E lá se vai mais um ano. Pode até soar clichê, mas realmente senti que o tempo passou mais rápido do que nunca. No mundo dos jogos, 2024 foi um ano de pausa para os grandes estouros que tivemos no ano passado. Acabei me dedicando mais a títulos específicos, muitos dos quais vieram das análises que produzi aqui para o GameBlast.
A indústria continua passando pela onda de layoffs e decisões questionáveis. Não dá para esquecer a completa covardia que foi fechar a Tango GameWorks, estúdio que emplacou um dos meus destaques de 2023 e simplesmente se foi na bagunça que a própria Microsoft se enfiou. Outras iniciativas promissoras, como a Riot Forge, também foram interrompidas, e estúdios como a Volition e veículos como a Game Informer acabaram se desintegrando. Enfim, são tempos sombrios para a indústria.
No lado positivo, Terry em Street Fighter 6 foi uma das grandes surpresas de 2024. |
Mas, apesar de toda essa negatividade, 2024 não foi o ano dos grandes blockbusters, o que não significa que não houve ótimas experiências. Vamos conferir sobre o que foi este ano para mim, com o controle nas mãos e o simples desejo de me divertir com boas experiências.
Tekken 8
O oitavo capítulo numerado da maior franquia de jogos de luta 3D estava entre minhas maiores expectativas, e fico feliz em dizer que ele cumpriu boa parte delas. Tecnicamente mais polido do que o antecessor, cuja produção foi marcada por um orçamento limitado, este capítulo final (teoricamente) da saga dos Mishima entrega uma apresentação soberba.
O sistema de combate passou por retrabalhos importantes após anos reutilizando boa parte dos assets de Tekken 5, resultando em animações mais fluidas e responsivas. A nova mecânica de Heat tem dividido opiniões na comunidade — enquanto muitos a criticam por tornar as partidas mais previsíveis e excessivamente agressivas, eu apreciei a liberdade que ela proporciona nos combos.
Minha ressalva atual fica para a parte dos personagens que estão vindo nessa temporada de DLC. Eddy e Lidia eram já esperados, mas o retorno de Heihachi tão cedo após a sua suposta morte definitiva em Tekken 7 se tornou uma verdadeira baboseira.
Tudo bem, a gente espera que morte em jogo de luta não seja algo definitivo, mas o retorno precisou vir na PRIMEIRA temporada? Pelo menos o M. Bison teve que esperar uma leva de bonecos para voltar em Street Fighter 6. Apesar disso, é um ótimo jogo de luta e mais um para a atual era de ouro do gênero.
Yellow Taxi Goes Vroom
Este jogo me fisgou de imediato com o completo nonsense do trailer. Yellow Taxi Goes Vroom é um jogo de plataforma 3D lúdico que reúne todas as características que aprecio no gênero, mas com um belo diferencial: controlamos um táxi, em vez de uma mascote antropomórfica ou um encanador bigodudo.
A jogabilidade, centrada na inércia, combina perfeitamente com as fases criativas que misturam clichês com estruturas de níveis inusitadas. O humor escrachado e as referências a clássicos do gênero, como Crazy Taxi, são outro ponto alto, tornando o jogo uma verdadeira celebração da diversão descomplicada que só videogames podem proporcionar.
Simplesmente dirigir, coletar moedas e cumprir missões é uma experiência incrivelmente prazerosa, e para mim, isso já é mais do que suficiente.
Another Crab’s Treasure
Este foi o ano em que comecei a me cansar da proliferação de soulslikes. Embora tenha elogiado Lies of P no ano passado (e ainda o considero um excelente jogo), sinto que a dependência da fórmula da From Software está sufocando outros tipos de jogos de ação — em especial meu querido hack 'n slash. A popularidade do bate e rola está reduzindo a diversidade no gênero.
Another Crab’s Treasure, no entanto, se destaca por se desviar das convenções, mesmo carregando o rótulo soulslike, com um toque de Sekiro. No controle de um caranguejo-eremita que, inicialmente, só queria uma vida tranquila, acabamos envolvidos numa trama absurda que mistura interesses capitalistas, uma força sombria misteriosa e toneladas de lixo — tudo em busca da concha perdida.
Só a premissa já o diferencia de qualquer cópia soturna de Dark Souls, mas o jogo vai além. A ambientação marítima única, a mecânica criativa de conchas que transforma qualquer objeto descartado em defesa improvisada, o sistema de combate dinâmico e o level design que flerta com jogos de plataforma 3D fazem deste título uma lufada de ar fresco em meio ao marasmo da mesmice.
Mullet MadJack
O maior destaque brasileiro fica para este estranho jogo de tiro em primeira pessoa que, à primeira vista, parece querer embarcar na onda do boomer shooter, mas também se desvencilha da convenção. Aqui, controlamos um cara “maneiro”, digno de um brucutu dos anos 1980, que precisa de dopamina constante para sobreviver. E como fazemos isso? Trucidando todos que aparecem no caminho para ganhar uns segundos de vida.
Mullet MadJack oferece um loop de jogabilidade viciante: cada inimigo abatido adiciona alguns segundos ao cronômetro que mantém o protagonista vivo. Seja atirando, cortando com uma espada ou empurrando inimigos para armadilhas letais, é preciso estar sempre em movimento. Além disso, o sistema de recompensas no estilo roguelite ao fim de cada capítulo garante variedade. Simples, mas visceralmente divertido.
Sonic X Shadow Generations
Sonic X Shadow Generations revive um dos melhores jogos da franquia em uma remasterização sem grandes novidades — mudanças no roteiro à parte. Contudo, o verdadeiro destaque está na inédita aventura estrelada pelo nosso amado ouriço edgy, Shadow. Apesar de receios quanto à qualidade da jogabilidade nas mãos da atual Sonic Team, o resultado superou minhas expectativas.
Shadow Generations trouxe uma campanha polida como há tempos não víamos: fases bem construídas com múltiplos caminhos, jogabilidade precisa e repleta de habilidades divertidas, colecionáveis instigantes e um respeito genuíno pelo legado do personagem. Embora curto, tornou-se meu jogo do ano e reacendeu minha empolgação com a franquia.
Sorry We're Closed
A surpresa do ano, Sorry We're Closed é um survival horror LGBTQIA+ que combina elementos de Silent Hill, Killer 7 e uma pitada de Shin Megami Tensei para criar uma experiência única. Com um sistema de combate promissor, um mundo intrigante de explorar e uma estética colorida que casa surpreendentemente bem com o clima opressivo e sombrio, este é, sem dúvida, um dos melhores indies do ano.
Infelizmente, o jogo está limitado ao PC por enquanto, mas espero que seja lançado em outras plataformas, especialmente no Switch. Se você procura um jogo de terror com uma vibe clássica e vários finais diferentes para incentivar novas runs, é uma recomendação imperdível.
As menções menores
Metaphor: ReFantazio: deveria estar entre os destaques, mas comecei a jogá-lo apenas uma semana antes de escrever este texto. O jogo vai muito além de ser apenas um Persona medieval, com uma direção de arte impecável, trilha sonora inspirada, um sistema de combate altamente viciante e uma história política inusitada para uma produção japonesa.
Concord: um destaque negativo, com pesar. Concord foi a tentativa equivocada da Sony de entrar na briga dos Game as a Service, errando em praticamente todos os aspectos. Ainda assim, o jogo em si não era ruim, e o encerramento do estúdio responsável não foi justo.
Marvel vs. Capcom Fighting Collection: Arcade Classics: ainda parece um sonho febril uma coletânea de um dos crossovers mais amaldiçoados pelos direitos autorais, mas ela aconteceu. Reunindo oito títulos clássicos da Capcom em colaboração com a Marvel, esta coleção é uma carta de amor à série Vs. e acende a esperança de um novo capítulo no futuro.
Castlevania Dominus Collection: outra coletânea que chegou do nada e veio com tudo. Com a M2 realizando seu melhor trabalho com produções da Konami, três dos melhores metroidvanias da franquia foram portados com esmero, adaptando a experiência do Nintendo DS para consoles modernos com êxito.
Dragon Ball: Sparking! ZERO: o Budokai Tenkaichi 4 que muitos sonhavam desde os tempos de PS2 e Wii. Respeitando a tradição da série, com uma vasta seleção de personagens, conteúdo rico e batalhas caóticas, a Spike Chunsoft finalmente acertou em cheio, entregando o jogo que a franquia merecia.
2XKO Alpha Lab: incluí na lista de expectativas do ano passado, mas o lançamento completo ainda não aconteceu. Contudo, a Riot Games disponibilizou um teste alfa que deixou claro o enorme potencial do jogo. Em termos técnicos, está impecável — resta apenas ajustar o balanceamento para garantir um lançamento definitivo à altura.
Expectativas incertas para o próximo ano
Para 2025, entre os jogos já anunciados, poucos chamaram minha atenção até agora. Sem dúvidas, meu mais aguardado é Fatal Fury: City of the Wolves, que marca o retorno triunfal da primeira série de jogos de luta da SNK. Tudo o que foi mostrado até agora me deixou bastante empolgado — exceto o preço, triste realidade.
Além dele, também estão na minha mira Dynasty Warriors: Origins, Date Everything! e Assassin’s Creed Shadows. No entanto, espero que os próximos meses tragam algumas surpresas para enriquecer o calendário.
Revisão: Juliana Paiva Zapparoli