dessa fase. Apostando na tendência dos jogos de Full Motion Video (FMV), o título é basicamente um conjunto de Quick Time Events enquanto cenas do seriado, altamente comprimidas e com cores limitadas, são exibidas. Errar um comando não resulta em falha imediata, mas reduz uma barra de vida. Ao zerar essa barra, o vídeo é interrompido e o capítulo precisa ser reiniciado. É, sem dúvidas, um produto da sua época.
Sinto cheiro de… adolescentes
Com o lançamento do filme de 1995, novos jogos de Power Rangers foram lançados para as principais plataformas da época, com exceção do Sega CD. Novamente, cada versão trouxe uma experiência diferente para o público, mas nenhuma delas retrata fielmente os eventos da produção cinematográfica.
No Mega Drive, o gênero foi alterado para beat 'em up e desenvolvido pela Banpresto, apresentando uma jogabilidade mais tradicional, com movimentação livre e vários inimigos para enfrentar. Tecnicamente, o jogo é superior ao anterior, com destaque para a trilha sonora, que, pela primeira vez, utiliza as músicas do seriado em todo o esplendor metalizado pelo sintetizador FM do console, com uma instrumentação bem superior ao trabalho da Nova.
Apesar de divertido, o jogo sofre com a repetitividade. Há pouca variedade de inimigos e eles demoram demais para serem derrotados, tornando as fases, já extensas, um tanto cansativas. Contudo, há um toque especial na terceira fase: ela funciona como um flashback do início da segunda temporada do seriado, em que podemos controlar Jason, Trini e Zack, no lugar de Rocky, Aisha e Adam, respectivamente. Embora os sprites e a jogabilidade permaneçam os mesmos, é um fanservice bem-vindo.
No Super Nintendo, a Natsume retornou ao desenvolvimento com um título que lembra bastante o anterior, mas com melhorias. Agora, o jogo conta com modo cooperativo e introduz duas linhas de movimentação, adicionando maior liberdade à jogatina. Assim como no primeiro jogo, começamos sem o poder de Zordon e precisamos coletar energia derrotando inimigos para preencher a barra que permite a transformação.
Estranhamente não há batalhas de Zords nesse título. |
No entanto, o combate foi simplificado: não há combos e os ataques só causam um golpe por vez, tornando as lutas menos dinâmicas. Ainda assim, o jogo é divertido e mantém uma trilha sonora de alta qualidade, com músicas que capturam o espírito da franquia.
No Game Gear, a versão de The Movie é bastante semelhante ao título anterior, mas inclui novos inimigos e o Ranger Branco como personagem jogável. Já no Game Boy, a adaptação do filme traz algumas seções extras de plataforma e a mecânica de transformação, que ocorre ao coletar energia suficiente.
Contudo, o sistema de ataque é problemático: o botão de ataque alterna entre socos e chutes automaticamente, o que pode causar danos involuntários ao jogador quando o ataque escolhido não corresponde à situação. Isso torna o jogo desafiador no sentido errado, especialmente no trecho em que somos perseguidos por uma broca em um túnel de areia numa das fases.
Seguindo no Super Nintendo
A jornada de Power Rangers nos consoles da Sega terminou com a adaptação do filme, mas o SNES teve a chance de receber mais dois títulos únicos. Em 1995, foi lançado Mighty Morphin Power Rangers: The Fighting Edition, um jogo de luta em que controlamos Megazords e monstros gigantes em combates 1v1. Esse título é considerado um dos melhores do gênero no console.
Com foco no combate entre gigantes, os sprites são enormes, e cada golpe transmite bastante impacto, evidenciado por pausas sutis nos ataques e um design sonoro bem elaborado. O sistema de luta é tradicional, com quatro botões de ataque e ataques especiais, além de uma barra de energia que exige precisão para carregá-la e liberar supergolpes devastadores. O elenco diversificado de robôs e criaturas, ainda que curto, ajuda a enriquecer a experiência. Para mim, é o melhor jogo de Power Rangers no SNES.
Encerrando a era dos heróis coloridos nos 16 bits, Power Rangers Zeo: Battle Racers foi lançado em 1996, trazendo uma experiência de corrida “inspirada” em Super Mario Kart. Utilizando o recurso Mode 7, as pistas apresentam temas clássicos como praias, áreas gramadas e montanhas, com cada piloto controlando um veículo único em disputas contra outros três competidores.
O mais curioso é o quanto o jogo se assemelha ao título da Nintendo, não apenas nos temas, mas também nos elementos visuais, como as pontes brancas que conectam trechos na pista de praia. A principal diferença é a ausência de itens coletáveis durante as corridas, substituídos por armas de longo alcance integradas aos veículos, com munição limitada. Embora funcional, é estranho um jogo de corrida para uma temporada que não era focada em veículos.
O lado oriental
Vale também mencionar alguns jogos da franquia original, Super Sentai, lançados no mesmo período, que oferecem uma perspectiva interessante sobre as inspirações e diferenças culturais entre as adaptações.
No NES, Choujin Sentai Jetman marcou a estreia de Super Sentai nos videogames em 1991. O jogo é um plataforma simples, em que escolhemos um dos Jetman (com classes distintas: dois atiradores, dois espadachins e um corpo a corpo) para completar as fases. Cada estágio termina com uma batalha de robô gigante, adicionando um toque de espetáculo ao gameplay.
Já em 1992, Kyōryū Sentai Zyuranger, temporada que inspirou Mighty Morphin Power Rangers, também ganhou um jogo de plataforma para o NES. No entanto, este é notoriamente inferior a Jetman, com controles desajeitados, design de fases inconsistente e minigames estranhos entre os níveis. Alguns exemplos incluem um Pong com Zords, uma “batata quente” e até mesmo um quiz com a Majo Bandora (a versão original da Rita Repulsa), o que o torna uma experiência curiosa, mas pouco refinada.
Em 1996 no SNES, Gekisou Sentai Carranger (que corresponde a Power Rangers Turbo no ocidente) foi adaptado como um jogo de plataforma, curiosamente deixando de lado a temática de corrida explorada em Zeo: Battle Racers. Zenkai! Racer Senshi é um título básico, com desafios simples como pular obstáculos, derrotar inimigos e enfrentar chefes.
Contudo, o charme está nos gráficos em estilo chibi, que dão aos personagens um visual adorável e muito carisma. Também produzido pela Natsume, o jogo mantém a identidade sonora característica do estúdio, com uma trilha sonora agitada e divertida.
A era de ouro dos jogos de Power Rangers
Assim como aconteceu com Tartarugas Ninja, os primeiros jogos de Power Rangers ainda são os mais queridos pelos fãs, sendo consistentes em qualidade e diversão. Apesar de suas mecânicas simples, esses títulos entregavam boas experiências que complementavam perfeitamente o sucesso da série de TV. Na parte 2, vamos acompanhar os títulos da geração seguinte.
Revisão: Heloísa D’Assumpção Ballaminut