A 6ª geração de consoles foi uma das que mais apresentou evoluções para a sua antecessora e elevou os videogames a um novo patamar de popularidade graças, principalmente, ao PlayStation 2. Aproveitando o hype do momento, a Rockstar Games decidiu utilizar o máximo dos novos consoles e fez história ao lançar a série Grand Theft Auto em três dimensões e com um grande mapa para explorar. Mas foi no último título da série lançado para essa geração de consoles que a empresa marcou o coração de vários jogadores com o que se tornou uma febre instantânea. Em 2004 era lançado GTA: San Andreas.
Desenvolvido pela Rockstar North, publicado pela Rockstar Games e distribuído pela Take-Two, o jogo foi lançado em 26 de outubro de 2004 com exclusividade para o Playstation 2, chegando ao PC e ao Xbox em junho de 2005. De lá para cá, pelo menos oito versões do game foram adaptadas, incluindo versões para Mac, mobile, Xbox 360, PlayStation 3 e a versão definitiva (que contava com outros dois títulos: GTA III e GTA: Vice City).
Inovações
Após o salto de GTA II para GTA III, era difícil imaginar que a Rockstar conseguiria um feito similar a esse novamente. Porém, com San Andreas ela chegou muito perto. O game de CJ, Big Smoke e companhia aproveitou o vácuo de seus antecessores para levar a fórmula a um limite que até hoje é desejável nos jogos da franquia.
A possibilidade de customização de CJ, podendo deixar ele gordo, magro ou musculoso. Ou ainda de cabelo curto, comprido, raspado, black power, preto ou colorido. Sem falar nas roupas e acessórios, além de tatuagens. Todas essas opções faziam com que a experiência de cada jogador tivesse o potencial de ser única.
E essas características não ficavam apenas na questão estética, não. Era possível escolher um tipo de luta para o protagonista entre as três disponíveis (uma em cada ilha). Além de melhorar as habilidades para cada arma conforme o uso, bem como as habilidades de direção e pilotagem.
Ah, e claro, não se pode esquecer das gangues que também possuíam sua barra de experiência e, conforme mais respeito, mais membros era possível chamar para aprontar algo. Além disso, o game possibilitava algumas opções de namoradas para o CJ. E até carros podiam ser customizados. As escolhas e combinações eram imensas.
Vários desses elementos, que conquistaram o coração de muitos jogadores, acabaram sumindo nas sequências GTA IV e GTA V. GTA: San Andreas é um retrato perfeito da geração que foi marcada por jogos de mundo aberto, levando esse conceito para muito além de um mapa a ser explorado, dando diversas opções para os jogadores criarem a sua própria experiência.
Respect++
GTA: San Andreas inovou não só nas opções dadas aos jogadores, mas no mundo aberto também. Pela primeira vez era possível nadar no jogo, fazendo com que a água não fosse uma grande brincadeira de “o chão é lava”.
O game ainda trouxe três ilhas, em um mapa que foi o maior da série até o lançamento de GTA V em 2013. Los Santos, San Fierro e Las Venturas formam o arquipélago, sendo representações digitais de Los Angeles, São Francisco e Las Vegas. Cada uma delas apresentava traços característicos das cidades, o que as deixavam facilmente reconhecíveis, mesmo para quem nunca pisou nelas.
A história do jogo foi bem maior do que vinha sendo feita até então e trouxe personagens mais carismáticos, não ficando apenas a cargo do protagonista o cativo do público. Quem jogou jamais esquecerá do pedido de Big Smoke no fast food; ou de The Truth, o hippie doido que plantava maconha.
O game melhorou o trabalho de dublagem, pegando dubladores mais relacionados com os personagens que interpretaram. Destaque para o policial Frank Tenpenny, um dos antagonistas da história, que foi dublado por ninguém menos que Samuel L. Jackson.
E dessa vez os mapas e locais selecionados não ficaram apenas para uma curiosidade e representação de alguma cidade do mundo real. Fatos que aconteceram nas cidades serviram de inspiração e plano de fundo para os acontecimentos da história.
A história de GTA: San Andreas se passa em 1992. O game traz a briga de gangues como um dos principais focos, como aconteceu na época em Los Angeles. Groove Street Families e os Ballas, principais facções do jogo, foram inspiradas nas gangues da vida real Bloods e Crips. Outro tema é a epidemia de crack, droga ilegal que teve um aumento na compra, venda e uso ao final da década de 1980 e início da década de 1990 nos EUA.
Além disso, as três missões finais do jogo mostravam uma Los Santos revoltada, com a população completamente caótica. Isso também aconteceu na vida real, chamado de os distúrbios de Los Angeles, quando a população se manifestou contra decisão do júri que absolveu três policiais acusados de agredir e assassinar um motorista negro depois de uma perseguição. No jogo, o povo se revoltou com Tenpenny sendo inocentado das acusações de assassinato e tráfico de drogas.
Legado
GTA: San Andreas foi bem recebido tanto por público quanto pela crítica, tendo a maioria das suas notas acima dos 90%. A média do jogo no Metacritic é de 95, sendo a maior pontuação de um game de PlayStation 2 no ano de 2004.
O game de CJ viveu ao máximo assim que foi lançado, sendo rapidamente aclamado e viralizando em uma época que a divulgação boca a boca era mais relevante e a internet banda larga engatinhava (pelo menos no Brasil). San Andreas representou um fenômeno cultural que é relevante até os dias de hoje. Quem utiliza redes sociais em algum momento já se deparou com o meme de “Oh shit, here we go again” (fala de CJ logo no início do jogo).
E a verdade é que San Andreas colocou um patamar muito alto para a própria Rockstar com relação à franquia. Até hoje, o jogo de 2004 trouxe experiências e inovações que não apareceram nos jogos seguintes da franquia. Quem sabe será possível reviver boa parte delas com GTA VI. Quem sabe...
Revisão: Ives Boitano