Quais são as chances de eu avaliar uma visual novel para o GameBlast? Muitas, eu diria, mas a probabilidade de outra pessoa que não meu querido amigo Ivanir me recomendar um jogo assim é baixíssima.
Não que eu não tenha outras pessoas que possam me recomendar visual novels, porém, na maioria dos casos, nossos gostos não estão alinhados. Daí, para deixar a situação ainda mais improvável, foi uma amiga minha da Suécia que me apresentou a The Moon That Fell For The Star — e, assim como Amelie, uma indicação dessa mesma amiga, a sugestão não podia ser mais certeira.
Um lado B da vida de idols
A história é contada sob a perspectiva de Minami Tsukimiya, uma garota de 24 anos que trabalha no turno da noite em uma loja de conveniências. Das dez da noite às cinco da manhã, a noite passa sem muitas novidades, com Minami por vezes esperando as horas passarem até que ela possa voltar para casa e dormir.
No entanto, certa madrugada, uma figura misteriosa, trajando óculos escuros, máscara e um casaco que lhe cobre da cabeça aos pés, passa a frequentar a loja de conveniências. Sempre às três da manhã, pontualmente, essa pessoa gasta 600 ienes com um onigiri de atum e um refrigerante zero.
Contudo, foi numa noite específica que essa pessoa, desesperada, pede ajuda a Minami para se esconder de alguns paparazzi que a seguiam. E, como se as coisas não bastassem, a figura enigmática passa a morar na casa de nossa protagonista.
E é assim que começa a nova rotina de Minami com sua nova hóspede, Hokuto Hoshizora, o nome real de Polaris, a líder do grupo pop CONSTERLATION. E não apenas isso: a jovem idol se meteu em um escândalo e, devido a isso, precisou viver feito uma fugitiva — das pessoas, dos paparazzi e dos palcos.
Eu adoraria falar mais sobre a trama em si, mas, dada a brevidade da visual novel (duas horinhas apenas), qualquer coisa além do que essa breve sinopse já cai no campo dos spoilers. Porém, quero adiantar que, apesar de alguns clichês e lugares-comuns da cultura japonesa, especialmente algumas expressões gratuitas que aparecem aqui e ali durante a leitura — minha única crítica à narrativa em si —, o jogo consegue captar bem como é a vida de idols no Japão.
Quais são as chances de pessoas totalmente diferentes se apaixonarem?
Como o título sugere, apesar de viverem em mundos diferentes, Minami e Hokuto têm muito em comum: ambas têm a mesma idade, gostam de música e acabam se adaptando bem à rotina de coabitação — ao ponto de começarem a desenvolver sentimentos uma pela outra. Entretanto, a vida não é simples como parece ser e logo essa atração se transforma em um aparente empecilho para as garotas.
Desse modo, a criação de TeamANPIM para o Yuri Game Jam 2024 não é uma história de amor mamão com açúcar; inclusive, durante a breve leitura, os apertos no peito foram muitos. Em outras palavras, uma história que eu achei que seria bobinha, muito pelos clichês supracitados, se transformou em um romance digno de recomendação — e romance não necessariamente precisa ser uma história feliz.
Divagações feitas, o que quero dizer é: eu estava errada em julgar a visual novel por suas linhas iniciais. É uma leitura agradável, porém bastante agridoce, tal qual eu gosto dos meus romances. Posso considerar o final feliz, mas talvez não da forma com a qual muitas pessoas estão acostumadas em uma história de amor.
Narrativa à parte…
Apesar de sua apresentação simples, com alguns poucos sprites para as garotas principais, apenas quatro CGs pontuais e fundos que nada mais são que fotos borradas — tudo estático, por sinal —, esses elementos conseguem trazer uma sinergia ímpar à história que está sendo contada. A trilha sonora também é simples, mas estranhamente consegue ditar o tom da leitura.
Se eu tivesse que resumir a experiência, diria que se trata de um produto simples, porém totalmente eficiente — clichê, eu sei, mas totalmente compreensível para um produto de baixo orçamento. Pode ser que a falta de recursos audiovisuais desagrade a algumas pessoas (até a mim, em partes), mas, na minha opinião, tudo funciona muito bem, inclusive a duração e o ritmo da história.
Por fim, estão presentes todas as ferramentas necessárias para um bom aproveitamento de uma visual novel, embora, na minha opinião, apenas a leitura automática seja necessária.
Um romance agridoce e altamente recomendável
É notável o esforço de TeamANPIM para trazer uma visual novel totalmente bem-escrita, atual e emocionante. Confesso que eu já tinha ouvido falar de outros títulos desse grupo, que já se estabeleceu no meio indie do Yuri Game Jam, mas The Moon That Fell For The Star é a primeira obra com a qual tenho contato — e que me deixou muito curiosa para conhecer as outras visual novels do time.
E, assim como a visual novel me foi recomendada por uma amiga, chegou a minha vez de recomendá-la a você. Se você gosta de romances agridoces que podem ser aproveitados em poucas horas, acabou de encontrar sua próxima leitura.
Prós
- História bem-escrita, atual e crível, que retrata bem o “lado B” da vida de uma idol;
- Apesar de curta, a trama se desenvolve em um ritmo satisfatório, sem deixar pontas soltas;
- Presença de todas as ferramentas de qualidade de vida para um bom aproveitamento da visual novel.
Contras
- Alguns clichês típicos de narrativas baseadas na cultura japonesa, em especial expressões gratuitas que poderiam muito bem ter sido substituídas por equivalentes em inglês;
- Poucos elementos audiovisuais para dar mais vida à história;
- Apesar do título, não é um romance mamão com açúcar, um fator que pode não agradar a muitas pessoas.
The Moon That Fell For The Star — PC — Nota: 8.0
Revisão: Beatriz Castro
Capa: Juliana Paiva Zapparoli
Análise produzida com cópia digital adquirida pela própria redatora