Quando a 2K lançou Mafia II em 2010, o jogo foi rapidamente saudado como uma das obras mais ambiciosas da era, prometendo uma narrativa cinematográfica envolvente, ambientada em um mundo aberto detalhado. Com o dever de seguir o sucesso de seu antecessor, Mafia II tinha muito a provar. No entanto, enquanto o jogo brilha em alguns aspectos, ele tropeça em outros, deixando uma impressão mista, mas ainda assim memorável.
Bem vindo à Empire Bay
Nesse novo capítulo da série, somos colocados na pele de Vito Scaletta, um jovem imigrante siciliano que, após retornar da Segunda Guerra Mundial, se encontra imerso no submundo do crime organizado na fictícia Empire Bay. Desde os momentos iniciais, é evidente que a narrativa é o foco principal. O jogo se esforça bastante para criar uma história envolvente, repleta de personagens complexos e dilemas morais.
A jornada de Vito é convincente, marcada por traições, perdas e um forte desejo de ascender na hierarquia mafiosa. O jogo captura com habilidade a essência do sonho americano. Cada personagem que cruza o caminho de Vito, de seu carismático amigo Joe Barbaro ao frio e calculista Eddie Scarpa, é cuidadosamente escrito e interpretado. As cenas de corte, impulsionadas por atuações de voz de alta qualidade e animações bem detalhadas para a época são a cereja do bolo, adicionando camadas de profundidade emocional.
Uma cidade viva, porém “vazia”.
A ambientação de Empire Bay é outro dos pontos altos de Mafia II. Inspirada por cidades como Nova York, Chicago e San Francisco, Empire Bay é uma metrópole vibrante, que muda conforme o tempo avança na história. O jogo se passa entre as décadas de 1940 e 1950, e essa transição temporal é refletida não apenas na moda e na arquitetura, mas também na música que toca no rádio, de clássicos do jazz a canções de rock and roll. A atenção aos detalhes é impressionante, e os jogadores frequentemente se pegam admirando os carros vintage ou ouvindo as notícias que refletem os eventos da história.
No entanto, enquanto Empire Bay é visualmente deslumbrante, ela carece de interatividade. Diferentemente de outros jogos de mundo aberto como Grand Theft Auto ou mesmo Sleeping Dogs, Mafia II apresenta um mapa que parece mais um palco para a narrativa do que um espaço para exploração livre. A maioria das missões segue um padrão linear, deixando pouca margem para desvios ou atividades secundárias. Embora existam lojas para comprar roupas ou reparar carros, essas opções rapidamente se tornam repetitivas.
Esse foco na narrativa linear também se reflete na estrutura das missões. Algumas são memoráveis, como um assalto a banco que lembra cenas icônicas de filmes como "Os Bons Companheiros" ou "O Poderoso Chefão". Outras, no entanto, são mundanas, como levar um carro ao mecânico ou buscar uma encomenda. Essa falta de consistência na qualidade das missões pode ser frustrante, especialmente considerando o ritmo já deliberado do jogo.
Uma jogabilidade simples, mas funcional
No que diz respeito ao combate, Mafia II apresenta uma mistura de tiroteios baseados em cobertura e combates corpo a corpo. Os tiroteios são competentes, mas não particularmente inovadores. As armas da época, como a metralhadora Thompson e a pistola Colt 1911, são autênticas e satisfatórias de usar. Contudo, a inteligência artificial dos inimigos é inconsistente, alternando entre desafios reais e momentos de apatia completa. O combate corpo a corpo, por outro lado, é rudimentar, com um sistema de luta simplório que rapidamente se torna repetitivo.
Outro aspecto que merece menção é o sistema de condução. Os carros são fielmente recriados, tanto visualmente quanto em termos de desempenho. A sensação de dirigir um carro da década de 1940 ou 1950 é genuinamente satisfatória, embora o ritmo lento das viagens possa incomodar alguns jogadores. O jogo também implementa mecânicas de simulação, como limites de velocidade e a possibilidade de ser multado pela polícia, o que adiciona um toque de realismo, mas pode parecer uma distração desnecessária para aqueles que preferem a ação.
Visualmente, Mafia II foi impressionante em seu lançamento. O uso de iluminação e sombras dinâmicas, combinado com texturas detalhadas, contribuíram para uma apresentação de alta qualidade. Mesmo hoje, o jogo tem seu charme, especialmente nas versões remasterizadas.
A trilha sonora merece elogios especiais. A seleção de músicas licenciadas não apenas captura o espírito das épocas retratadas, mas também eleva momentos específicos da narrativa. Seja ouvindo Bing Crosby enquanto dirige pelas ruas cobertas de neve ou Elvis Presley durante uma perseguição de carro, a música complementa perfeitamente o tom do jogo.
“Não é para todo mundo”
Ainda assim, Mafia II é um jogo de contrastes. Por um lado, sua narrativa cinematográfica, ambientação autêntica e personagens bem desenvolvidos o destacam como uma experiência narrativa de alto nível. Por outro, sua falta de profundidade no design de mundo aberto e a jogabilidade apenas funcional impedem que ele alcance o status de obra-prima.
Revisitando Mafia II em um contexto moderno, é evidente que ele foi um produto de sua época, com prioridades claras na história e na apresentação, mas menos foco na interatividade e na liberdade do jogador. Para aqueles que buscam uma história envolvente no estilo dos grandes filmes de máfia, ele ainda oferece uma experiência recompensadora. No entanto, jogadores que esperam um mundo aberto repleto de possibilidades podem se sentir decepcionados.
Em suma, Mafia II permanece um título memorável, mas imperfeito. Ele é uma homenagem aos filmes de gênero que inspiraram sua criação, mas sua ambição não foi plenamente realizada. Apesar de suas falhas, Mafia II deixa uma marca de como todos os aspectos de um jogo podem servir para contar uma fantástica história.
Revisão: Alessandra Ribeiro